Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Quem cala, consente. O velho e surrado ditado aplica-se ao silêncio do Palácio do Planalto diante das notícias de que Temer avalizou o acordão que está em curso na Câmara para garantir a Eduardo Cunha a salvação de seu mandato em troca da renúncia à presidência da Casa. Um governo dissociado da manobra para salvar o mais encalacrado dos aliados, o que mais fortemente representou a transformação da política em negociatas e chantagens, teria emitido uma nota oficial ou providenciado uma declaração pública, feita por alguém autorizado e de preferência pelo próprio ocupante da Presidência. Temer não desmentiu porque não pode e vai ter que sujar as mãos no esforço para salvar o mandato de Cunha, que o manterá com foro especial no STF. A alternativa é esperar que ele seja cassado e preso e torne-se delator, jogando ao mar a cúpula do PMDB e quem sabe o próprio Temer.
O fato de ter havido acordo ou aval de Temer ao jogo da renúncia não significa que o governo será capaz de garantir a salvação de Cunha. Cassação de colegas caídos em desgraça, com voto aberto e transmissão ao vivo, sempre é uma prova de fogo para os deputados. Ainda mais em se tratando de Cunha, a cabeça mais reclamada pela opinião pública indignada.
Na própria Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo integrantes, Cunha já sabia que seria derrotado na votação de seu recurso, pedindo que o processo de cassação seja revisto pelo Conselho de Ética. Argumentou que o colegiado o julgou como presidente da Casa, agora precisaria julgá-lo como deputado raso, despojado do poder que tinha. Apostar que o Conselho será mais indulgente com ele por não se sentar mais naquela cadeira é supor que o colegiado tem dois pesos e duas medidas morais. Não sendo presidente, qualquer deputado estaria mais liberado para mentir, transgredir, manobrar e praticar os atos de que é ele acusado nas delações dos processos judiciais. A derrota na CCJ e no Conselho levará rapidamente o processo de cassação ao plenário, onde nenhum governo, por mais forte que seja, tem o dom de controlar a maioria dos deputados, exigindo que façam um haraquiri moral diante da opinião pública.
O envolvimento do governo na batalha do plenário, entretanto, pressupõe a eleição de um aliado de Cunha para a presidência da Câmara antes da votação do pedido de cassação. Não ter no comando desta sessão o vice em exercício Waldir Maranhão foi uma exigência de Cunha. Por isso seus amigos do Colégio de Líderes tentaram antecipar a eleição para terça-feira, mas Maranhão reagiu e a manteve para quinta-feira. A conversa palaciana de que o Planalto ficará distante da disputa não convence. Ainda que não fosse por Cunha, o governo teria que se interessar pela escolha do novo presidente pensando em sua própria agenda. Cunha foi o exemplo acabado, sob Dilma, do que pode sofrer um governo tendo um adversário na presidência da Câmara. “Meu poder é maior que o dela”, disse ele algumas vezes. E acabou sendo, porque ele disparou o impeachment.
Aí começa o enrosco do momento. O nome do homem preferido por Cunha é Rogério Rosso, do PSD/Centrão, mas as coisas estão saindo do controle. Já são 14 candidatos colocados para o primeiro turno. E contrariando a velada decisão palaciana, de que o PMDB não entrará na disputa (para favorecer o nome do Centrão), o deputado e ex-ministro de Dilma Marcelo de Castro, que votou contra o impeachment, já registrou sua candidatura. Uma parte da oposição parece inclinada a apoiá-lo. Tendo a eleição ficado para quinta-feira, alonga-se o tempo do jogo e aumentam as chances de um desenlace diferente do esperado por Cunha e pelo Planalto.
Mas mesmo com a vitória do candidato de Cunha, a cassação parece favas contadas. E depois dela começará o calvário de Cunha na esfera da Justiça, que pode levá-lo à delação premiada, por mais que ele jure nada ter a delatar, assim como jurava que não iria renunciar.
