Por José Carlos Peliano, no site Carta Maior:
A semana que começou ontem dia 24 de agosto trouxe uma segunda-feira derrubada nas bolsas de todo o mundo. A drástica queda da bolsa de Shanghai em 8,49% liberou um pânico generalizado pelas demais bolsas.
Já havia um certo clima de expectativa quanto aos rumos do desenvolvimento chinês uma vez que vinha sendo esticado há tempos, já mostrando níveis menores nos últimos anos. O segundo trimestre deste ano sinalizou um crescimento de 7% na economia, menor patamar desde 2009.
Mais que isto a entrada tardia do país no jogo capitalista internacional motivava cautela e expectativa de todos em relação à solidez da estrutura econômica, seu funcionamento e a adequação dos instrumentos, medidas e instituições necessários à guinada da China às regras de negócios do mundo ocidental.
Não que os países mais desenvolvidos do continente europeu e da América do Norte fossem isentos e vacinados contra crises econômicas e financeiras, longe disso. Exemplos recentes dos EUA com a crise imobiliária de 2008 e de países menos sólidos e fortes da Zona do Euro por volta de 2010 mostram a dinâmica do potencial de instabilidade presente na expansão capitalista.
A questão é que a situação privilegiada da China no cenário mundial já vinha credenciando a ser uma forte liderança política, econômica e financeira em ascensão ameaçando até mesmo a hegemonia americana prevalecente.
A montagem do banco dos BRICS e do fundo asiático de infraestrutura, por exemplo, além do considerável superávit das contas externas, sinalizavam aos analistas internacionais sobre os promissores e confiáveis postulados econômicos e financeiros do país.
O que pode então ter acontecido para que houvesse uma derrapagem da bolsa de negócios chinesa de forma surpreendente? As amarras não estavam bem presas ou o barco enfrentou correntes contrárias?
Alguns sinais já eram visíveis. Em 11 de agosto último o Banco Popular da China, o banco central chinês, anunciou a desvalorização da moeda repentinamente. Foi a maior em cerca de 20 anos ao contrário do que as autoridades do país sempre asseguravam.
A medida foi justificada na oportunidade como necessária para contrapor às fortes quedas sofridas pelas exportações, estimadas em valor em cerca de 5 bilhões de euros.
No mesmo sentido apontavam os indicadores do setor industrial em significativa retração nas primeiras semanas de agosto. Parece que a bruxa de agosto foi solta no território amarelo prejudicando as poções mágicas que levaram o país a taxas altas e seguras de expansão nos últimos tempos.
Esses sinais, no entanto, têm mão dupla. A retração industrial da economia chinesa mostrou que, embora seus produtos estivessem ainda com preços competitivos em nível internacional, ela se deu pelo impacto perceptível nas relações comerciais.
Os demais países compradores, no enfrentamento de situações econômicas pouco favoráveis, uns mais que outros, começaram a reduzir a demanda pela produção chinesa. Fosse para estabilizar o câmbio, fosse para evitar exposição deficitária maior, fosse simplesmente para controlar a dívida externa.
De fato e de direito, o mundo enfrenta uma crise econômica grave e profunda cujo retorno à estabilidade e mesmo a uma leve expansão vai requerer um acerto entre os respectivos bancos centrais dos países mais desenvolvidos além de uma convergência de preços relativos dos produtos das pautas de exportação.
O capitão chinês não tem mais condições de puxar sozinho o barco da economia mundial uma vez que começa a perceber que tem também trincas e buracos no casco. A entrada da China nas águas capitalistas a torna igualmente sujeita a chuvas, trovoadas e inundações.
Do lado de cá da muralha chinesa, o mundo mostra sinais de desconforto severo. Os preços das matérias primas vem caindo a níveis tão baixos quanto aos registrados a cerca de 15 anos atrás. O petróleo cru, por exemplo, o “brent”, chega perto de US$ 50 o barril, quando havia chegado tempos atrás a mais que o dobro deste valor.
