Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Peça 1 - a arte de prever o pensamento médio do mercado
O mercado trabalha sob a ótica do investidor racional, o que toma suas decisões baseado em análises e na lógica. Não é assim. No mercado, há um efeito manada similar ao que acomete o público comum em relação a eventos de repercussão.
Há vários tipos de análises no mercado.
A mais consistente é a chamada análise fundamentalista - que se debruça sobre os fundamentos da economia e da empresa analisada. A boa análise permite ao analista prever como a economia estará daqui a algum tempo. Mas não é suficiente para prever o chamado pensamento médio do mercado. É o pensamento médio que, em última instância, define o valor da ação.
Os ganhos são obtidos por quem consegue prever o pensamento médio do mercado – ou seja, a irracionalidade dos movimentos de manada – em relação aos fatos concretos que ocorrerão na economia.
Peça 1 - a arte de prever o pensamento médio do mercado
O mercado trabalha sob a ótica do investidor racional, o que toma suas decisões baseado em análises e na lógica. Não é assim. No mercado, há um efeito manada similar ao que acomete o público comum em relação a eventos de repercussão.
Há vários tipos de análises no mercado.
A mais consistente é a chamada análise fundamentalista - que se debruça sobre os fundamentos da economia e da empresa analisada. A boa análise permite ao analista prever como a economia estará daqui a algum tempo. Mas não é suficiente para prever o chamado pensamento médio do mercado. É o pensamento médio que, em última instância, define o valor da ação.
Os ganhos são obtidos por quem consegue prever o pensamento médio do mercado – ou seja, a irracionalidade dos movimentos de manada – em relação aos fatos concretos que ocorrerão na economia.
Peça 2 – como operam os profissionais
Hoje em dia, as Bolsas estão subindo devido a uma nova onda de liquidez internacional, que inclusive ameaça formar novas bolhas globais. Os três índices da Bolsa de Nova York – Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq – alcançaram máximas históricas, algo que não acontecia desde 1999.
Aí analistas profissionais, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, assumem posições compradas – que trazem ganhos ao investidor sempre que a bolsa sobe. Ele sabe que o governo Temer é instável, que está longe de se consolidar. Sabe, inclusive, que há uma probabilidade cada dia menos remota do próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caçar a chapa completa de Dilma, levando Temer junto.
Mas o que interessa é o movimento de curto prazo da Bolsa até a votação do impeachment. Ele passa, então, a atribuir a alta da Bolsa à suposta consolidação do governo Temer (http://migre.me/uG6Ds). Esse discurso é repetido por outros profissionais de mercado, criando o efeito manada.
A Bolsa continuará subindo até o dia da votação do impeachment. No dia seguinte, o país continuará o mesmo, não haverá mais dúvidas sobre a permanência de Temer no curto prazo, mas mesmo assim a Bolsa despencará porque Mendonça e outros operadores profissionais, começarão a vender suas posições, realizando lucros. E quem ficará com o mico são os investidores menos informados, que acreditaram que a alta se devia a fatores internos e ao enorme brilho do governo Temer.
Portanto, todas essas análises sobre o mercado subordinam-se a visões de curtíssimo, curto, algumas vezes médio prazo. E os movimentos de manada, quase sempre, são montados em cima de visões parcialíssimas da economia.
Peça 3 - a análise fundamentalista
A rigor, o mercado é afetado por fatores externos e internos. A análise fundamentalista é aquela que tenta analisar as empresas de forma sistêmica, com todos os fatores que poderão impactar seus resultados. E mesmo ela, com toda sua racionalidade, dificilmente autoriza conclusões taxativas sobre as cotações – porque estas dependem do pensamento médio, que não se move racionalmente.
Veja no quadro abaixo, com um pequeno resumo dos fatores que impactam a Petrobras.
Lado externo
O principal fator é o preço do petróleo. Sobe o petróleo, sobe a ação da Petrobras e vice-versa.
As cotações do petróleo são afetadas pela oferta, demanda e pela liquidez internacional.
Do lado da oferta, há inúmeros fatores geopolíticos presentes. Uma crise fiscal na Rússia, um conflito no Irã, uma crise na Venezuela, são fatores que impactam diretamente a oferta do produto.
Do lado da demanda, o desempenho econômico da China e dos países da União Europeia.
Do lado da liquidez, a situação das taxas de juros internacionais e das injeções de liquidez dos Bancos Centrais que, injetando muito dinheiro na economia global, promovem movimentos especulativos com commodities.
Todos esses fatores estão entrelaçados. Um acirramento de ânimos entre EUA e Rússia, por exemplo, afetará a oferta de petróleo, aumentará as avaliações de risco e, por consequência, a liquidez internacional.
Tem-se hoje em dia um quadro internacional bastante similar ao brasileiro, sem a presença de figuras referenciais capazes de apontar rumos ou promover pactos. Cria-se um campo extremamente volátil para previsões. O caso Brexit é sintomático da imprevisibilidade dos modelos.
Lado interno
A cotação final da Petrobras é dada pelos seus resultados de balanço e pelos ecos do mercado de ações em geral.
