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"A secreta Maçonaria se revela na eleição". Este é o título da reportagem publicada no Estadão deste domingo (16). Ela mostra a crescente presença desta confraria arcaica no processo político brasileiro. Juntamente com outras seitas, como a Opus Dei e os grupos saudosos da ditadura e até da monarquia, a maçonaria tupiniquim, composta de várias vertentes, deixou de lado a penumbra do passado para interferir mais agressivamente nas disputas políticas. Na onda conservadora que devasta o mundo e o Brasil, estas organizações tiveram papel de relevo na convocação das marchas golpistas pelo "Fora Dilma" e também apoiaram candidatos da direita no pleito municipal deste ano.
Segundo a reportagem, assinada pelo jornalista Gilberto Amêndola, não há mais nada de misterioso na ação política da maçonaria. "Um prédio comercial no centro da cidade de São Paulo, ocupado por escritórios de advocacia, administradoras de imóveis e clínicas oftalmológicas, seria a fachada perfeita para uma sociedade secreta se reunir sem despertar desconfiança em ninguém. Seria... 'A maçonaria é na sobreloja. O senhor pode pegar o último elevador e apertar o 'S'", avisa o porteiro – sem saber o quanto estava decepcionando quem ainda ansiava por algum mistério, alguma coisa mais no estilo de O Nome da Rosa ou O Código Da Vinci".
A força eleitoral dos maçons
O repórter entrevistou o advogado e "grão-mestre" Benedito Marques Ballouk, que falou abertamente "sobre a relação, cada vez mais íntima, da entidade com a chamada 'política partidária'. Nas eleições municipais, a maçonaria apoiou 27 candidatos a prefeito em todo o Estado de São Paulo. Deste total, dez foram eleitos – sendo seis do PSDB, um do PV, um do PPS, um do PMDB e um do PSD. Entre os políticos 'abraçados' pelo grupo está o prefeito eleito de São Paulo, João Doria... No Legislativo, foram 147 nomes apoiados – 25 eleitos. De novo, os tucanos aparecem na frente: nove, além de PSD (três), PV (três), PSC (três), PR (dois), PTN (dois), DEM (um), PPS (um) e PMDB (um). Na capital, os maçons apoiaram Milton Ferreira (PTN), Mário Covas Neto (PSDB) e Rodrigo Goulart (PSD)".
Benedito Ballouk afirmou que a maçonaria sempre manteve uma postura discreta nas eleições - o que não significa que tenha se ausentado da disputa politica em todo sua história. Esta conduta só mudou "radicalmente" no governo Dilma, "depois que a cúpula de proeminentes maçons avaliou que o país estaria vivendo uma 'era de escândalos'. A partir daí, nasceria o Grupo Estadual de Ação Política dos Maçons Paulistas (Geap). Trata-se de um grupo que 'avaliza' candidatos que, segundo os princípios da maçonaria, defendem a ética, a probidade administrativa e a moralidade pública". O "grão-mestre" até tenta disfarçar a estreita ligação com os partidos conservadores, afirmando que a seita é plural.
"Ballouk nega que a maçonaria esteja surfando na onda da chamada nova direita... Ele faz questão de afirmar que nem sequer o processo de impeachment da presidente cassada foi unanimidade na entidade. 'Maçons participaram das manifestações contra a Dilma, mas não representam a maçonaria como um todo. Temos maçons que são monarquistas e até aqueles que defendem o regime militar'". Mas a conversa fiada, reproduzida pelo Estadão, não engana ninguém. Durante as marchas golpistas, os principais ramos da maçonaria tiveram papel militante - inclusive nas redes sociais. Já nas eleições municipais basta ver a relação dos candidatos e partidos apoiados pela seita, que tenta "surfar na onda da chamada nova direita". A matéria só não explica como se deu este apoio "de princípios éticos".
A fascista Opus Dei
Outras seitas também estão assanhadas com a atual onda conservadora. É o caso da Opus Dei, uma organização criada na época da ditadura franquista na Espanha e que sempre defendeu posições mais próximas ao fascismo. No Brasil, ela foi fundada na véspera do golpe militar de 1964 e deu total apoio à sanguinária ditadura. Nas marchas pelo impeachment de Dilma, ela convocou seus fanáticos seguidores e pregou abertamente o golpe contra a democracia. Um dos seus principais mentores, o advogado Ives Gandra da Silva Martins, pai do atual presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), escreveu vários artigos defendendo a "legalidade" e "constitucionalidade" do impeachment.
Num deles, publicado na Folha no final de maio, o líder da Opus Dei se rebelou contra uma entrevista da presidenta Dilma, que havia sido afastada temporariamente pelo tribunal de exceção do Senado. "Creio que ela não compreendeu ainda por que é alvo de um processo de impeachment. A corrupção de seu governo e do governo Lula é ignorada em sua fala e não há qualquer menção às suas causas... Ou ela foi conivente ou fantasticamente incompetente ao não ter detectado anos e anos de saques ao Tesouro Nacional e a suas empresas". O "jurista" só deixou de explicar aos seu incautos leitores que o processo de impeachment se referia às tais "pedaladas fiscais". Ele também não falou nada sobre as várias denúncias de corrupção contra o ex-presidente FHC e outros tucanos de alta plumagem!