Quem cala, consente. O velho e surrado ditado aplica-se ao silêncio do Palácio do Planalto diante das notícias de que Temer avalizou o acordão que está em curso na Câmara para garantir a Eduardo Cunha a salvação de seu mandato em troca da renúncia à presidência da Casa. Um governo dissociado da manobra para salvar o mais encalacrado dos aliados, o que mais fortemente representou a transformação da política em negociatas e chantagens, teria emitido uma nota oficial ou providenciado uma declaração pública, feita por alguém autorizado e de preferência pelo próprio ocupante da Presidência. Temer não desmentiu porque não pode e vai ter que sujar as mãos no esforço para salvar o mandato de Cunha, que o manterá com foro especial no STF. A alternativa é esperar que ele seja cassado e preso e torne-se delator, jogando ao mar a cúpula do PMDB e quem sabe o próprio Temer.
O fato de ter havido acordo ou aval de Temer ao jogo da renúncia não significa que o governo será capaz de garantir a salvação de Cunha. Cassação de colegas caídos em desgraça, com voto aberto e transmissão ao vivo, sempre é uma prova de fogo para os deputados. Ainda mais em se tratando de Cunha, a cabeça mais reclamada pela opinião pública indignada.
Na própria Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo integrantes, Cunha já sabia que seria derrotado na votação de seu recurso, pedindo que o processo de cassação seja revisto pelo Conselho de Ética. Argumentou que o colegiado o julgou como presidente da Casa, agora precisaria julgá-lo como deputado raso, despojado do poder que tinha. Apostar que o Conselho será mais indulgente com ele por não se sentar mais naquela cadeira é supor que o colegiado tem dois pesos e duas medidas morais. Não sendo presidente, qualquer deputado estaria mais liberado para mentir, transgredir, manobrar e praticar os atos de que é ele acusado nas delações dos processos judiciais. A derrota na CCJ e no Conselho levará rapidamente o processo de cassação ao plenário, onde nenhum governo, por mais forte que seja, tem o dom de controlar a maioria dos deputados, exigindo que façam um haraquiri moral diante da opinião pública.
O envolvimento do governo na batalha do plenário, entretanto, pressupõe a eleição de um aliado de Cunha para a presidência da Câmara antes da votação do pedido de cassação. Não ter no comando desta sessão o vice em exercício Waldir Maranhão foi uma exigência de Cunha. Por isso seus amigos do Colégio de Líderes tentaram antecipar a eleição para terça-feira, mas Maranhão reagiu e a manteve para quinta-feira. A conversa palaciana de que o Planalto ficará distante da disputa não convence. Ainda que não fosse por Cunha, o governo teria que se interessar pela escolha do novo presidente pensando em sua própria agenda. Cunha foi o exemplo acabado, sob Dilma, do que pode sofrer um governo tendo um adversário na presidência da Câmara. “Meu poder é maior que o dela”, disse ele algumas vezes. E acabou sendo, porque ele disparou o impeachment.
Aí começa o enrosco do momento. O nome do homem preferido por Cunha é Rogério Rosso, do PSD/Centrão, mas as coisas estão saindo do controle. Já são 14 candidatos colocados para o primeiro turno. E contrariando a velada decisão palaciana, de que o PMDB não entrará na disputa (para favorecer o nome do Centrão), o deputado e ex-ministro de Dilma Marcelo de Castro, que votou contra o impeachment, já registrou sua candidatura. Uma parte da oposição parece inclinada a apoiá-lo. Tendo a eleição ficado para quinta-feira, alonga-se o tempo do jogo e aumentam as chances de um desenlace diferente do esperado por Cunha e pelo Planalto.
Mas mesmo com a vitória do candidato de Cunha, a cassação parece favas contadas. E depois dela começará o calvário de Cunha na esfera da Justiça, que pode levá-lo à delação premiada, por mais que ele jure nada ter a delatar, assim como jurava que não iria renunciar.
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