Os resultados próprios são afetados pelo aumento da produção, cotação dos derivados, redução do passivo. Nem sempre o que é bom para o acionista é bom para a empresa. O acionista se move exclusivamente pelos resultados de curto prazo enquanto a empresa tem que se planejar no longo prazo.
Os movimentos do mercado de ações, por sua vez, se refletem automaticamente nas cotações das empresas. O mercado é afetado por eventos internacionais (a maior ou menor liquidez internacional) e por eventos internos.
Grande parte do mercado atua de forma binária. São os investidores que recorrem a robôs que disparam ordens de compra ou venda quando a cotação atinge determinados patamares.
A maioria do mercado, mesmo os que não recorrem a robôs, atua de maneira binária.
Se o impeachment passar, a bolsa sobe até o dia da votação. Depois, cai.
Se não passar à reforma da Previdência, a bolsa cai.
Se a Lava Jato detonar ainda mais o Lula, a Bolsa sobe.
Se a Lava Jato pegar o Temer, a bolsa cai.
Se passar o limite de gastos a Bolsa sobe.
Tudo isso é avaliado evento a evento. Se um determinado evento leva a uma alta da Bolsa, no dia seguinte à ele, a Bolsa cairá por realização de lucros.
Hoje em dia, as Bolsas estão subindo devido a uma nova onda de liquidez internacional, que inclusive ameaça formar novas bolhas globais. Os três índices da Bolsa de Nova York – Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq – alcançaram máximas históricas, algo que não acontecia desde 1999.
Aí analistas profissionais, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, assumem posições compradas – que trazem ganhos ao investidor sempre que a bolsa sobe. Ele sabe que o governo Temer é instável, que está longe de se consolidar. Sabe, inclusive, que há uma probabilidade cada dia menos remota do próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caçar a chapa completa de Dilma, levando Temer junto.
Mas o que interessa é o movimento de curto prazo da Bolsa até a votação do impeachment. Ele passa, então, a atribuir a alta da Bolsa à suposta consolidação do governo Temer (http://migre.me/uG6Ds). Esse discurso é repetido por outros profissionais de mercado, criando o efeito manada.
A Bolsa continuará subindo até o dia da votação do impeachment. No dia seguinte, o país continuará o mesmo, não haverá mais dúvidas sobre a permanência de Temer no curto prazo, mas mesmo assim a Bolsa despencará porque Mendonça e outros operadores profissionais, começarão a vender suas posições, realizando lucros. E quem ficará com o mico são os investidores menos informados, que acreditaram que a alta se devia a fatores internos e ao enorme brilho do governo Temer.
Portanto, todas essas análises sobre o mercado subordinam-se a visões de curtíssimo, curto, algumas vezes médio prazo. E os movimentos de manada, quase sempre, são montados em cima de visões parcialíssimas da economia.
Peça 3 - a análise fundamentalista
A rigor, o mercado é afetado por fatores externos e internos. A análise fundamentalista é aquela que tenta analisar as empresas de forma sistêmica, com todos os fatores que poderão impactar seus resultados. E mesmo ela, com toda sua racionalidade, dificilmente autoriza conclusões taxativas sobre as cotações – porque estas dependem do pensamento médio, que não se move racionalmente.
Veja no quadro abaixo, com um pequeno resumo dos fatores que impactam a Petrobras.
Lado externo
O principal fator é o preço do petróleo. Sobe o petróleo, sobe a ação da Petrobras e vice-versa.
As cotações do petróleo são afetadas pela oferta, demanda e pela liquidez internacional.
Do lado da oferta, há inúmeros fatores geopolíticos presentes. Uma crise fiscal na Rússia, um conflito no Irã, uma crise na Venezuela, são fatores que impactam diretamente a oferta do produto.
Do lado da demanda, o desempenho econômico da China e dos países da União Europeia.
Do lado da liquidez, a situação das taxas de juros internacionais e das injeções de liquidez dos Bancos Centrais que, injetando muito dinheiro na economia global, promovem movimentos especulativos com commodities.
Todos esses fatores estão entrelaçados. Um acirramento de ânimos entre EUA e Rússia, por exemplo, afetará a oferta de petróleo, aumentará as avaliações de risco e, por consequência, a liquidez internacional.
Tem-se hoje em dia um quadro internacional bastante similar ao brasileiro, sem a presença de figuras referenciais capazes de apontar rumos ou promover pactos. Cria-se um campo extremamente volátil para previsões. O caso Brexit é sintomático da imprevisibilidade dos modelos.
Lado interno
A cotação final da Petrobras é dada pelos seus resultados de balanço e pelos ecos do mercado de ações em geral.
Os resultados próprios são afetados pelo aumento da produção, cotação dos derivados, redução do passivo. Nem sempre o que é bom para o acionista é bom para a empresa. O acionista se move exclusivamente pelos resultados de curto prazo enquanto a empresa tem que se planejar no longo prazo.
Os movimentos do mercado de ações, por sua vez, se refletem automaticamente nas cotações das empresas. O mercado é afetado por eventos internacionais (a maior ou menor liquidez internacional) e por eventos internos.
