terça-feira, 3 de março de 2009

Resposta ao provocador Mainardi

Diogo Mainardi, colunista da Veja e comentarista da TV Globo, parece que ficou irritadinho com uma postagem deste blog. Na revista estadunidense de maior circulação no Brasil, ele atacou esta página – omitido meu nome e sem dar o endereço deste blog, talvez para evitar que seus leitores leiam opiniões antagônicas as suas. Aproveitou-se de um erro de informação – que teve origem numa notícia que circulou amplamente na internet, inclusive com fotos da festança que reuniu o tucano José Serra e o colunista Arnaldo Jabor. Reconheço o erro e peço desculpas aos leitores. Não padeço da doentia vaidade do provocador global, um hitlerzinho egocêntrico.

O erro, porém, não nega as relações íntimas entre o presidenciável tucano e as “estrelas” globais. A data pode ter sido trocada, mas as relações de vassalagem só aumentaram. Arnaldo Jabor ficou ainda mais rancoroso nos seus comentários na TV Globo, tornando-se um ícone da direita nativa. Miriam Leitão, tida pelo provocador como “a melhor colunista de economia do país”, expressa as idéias neoliberais mais anacrônicas, bancadas pelos demos e rentistas. Em síntese, o erro de informação não anula a essência das críticas às posições fascistóides de Mainardi. Ele até tentou posar de jornalista “neutro”, que critica os seus cupinchas da direita midiática. Puro engodo!

A reação de Mainardi evidencia que a blogosfera incomoda os serviçais da mídia hegemônica – a Folha, que recentemente qualificou a ditadura brasileira de “ditabranda”, também está sentindo a sua força. “A internet é como uma cidadezinha no interior do Pará, assolada por parasitas que proliferam nessas zonas insalubres do Terceiro Mundo”, esbraveja este elitista, na sua linguagem tipicamente preconceituosa. A sua ira, porém, não mete medo. Mainardi é um pitbul desdentado, que late, mas não morde. Não retiro uma palavra que já disse sobre este “difamador travestido de jornalista”. Para reforçá-las, reproduzo artigo de minha autoria publicado em vários sítios em novembro de 2006:

Mainardi, o pitbul da Veja

O presidente interino do PT e ex-coordenador da campanha presidencial de Lula, Marco Aurélio Garcia, deu a resposta que estava entalada na garganta de muitos brasileiros. Na semana passada, o “colunista” Diogo Mainardi, o pitbul da revista Veja, solicitou por e-mail uma entrevista exclusiva com o dirigente petista. “Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista. Ela será apresentada integralmente”, apelou.

A resposta de Marco Aurélio foi direta: “Sr. Diogo Mainardi, há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta, que, aliás, foi republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.

Reacionário e preconceituoso convicto

Há tempos que as estripulias deste badalado jornalista da mídia hegemônica mereciam este tipo de reação. Expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na imprensa brasileira, este direitista convicto colecionou inúmeros adversários desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de temas políticos na sua coluna semanal da revista Veja, na qual escreve desde 1999. Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram maior repercussão, mas seus comentários rancorosos na mídia excitaram a direita nativa. Mais recentemente, ele também substituiu outro renomado elitista, Arnaldo Jabor, no programa Manhattan Connection, da Rede Globo.

Provocador contumaz, ocupou estes espaços midiáticos regiamente pagos para satanizar o governo Lula – “sou um conspirador da elite, quero derrubar Lula, só não quero ter muito trabalho” (Veja, 13/8/05) – e tudo o que tenha alguma conotação progressista. Não poupa o MST, o sindicalismo, os intelectuais e as lideranças de esquerda no país e no mundo. Apóia o genocídio dos EUA no Iraque e odeia Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chávez. Prepotente e egocêntrico, ele chegou se gabar de “quase ter derrubado o presidente Lula” e ficou furioso com os milhões de votos dados para a sua reeleição. A exemplo de outro ícone da “nova direita”, Reinaldo Azevedo, faz questão de explicitar a sua aversão e nojo ao povo.

“Difamador travestido de jornalista”

No meio jornalístico, Mainardi é visto como um aventureiro, um troglodita, em busca de fama e dinheiro. Também é chamado de fascista por ter criado o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promove uma cruzada leviana contra vários profissionais da imprensa. “Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou ao anunciar a estréia do seu “tribunal” na Veja em dezembro de 2005. “Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha na rua. Outro dia mesmo ela foi vista em Brasília distribuindo santinhos do PT. Paulo Henrique Amorim pertence a outra raça de lulistas. Ele é da raça dos lulistas aloprados, dos lulistas bolivarianos. Ele acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja”, afirmou recentemente em sua coluna.

