Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Nem é preciso refletir mais do que um minuto para admitir que só pode haver alguma coisa errada numa festa que reunisse João Roberto Marinho e Luiz Inácio Lula Silva, Fernando Henrique Cardoso e João Pedro Stédile, Roger e Wagner Moura: a queda provável de Michel Temer em ambiente de carnaval cívico.
Concordo que é preciso ter clareza sobre um ponto. A julgar pelo que se pode ler nos jornais e na TV, não há dúvida que foram reunidas provas consistentes contra Temer, que pronunciou uma dessas frases de tom grandioso, sob medida para momentos desesperados: "Nada nos destruirá".
Mas, lembrando que a luta contra a corrupção é um esforço necessário para a vida social e para o aperfeiçoamento da democracia, é bom recordar o que se fez em tempos recentes neste terreno e imaginar o que nos aguarda no futuro. Mais do que uma fotografia, é melhor examinar o filme.
Na década passada, a AP 470 dizimou a primeira geração de líderes do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu e José Genoíno incluídos, responsáveis pela liderança e organização do principal partido da classe operária nascido no país, hoje inutilizados para a vida pública.
A partir das operações da Lava Jato, formou-se um caldo de cultura que serviu de alimento para a "encenação" - o termo é de Joaquim Barbosa - que permitiu o afastamento de Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, com base numa expressão marota vulgarizada por jornalistas ("pedaladas fiscais").
Quando olhamos para a frente, encontramos Lula. O mais popular presidente que nossa República já possuiu, líder das pesquisas para 2018, já se encontra em posição de risco e guarda.
É, assumidamente, o próximo da lista da Lava Jato, com cinco inquéritos pela frente - e deixo para cada um imaginar a dificuldade que terá para enfrentar tantos obstáculos sob medida para provocar sua queda. Não dá nem para comparar aquilo que já se sabe sobre Temer, alvo de uma uma investigação específica, com aquilo que apenas se insinuou e sugeriu contra Lula. Não vejo nada que justifique uma condenação. Mas as especulações frequentes, inclusive como se fosse uma aposta em corrida de cavalos - acho que o Triplex está perdendo, mas o Sítio pode correr por fora e assim por diante - mostra o ambiente que está criado.
Pois este é o próximo capítulo do espetáculo que se avista naquele palanque estranho e eclético imaginado no parágrafo que abre a nota do dia neste blogue. Nem todos têm direito de comemorar da mesma maneira.
A cronologia que colocou de pé - em prazo recorde - o cadafalso para Michel Temer não tem origem na Globo nem com a Lava Jato.
Sua raiz encontra-se na força popular do Fora Temer, coro gigantesco de trabalhadores, estudantes, mulheres e jovens que ocupou as grandes cidades brasileiras. Essa massa imensa promoveu a greve geral de 28 de abril e vários atos políticos memoráveis, iniciados no carnaval mais politizado de nossa história recente. A mobilização nacional até Curitiba, para acompanhar o depoimento de Lula a Sérgio Moro, foi outra demonstração importante.
O resultado foi uma mudança importante na relação de forças produzida pelo golpe que derrubou Dilma. As reformas estruturais, que pareciam assunto encerrado depois da aprovação do Teto de Gastos por 20 anos, começaram a ser desfiguradas por parlamentares temerosos de enfrentar a ira do eleitorado na hora de voltar às urnas - e hoje podem ser inteiramente esquecidas, pois só o patamar superior da pirâmide vai achar ruim. No mesmo período Lula se recuperou e lidera as pesquisas para 2018. Fenômeno político, a saudade de Lula tornou-se o combustível da resistência. Poucos meses depois do massacre das urnas municipais de 2016, quando se anunciava seu funeral, mais uma vez o PT empinava como o mais popular dos partidos políticos do país.
Este foi o programa de emergência que levou a cooptação do Fora Temer pela Globo e outros braços ligados ao andar superior da pirâmide. A prioridade de proteger uma janela histórica única - a primeira desde a CLT, em 1943 - para promover reformas produziu a necessidade de sacrificar o aliado e conspirador da véspera, cuja ficha era conhecida universalmente desde a passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo, há mais de três décadas, quando foi denunciado pela postura conivente com contraventores do jogo do bicho.
A sintonia finíssima da operação, que inclui uma dança de cadeiras que pretende evitar eleições diretas a qualquer custo, confundiu até cérebros experimentados em viradas políticas, como Fernando Henrique Cardoso. A necessidade de ganhar tempo explicam a confecção da mais generosa delação premiada da história, que, para escândalo de maioria dos brasileiros, assegurou impunidade absoluta e viagem de jatinho aos irmãos Batista e demais sócios de roubalheira milionária.
