Por Altamiro Borges
O estudo também revelou que muitas pessoas têm deixado de procurar emprego por vários motivos. O principal é que a busca diária não compensa os gastos com transporte, alimentação fora de casa e outros custos. "É uma coisa normal em momentos de crise. Aumenta o numero de desempregados e aumenta também o número de desanimados. A expectativa de encontrar emprego diminui. Só quando a economia melhorar de verdade as pessoas estarão motivadas a procurar empregos", argumenta Ana Urraca Ruiz, professora de economia na Universidade Federal Fluminense (UFF). No mesmo rumo, o economista Istvan Karoly Kasznar, professor da FGV, afirma que os novos dados demonstram que "o desemprego está sumariamente elevado e que não há indicativos que mostrem uma taxa de queda".
Desemprego assume estágio mais grave e atinge chefes de família
Por Mariana Carneiro, Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga - 01/08/2016
Normalmente mais resistentes às intempéries do mercado, com vínculo mais longo no emprego e experiência, esses trabalhadores já não estão mais sendo poupados.
Chefes de família (homens ou mulheres) respondem por 45% dos funcionários com mais de dois anos na mesma empresa, segundo o IBGE.
Foi esse justamente o grupo mais afetado pelo desemprego no ano passado, representando cerca de um terço das demissões, segundo levantamento do economista Sérgio Firpo, do Insper.
Pior marca desde 2002, o número é ainda mais negativo do que o de outras crises, como em 2003 e 2009.
A taxa de desemprego dos chefes de família subiu 72%, de 3,53% dos trabalhadores no início da recessão, em meados de 2014, para 6,07% no primeiro trimestre de 2016.
DANO DURADOURO
O fenômeno deve ter consequências profundas nas famílias e nas empresas mesmo após a crise, dizem economistas. A perda da principal renda da família empurra para o mercado de trabalho os demais integrantes, muitos deles filhos com idade entre 14 e 17 anos, que passam a dividir horas de estudo com a busca por trabalho.
O risco é que esses jovens reduzam suas chances de melhores empregos e salários no futuro, o que pode comprometer seu progresso econômico e afetar o crescimento do país no longo prazo.
É essa uma das preocupações do metalúrgico Ricardo Lopes de Oliveira, 45, demitido depois de 23 anos de trabalho na fabricante de autopeças Autometal.
Sem perspectivas de se reempregar com salário equivalente ao que tinha, ele reuniu a mulher e as duas filhas, de 11 e 15 anos, para planejar as contas até o final do ano.
"As meninas sugeriram passar a vender trufas", diz o operador de máquina, cuja mulher, fora do mercado há mais de dez anos, também vai procurar emprego agora.
Oliveira espera conseguir uma vaga até o fim do ano, para não tirar as meninas da escola particular. "Vou ter que fazer um curso para me atualizar. A máquina que eu operava era muito velha."
Para as empresas, a saída desses funcionários também é má notícia que pode perdurar. "Esse trabalhador domina a tecnologia utilizada pela empresa e é mais produtivo naquele ambiente. Quando sai, é uma perda que não aparece na contabilidade, um custo invisível de perda de capital humano", afirma Hélio Zylberztajn, da USP.
PERDA
Segundo Firpo, os desligamentos de trabalhadores com vínculos mais longos podem significar perda de conhecimento para as empresas e para os funcionários. "O empregador terá que treinar outra pessoa, e o trabalhador vê pouca utilidade nas habilidades adquiridas na firma."
O gráfico Valter Gonçalves dos Santos, 50, demitido com outros 274 funcionários em dezembro do ano passado, já deu o primeiro passo para mudar de atividade.
Na Prol Editora, que o dispensou, ele foi operador de impressora rotativa por sete anos e oito meses. Agora faz um curso de refrigeração e, em seguida, quer se especializar em ar-condicionado.
Sem recursos para pagar o curso, está sendo ajudado por um de seus filhos, que custeia a mensalidade de R$ 315.
A última parcela do seguro-desemprego, 60% menor que o salário anterior, já venceu. "Minha mulher começou a trabalhar como merendeira em meio período, por R$ 600. Só de aluguel, gastamos R$ 1.000. Só não está pior porque meus filhos estão segurando as contas", diz Valter, pai de três jovens de 29, 27 e 21 anos.
