O sempre bem humorado Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, escreveu um texto hilário sobre o seminário da direita midiática promovido pelo Instituto Millenium. Publidado no sítio Carta Maior, reproduzo-o abaixo:
Acabou o carnaval, mas a festa continua. Vem aí, gente, o Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium. O acontecimento será no dia 1º de março, no Hotel Golden Tulip, na capital paulista. A inscrição é uma pechincha: R$ 500 por cabeça.
A lista de palestrantes é de primeira. Lá estarão o dr. Roberto Civita (Abril), o ministro Hélio Costa (Globo), Marcel Granier (dono da RCTV, famosa por tramar e propagar o golpe de 2002 na Venezuela), Demétrio Magnoli (venerando Libelu de direita, que está decidindo se o melhor é ser contra a política de cotas ou contra a política de quotas), Denis Rosenfield (entidade do folclore gaúcho que ainda não tomou conhecimento do fim da Guerra Fria), Arnaldo Jabor (o espirituoso), Carlos Alberto Di Franco (dirigente da organização democrática Opus Dei), Marcelo Madureira (humorista neocon), Reinaldo Azevedo (claro!), Roberto Romano (ético ao quadrado) e os modernos deputados Fernando Gabeira e Miro Teixeira.
Intelectuais de programa
O Instituto Millenium veio para ficar. Foi fundado em 2005, no Rio de Janeiro. Não se sabe se tem algo a ver com o conceituado Café Millenium, estabelecimento classe A, onde gente de primeira ia buscar diversões, digamos, adultas até julho de 2007, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Café Millenium não escondia seu negócio. O slogan era “sua noite de primeiro mundo”. Com belíssimas garotas a excitar a imaginação e a ação de senhores de fino trato, vendia o que anunciava. Deve-se à fúria moralizante do prefeito Gilberto Kassab – um “Jânio sem alcool”, na genial definição de Xico Sá – o fechamento desta e de outras instituições semelhantes, nos tempos em que as enchentes não eram preocupação de um alcaide movido a reeleição.
No site do Instituto Millenium não há nenhuma informação sobre o paradeiro do Café. Os proprietários devem ter feito alguns arranjos aqui e ali, para não dar muito na vista e resolveram tocar o pau. Para manter o embalo dia e noite, aparentemente já contrataram alguns intelectuais de programa, vários articulistas que não estão no mapa, inúmeros jornalistas de vida fácil e go-go-oldies. Discrição total. O distinto senhor ou senhora comprometida pode ir sem medo, que é todo mundo limpinho, o ambiente está aparelhado para experiências das mais exóticas. Há estacionamento e os acompanhantes falam inglês e são educados.
O tal do fórum
O máximo do prazer será a atração deste início de março, o Fórum Democracia e Liberdade de Expressão. Entre os apoiadores do evento, sempre segundo o site do Millenium, estão a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a RBS e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela democracia. Figura lá, além do Instituto Liberal, um sensacional Movimento Endireita Brasil (MEB), cujo nome diz tudo.
A Carta de Princípios do Café, digo Instituto, é das mais edulcoradas. Entre tantos pontos, está lá: “promover a democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade”. Assim, o mercado, quase como sinônimo de democracia. Mais adiante são enunciados seus valores e princípios: “o direito de propriedade, as liberdades individuais, a livre iniciativa, a afirmação do individualismo, a meritocracia, a transparência, a eficiência, a democracia representativa e a igualdade perante a lei”. Jóia! Vamos todos aderir!
Entre os conselheiros “de governança” e mantenedores está a fina flor da sociedade brasileira. Entre outros, figuram João Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo), Jorge Gerdau Johannpeter, Roberto Civita (Abril) e Washington Olivetto (presidente da W/Brasil). Já no Conselho Editorial está o sempre alerta Eurípedes Alcântara (diretor da redação de Veja) e no Conselho de Fundadores e de Curadores está ninguém menos que Pedro Bial, o grande comandante do programa cultural Big Brother Brasil, um modelo do que se pode fazer com a liberdade de expressão às mancheias. Coroando tudo está o Gestor do Fundo Patrimonial, Dr. Armínio Fraga, que dispensa maiores apresentações.
