terça-feira, 13 de novembro de 2018

Não é a palavra que importa, são as atitudes

Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:

O presidente eleito, o capitão reformado Jair Bolsonaro, tem sido tratado como fascista e representante da extrema-direita por cientistas políticos estrangeiros e pela imprensa internacional. No Brasil, onde sua ação radical se renova e aprofunda a cada dia, há uma suavidade constrangida que escorre dos manuais de redação do jornalismo dito profissional e de acadêmicos titulados. Tem sido vendido como de centro-direita e tratado com uma condescendência servil. Para seu futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, ele “parece moderado”.

Corrupção e o agigantamento do Judiciário

Por Juliana Streicher Fuzaro

Perante nossa Constituição Federal de 1988, o Judiciário tem como característica agir quando provocado, tendo intrinsecamente uma força de inércia. Com a criação de respaldos e instituições anticorrupção, iniciados no Governo Lula, o Judiciário se viu aprumado e com uma responsabilidade abstrata perante a população. Tal movimento é latente na América Latina, devido a crises políticas e econômicas que assolam o território nos últimos anos. O movimento anticorrupção transformou o Judiciário em um ator político.

A guerra ideológica do bolsonarismo

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

A eleição passou mas os grupos de whatsapp do bolsonarismo continuam em franca atividade, alimentando a guerra ideológica e cultural que o presidente eleito também atiça, ao investir contra as universidades e contra o Enem, cujas provas promete fiscalizar, como fez na transmissão de sexta-feira à noite por uma rede social.

A “ideologia de gênero” e sua maior lenda, o kit gay, o antipetismo e o comunismo continuam com a cotação alta nos grupos, indicando que o obscurantismo e a intolerância não foram espasmos da campanha. Vieram para ficar.

A psicologia de massas do fascismo

Por Gilberto Maringoni

Lançado há exatos 85 anos, quando o nazismo chegava ao poder na Alemanha, "Psicologia de massas do fascismo" segue perturbadoramente atual. Willelm Reich (1897-1957) examina o papel do fascismo na afirmação do indivíduo oprimido, suas relações com a sexualidade e a fiel identificação com o líder.

O livro pode ser encontrado na íntegra com um clique no Google. Abaixo, um trecho particularmente afiado:

Onyx Lorenzoni e a parcialidade de Moro

Por Cláudia Motta, na Rede Brasil Atual:

O juiz Sérgio Moro criou um novo tipo de extinção de punição a quem comete um crime “mais grave do que corrupção” – segundo ele mesmo. "É a extinção de punibilidade se houver pedido de desculpas. Talvez ele possa colocar isso nas tais medidas que está dizendo que vai aprovar contra a corrupção", afirma o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Durante coletiva de imprensa, na terça-feira (6), após aceitar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do futuro governo de Jair Bolsonaro, o juiz de Curitiba consentiu que um réu confesso permaneça impune caso admita seu erro e peça desculpas. Questionado sobre integrar uma equipe ministerial ao lado de um político assumidamente beneficiado por recursos de caixa 2, caso do deputado federal Onyx Lorenzoni, Moro respondeu: “Ele já admitiu e pediu desculpas”.

Uma grande batalha de classes

Por Umberto Martins, no site da CTB:

O auditório do Dieese em São Paulo revelou-se pequeno para acomodar mais de 300 lideranças do movimento sindical que presenciaram o seminário sobre a Previdência promovido pelas centrais sindicais na manhã desta terça-feira (12). O chileno Mario Villanueva, dirigente da Confederação dos Profissionais da Saúde, expôs um estudo sobre a situação da Previdência em seu país, cujo modelo o economista Paulo Guedes, o superministro da Economia de Bolsonaro, pretende impor ao Brasil.