MAU SINAL
O diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Renato da Fonseca afirma que é um mau sinal olhando à frente quando as empresas chegam ao ponto de fazer demissões em massa. Sobretudo de funcionários com mais experiência.
"Significa que o empresário segurou ao máximo as demissões e decidiu desligar funcionários que, com a produção escassa, estavam sendo deslocados para outras atividades, como manutenção. Isso indica que a retomada, quando vier, será lenta.
A mídia chapa-branca, embriagada com o aumento da grana da publicidade oficial, prefere estampar nas manchetes a "histórica" queda no preço da gasolina - de 1 centavo! - do que tratar com seriedade sobre a explosão do desemprego no país. Os últimos dias foram carregados de péssimas notícias para os que vivem do trabalho. Mas elas não viraram capa dos jornais e das revistas e nem foram motivo de comentários apocalípticos na televisão. Os ex-urubólogos da imprensa, que antes só alardeavam o pessimismo, agora se converteram em porta-vozes de Michel Temer e só dão notícias paradisíacas sobre o Brasil. Haja puxa-saquismo para compensar a propina - o "imprensalão" - do covil golpista.
Na quinta-feira passada (13), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou que 22,7 milhões de pessoas em idade produtiva estão sem emprego ou trabalham menos do que poderiam. O número assustador se refere ao segundo trimestre deste ano - em pleno mandato do usurpador - e corresponde à soma dos desempregados, subocupados e inativos com potencial para trabalhar no país. O dado é um complemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua), que já havia apontado que a taxa de desemprego aberto bateu em 11,8% da População Economicamente Ativa (PEA) em agosto - totalizando 12 milhões de vítimas.
Desempregados e desanimados
Os dados divulgados na semana passada apontam pela primeira vez os indicadores de subocupação - que são as pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais. De acordo com a pesquisa, 4,8 milhões de pessoas estavam nessa condição ao final do segundo trimestre do ano, o que representa uma alta de 17% em relação ao verificado no primeiro trimestre deste ano. O dado é o mais alto desde o terceiro trimestre de 2015. Ao somar os três indicadores - desocupados, subocupados e força de trabalho potencial -, o IBGE chegou ao número de 22,7 milhões de pessoas. O número representa 13,6% dos 166,3 milhões de pessoas com idade para trabalhar.
Desempregados e desanimados
Os dados divulgados na semana passada apontam pela primeira vez os indicadores de subocupação - que são as pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais. De acordo com a pesquisa, 4,8 milhões de pessoas estavam nessa condição ao final do segundo trimestre do ano, o que representa uma alta de 17% em relação ao verificado no primeiro trimestre deste ano. O dado é o mais alto desde o terceiro trimestre de 2015. Ao somar os três indicadores - desocupados, subocupados e força de trabalho potencial -, o IBGE chegou ao número de 22,7 milhões de pessoas. O número representa 13,6% dos 166,3 milhões de pessoas com idade para trabalhar.
O estudo também revelou que muitas pessoas têm deixado de procurar emprego por vários motivos. O principal é que a busca diária não compensa os gastos com transporte, alimentação fora de casa e outros custos. "É uma coisa normal em momentos de crise. Aumenta o numero de desempregados e aumenta também o número de desanimados. A expectativa de encontrar emprego diminui. Só quando a economia melhorar de verdade as pessoas estarão motivadas a procurar empregos", argumenta Ana Urraca Ruiz, professora de economia na Universidade Federal Fluminense (UFF). No mesmo rumo, o economista Istvan Karoly Kasznar, professor da FGV, afirma que os novos dados demonstram que "o desemprego está sumariamente elevado e que não há indicativos que mostrem uma taxa de queda".
Judas Temer pede "paciência" e "sacrifícios"
Diante destes e de outros números negativos, até o Judas Michel Temer foi obrigado a confessar, na amigável entrevista que concedeu à GloboNews na semana passada, que "o desemprego vai continuar alto e o pais precisa ter paciência". Este breve lapso de sinceridade deve ter irritado Miriam Leitão, a ex-urubóloga que tem feito um baita esforço para só dar notícias otimistas da economia. Na ocasião, o usurpador fez um apelo ao incauto telespectador para confiar nos planos destrutivos e regressivos do covil golpista: "Se não fizermos um certo sacrifício não tiramos o país da crise". Será que o povo brasileiro vai acreditar nestas bravatas? Até o mais tacanho "midiota" já deve estar desconfiado com a conversa fiada da "paciência" e dos "sacrifícios". O tempo do Judas Michel Temer está se esgotando!