Com o empenho do Café, digo do Instituto Millenium, a democracia e a liberdade de expressão passam a ser mais valorizadas no Brasil. Por baixo, por baixo, a valorização deve ser de 500% em fundos off shore.
Todos dia 1º. de março ao Millenium, gente. A sua noite – ou dia - de primeiro mundo!
Em tempo: Não se sabe ainda se os antigos proprietários do Café Millenium entrarão na Justiça contra os mantenedores do Instituto Millenium. A ação se daria não apenas por plágio, mas por comprometer o bom nome do Café em uma possível volta ao mercado.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Quarta-feira de cinza da mídia demotucana
Reproduzo as pertinentes perguntas feitas pelo sítio Carta Maior em plena ressaca do carnaval:
1- Por que, a exemplo do que fez tantas vezes com o PT, a mídia não parte do fato policial para resgatar o passado e o presente das relações políticas do demo José Roberto Arruda?
2- Por que esquece – ou esconde? – entre outras coisas, que Arruda foi nada menos que líder de FHC na Câmara Federal?
3- Por que a mesma amnésia subtrai ao leitor que Arruda era a grande – e única – “revelação administrativa” dos demos [sobretudo depois do fiasco Kassab], e “nome natural” para ocupar a vice-presidência na coalizão demo-tucana liderada por Serra?
4- Por que, súbito, abriu-se um precipício de silêncio midiático sobre as relações entre Serra e Arruda, omitindo-se, inclusive, “o simpático” simbolismo da sintonia capilar entre ambos – mencionada por ninguém menos que o próprio governador tucano em evento conjunto em 2009?
5- Por que a obsequiosa Eliane Cantanhêde, da Folha, e os petizes da Veja, que tantas e tantas linhas destinaram a enaltecer a determinação de Arruda em “cortar o gasto público” – e ainda o fazem na ressalva ao “bom administrador que tropeçou na ética”, segundo Cantanhêde – sonegam aos seus leitores a autocrítica pelo peixe podre que venderam como caviar?
6- Por que, enfim, o esfarelamento da direta nativa abrigada nos Demos não merece copiosas páginas de retrospectiva histórica, que situe para os leitores a evolução daqueles que, como Arena e PFL, foram esteio da ditadura e da tortura e hoje são os aliados carnais de José Serra?
1- Por que, a exemplo do que fez tantas vezes com o PT, a mídia não parte do fato policial para resgatar o passado e o presente das relações políticas do demo José Roberto Arruda?
2- Por que esquece – ou esconde? – entre outras coisas, que Arruda foi nada menos que líder de FHC na Câmara Federal?
3- Por que a mesma amnésia subtrai ao leitor que Arruda era a grande – e única – “revelação administrativa” dos demos [sobretudo depois do fiasco Kassab], e “nome natural” para ocupar a vice-presidência na coalizão demo-tucana liderada por Serra?
4- Por que, súbito, abriu-se um precipício de silêncio midiático sobre as relações entre Serra e Arruda, omitindo-se, inclusive, “o simpático” simbolismo da sintonia capilar entre ambos – mencionada por ninguém menos que o próprio governador tucano em evento conjunto em 2009?
5- Por que a obsequiosa Eliane Cantanhêde, da Folha, e os petizes da Veja, que tantas e tantas linhas destinaram a enaltecer a determinação de Arruda em “cortar o gasto público” – e ainda o fazem na ressalva ao “bom administrador que tropeçou na ética”, segundo Cantanhêde – sonegam aos seus leitores a autocrítica pelo peixe podre que venderam como caviar?
