domingo, 13 de dezembro de 2015

Apesar da mídia, protesto é um fracasso

Do blog Viomundo:






As manifestações em defesa do impeachment da presidenta Dilma Rousseff foram um fracasso neste domingo 13, dia em que se “comemora” a implantação do AI5 na ditadura militar.

Um fracasso numérico relativamente aos protestos anteriores, especialmente agora que Eduardo Cunha abriu o processo de impeachment na Câmara e elegeu uma chapa majoritariamente da oposição para conduzí-lo.

O processo encontra-se sob judice no STF.

Como aconteceu anteriormente, o sistema GAFE — Globo, Abril, Folha, Estadão — preparou cobertura especial.

Propagou hora e lugar das manifestações. Fez acompanhamento ao vivo, o que funciona como atrativo para quem pretende apenas aparecer.

A Folha preparou uma edição “especial” trazendo uma pesquisa segundo a qual 68% dos brasileiros dizem não ter mudado de vida depois de 13 anos do PT no Planalto.

Isso não constitui “crime de responsabilidade” da presidenta Dilma, portanto é apenas uma forma subliminar de apoio ao golpe.

A cobertura começou cedo na GloboNews. Como sempre, é o “esquenta” nacional para terminar em São Paulo, depois de um dia todo de transmissão ao vivo que chama as pessoas às ruas.

Na capital paulista, manifestantes se misturam agora àqueles que foram passear na avenida, fechada para automóveis aos domingos.

O caminhão e o palanque dos manifestantes simplesmente fechou a ciclofaixa utilizada por milhares de pessoas aos domingos.

Alexandre Frota apareceu na Paulista se dizendo “artista do bem”. Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, apoiadores do impeachment, não apareceram.

Em São Paulo compareceram José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e o candidato à Prefeitura João Dória.

Aécio Neves não compareceu ao minúsculo evento de Belo Horizonte. Eduardo Cunha não foi ao protesto - nem em Brasília, nem no Rio de Janeiro, ambos menores que os anteriores.

A deputada federal Jandira Feghali, do PCdoB, resumiu no twitter a atuação da “GolpeNews”: muitas imagens fechadas nos repórteres, para não mostrar vazios. Internautas denunciaram que a GloboNews não dedicou cobertura equivalente ao vivo às marchas das Mulheres Contra Cunha ou aos estudantes secundaristas de São Paulo.


Escrevendo para os Jornalistas Livres, o ex-deputado Adriano Diogo relembrou a amarga data:

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O dia que durou dez anos, 13 de dezembro de 1968, ou o golpe dentro do golpe

Por Adriano Diogo, especial para os Jornalistas Livres

Era véspera de vestibular, oito horas da noite e eu estava no curso Objetivo, que então funcionava na Praça da Liberdade, ao lado da Igreja dos Aflitos. João Carlos Di Gênio, dono do cursinho, colocou em todas as caixa de som o pronunciamento do ministro da Justiça da época, Luis Antonio Gama e Silva.

Foi uma noite macabra.

Desci sozinho para o parque D. Pedro para tomar um ônibus e percebi que já estava tudo cercado pelo quartel da região. Nos pontos, as pessoas eram revistadas. Nas fábricas da Mooca, tudo estava cercado. A barra estava pesadíssima.

Todos os teatros fecharam as portas, e as pessoas começaram a se juntar e conversar para saber o que seria do Brasil. Anunciava-se a pena de morte e o banimento. Aquela noite foi apenas o começo de um pesadelo que iria durar dez anos.

Morto pela polícia da Ditadura quando se escondia da repressão dentro do restaurante Calabouço, o secundarista Edson Luís de Lima Souto tornou-se o símbolo triste de uma juventude silenciada à força

Fazia algum tempo que a Ditadura estava sendo fortemente contestada nas ruas. Passeatas se multiplicavam pelo país, a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro, assassinado pela polícia dentro do restaurante Calabouço, provocou uma comoção nacional contra o governo forte de Costa Silva. A UNE, União Nacional dos Estudantes, organizou um grande congresso em Ibiúna em outubro, interior de São Paulo, poucos meses antes. Os jovens foram presos e, depois do pronunciamento do AI-5, os líderes do movimento tornaram-se espécie de reféns clandestinos. A ditadura os marcou — quem estava na organização foi jurado de morte. A USP foi cercada, ninguém entrava sem ser revistado. Os centros acadêmicos foram fechados ou invadidos.

Até o cursinho Objetivo, onde eu estudava, moveu uma forte perseguição aos estudantes. Eu mesmo era visado pela diretoria por levar os colegas ao teatro e conversar sobre política.

O ar estava irrespirável. Se antes do AI-5 a cidade estava efervescente com as contestações ao regime, depois a tristeza e o silêncio se abateram sobre todos. Só se ouviam notícias de gente que saía de casa e não voltava, gente que teve de se esconder, documentos que foram queimados. Eu percebi que o mundo havia mudado. Se antes conseguíamos fazer uma crítica ao acordo MEC-Usaid, de privatização do ensino, depois foi só solidão. Não se podia falar nada, as pessoas sussurravam. A televisão apoiava o endurecimento do regime, instigando o clima de terror, com delações aos colegas, aos professores e intelectuais. A censura piorou muito.

Muitos, como eu, foram presos e torturados ilegalmente pela Ditadura que endureceu com o AI-5. Tantos foram assassinados nos porões do regime, depois de sofrerem suplícios indescritíveis.

E agora, um grupo de golpistas tem a intenção de comemorar essa data macabra, dia 13 de dezembro, com uma manifestação para pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A escolha da data do protesto pelo impeachment é a melhor e mais cabal prova de que esses movimentos que pedem o golpe não estão interessados na Democracia. Longe disso.

Passaram-se 47 anos daquele dia trágico, mas eu e meus companheiros que sobreviveram ao arbítrio, às câmaras de tortura, ao assassinato, estamos aqui como testemunhas de acusação dessa gente que quer a volta da Ditadura ao Brasil.

O povo brasileiro, já tão sofrido, não merece essa empulhação, essa dor, mais este sofrimento.

Não é o que queremos.

É preciso salvar (e melhorar!) a DE-MO-CRA-CI-A.

Um comentário:

  1. E quem estava lá para apoiar esse golpe à Democracia?
    A globosta.

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