Em tempo: Em julho passado, no auge da cavalgada pelo impeachment de Dilma, a Folha produziu uma série sobre os efeitos nocivos da crise econômica na vida do trabalhador. O objetivo maldoso da famiglia Frias era insuflar os ânimos na sociedade, preparando o clima para o "golpe dos corruptos". Será que o jornal chapa-branca, agora agraciado com as generosas verbas de publicidade do covil golpista, escalará sua equipe de jornalistas para conferir os estragos causados pela política econômica recessiva do Judas Michel Temer? A conferir! Reproduzo abaixo quatro das reportagens da Folha, que têm como mérito mostrar que a recessão é muito mais cruel do que as frias estatísticas apontam.
*****
Afastamento de trabalhador por estresse aumenta com a recessão
Por Érica Fraga, Mariana Carneiro e Ana Estela de Sousa Pinto - 24 de julho de 2016
Os números da Previdência Social advertem: a crise econômica já faz mal à saúde do brasileiro.
A participação das doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho subiu de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos.
Algumas delas, como transtornos ansiosos e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais -com taxas de expansão na casa dos 30% nesse mesmo período.
São sintomas de uma relação já observada e medida em países desenvolvidos: recessões prolongadas, como a que o Brasil atravessa agora, afetam a saúde mental da população, com fortes prejuízos sociais e econômicos.
Pesquisas recentes mostram que a crise financeira global, que estourou em 2008, provocou aumento da incidência de doenças como depressão e da taxa de suicídio em vários países.
Os dados mais recentes de saúde no Brasil ainda não foram computados, mas o relato de especialistas e as estatísticas da Previdência já indicam efeitos da atual contração econômica brasileira, que já dura dois anos.
DEMANDA
Há uma procura crescente por auxílios-doença, principalmente psiquiátricos, desde o fim do ano passado, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Francisco Cardoso.
"Os pedidos de auxílio-doença costumam aumentar em períodos de crise. Vimos isso, por exemplo, no período de crises que ocorreu entre 1999 e 2001", afirmou.
Para Marco Pérez, diretor do departamento de saúde ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência Social, ainda é cedo para verificar o efetivo impacto da recessão nas estatísticas de afastamento do trabalho.
Mas ele disse esperar que esse efeito possa aparecer. "Não há a menor dúvida de que uma crise econômica gera impactos sobre os aspectos emocionais e afetivos de uma pessoa", afirmou.
Em 2009, ano em que o Brasil sentiu os efeitos da crise global com mais intensidade, também houve um salto nesses afastamentos -cujo nome técnico é auxílio-doença acidentário.
A causa mais visível do estresse provocado por uma crise econômica é a ameaça do desemprego. Entre o início de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, o número de desocupados, de acordo com as estatísticas do IBGE, aumentou de 7 milhões para mais de 11 milhões de pessoas.
"Além da perda do emprego, o risco de ficar desempregado também tem impacto na vida emocional", disse Pérez.
Esse efeito da sobrecarga de trabalho e da perspectiva de ser atingido por cortes na saúde mental de quem continua empregado foi verificado pelo professor Jörg Huber, do Centro de Pesquisa em Saúde na Universidade de Brighton (Inglaterra), em estudo após a crise de 2008/2009 no Reino Unido.
Segundo ele, crescem os sintomas de estresse, ansiedade e depressão.
"Nossas pesquisas indicam que até 40% dos adultos apresentaram sintomas de saúde mental debilitada após a crise global de 2008/2009 no Reino Unido. Quanto maior o impacto no ambiente de trabalho, mais fortes os efeitos na saúde", afirmou Pérez à Folha.
O estresse prolongado pode causar ainda problemas como diabetes e doenças cardíacas. Mas nem todo o mundo é afetado, ressalta Huber. "Alguns grupos têm graus mais altos de resiliência, se adaptam melhor à adversidade."
PRODUTIVIDADE
A consequência da piora na saúde mental para o país, além da óbvia perda de qualidade de vida, é um aumento dos gastos públicos e privados com saúde e uma menor capacidade de crescimento no longo prazo.