6- Por que, enfim, o esfarelamento da direta nativa abrigada nos Demos não merece copiosas páginas de retrospectiva histórica, que situe para os leitores a evolução daqueles que, como Arena e PFL, foram esteio da ditadura e da tortura e hoje são os aliados carnais de José Serra?
Noblat “apunhala” o demo Arruda
A mídia golpista brasileira é caradura. O governador demo José Roberto Arruda está preso em Brasília, o que evidentemente abala os planos do “vice-careca” do tucano José Serra, e ela ainda tenta aproveitar o caso para desgastar o governo Lula. Os jornalões oligárquicos e as redes “privadas” de televisão chegaram a insinuar que o presidente “lamentou” a detenção do líder do “mensalão do DEM”. Na verdade, ele havia lamentado o episódio e não a prisão decretada pela Justiça. Alguns veículos até deram as duas versões, mas não fizeram autocrítica da manipulação.
Irritado, o presidente Lula criticou as distorções da imprensa. “Não fiquei chocado com a prisão. Fico chocado quando vejo as denúncias de corrupção, quando aparece aquele filme do Arruda recebendo dinheiro”, afirmou em entrevista às rádios de Goiás. Ele também opinou que a Polícia Federal não deve fazer “pirotecnia” com a prisão do único governador demo no país e disse que já encaminhou ao parlamento um projeto de lei que transforma a corrupção em crime hediondo. “Precisamos ser mais duros com a corrupção, com o corrupto e com o corruptor”.
Um truque rasteiro de manipulação
Ou seja: a versão apresentada pela mídia demo-tucana, que citou “fontes” de forma leviana, foi pura falsidade. Lula não defendeu a impunidade do governador corrupto do Distrito Federal, que inclusive é seu adversário político e figurava como possível candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra. Mas a mídia golpista, ardilosa e rasteira, tentou vender novamente a falsa idéia de que “todos os políticos são corruptos”. Ela procurou colar a desgastada imagem do demo Arruda à de Lula, que bate recordes de popularidade, num nítido truque de manipulação.
Um dos mais descarados neste jogo sujo foi o jornalista Ricardo Noblat, o blogueiro da famíglia Marinho. Na sua coluna, ele mais uma vez destilou veneno: “Ao contrário do que acha Lula, não é ruim para a política brasileira que vá preso um governador apontado pela Polícia Federal como chefe de ‘uma organização criminosa’. É bom. Muito bom... É espantosa a mania cultivada por Lula de passar a mão na cabeça de bandidos. A corrupção pode não ter crescido no período de Lula. Mas banalizou-se. Essa será a herança maldita que ele legará ao seu sucessor”.
“Mensalinho” e álibi de Arruda
Espantosa mesmo é a mania de Ricardo Noblat de distorcer fatos e palavras. Ele não chega nem a ficar ruborizado com o seu cinismo. No ano passado, este vestal da ética ficou em apuros ao ser descoberto que ele recebia do Senado. Pelo contrato assinado em setembro de 2008, na época em que o demo Efraim Moraes era secretário da casa, ele garfaria R$ 40.320 por ano para “pesquisas e produção de um programa semanal na Rádio Senado”. O caso demorou a ser revelado porque no contrato não aparecia o seu sobrenome famoso, mas apenas Ricardo José Delgado. O blog “Amigos do presidente Lula” foi um dos primeiros a desvendar o “mensalinho do Noblat”.
O mesmo blog revelou ainda que o jornalista da famíglia Marinho mantinha antigas relações com o governador corrupto, agora chamado por ele de “chefe da organização criminosa”. Em 2001, Noblat escreveu a declaração que serviu de álibi para o então senador do PSDB tentar salvar seu mandato no escândalo da violação do painel eletrônico. Na ocasião, Arruda jurou inocência e, choroso, leu uma carta do “insuspeito jornalista Ricardo Noblat”, que atestaria que ambos tinham jantado num restaurante de Brasília na noite do crime. Agora, o demo é apunhalado por Noblat.
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