Foto: Wilson Dias/Agência Brasil |
O jornalista Paulo Lima descreveu em texto, fotos e vídeo as cenas de repressão que tomaram conta da Esplanada dos Ministérios nesta terça-feira (13). O Congresso Nacional ficou isolado e os manifestantes mantidos a alguns quilômetros de distância. para que os senadores aprovassem sem nenhuma contestação a medida que congelará por vinte anos os gastos sociais públicos.
Por Paulo Lima
Bombas de gás lacrimogêneo riscando o ar como mísseis. Hora de correr. O gás entra garganta adentro sem pedir licença, sufoca e faz tossir. Os olhos queimam. O pânico se instala. Alguns mais raçudos permanecem na linha de frente, pegam a bomba e a arremessam de volta. Tem-se uma trégua breve até que novo ataque ocorra.
Uma blitzkrieg. "Vamos ficar juntos!". "Não corram para o gramado!" É difícil manter algum tipo de organização na hora dos ataques. Aí vem mais um! Parece que estão mais próximos, ou não corremos o suficiente. Com a câmera do celular ligada, filmo como dá. A adrenalina toma conta da gente. Depois do medo, vem a ira.
A cavalaria faz o cerco. Os cavalos não têm nada com isso, mas correm mais do que todos nós. Mais bombas. Quero filmar e fotografar o máximo que puder. O caminho natural é retroceder até a rodoviária, logo atrás. Os policiais agora estão bem próximos e alcançam alguns manifestantes. Vejo um deles ao meu lado ser mobilizado e tomar um jato de spray de pimenta nos olhos. Por pouco não sobrou pra mim.
Helicópteros fazem a ronda. Alguns manifestantes detonam um ponto de ônibus. Outros quebram placas e ateiam fogo. Uma massa observa tudo do alto de uma plataforma, como se não fosse com eles. Os manifestantes se dispersam. A polícia imobiliza um deles e o arrasta até um camburão. Bombas de efeito moral explodem.
Um cenário de campo de batalha. Um batismo.
A uma certa distância da Esplanada, no Conjunto Nacional, as pessoas estão tranquilas, como se nada tivesse acontecido. É inacreditável.
Hoje confiscaram vinte anos de suas vidas, seu futuro. Esta luta não é só dos militantes, em sua maior parte formada por estudantes. É de todos nós.
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