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A ida da presidenta Dilma Rousseff ao Congresso Nacional, ontem (2), na abertura dos trabalhos legislativos, foi uma forte indicação de que ela não abre mão das responsabilidades de seu cargo. Foi um gesto de chefe de Estado.
Lá estavam, além dela, os presidentes da Câmara dos Deputados, o inefável Eduardo Cunha, do Senado, Renan Calheiros, e do STF, o ministro Ricardo Lewandowski. Isto é, todo o comando institucional do Estado brasileiro.
Ir ao Congresso e lá pronunciar um discurso com um certo balanço da situação atual do governo e do país, indicar maneiras para enfrentar a crise e propor medidas que cabem à Presidência da República e ao Congresso Nacional – esta foi uma atitude de estadista.
A presidenta exerceu ali a liderança que o país espera dela. A atitude humilde de quem propõe o diálogo e manifesta a disposição de ouvir propostas indica a convicção de que a saída que o país busca aponta para a frente, e não para trás, pelo retrovisor, como querem parlamentares da oposição de direita e alardeia a mídia golpista.
Reconstruir o rumo do crescimento econômico não será tarefa fácil. Esta dificuldade está clara desde a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ocorrida no dia 28, revelando questões controversas que provocarão acalorados debates até que se chegue a um consenso.
Mas não há recuo possível – para o Brasil avançar será preciso aprofundar o rumo das mudanças e encontrar um novo modelo de desenvolvimento, com geração de emprego e valorização do trabalho.
E rejeitar a paralisia que tradicionalmente os neoliberais e a oposição de direita preconizam.
Não há, nem haverá, volta atrás. Dilma indicou o rumo que ela considera capaz de engendrar as mudanças necessárias. Entre elas a controversa reforma da previdência, que já enfrenta forte resistência de diversos setores, em especial dos trabalhadores. Mas também a aprovação da CPMF, enfatizando seu caráter temporário.
Adiantou ainda mudanças tributárias fundamentais para reforçar as contas do governo. Propôs medidas para modernizar e agilizar o aparelho de Estado. Elas correspondem a um verdadeiro programa de governo e que, para se tornarem realidade, vão enfrentar os interesses da elite conservadora que quer apenas a garantia de pagamento de juros para alimentar a ganância rentista e especulativa.
A presidenta não recuou ante temas espinhosos, como aliás nunca o fez. Falou na luta contra a corrupção e defendeu a realização de acordos de leniência com empresas cujos proprietários e dirigentes são acusados e investigados, para que elas continuem funcionando e mantendo os empregos de seus trabalhadores.
Não recuou ao tratar do injusto sistema tributário brasileiro, e referiu-se à necessidade de um novo sistema que seja progressivo, e inclua a necessária tributação dos ganhos de capital e do patrimônio. Isto é, os ricos precisam começar a pagar impostos no Brasil, e esta é uma medida de justiça fiscal que a presidenta vê como muito importante.
Dilma indicou a clara disposição para o diálogo, e esta poderá ser a marca de sua passagem pela Presidência da República. Diálogo pelo país, cujos interlocutores sejam as forças vivas da nação, e que aponte para a frente, para o conjunto de mudanças que tiveram início em 2003 e seu governo se propõe a fazer avançar.
E que terá o apoio fundamental das ruas – do povo e dos trabalhadores, que têm marcada uma manifestação em São Paulo, no próximo dia 17, em solidariedade ao ex-presidente Lula e em defesa da legalidade institucional.
Uma jornalista descreveu a chegada de Dilma Rousseff ao plenário do Congresso Nacional e relatou a dificuldade que encontrou para se deslocar até a mesa da presidência, tantos eram os deputados e senadores que queriam falar com ela, cumprimentá-la, tirar foto com a presidenta... “Uma cena impensável há apenas 50 dias”, assegurou Cristina Lemos em seu blog no R7. É um sinal importante da conjuntura.
Agora, tudo indica, Dilma poderá ter sossego para dar início, de vez, ao segundo mandato.
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