sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Nova operação para blindar Aécio Neves

Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional dos tucanos, é um dos parlamentares mais citados em delações da Lava Jato.

No final de 2014, o doleiro Alberto Youssef foi o primeiro a mencionar o presidente nacional dos tucanos, como beneficiário de esquema de propinas.

A Youssef, se seguiram Carlos Alexandre de Souza Rocha, o “Ceará”, e Fernando Moura.

Segundo o já antecipado pela imprensa, Aécio consta também das delações de executivos da Odebrecht, da Andrade Gutierrez e de Léo Pinheiro, da OAS.

Isso sem falar nas delações premiadas de Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, e do senador cassado Delcídio do Amaral (Sem Partido).

A delação de Delcídio tem 255 páginas. O nome do senador Aécio aparece dezoito vezes, sendo quatro como Aéceo.

Entre outras acusações, Delcídio diz que Aécio Neves, em 2005, na época governador de Minas Gerais, teria atuado no sentido de maquiar dados comprometedores fornecidos pelo Banco Rural à CPI dos Correios. A maquiagem, segundo Delcídio, teria servido para esconder a gênese do mensalão, que surgiu em Minas.






Delcídio disse, ainda, que Aécio recebeu propina do esquema de Furnas, confirmando a delação de Youssef.



“Em 2002, Aécio amealhou R$ 5,5 milhões [em valores atuais, cerca de R$15,9 milhões] apenas para ele”, observa o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG). “Nas provas, também tem o dinheiro que foi para José Serra e para Alckmin.”

Em junho deste ano, 2016, motivado pela delação de Delcídio, o publicitário Marcos Valério, preso em Minas Gerais, desde 2013, por envolvimento no “mensalão” do PT, resolveu abrir o bico em relação ao senador Aécio Neves.

Ele disse ao Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MP-MG) ter documentos originais que provariam a maquiagem de informações do Banco Rural. Papeis que comprovariam as fraudes em empréstimos para políticos do PSDB mineiro.

Marcos Valério disse ter provas também provas em relação ao mensalão tucano, que a mídia insiste em chamar de mensalão mineiro. Aécio estava na lista do Cláudio Mourão, como tendo recebido R$ 110 mil reais; em valores atuais, R$ 482 mil.

Parêntese: A Lista de Cláudio Mourão, que foi o mensalão tucano, e a Lista de Furnas são dois momentos distintos e ainda causam muita confusão, já que ambas têm origem em Minas, no mesmo grupo político.

A Lista do Mourão é de 1998 Foi a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo, financiada com recursos públicos. Foram gastos mais de R$ 100 milhões em dinheiro da época, uma verdadeira fortuna. Em valores atualizados, equivaleriam a R$ 438 milhões.

Já a Lista de Furnas refere-se à campanha eleitoral de 2002. Foi o esquema que sustentou os tucanos na campanha de 2002. Fechando parêntese.

Pois bem, em 21 de junho, segundo o jornal O Tempo, Marcos Valério foi ouvido durante cerca de três horas por promotores de Defesa do Patrimônio Público e detalhou como poderia colaborar com as investigações do mensalão tucano, que ainda está sendo julgado pela Justiça mineira. O próprio Valério é réu em uma das ações do caso.

Diz O Tempo:

De acordo com fontes próximas das negociações para acordo de delação, Valério teria munição para implicar até 18 pessoas, incluindo cerca de dez autoridades que têm foro privilegiado nos níveis federal e estadual.

Durante o mês de junho, a delação de Marcos Valério envolvendo Aécio Neves foi notícia em todos os grandes portais. Só que, de lá para cá, praticamente sumiu do noticiário.

Na sexta-feira passada, 19 de agosto de 2016, o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), que, desde 2005, denuncia esquemas ilícitos envolvendo Aécio Neves, foi ao MP-MG, para tratar de uma questão dos trabalhadores da Educação, que ele acompanha direto.

