Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
As últimas horas tem sido tão frenéticas que o analista fica desorientado com frequência.
Sinais contrários confundem a cabeça dos mais astutos consultores, quanto mais de um blogueiro sujo imerso há anos nas lutas políticas.
Mensalão, trensalão, petrolão, eleições, golpes, conspirações judiciais, Lava Jato, impeachment, grandes manifestações à direita e à esquerda, a democracia brasileira experimenta crises políticas consecutivas, intermináveis, que nada mais são do que as dores do parto de sua própria história.
Nunca foi tão difícil, desafiador e polêmico ser um blogueiro político, enfrentando os ventos ásperos, que no momento tem a força de tornados, do reacionarismo, do fascismo, do autoritarismo, das forças, enfim, do capital, que tentam constamente debilitar as forças do trabalho, da democarcia, da justiça social.
Para se afirmar, o espírito democrático precisa demonstrar coragem e firmeza.
É neste momento de profunda crise política, desencanto, frustrações, emergência de novos fanatismos conservadores, que muitas vezes flertam com a intolerência fascista, que devemos enxergar as manifestações desta quarta-feira.
Não foram manifestações monstruosas.
Mas foram grandes, múltiplas, dignas, coloridas.
Foram tão ou mais pacíficas do que as manifestações coxinhas, nas quais são comuns os casos de agressões gratuitas a pessoas que passam usando cores vermelhas, muitas vezes sem que estas sequer estejam usando o vermelho por algum razão partidária.
Em São Paulo, o ato reuniu 55 mil pessoas, segundo o Datafolha. O mesmo instituto estimou a manifestação coxinha do domingo passado (13/dez) em 40 mil pessoas.
Então a coisa ficou assim: 55 mil X 40 mil, a favor do campo progressista.
E isso no momento mais difícil para o campo progressista, por causa da crise econômica, do declínio da aprovação do governo, das violências políticas da oposição.
Imagine se houver um golpe, e a esquerda se ver livre dos constrangimentos inevitáveis de ser governo?
A precariedade histórica do Estado brasileiro, o atraso mental de nossas elites e classes médias, a baixa instrução política do povo, a existência de um monopólio midiático sem paralelos no mundo democrático, tornam o Brasil um país extremamente complexo para governar. Para qualquer partido!
Não sou fã de Dilma como estadista. Mas acho que é honesta e, como tal, possivelmente é a pessoa certa na hora certa. Porque Dilma, sobretudo, não é uma pessoa autoritária, que proíbe ou desincentiva manifestações, ou que trabalha para conter investigações.
Por trás das conspirações judiciais, mas também por trás da implementação, pela primeira vez em nossa história, de um combate sistemático, mesmo que num primeiro momento seja partidarizado e tiranizado pela mídia, à corrupção política, por trás disso tudo há o silêncio doce, feminino, um pouco triste, de Dilma Rousseff.
***
Entretanto, a diferença entre os atos de domingo e os atos da última quarta-feira não é apenas a magnitude.
A diversidade etária, étnica, social, das manifestações antigolpe foi infinitamente maior.
O ato de domingo não tinha negros, só isso já é de arrepiar os cabelos de qualquer democrata, porque o Brasil é um país com maioria de negros.
Como é que uma manifestação supostamente democrática não tem negros?
O ato dos coxinhas não tinha negros e não tinha periferia.
O ato da paulista tinha periferia.
O ato da Cinelândia tinha periferia.
Os atos progressistas foram, desta vez, muito melhor distribuídos do que os atos coxinhas.
No Rio, aconteceu uma coisa engraçada e muito sintomática. No meio do ato dos coxinhas golpistas, surge um bando de skatistas cantando, empunhando seus skates, efusivos.
Os coxinhas - um bando de velhos branquelos e reaças, diga-se a verdade - ficaram apavorados. Chamaram a polícia. Incentivaram os policiais a partirem para cima dos rapazes, que estavam ali apenas realizando o seu encontro anual. Como de praxe, os policiais partiram pra cima dos jovens, apesar destes tentarem explicar que não eram contra manifestação nenhuma. Nem sabiam do que se tratava. Enquanto isso, velhinhos hidrófobos os acusavam de pertencer ao PCdoB, ao PSOL, ao PT - eles nem sabem a diferença entre os partidos, para eles é tudo "comunista".
Não por um acaso, a maioria dos jovens skatistas eram negros e da periferia.
No Rio, recentemente, um punhado de policiais metralhou jovens negros da periferia, que dirigiam um carro e comemoravam o novo emprego de um deles. Ninguém bateu panela. Não houve revolta na classe média.
Os paneleiros não estão preocupados com a violência policial, e sim em expulsar o PT do poder.
Quando lhe perguntamos, calmamente, quem eles pensam em botar no lugar e com que métodos pretendem expulsar um partido eleito democraticamente, eles respondem histericamente, nos chamando de petralhas, comunistas, bolivarianos, com um ódio que lhes fazem parecer personagens dos anos 30 ou 40.
O Brasil tem eleições, e os resultados devem ser respeitados. Se a esquerda já pediu o impeachment no passado, errou. Não podemos jamais entregar o poder popular ao judiciário, porque estaríamos entregando a nossa liberdade a uma nova espécie de ditadura, e das piores, a ditadura dos juízes.
O golpe voltou a subir no telhado.
Um impeachment, para se materializar, precisa de consenso nacional.
As ruas demonstraram que este consenso não existe.