Para Cardoso, da ANMP, muitos beneficiários que entram em afastamento acabam não voltando ao mercado. "Quanto mais tempo a pessoa fica recebendo o benefício, mais difícil se torna tirá-la. Muitos cultivam a doença, deixando de tomar, por exemplo, medidas que poderiam ajudá-la a superar o problema e voltar ao trabalho."
Em relatório intitulado "O impacto das crises econômicas na saúde mental", publicado em 2011, a Organização Mundial da Saúde alertou as autoridades europeias para a necessidade de agir a fim de mitigar os efeitos da recessão.
"Enquanto as crises econômicas podem ter efeitos na saúde mental, problemas de saúde mental também têm efeitos significativos sobre a economia. As consequências ocorrem, principalmente, sob a forma de perda de produtividade", diz o relatório.
"Os transtornos mentais graves muitas vezes começam na adolescência ou com jovens adultos, o que faz com que a perda de produtividade possa ter longa duração."
Os números da Previdência Social advertem: a crise econômica já faz mal à saúde do brasileiro.
A participação das doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho subiu de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos.
Algumas delas, como transtornos ansiosos e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais -com taxas de expansão na casa dos 30% nesse mesmo período.
São sintomas de uma relação já observada e medida em países desenvolvidos: recessões prolongadas, como a que o Brasil atravessa agora, afetam a saúde mental da população, com fortes prejuízos sociais e econômicos.
Pesquisas recentes mostram que a crise financeira global, que estourou em 2008, provocou aumento da incidência de doenças como depressão e da taxa de suicídio em vários países.
Os dados mais recentes de saúde no Brasil ainda não foram computados, mas o relato de especialistas e as estatísticas da Previdência já indicam efeitos da atual contração econômica brasileira, que já dura dois anos.
DEMANDA
Há uma procura crescente por auxílios-doença, principalmente psiquiátricos, desde o fim do ano passado, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Francisco Cardoso.
"Os pedidos de auxílio-doença costumam aumentar em períodos de crise. Vimos isso, por exemplo, no período de crises que ocorreu entre 1999 e 2001", afirmou.
Para Marco Pérez, diretor do departamento de saúde ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência Social, ainda é cedo para verificar o efetivo impacto da recessão nas estatísticas de afastamento do trabalho.
Mas ele disse esperar que esse efeito possa aparecer. "Não há a menor dúvida de que uma crise econômica gera impactos sobre os aspectos emocionais e afetivos de uma pessoa", afirmou.
Em 2009, ano em que o Brasil sentiu os efeitos da crise global com mais intensidade, também houve um salto nesses afastamentos -cujo nome técnico é auxílio-doença acidentário.
A causa mais visível do estresse provocado por uma crise econômica é a ameaça do desemprego. Entre o início de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, o número de desocupados, de acordo com as estatísticas do IBGE, aumentou de 7 milhões para mais de 11 milhões de pessoas.
"Além da perda do emprego, o risco de ficar desempregado também tem impacto na vida emocional", disse Pérez.
Esse efeito da sobrecarga de trabalho e da perspectiva de ser atingido por cortes na saúde mental de quem continua empregado foi verificado pelo professor Jörg Huber, do Centro de Pesquisa em Saúde na Universidade de Brighton (Inglaterra), em estudo após a crise de 2008/2009 no Reino Unido.
Segundo ele, crescem os sintomas de estresse, ansiedade e depressão.
"Nossas pesquisas indicam que até 40% dos adultos apresentaram sintomas de saúde mental debilitada após a crise global de 2008/2009 no Reino Unido. Quanto maior o impacto no ambiente de trabalho, mais fortes os efeitos na saúde", afirmou Pérez à Folha.
O estresse prolongado pode causar ainda problemas como diabetes e doenças cardíacas. Mas nem todo o mundo é afetado, ressalta Huber. "Alguns grupos têm graus mais altos de resiliência, se adaptam melhor à adversidade."
PRODUTIVIDADE
A consequência da piora na saúde mental para o país, além da óbvia perda de qualidade de vida, é um aumento dos gastos públicos e privados com saúde e uma menor capacidade de crescimento no longo prazo.
Para Cardoso, da ANMP, muitos beneficiários que entram em afastamento acabam não voltando ao mercado. "Quanto mais tempo a pessoa fica recebendo o benefício, mais difícil se torna tirá-la. Muitos cultivam a doença, deixando de tomar, por exemplo, medidas que poderiam ajudá-la a superar o problema e voltar ao trabalho."