Lá se encontrou com alguns promotores e teve uma grande surpresa.

O depoimento de Marcos Valério para a delação premiada foi, de fato, tomado pelos promotores.

Só que, não está mais em Minas. Já “voou” para Brasília, mais precisamente para o doutor Rodrigo Janot, procurador-geral da República.

“Pelo que me foi relatado, o Marcos Valério confirmou o que o Delcídio delatou sobre o Aécio”, afirma Rogério Correia. “As denúncias são gravíssimas. Tratam do mensalão tucano e da maquiagem dos dados do Banco Rural.”

O mensalão tucano, especificamente, saiu do STF, em Brasília, para Minas Gerais. Agora, saiu de Minas e retornou a Brasília, na moita.

“Afinal de contas, por que o depoimento de Marcos Valério está sendo mantido a sete chaves?”, questiona, indignado, Rogério Correia. “Cadê a delação do Marcos Valério? Ninguém pergunta. Silêncio total!”

A interpelação do deputado mineiro procede.

Marcos Valério pediu para fazer delação premiada em relação ao mensalão tucano, da época do Eduardo Azeredo e do Aécio Neves. Pediu também para falar da maquiagem das informações fornecidas pelo Banco Rural.

Ele deu o seu depoimento.

Os promotores encaminharam-no, então, ao procurador-geral de Minas Gerais, doutor Carlos André, que, dizem em Minas, é um tucano de bico roxo.

Só que, em vez de o doutor Carlos André ficar com os casos referentes a Minas, ele decidiu encaminhar tudo ao PGR Rodrigo Janot, para que ele faça a separação que julgar necessária, já que envolve algumas pessoas com foro privilegiado de outros Estados.

“Por que ele não ficou pelo menos com os de Minas, já que o STF enviou o mensalão tucano para cá?”, questiona Rogério Correia.

“Tudo indica que, a partir de Minas, fizeram mais uma operação abafa, para blindar novamente o senador Aécio Neves”, denuncia Rogério Correia. “O depoimento do Marcos Valério está com o Janot. E nós provavelmente vamos ficar de novo nas mãos dele e do Gilmar Mendes, que todo mundo sabe protege o Aécio.”

“Por que as outras delações são divulgadas e as referentes a Aécio Neves são escondidas?”, insiste Rogério Correia.

“A sociedade tem o direito de saber o que Marcos Valério revelou”, salienta o deputado.”Não podemos ficar mais reféns da blindagem feita pelo doutor Janot, pelo ministro Gilmar Mendes e pela mídia ao senador Aécio!”

Daí o deputado Rogério Correia ter protocolado nessa terça-feira, 24 de agosto, dois ofícios no Ministério Público de Minas Gerais (na íntegra, ao final), reiterando solicitação já encaminhada em julho (os negritos são nossos):

(…) “informações sobre o inquérito civil relativo ao empresário Marcos Valério, que aponta possíveis ilegalidades operadas por membros do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no Estado de Minas Gerais, o chamado “mensalão tucano”, bem como a expedição de uma certidão acerca dos fatos, considerando as diligências realizadas no referido inquérito até o presente momento.

Ainda em tempo, gostaria que fosse enviado, caso seja possível, cópia da delação premiada feita pelo Sr. Marcos Valério que aponta possíveis fatos novos no tocante ao inquérito em questão.

Rogério Correia arremata: “O motivo real do golpe está ficando claro para a sociedade. Foi para retirar direitos sociais e trabalhistas. O pretexto da corrupção vai sendo esquecido. Para isso, é preciso livrar Aécio, Serra e companhia das denúncias de propinas. A grande mídia, Gilmar Mendes e Janot já estão cuidando disso”.

A propósito: Marcos Valério prometeu entregar documentos que comprovam o mensalão tucano.

Por isso, reiteramos a pergunta que já fizemos aqui: Será que ele vai falar da modelo que seria a “mula” do esquema?



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