As últimas horas tem sido tão frenéticas que o analista fica desorientado com frequência.
Sinais contrários confundem a cabeça dos mais astutos consultores, quanto mais de um blogueiro sujo imerso há anos nas lutas políticas.
Mensalão, trensalão, petrolão, eleições, golpes, conspirações judiciais, Lava Jato, impeachment, grandes manifestações à direita e à esquerda, a democracia brasileira experimenta crises políticas consecutivas, intermináveis, que nada mais são do que as dores do parto de sua própria história.
Nunca foi tão difícil, desafiador e polêmico ser um blogueiro político, enfrentando os ventos ásperos, que no momento tem a força de tornados, do reacionarismo, do fascismo, do autoritarismo, das forças, enfim, do capital, que tentam constamente debilitar as forças do trabalho, da democarcia, da justiça social.
Para se afirmar, o espírito democrático precisa demonstrar coragem e firmeza.
É neste momento de profunda crise política, desencanto, frustrações, emergência de novos fanatismos conservadores, que muitas vezes flertam com a intolerência fascista, que devemos enxergar as manifestações desta quarta-feira.
Não foram manifestações monstruosas.
Mas foram grandes, múltiplas, dignas, coloridas.
Foram tão ou mais pacíficas do que as manifestações coxinhas, nas quais são comuns os casos de agressões gratuitas a pessoas que passam usando cores vermelhas, muitas vezes sem que estas sequer estejam usando o vermelho por algum razão partidária.
Em São Paulo, o ato reuniu 55 mil pessoas, segundo o Datafolha. O mesmo instituto estimou a manifestação coxinha do domingo passado (13/dez) em 40 mil pessoas.
Então a coisa ficou assim: 55 mil X 40 mil, a favor do campo progressista.
E isso no momento mais difícil para o campo progressista, por causa da crise econômica, do declínio da aprovação do governo, das violências políticas da oposição.
Imagine se houver um golpe, e a esquerda se ver livre dos constrangimentos inevitáveis de ser governo?
A precariedade histórica do Estado brasileiro, o atraso mental de nossas elites e classes médias, a baixa instrução política do povo, a existência de um monopólio midiático sem paralelos no mundo democrático, tornam o Brasil um país extremamente complexo para governar. Para qualquer partido!
Não sou fã de Dilma como estadista. Mas acho que é honesta e, como tal, possivelmente é a pessoa certa na hora certa. Porque Dilma, sobretudo, não é uma pessoa autoritária, que proíbe ou desincentiva manifestações, ou que trabalha para conter investigações.
Por trás das conspirações judiciais, mas também por trás da implementação, pela primeira vez em nossa história, de um combate sistemático, mesmo que num primeiro momento seja partidarizado e tiranizado pela mídia, à corrupção política, por trás disso tudo há o silêncio doce, feminino, um pouco triste, de Dilma Rousseff.
***
Entretanto, a diferença entre os atos de domingo e os atos da última quarta-feira não é apenas a magnitude.
A diversidade etária, étnica, social, das manifestações antigolpe foi infinitamente maior.
O ato de domingo não tinha negros, só isso já é de arrepiar os cabelos de qualquer democrata, porque o Brasil é um país com maioria de negros.
Como é que uma manifestação supostamente democrática não tem negros?
O ato dos coxinhas não tinha negros e não tinha periferia.
O ato da paulista tinha periferia.
O ato da Cinelândia tinha periferia.
Os atos progressistas foram, desta vez, muito melhor distribuídos do que os atos coxinhas.
No Rio, aconteceu uma coisa engraçada e muito sintomática. No meio do ato dos coxinhas golpistas, surge um bando de skatistas cantando, empunhando seus skates, efusivos.
Os coxinhas - um bando de velhos branquelos e reaças, diga-se a verdade - ficaram apavorados. Chamaram a polícia. Incentivaram os policiais a partirem para cima dos rapazes, que estavam ali apenas realizando o seu encontro anual. Como de praxe, os policiais partiram pra cima dos jovens, apesar destes tentarem explicar que não eram contra manifestação nenhuma. Nem sabiam do que se tratava. Enquanto isso, velhinhos hidrófobos os acusavam de pertencer ao PCdoB, ao PSOL, ao PT - eles nem sabem a diferença entre os partidos, para eles é tudo "comunista".
Não por um acaso, a maioria dos jovens skatistas eram negros e da periferia.
No Rio, recentemente, um punhado de policiais metralhou jovens negros da periferia, que dirigiam um carro e comemoravam o novo emprego de um deles. Ninguém bateu panela. Não houve revolta na classe média.
Os paneleiros não estão preocupados com a violência policial, e sim em expulsar o PT do poder.
Quando lhe perguntamos, calmamente, quem eles pensam em botar no lugar e com que métodos pretendem expulsar um partido eleito democraticamente, eles respondem histericamente, nos chamando de petralhas, comunistas, bolivarianos, com um ódio que lhes fazem parecer personagens dos anos 30 ou 40.
O Brasil tem eleições, e os resultados devem ser respeitados. Se a esquerda já pediu o impeachment no passado, errou. Não podemos jamais entregar o poder popular ao judiciário, porque estaríamos entregando a nossa liberdade a uma nova espécie de ditadura, e das piores, a ditadura dos juízes.
O golpe voltou a subir no telhado.
Um impeachment, para se materializar, precisa de consenso nacional.
As ruas demonstraram que este consenso não existe.
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