Em relatório intitulado "O impacto das crises econômicas na saúde mental", publicado em 2011, a Organização Mundial da Saúde alertou as autoridades europeias para a necessidade de agir a fim de mitigar os efeitos da recessão.
"Enquanto as crises econômicas podem ter efeitos na saúde mental, problemas de saúde mental também têm efeitos significativos sobre a economia. As consequências ocorrem, principalmente, sob a forma de perda de produtividade", diz o relatório.
"Os transtornos mentais graves muitas vezes começam na adolescência ou com jovens adultos, o que faz com que a perda de produtividade possa ter longa duração."
Segundo dados da consultoria farmacêutica IMS Health, também aumentou o consumo de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, notadamente a partir de 2015.
Desde o ano passado, o ritmo de vendas desses medicamentos é superior ao do total da indústria farmacêutica.
Parte desse aumento pode ser creditada à maior incidência de doenças mentais. Porém, a quebra de patentes de alguns medicamentos barateou remédios e pode ter facilitado o acesso dos consumidores a eles.
***
Estudos identificam forte relação entre suicídios e desemprego
Por Érica Fraga, Mariana Carneiro e Ana Estela de Sousa Pinto - 24/07/2016
Há cerca de dois anos, a fábrica de estofados Luizzi, em Rio Claro (SP), produzia 65 mil jogos de sofás de cinco lugares por mês. Era mais do que o suficiente para acomodar toda a população da cidade de 200 mil habitantes.
Neste ano, a produção recuou a menos de um terço: 18 mil jogos por mês. O único cliente da Luizzi, a Via Varejo, dona das Casas Bahia, reduziu as compras, na esteira da recessão e da queda do apetite do consumidor.
No mês passado, 20% do efetivo foi demitido. A decisão ocorreu após a fábrica, fundada por Luiz Antônio Scussolino, tentar, sem sucesso, reduzir a jornada de trabalho em 20%, com corte proporcional de salário.
"Ficamos 14 meses empurrando essa decisão. Mas o Luiz, sempre otimista, tinha esperança de que o mercado melhoraria, mês após mês. Essa melhora não veio. A gente foi tentando e esgotando todas as possibilidades", diz Almir Santos, diretor de negócios e recursos humanos.
Cinco dias depois das demissões, Scussolino, então com 66 anos, apareceu morto, enforcado, em um dos galpões da fábrica. Para executivos da Luizzi, o empresário não resistiu à depressão em que afundou após os cortes.
"No dia da demissão, ele passou mal e foi hospitalizado com arritmia. Um dia antes de morrer, falei com ele ao telefone e ele disse que não conseguia sair da cama", diz Carlos Eduardo Marques, diretor de governança.
Os dados mais recentes sobre suicídios no Brasil são de 2014, antes do agravamento da crise. Estudos internacionais, como um feito pela Universidade de Zurique com dados de 63 países de 2000 a 2011, apontaram forte relação entre suicídios e desemprego.
O diretor dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da USP, Rodrigo Leite, diz que os suicídios são um fenômeno diferente de outros transtornos mentais, porque têm influência do ambiente.
Segundo ele, o impacto do desemprego é grande porque, além do salário, há solidão, isolamento, perda de apoio social, crises familiares e sensação de impotência.
GOTA D'ÁGUA
Esse conjunto de fatores desencadeia tendências autodestrutivas e o abuso de álcool e drogas, agravando transtornos como ansiedade e depressão e agindo ainda como "desinibidores", ou seja, reduzindo o medo da morte. "É a gota d'água", diz Leite.
O risco é considerado maior no caso de homens na faixa de 45 a 50 anos de idade, porque o potencial de perda extrapola a economia.
Eles têm responsabilidade familiar e status social ameaçados. "A sensação de fracasso é maior. É todo um projeto de vida ruindo", afirma Leite. Homens são também mais resistentes a procurar ajuda médica ou psicológica. "Em saúde mental, o homem é o sexo frágil."
***
Escalada do desemprego acentua queda dos salários
Por Mariana Carneiro - 30/07/2016
Há um ano e meio a taxa de desemprego segue uma escalada. Do início de 2015 até o trimestre encerrado no mês passado, ela subiu de 7,4% para 11,3%, segundo informou nesta sexta (29) o IBGE.