TFP e os saudosos da monarquia
Além da maçonaria e da Opus Dei, a cavalgada golpista e reacionária teve ainda outros participantes. Apesar da fragilidade decorrente de várias divisões internas, a seita Tradição, Família e Propriedade (TFP) saiu às ruas com os seus trajes medievais e seus discursos fundamentalistas. O decrépito Clube Militar, com seus viúvos da ditadura, também esteve presente nas marchas do "Fora Dilma". A onda conservadora foi capaz de ressuscitar até os herdeiros da família imperial, que carregaram cartazes e discursaram em defesa da volta da monarquia - e se uniram aos fascistas mirins do Movimento Brasil Livre (MBL), do Revoltados Online e do Vem Pra Rua. Uma reportagem da Folha de abril passado chega a ser hilária sobre a volta destes mortos-vivos. Reproduzo abaixo:
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Família imperial quer usar clima de divisão para restaurar monarquia
Por Rodrigo Vizeu - 25/04/2016
Entre a fauna que ganha visibilidade nas manifestações contra Dilma Rousseff, talvez já tenham chamado a atenção do leitor esporádicas bandeiras do Brasil imperial – na qual o globo azul é substituído por brasão e coroa.
Portando os estandartes estão os monarquistas brasileiros, que querem aproveitar o clima de uma pátria desunida para propor uma solução que olha para trás: por que não aproveitar para restabelecer o regime deposto por republicanos há 127 anos?
O monarquismo brasileiro tem à frente os descendentes de dom Pedro 2º, imperador morto no exílio.
Sua voz mais ativa hoje é dom Bertrand de Orléans e Bragança, 75, trineto de dom Pedro e segundo na hipotética linha sucessória do trono nacional.
Chamado de alteza por assessores, Bertrand toca o movimento devido à saúde debilitada do irmão mais velho, Luiz, 77.
O príncipe nasceu na França –da qual guarda discreto sotaque– e já estreou nos atos de rua, sendo parado para selfies por súditos em potencial.
Embora propague o caráter suprapartidário que deve ter o monarca de um renascido império, Bertrand concentra suas críticas no PT, que vê como artífice de um plano para impor o socialismo ao país.
"Nossa bandeira é verde e amarela e jamais será vermelha", repete incessantemente o príncipe em discursos e pronunciamentos pela internet.
Do alto de um carro de som, repudiou "os que têm como intenção implantar na nossa pátria o que fracassou do outro lado da cortina de ferro".
Em conversa com a Folha em janeiro, o possível chefe do Poder Moderador disse apoiar os atos de rua, mas distingue "movimentos agitadores pagos, como MST" do "Brasil autêntico, que trabalha e dá certo".
SOLUÇÃO REAL
É na insatisfação atual que o príncipe vê margem para atrair adeptos à ideia de recolocar os Orléans e Bragança na chefia do Estado.
Ele diz que há cada vez mais interessados na causa, promovida on-line e nos protestos, com panfletos que destacam as virtudes da restauração.
Ele compara a tensão de eleições presidenciais a uma briga em família, na qual os filhos –no paralelo, os cidadãos– "perdem aquele respeito que têm em relação aos pais" (os políticos).
"Ao passo que a monarquia garante unidade, estabilidade e continuidade", explica. "O Brasil está com saudade de um regime que faça à nação o que uma nação deve ser: uma grande família com destino comum a realizar."
"Quando brasileiros bradam 'Quero meu Brasil de volta', bradam 'Eu quero o Brasil do Cristo Redentor e de Nossa Senhora Aparecida'", resume.
A retórica religiosa – presente, diga-se, desde os imperadores e a princesa Isabel – perpassa o discurso da família, que ainda hoje prepara seus descendentes para reocupar o trono.
QUE REI SOU EU?
Na prática, Bertrand propõe um regime "na linha do Segundo Reinado, mas atualizado de acordo com as circunstâncias".
A tese de que deve ser um descendente dos imperadores do século 19 a portar a coroa rediviva não é consenso nem entre eles.
Dom João Henrique de Orléans e Bragança, 61, de outro ramo da família, diz que ninguém pode impor isso ao país.
Ele, que tem uma pousada em Paraty e é habitué dos protestos da orla carioca, diz ser, mais do que monarquista, parlamentarista. Mas argumenta que o sistema funcionaria melhor com um rei, mais neutro como chefe de Estado do que um presidente.
Apesar de não fazer questão que um dos seus reine, João ressalta: "As famílias reais são educadas desde pequenas com princípios que dizem respeito ao Brasil, às instituições, à democracia, e isso tem um peso público enorme. Ninguém de nós teve funções político-partidárias".
Agora, dá mesmo para sonhar com um retorno do rei – já rejeitado em plebiscito em 1993, quando a monarquia só teve 10% dos votos?
Mais uma vez, Bertrand busca inspiração no passado. Conta que no fim da União Soviética eram comuns cartazes dos czares e a bandeira imperial entre a multidão.
O regime não foi substituído pela volta dos Romanov, mas o príncipe ainda gosta do paralelo. "Os brasileiros começam a se perguntar: 'Valeu a pena a República?".
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