sábado, 23 de julho de 2016

Jucá segue mandando no covil de Temer

Por Altamiro Borges

Romero Jucá, presidente nacional do PMDB e primeiro ministro a ser defenestrado do governo interino de Michel Temer, segue dando ordens no covil golpista. De forma discreta, a mídia chapa-branca tem publicado fotos em que ele aparece sorridente em reuniões no Palácio do Planalto. Nesta semana, o site da revista Época, da venal famiglia Marinho, postou uma nota que explicita o poder do senador metido em vários escândalos de corrupção. Segundo a matéria, ele tem mais prestígio do que o interino no Ministério do Planejamento:

“No próximo domingo (24), Dyogo Oliveira completará dois meses à frente do Ministério do Planejamento. Ele, que substituiu Romero Jucá, citado na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, continua na condição de interino. Apesar de sua forte ligação com o governo petista, Oliveira caiu nas graças do presidente interino. É comum, por exemplo, Temer demandá-lo na tentativa de solucionar pedidos de parlamentares. A autonomia de Oliveira, no entanto, é limitada. Jucá permanece influente no Planejamento”.

R$ 30 milhões em propina

A mídia falsamente moralista trata esta situação esdrúxula como algo natural. Não faz escarcéu e não bate bumbo – como era comum durante os governos Lula e Dilma. Isto apesar das denúncias contra o presidente do PMDB serem das mais frequentes. Nesta semana, o seu nome foi novamente citado em mais um caso de corrupção. Segundo o jornal Estadão, uma empresa ligada ao senador abocanhou R$ 30 milhões de empreiteiras investigadas na Lava-Jato. A denúncia foi feita por Flávio Barra, ex-diretor da Andrade Gutierrez.

Em sua “delação premiada”, o executivo relatou que a firma de fachada Itatiba Assessoria, Consultoria e Intermediação de Negócios, indicada pelo cacique do PMDB, recebeu a propina entre 2010 e 2012. O Ministério Público Federal constatou que os repasses foram feitos pela própria Andrade Gutierrez e pelas construtoras Mendes Júnior e OAS. Com mais este caso, Romero Jucá já disputa o título de campeão das mutretas. Ele já é alvo de três inquéritos na Justiça. Mesmo assim, o homem-forte de Michel Temer, que confessou que seu papel no governo golpista seria o de “estancar a sangria” da Lava-Jato, segue incólume – sob a benção da mídia chapa-branca.

Prestando serviços à Gerdau

É certo que Romero Jucá, com sua histórica versatilidade camaleônica, tem costas quentes. No final de junho, veio à tona que ele prestava serviços ao poderoso Grupo Gerdau, um dos mais ricos do país. Um relatório da Polícia Federal, produzido durante a Operação Zelotes, apontou que o senador e ex-ministro do Judas Michel Temer alterou o conteúdo de uma medida provisória a mando do presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, Jorge Johhanpeter, para reduzir a tributação dos lucros da empresa no exterior. Como relator da MP, o senador recebeu orientação direta do consultor jurídico da corporação, conforme revelado em trocas de e-mails.

A Folha golpista até registrou o caso em tom de surpresa. “É a primeira vez que vem a público a participação direta de um senador nos fatos investigados pela Zelotes”. Segundo o relatório da PF, a investigação “indica possíveis práticas de negociação ilegal de medidas provisórias, tendo como contraprestação doações eleitorais, com elementos que apontam para a participação de condutas (em tese, criminosas)" de Romero Jucá e dos deputados Alfredo Kaefer (PSL-PR) e Jorge Côrte Real (PTB-PE). O relatório ainda agrega que apenas um dos braços do Grupo Gerdau doou R$ 27,3 milhões a vários partidos políticos na campanha eleitoral de 2014.

Laranja em rede de TV

Além de lobista das corporações, Romero Jucá também tem seus tentáculos na mídia privada. Em 2014, o empresário Geraldo Magela declarou à Polícia Federal, em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), que aceitou atuar como laranja do senador na abertura e no funcionamento de uma empresa para gerenciar a TV Caburaí, de Boa Vista (RR). Ele teria sido “convidado”, em 1999, para assinar, no Senado, um documento de criação da empresa Uyrapuru Comunicações e Publicidade. “O instrumento particular [de abertura da firma] foi totalmente produzido pelo senador, já estando pronto, faltando somente a assinatura do depoente [Magela]".

Além da Uyrapuru, as empresas Rede Caburaí de Comunicações e Societat Participação "sempre pertenceram ao senador Romero Jucá, o qual sempre deteve de fato a autoridade pelos atos de gestão", acrescentou o “laranja”. Sua denúncia foi confirmada pelo radialista Ronaldo Neves, que afirmou ter trabalhado como gerente operacional da TV entre 2000 e 2001 e que "se reportava a Magela e Jucá" em suas atividades. "Jucá efetivamente participava da gestão da TV Caburaí, inclusive com poder de mando, dando a última palavra na administração da mesma", afirmou à PF. Ele contou ainda que Jucá também "participou do acordo para a sua contratação" na TV.

Falsidade ideológica e impunidade

Na ocasião, o procurador-geral da República solicitou ao STF a abertura de inquérito contra o cacique do PMDB por “crime de falsidade ideológica”. Em sua petição, ele ainda alegou que as denúncias indicariam “a possível prática do crime contra a ordem tributária, pois nada consta da declaração de bens do parlamentar; e crime de apropriação indébita previdenciária, diante da ausência de repasse das contribuições recolhidas’”. Ele ainda ressaltou que a Constituição veda "aos deputados e senadores, desde a posse, ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público".

Até hoje, o Supremo Tribunal Federal, cúmplice do impeachment de Dilma, nada fez contra um dos principais líderes do "golpe dos corruptos". Ele virou ministro no covil de Michel Temer e, poucos dias depois, foi defecado. Mesmo assim, Romero Jucá segue dando as ordens no Palácio do Planalto.

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