Os dados indicam que o derretimento que vem ocorrendo nos postos de trabalho agora alcança com mais intensidade os salários.
O valor médio do rendimento real dos ocupados, no trimestre entre abril e junho, foi de R$ 1.972— 4,2% menor do que o do mesmo período de 2015. A variação, que já desconta a inflação, é a pior queda desde o início da série, em 2012, e ocorre após nove reduções seguidas.
Com isso, o rendimento médio do trabalhador brasileiro retornou ao nível da virada de 2012 para 2013, três anos e meio atrás.
O culpado desse ajuste é o próprio desemprego. Com mais pessoas buscando colocação em um mercado que enxuga vagas, os aumentos salariais perdem força.
No trimestre encerrado em junho, 90,7 milhões de trabalhadores estavam ocupados, 1,4 milhão a menos do que no mesmo período de 2015. Ainda assim, como a renda das famílias está caindo, um contingente maior de pessoas passou a buscar emprego, o que ajuda a pressionar para cima a taxa de desemprego.
Segundo o economista Sandro de Carvalho, do Ipea, o salário responde ao desemprego com alguma defasagem, e apenas quando as demissões se "generalizam" é que afetam o salário médio.
"Em início de crises geralmente se dispensa primeiro trabalhadores que são mais fáceis de repor, os que têm menores salários, de modo que é comum o salário médio não cair [imediatamente]".
Para o economista Rafael Baciotti, da consultoria Tendências, a intensificação da queda nos rendimentos pode ser resultado da migração de trabalhadores, então na formalidade para ocupações informais ou que pagam menos, como domésticos.
Carvalho observa, porém, que a queda nos rendimentos é mais acentuada entre os trabalhadores com carteira. "O rendimento real tende a cair no setor formal enquanto o desemprego continuar a subir."
E é exatamente esse o quadro esperado pelos economistas para 2016. Mesmo que a economia saia da recessão no segundo semestre, o que prevê parte dos analistas, o emprego demoraria a reagir.
Na pesquisa do IBGE, porém, há elementos que podem ajudar uma leitura mais otimista. Na comparação com o trimestre encerrado em maio, a população ocupada ficou praticamente estável, depois de cinco quedas consecutivas.
Outra evidência apareceu na sondagem com empresários da indústria, divulgada pela FGV nesta sexta (29).
O percentual dos que pretendem demitir nos próximos três meses caiu à metade entre junho e julho: de 24,5% para 12,6%, o que indica que o ajuste nos postos de trabalho poderá perder fôlego.
***
Desde o ano passado, o ritmo de vendas desses medicamentos é superior ao do total da indústria farmacêutica.
Parte desse aumento pode ser creditada à maior incidência de doenças mentais. Porém, a quebra de patentes de alguns medicamentos barateou remédios e pode ter facilitado o acesso dos consumidores a eles.
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Estudos identificam forte relação entre suicídios e desemprego
Por Érica Fraga, Mariana Carneiro e Ana Estela de Sousa Pinto - 24/07/2016
Há cerca de dois anos, a fábrica de estofados Luizzi, em Rio Claro (SP), produzia 65 mil jogos de sofás de cinco lugares por mês. Era mais do que o suficiente para acomodar toda a população da cidade de 200 mil habitantes.
Neste ano, a produção recuou a menos de um terço: 18 mil jogos por mês. O único cliente da Luizzi, a Via Varejo, dona das Casas Bahia, reduziu as compras, na esteira da recessão e da queda do apetite do consumidor.
No mês passado, 20% do efetivo foi demitido. A decisão ocorreu após a fábrica, fundada por Luiz Antônio Scussolino, tentar, sem sucesso, reduzir a jornada de trabalho em 20%, com corte proporcional de salário.
"Ficamos 14 meses empurrando essa decisão. Mas o Luiz, sempre otimista, tinha esperança de que o mercado melhoraria, mês após mês. Essa melhora não veio. A gente foi tentando e esgotando todas as possibilidades", diz Almir Santos, diretor de negócios e recursos humanos.
Cinco dias depois das demissões, Scussolino, então com 66 anos, apareceu morto, enforcado, em um dos galpões da fábrica. Para executivos da Luizzi, o empresário não resistiu à depressão em que afundou após os cortes.