Assim, as receitas do comércio exterior de muitos países que dependem de suas exportações de matérias primas e semimanufaturados retraem de maneira assustadora. O que joga terra sobre a manutenção das relações comerciais satisfatórias com a China.
Para completar o quadro delicado, os EUA anunciam aumentar as taxas de juros oficiais depois de as manter por longo período em níveis bem baixos. A medida eleva o valor do dólar e com ele os preços dos produtos americanos, pesando ainda mais na difícil equação comercial e de crescimento mundial.
O Brasil não está imune a esses contratempos. Pelo contrário, sofre também com a queda dos preços das matérias primas, fica mais difícil manter as exportações, perde espaço nos investimentos externos (os investidores correm ao dólar por garantia) e o câmbio mais caro dificulta segurar as importações nos níveis adequados.
O crash chinês, no entanto, vem em boa hora para o ajuste de austeridade levado a termo pelo ministro da Fazenda. A retração da economia brasileira por ele provocada vai ao encontro da retração mundial já em andamento e seu aprofundamento pelo escorregão deste mês da economia chinesa.
O grande imbróglio mundial é que os recursos que não estão mais alimentando o crescimento das economias que se arrastam ou crescem vegetativamente estão concentrados no mercado financeiro. Há uma bolha de poupança flutuando de mercado a mercado em busca de lucratividade longe da esfera produtiva.
Aqui no Brasil a mesma coisa. E a política de Levy alimenta a financeirização da economia. Como o país já está indo para trás por conta de suas medidas, ele se alinha aos demais que não tem para onde ir. A China não é mãe de todas, sozinha não aguenta estimular os mercados funcionando.
Esta era uma boa oportunidade para Joaquim Levy mostrar serviço positivo, se diferenciar da cartilha da austeridade e dar condições para fomentar o crescimento do país.
As principais medidas? De um lado criar incentivos para o investimento produtivo, dadas as perspectivas internais e internacionais, e de outro taxar mais pesadamente as aplicações financeiras especulativas – como propunha James Tobin, prêmio Nobel de economia de 1981.
A semana que começou ontem dia 24 de agosto trouxe uma segunda-feira derrubada nas bolsas de todo o mundo. A drástica queda da bolsa de Shanghai em 8,49% liberou um pânico generalizado pelas demais bolsas.
Já havia um certo clima de expectativa quanto aos rumos do desenvolvimento chinês uma vez que vinha sendo esticado há tempos, já mostrando níveis menores nos últimos anos. O segundo trimestre deste ano sinalizou um crescimento de 7% na economia, menor patamar desde 2009.
Mais que isto a entrada tardia do país no jogo capitalista internacional motivava cautela e expectativa de todos em relação à solidez da estrutura econômica, seu funcionamento e a adequação dos instrumentos, medidas e instituições necessários à guinada da China às regras de negócios do mundo ocidental.
Não que os países mais desenvolvidos do continente europeu e da América do Norte fossem isentos e vacinados contra crises econômicas e financeiras, longe disso. Exemplos recentes dos EUA com a crise imobiliária de 2008 e de países menos sólidos e fortes da Zona do Euro por volta de 2010 mostram a dinâmica do potencial de instabilidade presente na expansão capitalista.
A questão é que a situação privilegiada da China no cenário mundial já vinha credenciando a ser uma forte liderança política, econômica e financeira em ascensão ameaçando até mesmo a hegemonia americana prevalecente.
A montagem do banco dos BRICS e do fundo asiático de infraestrutura, por exemplo, além do considerável superávit das contas externas, sinalizavam aos analistas internacionais sobre os promissores e confiáveis postulados econômicos e financeiros do país.
O que pode então ter acontecido para que houvesse uma derrapagem da bolsa de negócios chinesa de forma surpreendente? As amarras não estavam bem presas ou o barco enfrentou correntes contrárias?
Alguns sinais já eram visíveis. Em 11 de agosto último o Banco Popular da China, o banco central chinês, anunciou a desvalorização da moeda repentinamente. Foi a maior em cerca de 20 anos ao contrário do que as autoridades do país sempre asseguravam.
