terça-feira, 7 de junho de 2016

Jucá, Sarney e Renan no alvo. E o Temer?

Por Altamiro Borges

É certo que não dá para confiar no procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ele é um calculista, frio e matreiro, que nunca disfarçou o seu desejo de "sangrar" Dilma e "matar" Lula. Mas a decisão adotada na manhã desta terça-feira (7), de enviar ao Supremo Tribunal Federal o pedido de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do "ministro-oculto" Romero Jucá, e do ex-presidente José Sarney, acabou melando ainda mais o "golpe dos corruptos". Os três chefões do PMDB são decisivos para garantir a sustentação do governo interino. Mesmo que o pedido não seja acatado, ele tumultua o cenário político e deixa a pergunta no ar: quando chegará a vez do próprio Judas Michel Temer?

Os pedidos de prisão serão avaliados pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato. Eles tiveram como base as gravações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado - o "homem-bomba" que conhece os podres do PMDB. As conversas gravadas com os três citados sugerem uma trama para atrapalhar as investigações do esquema de corrupção da Petrobras. Romero Jucá chega a afirmar que o impeachment da presidenta Dilma é fundamental para "estancar a sangria" das apurações. Com base nestas gravações, que foram vazadas pela Folha, o procurador-geral da República alegou que os três citados estão metidos nas falcatruas e ainda tentaram inviabilizar e abortar a operação Lava-Jato.

A propina de R$ 70 milhões

A notícia bombástica sobre a decisão de Rodrigo Janot foi antecipada pelo jornal "O Globo". No caso de José Sarney, o pedido é de prisão domiciliar, com o uso de tornozeleira eletrônica. Já sobre Renan Calheiros, o procurador também solicita ao STF seu afastamento imediato da presidência do Senado. Romero Jucá, o "homem-forte" de Michel Temer, é o que tem a situação mais complicada com base nas conversas gravadas. Os três reagiram de imediato, alegando que são vítimas de perseguição e de que não há provas sobre o envolvimento em corrupção ou sobre as tentativas de sabotar a Lava-Jato.  

Além do vazamento das conversas, Sérgio Machado já prestou "delação premiada" aos promotores da Lava-Jato. Num dos trechos, o "homem-bomba" afirma com todas as letras que pagou R$ 70 milhões em propina aos líderes do PMDB no Senado com recursos desviados de contratos de subsidiárias da Petrobras. Segundo o delator, a maior parte da grana foi entregue ao presidente do Senado - cerca de R$ 30 milhões. Renan Calheiros é considerado o padrinho político de Sérgio Machado e o principal responsável por dar sustentação a ele no cargo de diretor da estatal, que ocupou por mais de dez anos. Ele também garantiu que Romero Jucá e José Sarney levaram do esquema R$ 20 milhões cada um. 

A "delação premiada" já foi homologada pelo STF. Segundo matéria da Folha, ela indica o caminho do pagamento das propinas. "Entre as suspeitas está a de que os peemedebistas teriam recebido parte da propina em forma de doações eleitorais, para facilitar a vitória de um consórcio de empresas em uma licitação para renovar a frota da Transpetro... Segundo pessoas próximas às investigações, os depoimentos de Machado são um dos melhores entre as delações fechadas, porque revelam detalhes e não apenas indicações ou referências do que teria ouvido sobre o esquema. Machado fechou delação depois que as investigações contra ele e sua família avançaram. Seus três filhos também colaboram com a Procuradoria. Machado teve seus sigilos bancário e fiscal quebrados pelo juiz Sérgio Moro".

"Homem-bomba" atingirá Temer?

Após detonar três líderes do PMDB, muitos indagam quais seriam as próximas vítimas do "homem-bomba". Afinal, Sérgio Machado tem farto explosivo. Ele conhece a fundo os esquemas do partido-frente que ocupou postos de comando em todos os governos desde a redemocratização do país. Como observa o jornalista Bernardo Mello Franco, "o novo delator da praça é um exemplar típico do "homo brasiliensis". Filho de político, dono de uma emissora de TV, ele não teve dificuldade para comprar a entrada no Congresso. Começou no PMDB, elegeu-se deputado e senador pelo PSDB e voltou ao partido de origem para disputar o governo do Ceará, em 2002", sendo derrotado nas urnas.

"Assim que o PT chegou ao Planalto, o senador Renan Calheiros o indicou para presidir a Transpetro, a subsidiária de transportes da Petrobras. Machado chefiou a estatal por 12 anos. Só caiu em fevereiro de 2015, depois de sucessivas licenças para tentar escapar do foco da Lava Jato... Quando a prisão se tornou iminente, o peemedebista resolveu virar delator. Pôs um gravador no bolso e saiu à caça de frases que comprometessem os padrinhos. Sua primeira gravação derrubou o senador Romero Jucá do Ministério do Planejamento... O novo homem-bomba conhece os segredos de mais gente em Brasília. O ex-senador Delcídio do Amaral disse que sua delação vai 'parecer a Disney' perto do que Machado ainda tem a revelar. Pelo clima de tensão na capital, ele pode estar certo".

Outras gravações e delações são esperadas, o que deve atormentar o sono de Michel Temer. Afinal, o ex-presidente nacional do PMDB - que se licenciou para assaltar o Palácio do Planalto - tinha ciência das mutretas do seu partido. Sérgio Machado sempre manteve sólidas ligações com o velho cacique. Na conversa gravada com José Sarney - e vazada pelo Jornal Nacional -, ele afirma categoricamente: "Eu contribui pro Michel... Falei com ele até num lugar inapropriado, que foi na base aérea". Na gravação, ele diz que ajudou vários candidatos do PMDB, "a pedido do presidente em exercício... Os diálogos não revelam de que forma se deu a contribuição. Temer nega ter pedido doação".

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