"No dia da demissão, ele passou mal e foi hospitalizado com arritmia. Um dia antes de morrer, falei com ele ao telefone e ele disse que não conseguia sair da cama", diz Carlos Eduardo Marques, diretor de governança.
Os dados mais recentes sobre suicídios no Brasil são de 2014, antes do agravamento da crise. Estudos internacionais, como um feito pela Universidade de Zurique com dados de 63 países de 2000 a 2011, apontaram forte relação entre suicídios e desemprego.
O diretor dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da USP, Rodrigo Leite, diz que os suicídios são um fenômeno diferente de outros transtornos mentais, porque têm influência do ambiente.
Segundo ele, o impacto do desemprego é grande porque, além do salário, há solidão, isolamento, perda de apoio social, crises familiares e sensação de impotência.
GOTA D'ÁGUA
Esse conjunto de fatores desencadeia tendências autodestrutivas e o abuso de álcool e drogas, agravando transtornos como ansiedade e depressão e agindo ainda como "desinibidores", ou seja, reduzindo o medo da morte. "É a gota d'água", diz Leite.
O risco é considerado maior no caso de homens na faixa de 45 a 50 anos de idade, porque o potencial de perda extrapola a economia.
Eles têm responsabilidade familiar e status social ameaçados. "A sensação de fracasso é maior. É todo um projeto de vida ruindo", afirma Leite. Homens são também mais resistentes a procurar ajuda médica ou psicológica. "Em saúde mental, o homem é o sexo frágil."
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Escalada do desemprego acentua queda dos salários
Por Mariana Carneiro - 30/07/2016
Há um ano e meio a taxa de desemprego segue uma escalada. Do início de 2015 até o trimestre encerrado no mês passado, ela subiu de 7,4% para 11,3%, segundo informou nesta sexta (29) o IBGE.
Os dados indicam que o derretimento que vem ocorrendo nos postos de trabalho agora alcança com mais intensidade os salários.
O valor médio do rendimento real dos ocupados, no trimestre entre abril e junho, foi de R$ 1.972— 4,2% menor do que o do mesmo período de 2015. A variação, que já desconta a inflação, é a pior queda desde o início da série, em 2012, e ocorre após nove reduções seguidas.
Com isso, o rendimento médio do trabalhador brasileiro retornou ao nível da virada de 2012 para 2013, três anos e meio atrás.
O culpado desse ajuste é o próprio desemprego. Com mais pessoas buscando colocação em um mercado que enxuga vagas, os aumentos salariais perdem força.
No trimestre encerrado em junho, 90,7 milhões de trabalhadores estavam ocupados, 1,4 milhão a menos do que no mesmo período de 2015. Ainda assim, como a renda das famílias está caindo, um contingente maior de pessoas passou a buscar emprego, o que ajuda a pressionar para cima a taxa de desemprego.
Segundo o economista Sandro de Carvalho, do Ipea, o salário responde ao desemprego com alguma defasagem, e apenas quando as demissões se "generalizam" é que afetam o salário médio.
"Em início de crises geralmente se dispensa primeiro trabalhadores que são mais fáceis de repor, os que têm menores salários, de modo que é comum o salário médio não cair [imediatamente]".
Para o economista Rafael Baciotti, da consultoria Tendências, a intensificação da queda nos rendimentos pode ser resultado da migração de trabalhadores, então na formalidade para ocupações informais ou que pagam menos, como domésticos.
Carvalho observa, porém, que a queda nos rendimentos é mais acentuada entre os trabalhadores com carteira. "O rendimento real tende a cair no setor formal enquanto o desemprego continuar a subir."
E é exatamente esse o quadro esperado pelos economistas para 2016. Mesmo que a economia saia da recessão no segundo semestre, o que prevê parte dos analistas, o emprego demoraria a reagir.
Na pesquisa do IBGE, porém, há elementos que podem ajudar uma leitura mais otimista. Na comparação com o trimestre encerrado em maio, a população ocupada ficou praticamente estável, depois de cinco quedas consecutivas.
Outra evidência apareceu na sondagem com empresários da indústria, divulgada pela FGV nesta sexta (29).
O percentual dos que pretendem demitir nos próximos três meses caiu à metade entre junho e julho: de 24,5% para 12,6%, o que indica que o ajuste nos postos de trabalho poderá perder fôlego.
