sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Até o Estadão critica bravatas de Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Os dois discursos de posse de Jair Bolsonaro – o mais “protocolar”, lido no Congresso Nacional, e o mais “agressivo”, rosnado no Parlatório diante dos seus fanáticos seguidores – continuam gerando celeuma. Se o objetivo das bravatas, típicas de seus tuites, era o de promover o diversionismo e evitar temas mais sensíveis – como o desemprego ou a contrarreforma da Previdência –, o fascistoide obteve sucesso. Até o decadente e oligárquico Estadão, o imprenso que dá o maior apoio ao novo governo entre os principais jornais do país, publicou um editorial duro contra os discursos, o que é bem emblemático. Vale conferir alguns trechos:

Os primeiros dias do governo militar

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Passo 1 - juntando as peças do jogo

Vamos juntar algumas peças dos discursos de posse e das declarações do novo governo Jair Bolsonaro.

* Sua promessa de extirpar o socialismo e o marxismo do país.

* A proposta de unificar a Nação.

* A proposta do Ministro das Relações Exteriores de abrir a estrutura do Itamarati a não diplomatas.

* A proposta do Ministro da Educação de transformar as escolas municipais em escolas militares.

Trump ameaça política externa de Bolsonaro

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

A possibilidade de um processo de impeachment, cada vez mais perto da Casa Branca, coloca em xeque a principal aposta do governo Jair Bolsonaro em sua política externa. Mais do que as investigações contra Donald Trump – conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller, que apura supostas interferências da Rússia nas eleições de 2016 –, pesam contra o republicano pesadas desconfianças dentro de seu próprio partido.

As fontes do veneno

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Os discursos e iniciativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, recebem maior atenção do mercado, é claro, mas também da mídia.

Guedes, entretanto, estaria dizendo as mesmas coisas se fosse ministro de outro presidente alinhado ao liberalismo econômico.

O que nos exige maior vigilância são as palavras e atos dos ministros que integram o núcleo duro ideológico de extrema-direita.

Bolsonaro não descerá do palanque

Por Marcelo Zero

É tocante ver a expectativa ansiosa com que a imprensa e certos setores políticos esperam algum gesto republicano, de conciliação, de comprometimento democrático, ou mesmo de mínima civilização por parte de Bolsonaro et caterva.

Mesmo após serem tratados como porcos em chiqueiro, há veículos e profissionais que dizem torcer pelo “êxito” do governo neofascista, que candidamente preveem que Bolsonaro deverá “governar para todos”, que ele fará concessões “em nome da governabilidade”, que ele terá de “conviver com as instituições democráticas”, que as “perspectivas para a economia são boas”, que isso tende a “distender o ambiente político”, que o “mercado está otimista” etc.

O agronegócio e a indústria cultural

Por Michele Carvalho, no jornal Brasil de Fato:

O ano de 2019 mal começou e a questão fundiária no Brasil já foi alvo de duros ataques do novo presidente Jair Bolsonaro. Poucas horas depois de ser empossado, o capitão reformado passou para o Ministério da Agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e quilombolas.

Em outra decisão, Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). O órgão era formado por 60 pessoas, entre representantes da sociedade civil e do governo, e tinha como objetivo, entre outras tarefas, defender uma alimentação saudável e sem agrotóxico.

O ano novo no jornal O Globo

Por Juliana Gagliardi e João Feres Júnior, no site Manchetômetro:

No primeiro dia do ano, o jornal O Globo adotou já na capa um discurso político ao cobrir, como de costume, a festa da virada em Copacabana. Uma foto enorme do espetáculo de fogos de artifício toma metade do espaço da capa, em cima dela temos a manchete “virada da renovação” seguida do subtítulo “torcida por mudanças no Rio e no Brasil une 2,5 milhões de pessoas em Copacabana” [1]. O jornal foi bem além da descrição dos óbvios desejos de boas festas que as pessoas normalmente trocam nessa data, ao ligar a ideia de renovação aos novos governos eleitos de Jair Bolsonaro e de Wilson Witzel e apresentar o público que compareceu à festa como unidos em torno dessas expectativas. 

O novo chanceler e o escravocrata

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Ao incluir José de Alencar na lista de autores que os brasileiros deveriam ler em seu esforço "para não ter medo" de defenderem seu país, o ministro de Relações Internacionais Ernesto Araújo deu o conselho errado, para a plateia errada, com o personagem errado.

Além de romancista consagrado, José de Alencar (1829-1877) foi um dos mais duros e irredutíveis aliados da escravidão brasileira. Como deputado e como ministro da Justiça, cargo que ocupou por dois anos, travou uma luta, permanente contra a Abolição - o que torna sua indicação, num discurso de posse ministerial, um elemento vergonhoso para um país onde os afrodescendentes formam mais da metade da população, que construiu uma tradição de décadas de boas relações diplomáticas com as nações africanas.

Ódio ao PT segue movendo os bolsonaristas

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

"O medo nos governa. Essa é uma das ferramentas de que se valem os poderosos, a outra é a ignorância" (Eduardo Galeano).

A campanha acabou, o novo governo já tomou posse, a oposição sumiu, mas o ódio ao PT continua do mesmo tamanho.

Entre fanáticos bolsonaristas e novos aliados de ocasião, é isso que move as redes sociais e inspira discursos dos novos donos do poder.

Ninguém fala dos outros 500 partidos que estão querendo cavar uma boquinha no novo governo.

Bolsonaro sinaliza guerra permanente

Charge: Rico Cartum
Por Jeferson Miola, em seu blog:         

Nos discursos de posse no Congresso e no Parlatório do Palácio do Planalto, Bolsonaro optou por uma retórica de guerra.

É improvável que tenha sido uma escolha acidental ou tresloucada. A probabilidade maior, ao invés disso, é de que por trás dessa escolha tem cálculo político e projeção estratégica.

Teoricamente, Bolsonaro mais perderia do que ganharia com esta pregação odiosa e agressiva logo no primeiro ato como presidente empossado. Em regra, todo governo que assume o poder naturalmente conta com a trégua e a relativa parcimônia inicial da imprensa, da sociedade e até mesmo da oposição.