Grande parte do mercado atua de forma binária. São os investidores que recorrem a robôs que disparam ordens de compra ou venda quando a cotação atinge determinados patamares.
A maioria do mercado, mesmo os que não recorrem a robôs, atua de maneira binária.
Se o impeachment passar, a bolsa sobe até o dia da votação. Depois, cai.
Se não passar à reforma da Previdência, a bolsa cai.
Se a Lava Jato detonar ainda mais o Lula, a Bolsa sobe.
Se a Lava Jato pegar o Temer, a bolsa cai.
Se passar o limite de gastos a Bolsa sobe.
Tudo isso é avaliado evento a evento. Se um determinado evento leva a uma alta da Bolsa, no dia seguinte à ele, a Bolsa cairá por realização de lucros.
Peça 4 - O mercado e o país
A partir daí, é paradoxal a ideia de que o desenvolvimento virá de políticas econômicas que atendam o mercado no curto prazo.
Voltemos à análise do Mendonça de Barros. Para não ficar mal com os especialistas de fato, ele inclui na sua análise, ainda que em segundo plano, a liquidez internacional e os juros estratosféricos proporcionados pela taxa Selic. Enfatiza que as próximas mudanças fiscais propostas por Temer aumentarão ainda mais a credibilidade do país.
No plano real, de visão de futuro, o que ocorrerá?
1. Juros altos: desestimulam os investimentos produtivos.
a. Aumentam a taxa de retorno requerida para os investimentos.
b. Pressionam a dívida pública, absorvendo mais recursos do orçamento.
c. Como consequência, são reduzidos os os investimentos públicos e os gastos.
2. Limites orçamentários, cortando na carne despesas com saúde e educação, interessam apenas aos rentistas. Os limites para a alta de juros são dados pela relação dívida/PIB. Com os cortes orçamentários, ganha-se mais tempo para a manutenção de juros elevados. Mas compromete o investimento produtivo:
a. Menos oferta da mão-de-obra especializada.
b. Menos dinamismo no mercado interno.
c. Menos atividade econômica, com menos interesse pelas concessões de infraestrutura.
3. Cortes de gastos sociais alimentam a instabilidade política. De um lado, pelo aumento das tensões sociais e da criminalidade em geral. De outro, por inviabilizar politicamente o governo que aplica essas políticas, induzindo-o a ações visando interromper o processo político. Para o investimento produtivo – que planeja para horizontes de décadas – é um forte desestímulo. Para o investimento especulativo, um chamariz, porque saídas abruptas de capital também permitem grandes ganhos financeiros.
É evidente que Mendonça de barros sabe de tudo isso. Mas, como operador de mercado, seu papel é buscar aquilo que é melhor para o mercado.
Esse vício contaminou toda a estrutura produtiva brasileira. As grandes corporações trocaram o crescimento sustentado pelos ganhos de tesouraria. É o típico caso do cachorro se alimentando do próprio rabo.
E essa extravagância, própria de nações subdesenvolvidas, é tratada como tema sofisticado.
A partir daí, é paradoxal a ideia de que o desenvolvimento virá de políticas econômicas que atendam o mercado no curto prazo.
Voltemos à análise do Mendonça de Barros. Para não ficar mal com os especialistas de fato, ele inclui na sua análise, ainda que em segundo plano, a liquidez internacional e os juros estratosféricos proporcionados pela taxa Selic. Enfatiza que as próximas mudanças fiscais propostas por Temer aumentarão ainda mais a credibilidade do país.
No plano real, de visão de futuro, o que ocorrerá?
1. Juros altos: desestimulam os investimentos produtivos.
a. Aumentam a taxa de retorno requerida para os investimentos.
b. Pressionam a dívida pública, absorvendo mais recursos do orçamento.
c. Como consequência, são reduzidos os os investimentos públicos e os gastos.
2. Limites orçamentários, cortando na carne despesas com saúde e educação, interessam apenas aos rentistas. Os limites para a alta de juros são dados pela relação dívida/PIB. Com os cortes orçamentários, ganha-se mais tempo para a manutenção de juros elevados. Mas compromete o investimento produtivo:
a. Menos oferta da mão-de-obra especializada.
b. Menos dinamismo no mercado interno.
c. Menos atividade econômica, com menos interesse pelas concessões de infraestrutura.
3. Cortes de gastos sociais alimentam a instabilidade política. De um lado, pelo aumento das tensões sociais e da criminalidade em geral. De outro, por inviabilizar politicamente o governo que aplica essas políticas, induzindo-o a ações visando interromper o processo político. Para o investimento produtivo – que planeja para horizontes de décadas – é um forte desestímulo. Para o investimento especulativo, um chamariz, porque saídas abruptas de capital também permitem grandes ganhos financeiros.
É evidente que Mendonça de barros sabe de tudo isso. Mas, como operador de mercado, seu papel é buscar aquilo que é melhor para o mercado.
Esse vício contaminou toda a estrutura produtiva brasileira. As grandes corporações trocaram o crescimento sustentado pelos ganhos de tesouraria. É o típico caso do cachorro se alimentando do próprio rabo.
E essa extravagância, própria de nações subdesenvolvidas, é tratada como tema sofisticado.
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