Roberto Freire, o presidente do PPS que golpeou o antigo PCB, virou um neoliberal militante e transformou seu partido num mero apêndice dos tucanos-demos, ficará sem discurso na próxima campanha eleitoral. No rastro do escândalo do “arrudagate”, que defenestrou o único governador do DEM no país, surgem indícios de que seus seguidores também embolsaram o “mensalão” no Distrito Federal. Augusto Carvalho, outro bravateiro “ético” do PPS, surge como um dos envolvidos no escândalo.
A investigação da Polícia Federal do “mensalão do DEM” inclui um vídeo em que a diretora da empresa Uni Repro Serviços Tecnológicos, Nerci Bussamra, acusa o PPS de praticar chantagem e pedir propina para manter um contrato de R$ 19 milhões com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, comandada por Augusto Carvalho. Parte desta propina, conforme fica patente num dos vídeos apreendidos, teria sido destinada ao presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Freire.
“Dar uma freada” no esquema próprio
No diálogo filmado em bom som, a executiva afirma que Fernando Antunes, presidente do PPS-DF e subsecretário de Saúde, ameaçou romper o contrato com a empresa caso ela não repassasse dinheiro ao partido. Perguntada para quem seria enviado o recurso, ela abriu o bico: “Na última conversa que tive com ele [Antunes], ele pediu dinheiro para o partido dele para ajudar o Freire em São Paulo e eu não disse não para ele”. Num outro vídeo, a empresária entrega uma sacola de uma loja de sapatos cheia de maços de notas de R$ 100 e R$ 20.
O delator de todo este esquema de corrupção, o ex-secretário Durval Barbosa chegou a reclamar do apetite do PPS diretamente ao governador do Distrito Federal. De acordo com o inquérito da Polícia Federal, ele criticou o partido de Roberto Freire, que teria montado um esquema próprio de arrecadação de recursos ilícitos, o que atrapalharia os “planos do DEM”. O diálogo é risível: “Você tem de pegar o Antunes e dar uma freada”, afirma Barbosa. “Também acho”, responde o governador. “O Augusto e o Antunes tomaram muito dinheiro dela [Nerci]”, conclui Barbosa.
Órfãos num partido sem discurso
Desesperado, o PPS já abandonou o barco de José Roberto Arruda. Mas há quem tema reações diabólicas do demo, que já ameaçou se vingar dos que o “traíram”. A cada dia aparecem novas denúncias no escândalo do “arrudagate”. A mais recente vitima é o presidente do PSDB no Distrito Federal, Márcio Machado. Tucano de carteirinha há 14 anos, ele continua no cargo de secretário de Obras. O PSDB também deixou o governo, mas, diferente do PPS, preferiu não mexer no seu homem-bomba. Teme as represálias e novas revelações da operação “Caixa de Pandora” da PF.
A denúncia envolvendo os dois caciques do PPS, Augusto Carvalho e Roberto Freire, deve estar incomodando os militantes deste partido – alguns com histórico de lutas pela democracia e por justiça. Desde a crise do “partidão”, no final dos anos 80, Freire golpeou o congresso do PCB – que até se reorganizou, mas hoje tem pouco peso político – e liderou a guinada à direita com a criação do PPS. O partido se travestiu de vestal da ética e tornou-se uma filial do PSDB. Com as denúncias do “arrudagate”, o PPS fica totalmente sem discurso e muitos militantes ficam órfãos.