quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Que falta o Cunha faz para Michel Temer?

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Seria demais exigir de um filho de Cesar Maia que não carregasse o vício do factóide em seu DNA.

Já no reinício dos “trabalhos” parlamentares Rodrigo Maia cometeu dois erros crassos, que vão custar caro à bolsa de “bondades” de Michel Temer e que lhe causam um estrago sem precedentes junto à feroz matilha neoliberal da mídia.

O primeiro foi o “lançamento” da candidatura Temer em 2018. Maia fez aquilo que era murmúrio ganhar “aspas” como se diz em linguagem jornalística. Obrigou o presidente interino a uma negativa chocha – chocha porque falsa – de que pretenda o cargo, o que não serviu para livrá-lo de tomar uma carrada de desaforo dos colunistas atucanados da grande mídia.

Ao ponto de despertar uma defesa de seu direito político a candidatar-se, hoje, de Elio Gaspari, em termos em que deus me livre de ser defendido, tão deprimente é a narrativa de seus atos na interinidade. E, de quebra, ainda trouxe de volta o assunto de sua inelegibilidade, que é coisa que e”se resolve”. Sabe-se que “jeitinho” é com “J”, embora Gilmar seja com “G”.

Os tucanos, embora fingindo aceitar todos os desmentidos de Temer, estão de tesoura em punho para podar suas asas e vão regatear cada voto em seus projetos na Câmara, exceto aqueles que forem de arrocho ao trabalhador, como Previdência e CLT, carne a que seus bicos não resistem.

O segundo erro crasso de Maia foi marcar, antes de resolvido o “imbroglio” da votação do alongamento das dívidas dos estados” a leitura do relatório da Comissão de Ética para a próxima segunda-feira.

Contava em votar ontem o acordo da dívida, depois das concessões feitas pelo Governo, especialmente aquela que deixava juízes e Ministério Público fora do arrocho imposto ao resto do funcionalismo. Não deu, porque a base aliada, segundo O Globo, quer retirar a maior parte das exigências de controle de gasto com pessoal e ajuste fiscal impostas pela equipe econômica para conceder um prazo extra de 20 anos para os estados quitarem seus débitos.

Como a votação do projeto da dívida foi levada para a semana que vem, estabeleceu-se uma distância muito curta em relação à votação da cassação de Cunha – que, em tese, poderia ocorrer na quinta-feira. Os remanescentes do cunhismo, claro, farão de tudo para que não haja quorum ou para obrigar Maia ao vexame de, lido o relatório, não marcar a votação.

E já contam com a tolerância dos “moralistas”, como registra O Globo:

Se os aliados de Cunha querem ajudá-lo, adiando a votação, deputados da antiga oposição admitem nos bastidores que seria sensato aguardar o impeachment de Dilma e evitar, assim, qualquer tipo de turbulência.

- O melhor é não correr o risco de fazer qualquer tipo de marola numa piscina que está com água tranquila - afirmou um tucano.

No centrão, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), defendeu que a cassação aconteça depois:
- Seria uma consideração com Cunha, protagonista desse processo.

Arantes, para quem não se recorda, foi o relator do processo de admissibilidade do impeachment na Câmara, e com Dilma não teve nenhuma “consideração”.

Maia, que foi guindado à presidência com o desejo de Temer de livrar-se de Cunha, estava “se achando”. Deve ter caído à dura realidade de ser, ainda, “boi novo na boiada”.

Podem esquecer os “bons tempos” de Cunha, que impunha datas e vontades como queria na Câmara dos Deputados.

Saiu o feiticeiro e entrou o aprendiz de bruxarias.

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