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Desemprego assume estágio mais grave e atinge chefes de família
Por Mariana Carneiro, Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga - 01/08/2016
O desemprego provocado pela recessão, que já dura dois anos, chegou a um estágio mais grave: passou a atingir os trabalhadores que respondem pela principal fonte de renda da família.
Normalmente mais resistentes às intempéries do mercado, com vínculo mais longo no emprego e experiência, esses trabalhadores já não estão mais sendo poupados.
Chefes de família (homens ou mulheres) respondem por 45% dos funcionários com mais de dois anos na mesma empresa, segundo o IBGE.
Foi esse justamente o grupo mais afetado pelo desemprego no ano passado, representando cerca de um terço das demissões, segundo levantamento do economista Sérgio Firpo, do Insper.
Pior marca desde 2002, o número é ainda mais negativo do que o de outras crises, como em 2003 e 2009.
A taxa de desemprego dos chefes de família subiu 72%, de 3,53% dos trabalhadores no início da recessão, em meados de 2014, para 6,07% no primeiro trimestre de 2016.
DANO DURADOURO
O fenômeno deve ter consequências profundas nas famílias e nas empresas mesmo após a crise, dizem economistas. A perda da principal renda da família empurra para o mercado de trabalho os demais integrantes, muitos deles filhos com idade entre 14 e 17 anos, que passam a dividir horas de estudo com a busca por trabalho.
O risco é que esses jovens reduzam suas chances de melhores empregos e salários no futuro, o que pode comprometer seu progresso econômico e afetar o crescimento do país no longo prazo.
É essa uma das preocupações do metalúrgico Ricardo Lopes de Oliveira, 45, demitido depois de 23 anos de trabalho na fabricante de autopeças Autometal.
Sem perspectivas de se reempregar com salário equivalente ao que tinha, ele reuniu a mulher e as duas filhas, de 11 e 15 anos, para planejar as contas até o final do ano.
"As meninas sugeriram passar a vender trufas", diz o operador de máquina, cuja mulher, fora do mercado há mais de dez anos, também vai procurar emprego agora.
Oliveira espera conseguir uma vaga até o fim do ano, para não tirar as meninas da escola particular. "Vou ter que fazer um curso para me atualizar. A máquina que eu operava era muito velha."
Para as empresas, a saída desses funcionários também é má notícia que pode perdurar. "Esse trabalhador domina a tecnologia utilizada pela empresa e é mais produtivo naquele ambiente. Quando sai, é uma perda que não aparece na contabilidade, um custo invisível de perda de capital humano", afirma Hélio Zylberztajn, da USP.
PERDA
Segundo Firpo, os desligamentos de trabalhadores com vínculos mais longos podem significar perda de conhecimento para as empresas e para os funcionários. "O empregador terá que treinar outra pessoa, e o trabalhador vê pouca utilidade nas habilidades adquiridas na firma."
O gráfico Valter Gonçalves dos Santos, 50, demitido com outros 274 funcionários em dezembro do ano passado, já deu o primeiro passo para mudar de atividade.
Na Prol Editora, que o dispensou, ele foi operador de impressora rotativa por sete anos e oito meses. Agora faz um curso de refrigeração e, em seguida, quer se especializar em ar-condicionado.
Sem recursos para pagar o curso, está sendo ajudado por um de seus filhos, que custeia a mensalidade de R$ 315.
A última parcela do seguro-desemprego, 60% menor que o salário anterior, já venceu. "Minha mulher começou a trabalhar como merendeira em meio período, por R$ 600. Só de aluguel, gastamos R$ 1.000. Só não está pior porque meus filhos estão segurando as contas", diz Valter, pai de três jovens de 29, 27 e 21 anos.
MAU SINAL
O diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Renato da Fonseca afirma que é um mau sinal olhando à frente quando as empresas chegam ao ponto de fazer demissões em massa. Sobretudo de funcionários com mais experiência.
"Significa que o empresário segurou ao máximo as demissões e decidiu desligar funcionários que, com a produção escassa, estavam sendo deslocados para outras atividades, como manutenção. Isso indica que a retomada, quando vier, será lenta.
tenho percebido como a imprensa tem sido altamente IRRESPONSAVEL nestes últimos meses. as favas com o jornalismo. tambemo temer está tirando eles do vermelho,pra que notícias de verdade? brasileiro é um bicho BURRO e MIDIOTA!
ResponderExcluirSim, é tudo 'culpa' da Marcela Temer...
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