quinta-feira, 9 de junho de 2016

Delações revelam poleiro sujo dos tucanos

Por Altamiro Borges

A sorte dos tucanos de alta plumagem é que a mídia garante forte blindagem aos seus escândalos de corrupção. Nos últimos dias, vários delatores da midiática Operação Lava-Jato deram detalhes sobre as falcatruas de importantes dirigentes do PSDB. Citaram o ex-presidente FHC, o cambaleante Aécio Neves e até um tucano já falecido, o coronel Sérgio Guerra. As denúncias, porém, não ganharam as manchetes dos jornalões, não foram capas das revistonas e nem viraram motivo de comentários nas emissoras de rádio e tevê. Esta omissão só confirma uma brincadeira que circula na internet; basta ser filiado à sigla dos "cheirosos" para não ser investigado, julgado, condenado e, muito menos, preso!

O primeiro a chutar o pau da barraca foi o ex-diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. Em vídeo que acompanha sua "delação premiada" na Lava-Jato, ele afirma que o ex-presidente FHC foi o "elemento de pressão" decisivo que garantiu a contratação de uma firma do seu filho, Paulo Henrique Cardoso, para a construção de uma termoelétrica da Petrobras. Segundo o delator, a associação entre a estatal e a empresa ligada ao filho de FHC - PRS Participações - veio de uma ordem direta de Philippe Reichstul, presidente da Petrobras durante o reinado tucano.

Em outro depoimento, o mesmo Nestor Cerveró desmoraliza de vez os falsos moralistas do PSDB. Ele afirma com todas as letras que o período de maior roubalheira na Petrobras se deu exatamente no reinado de FHC. Segundo relato do Jornal do Brasil, "a delação premiada do ex-diretor internacional da estatal traz detalhes sobre esquemas de corrupção efetuados desde 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso. O valor mais alto em propinas é referente à aquisição da argentina Pérez Companc pela Petrobras em 2002, um negócio que rendeu US$ 100 milhões (R$ 354 milhões) em propina para integrantes do governo FHC".

Outros escândalos ofuscados pela mídia

Já um vídeo vazado pela Polícia Federal mostra que Sérgio Guerra, ex-presidente nacional do PSDB - falecido em 2014 -, fez de tudo para sabotar a CPI criada para investigar denúncias de corrupção na Petrobras em 2009. Gravado por câmeras de segurança, ele exibe uma reunião do tucano com o então diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, e vários empreiteiros. No registro, que também tem áudio, ele afirma ter "horror a CPI". A Folha teve acesso à gravação das conversas, que ocorreram no escritório do lobista Fernando Soares, o Baiano. "Em sua delação, Paulo Roberto Costa disse que Guerra pediu R$ 10 milhões para enterrar a CPI e que o pagamento foi feito pela empreiteira Queiroz Galvão".

Por último, vale citar a delação premiada de Marcelo Odebrecht. A mídia tucana só realçou o trecho em que o empreiteiro cita o apoio financeiro à eleição de Dilma Rousseff, em 2014. Já a parte em que ele diz que a empresa contribuiu com a campanha derrotada de Aécio Neves não mereceu manchetes. A "Veja" só considerou dinheiro podre a contribuição para a petista. Já o cambaleante recebeu grana abençoada e não foi destaque na revista do esgoto. Diante da evidente manipulação, a assessoria da presidenta rechaçou as "informações veiculadas de maneira seletiva, arbitrária e sem amparo factual", condenou "a ofensiva de setores da mídia com o objetivo de atacar sua honra pessoal" e anunciou que "irá tomar as medidas judiciais cabíveis para reparar os danos provocados pelas infâmias".

A cobertura parcial e seletiva da mídia golpista, em conluio com setores da Justiça, ajuda a explicar porque alguns líderes do PSDB ainda insistem em se travestir de paladinos da ética. O poleiro tucano está mais sujo do que pau de galinheiro. Os inúmeros escândalos de corrupção - e muitos deles ainda nem vieram à tona - comprovam que os tucanos são moralistas sem moral, são cínicos oportunistas. Eles só mantêm as aparências graças à blindagem da mídia e ao jogo sujo de promotores e juízes. 

No final de maio, por exemplo, vazou a notícia de que a delação do sócio da OAS foi abafada porque ele inocentou Lula. Segundo uma nota de rodapé da Folha, "as negociações do acordo de delação de Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos de prisão, travaram por causa do modo como o empreiteiro narrou dois episódios envolvendo o ex-presidente Lula". O empreiteiro inocentou o líder petista no caso das obras do apartamento tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Como o depoimento frustrou as intenções dos "justiceiros" da Lava-Jato, ele foi rejeitado pela turma de Sergio Moro e foi abafado pela mídia - a mesma que blinda os "santos" tucanos!

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