Esta atitude fascistóide já resultou em vários processos na Justiça de jornalistas como Mino Carta e Paulo Henrique Amorim. Mas também lhe rendeu dividendos entre os barões da mídia e a direita. No caso mais famoso e execrável, Mainardi precipitou a demissão do jornalista Franklin Martins da Rede Globo. Na guerra pública travada entre os dois, iniciada após a inclusão do segundo na lista “macartista” da Veja, a poderosa emissora preferiu ficar com o estrume da direita – uma opção de classe. Mas Franklin Martins não levou desaforo para casa. Desafiou publicamente “o difamador travestido de jornalista” a comprovar a “estapafúrdia história de que eu teria uma cota pessoal de nomeações no serviço público”, publicada na revista Veja de abril de 2006. Vale a pena reproduzir alguns trechos deste documento:

“Não tem compromisso com a verdade”

“Se qualquer um dos 81 senadores ou senadoras vier a público e afirmar que o procurei pedindo apoio me sentirei sem condições de seguir em meu trabalho como comentarista político. Pendurarei as chuteiras e irei fazer outra coisa na vida. Em contrapartida, se nenhum senador ou senadora confirmar a invencionice do Sr. Mainardi, ele deverá admitir publicamente que foi leviano e, a partir daí, poupar os leitores da Veja da coluna que assina na revista. O Sr. Mainardi topa o desafio? Se não topar, o Sr. Mainardi estará apenas confessando que não tem compromisso com a verdade e deixando claro que não passa de um difamador”.

“Nos últimos meses, semana sim, semana não, pelo menos duas dúzias [de jornalistas] foram vítimas de investidas absolutamente desrespeitosas, carregadas de insinuações capciosas contra as suas atividades e carreiras. Mas como ninguém deu pelota para os arreganhos do rapaz – nem os jornalistas, que simplesmente não o levam a sério, nem os leitores da Veja, que já se cansaram de ver um anão de jardim querendo passar-se por um gigante da crônica política –, o Sr. Mainardi decidiu aumentar o calibre de seus ataques. E partiu para a difamação pura e simples”.

“Vivemos numa democracia, felizmente. Todos têm direito a defender suas idéias, mesmo os doidivanas, e a tornar públicas as suas posições, mesmo as equivocadas. Em compensação, todos estão obrigados a aceitar que elas sejam criticadas livremente. O Sr. Mainardi, por exemplo, tem a prerrogativa de dizer as bobagens que lhe dão na telha, mas não pode ficar chateado se aparecer alguém em seguida dizendo que ele não passa de um bobo. Pode pedir a deposição do presidente Lula, mas não pode ficar amuado se alguém, por isso, chamá-lo de golpista. Pode dizer que o povo brasileiro é moralmente frouxo, mas não pode se magoar depois se alguém classificá-lo apenas como um tolo enfatuado. Ou seja, o Sr. Mainardi pode falar o que quiser, mas não pode querer impedir que os outros falem”.

“As tolices e o bobo da corte”

“Mais ainda: o Sr. Mainardi é responsável pelo que fala e escreve. Enquanto permaneceu no terreno das bobagens e das opiniões disparatadas, tudo bem. Faz parte da democracia conviver com uma cota social de tolices e, além disso, presta atenção no bobo da corte quem quer. Mas quando o bufão passa a atacar a honra alheia, substituindo as bobagens pela calúnia e as opiniões disparatadas pela difamação, seria um erro deixá-lo prosseguir na sua torpe empreitada. No Estado de Direito, existe um caminho para os que consideram que tiveram a honra atacada por um detrator: recorrer à Justiça. É o que farei nos próximos dias”.

”Desde já, adianto que, se a Justiça fixar indenizações por dano moral, o dinheiro será doado à Federação Nacional dos Jornalistas e à Associação Brasileira de Imprensa. Não quero um centavo dessa causa. Não dou tanta importância a dinheiro como o Sr. Mainardi, que já definiu seu próprio perfil: ‘Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha’. Prefiro ficar com Cláudio Abramo: ‘O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter’. Mas, para tanto, o Sr. Mainardi está incapacitado. Não porque lhe seja escassa a inteligência; simplesmente falta-lhe caráter. A história da moedinha diz tudo”.

“Mainardi envergonha os jornalistas”

O “macartismo mainardiano” já causou certa revolta no meio jornalístico – infelizmente, muito aquém do necessário. Um abaixo-assinado foi encaminhado à Central Globo de Jornalismo manifestando “o nosso protesto e preocupação com a demissão do jornalista e comentarista político Franklin Martins, um dos mais qualificados e respeitados profissionais do país. Acusado levianamente por um articulista, cuja missão ‘do momento’ parece ser unicamente agredir profissionais e intelectuais com relevantes serviços prestados ao aperfeiçoamento democrático do país, Martins não teve direito de resposta. Esperamos que a Justiça obrigue esse veículo a atender este preceito básico do jornalismo: ouvir o contraditório”.

O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal também teve a honradez de acioná-lo na Justiça por sua defesa escancarada do assassinato de Hugo Chávez, feita durante o programa Manhattan Connection de setembro de 2005. “Se o pastor protestante dos EUA, Pat Robinson, quiser realmente matar o presidente Chávez, eu ajudo”, bravateou. “Este deplorável episódio exige reflexões severas sobre o papel dos meios de comunicação e dos comunicadores sociais. Diogo Mainardi envergonha os jornalistas brasileiros com essa campanha homicida e revela a natureza intelectual, a estatura moral e o caráter de certa oposição aos dirigentes que empreendem transformações sociais no continente”, explicou a nota do sindicato.

Sua postura leviana gerou críticas até de Alberto Dines, do Observatório da Imprensa: “Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes meses de crise. Ouviram falar de Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção da Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade. Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos que mais recebia mensagens; agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor da Veja já não agüenta tanta fanfarronada”.