A medida foi justificada na oportunidade como necessária para contrapor às fortes quedas sofridas pelas exportações, estimadas em valor em cerca de 5 bilhões de euros.
No mesmo sentido apontavam os indicadores do setor industrial em significativa retração nas primeiras semanas de agosto. Parece que a bruxa de agosto foi solta no território amarelo prejudicando as poções mágicas que levaram o país a taxas altas e seguras de expansão nos últimos tempos.
Esses sinais, no entanto, têm mão dupla. A retração industrial da economia chinesa mostrou que, embora seus produtos estivessem ainda com preços competitivos em nível internacional, ela se deu pelo impacto perceptível nas relações comerciais.
Os demais países compradores, no enfrentamento de situações econômicas pouco favoráveis, uns mais que outros, começaram a reduzir a demanda pela produção chinesa. Fosse para estabilizar o câmbio, fosse para evitar exposição deficitária maior, fosse simplesmente para controlar a dívida externa.
De fato e de direito, o mundo enfrenta uma crise econômica grave e profunda cujo retorno à estabilidade e mesmo a uma leve expansão vai requerer um acerto entre os respectivos bancos centrais dos países mais desenvolvidos além de uma convergência de preços relativos dos produtos das pautas de exportação.
O capitão chinês não tem mais condições de puxar sozinho o barco da economia mundial uma vez que começa a perceber que tem também trincas e buracos no casco. A entrada da China nas águas capitalistas a torna igualmente sujeita a chuvas, trovoadas e inundações.
Do lado de cá da muralha chinesa, o mundo mostra sinais de desconforto severo. Os preços das matérias primas vem caindo a níveis tão baixos quanto aos registrados a cerca de 15 anos atrás. O petróleo cru, por exemplo, o “brent”, chega perto de US$ 50 o barril, quando havia chegado tempos atrás a mais que o dobro deste valor.
Assim, as receitas do comércio exterior de muitos países que dependem de suas exportações de matérias primas e semimanufaturados retraem de maneira assustadora. O que joga terra sobre a manutenção das relações comerciais satisfatórias com a China.
Para completar o quadro delicado, os EUA anunciam aumentar as taxas de juros oficiais depois de as manter por longo período em níveis bem baixos. A medida eleva o valor do dólar e com ele os preços dos produtos americanos, pesando ainda mais na difícil equação comercial e de crescimento mundial.
O Brasil não está imune a esses contratempos. Pelo contrário, sofre também com a queda dos preços das matérias primas, fica mais difícil manter as exportações, perde espaço nos investimentos externos (os investidores correm ao dólar por garantia) e o câmbio mais caro dificulta segurar as importações nos níveis adequados.
O crash chinês, no entanto, vem em boa hora para o ajuste de austeridade levado a termo pelo ministro da Fazenda. A retração da economia brasileira por ele provocada vai ao encontro da retração mundial já em andamento e seu aprofundamento pelo escorregão deste mês da economia chinesa.
O grande imbróglio mundial é que os recursos que não estão mais alimentando o crescimento das economias que se arrastam ou crescem vegetativamente estão concentrados no mercado financeiro. Há uma bolha de poupança flutuando de mercado a mercado em busca de lucratividade longe da esfera produtiva.
Aqui no Brasil a mesma coisa. E a política de Levy alimenta a financeirização da economia. Como o país já está indo para trás por conta de suas medidas, ele se alinha aos demais que não tem para onde ir. A China não é mãe de todas, sozinha não aguenta estimular os mercados funcionando.
Esta era uma boa oportunidade para Joaquim Levy mostrar serviço positivo, se diferenciar da cartilha da austeridade e dar condições para fomentar o crescimento do país.
As principais medidas? De um lado criar incentivos para o investimento produtivo, dadas as perspectivas internais e internacionais, e de outro taxar mais pesadamente as aplicações financeiras especulativas – como propunha James Tobin, prêmio Nobel de economia de 1981.
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