O Brasil a caminho do hospício

Por Mino Carta, na revista CartaCapital:

No país material e moralmente devastado pelos efeitos do golpe de 2016, Jair Bolsonaro prepara-se para exercer a Presidência da República. Há quem o defina como fascista ou nazista, de extrema-direita ou super-reacionário. Bolsonaro, entretanto, é tão único como será seu governo e o próprio Brasil. Qualquer comparação é impossível.

Estamos diante da exasperação de tudo quanto sofremos em dois anos e alguns meses, através de uma série de atentados à razão.

A campanha não acabou e a guerra só começou

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Quinze dias após a sua vitória nas urnas, para o presidente eleito Jair Bolsonaro a campanha ainda não acabou.

Pelas suas manifestações em entrevistas e vídeos, o capitão reformado deixa claro que a guerra contra os “vermelhos” está só começando.

“Vermelhos”, para o novo presidente, quer dizer todos os que não votaram nele, ou seja, quase metade do país que foi às urnas.

Foi exatamente essa mesma guerra que ele moveu nos seus 28 anos como deputado federal, combatendo o PT e os movimentos sociais, e não é agora que ele vai mudar.

Conjecturas sobre o governo Bolsonaro

Por Ricardo Carneiro, no site Carta Maior:

Em países nos quais o Estado não é capaz de garantir de forma democrática os seus monopólios fundadores, o da violência e o da moeda, não raro surgem as soluções ad hocpara essas atribuições. No primeiro caso, por meio de restrições crescentes à operação do Estado de direito e de forma mais radical, pela constituição de grupos paramilitares. No segundo, por soluções que atrelam a gestão da moeda a outra, mais forte, os currency boards. As variantes mitigadas dessas formas polares são recorrentes nas sociedades periféricas, onde não raro se observa o exercício do monopólio da violência, não por instituições democráticas, mas pelas burocracias, em particular a militar. Por sua vez, o poder da finança e a fragilidade do Estado podem ser tais que a gestão da moeda pode ser cedida incondicionalmente ao setor privado, por meio de formas extremadas do banco central independente.

Os marechais e suas cinco estrelas

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

O futuro dirá o quão danoso será ao país e às próprias Forças Armadas o quadro esdrúxulo que vai se formando no futuro governo Bolsonaro.

Generais da reserva recém saídos do Alto Comando do Exército não são, na prática, civis como outros quaisquer, jubilados em suas carreiras.

Formam não só uma confraria – se quiserem chamar assim, uma “ala militar” do governo – como têm a tendência quase inevitável de sobreporem-se às estruturas formais de comando e subordinação das Forças Armadas.

Amadorismo e delírios da política externa

Ilustração: Andrés Casciani
Por João Filho, no site The Intercept-Brasil:

Quando Trump ligou para parabenizar Bolsonaro pela eleição, não havia nenhum integrante da campanha preparado para traduzir a conversa. O filho de um empresário amigo do presidente eleito foi escalado para a missão. A primeira conversa entre o presidente eleito e o presidente da economia mais forte do mundo foi intermediada por um youtuber de 24 anos. Parece uma cena de filme do Mazzaropi, mas é o jeitinho estabanado com que o bolsonarismo tem lidado com a política externa.

Resistência não é escolha: é sobrevivência

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

A coreografia atual de Jair Bolsonaro não deve confundir ninguém. Embora o novo presidente tenha recebido o voto de 39% dos eleitores, a partir de 1 de janeiro de 2019 o comando do Estado brasileiro estará nas mãos de uma articulação política que jamais escondeu sua falta de compromisso com a democracia.

Parece razoável prever que, ao longo de um mandato previsto para durar quatro anos, o governo Bolsonaro tentará valer-se de todos os meios a seu alcance - legais e paralegais - para percorrer um caminho clássico. Construir uma posição de força e evitar de qualquer maneira um possível retorno pelas urnas do bloco político que venceu as quatro eleições presidenciais anteriores, e deixou a campanha na posição de única opção viável - em novembro de 2018, não custa sublinhar - a um programa de extrema-direita que até agora nunca havia recebido o respaldo das urnas brasileiras.