O país está mudando mas o futuro irá mostrar que os avanços não beneficiam da mesma maneira todos os presentes no palanque. Não há dúvida de que estamos pavimentando um futuro com governantes frágeis, vulneráveis ao consórcio do Judiciário e dos meios de comunicação, como nunca se imaginou num regime onde a soberania popular está inscrita no artigo 1 da Constituição.
Alguma dúvida?
Não creio.
A única certeza, mais do que qualquer outra, é que será preciso defender o direito de Lula apresentar-se como candidato a presidência, garantia de que termos uma eleição de verdade - seja em 2018, seja num pleito antecipado.
Nem é preciso refletir mais do que um minuto para admitir que só pode haver alguma coisa errada numa festa que reunisse João Roberto Marinho e Luiz Inácio Lula Silva, Fernando Henrique Cardoso e João Pedro Stédile, Roger e Wagner Moura: a queda provável de Michel Temer em ambiente de carnaval cívico.
Concordo que é preciso ter clareza sobre um ponto. A julgar pelo que se pode ler nos jornais e na TV, não há dúvida que foram reunidas provas consistentes contra Temer, que pronunciou uma dessas frases de tom grandioso, sob medida para momentos desesperados: "Nada nos destruirá".
Mas, lembrando que a luta contra a corrupção é um esforço necessário para a vida social e para o aperfeiçoamento da democracia, é bom recordar o que se fez em tempos recentes neste terreno e imaginar o que nos aguarda no futuro. Mais do que uma fotografia, é melhor examinar o filme.
Na década passada, a AP 470 dizimou a primeira geração de líderes do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu e José Genoíno incluídos, responsáveis pela liderança e organização do principal partido da classe operária nascido no país, hoje inutilizados para a vida pública.
A partir das operações da Lava Jato, formou-se um caldo de cultura que serviu de alimento para a "encenação" - o termo é de Joaquim Barbosa - que permitiu o afastamento de Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, com base numa expressão marota vulgarizada por jornalistas ("pedaladas fiscais").
Quando olhamos para a frente, encontramos Lula. O mais popular presidente que nossa República já possuiu, líder das pesquisas para 2018, já se encontra em posição de risco e guarda.
É, assumidamente, o próximo da lista da Lava Jato, com cinco inquéritos pela frente - e deixo para cada um imaginar a dificuldade que terá para enfrentar tantos obstáculos sob medida para provocar sua queda. Não dá nem para comparar aquilo que já se sabe sobre Temer, alvo de uma uma investigação específica, com aquilo que apenas se insinuou e sugeriu contra Lula. Não vejo nada que justifique uma condenação. Mas as especulações frequentes, inclusive como se fosse uma aposta em corrida de cavalos - acho que o Triplex está perdendo, mas o Sítio pode correr por fora e assim por diante - mostra o ambiente que está criado.
Pois este é o próximo capítulo do espetáculo que se avista naquele palanque estranho e eclético imaginado no parágrafo que abre a nota do dia neste blogue. Nem todos têm direito de comemorar da mesma maneira.
A cronologia que colocou de pé - em prazo recorde - o cadafalso para Michel Temer não tem origem na Globo nem com a Lava Jato.
Sua raiz encontra-se na força popular do Fora Temer, coro gigantesco de trabalhadores, estudantes, mulheres e jovens que ocupou as grandes cidades brasileiras. Essa massa imensa promoveu a greve geral de 28 de abril e vários atos políticos memoráveis, iniciados no carnaval mais politizado de nossa história recente. A mobilização nacional até Curitiba, para acompanhar o depoimento de Lula a Sérgio Moro, foi outra demonstração importante.
O resultado foi uma mudança importante na relação de forças produzida pelo golpe que derrubou Dilma. As reformas estruturais, que pareciam assunto encerrado depois da aprovação do Teto de Gastos por 20 anos, começaram a ser desfiguradas por parlamentares temerosos de enfrentar a ira do eleitorado na hora de voltar às urnas - e hoje podem ser inteiramente esquecidas, pois só o patamar superior da pirâmide vai achar ruim. No mesmo período Lula se recuperou e lidera as pesquisas para 2018. Fenômeno político, a saudade de Lula tornou-se o combustível da resistência. Poucos meses depois do massacre das urnas municipais de 2016, quando se anunciava seu funeral, mais uma vez o PT empinava como o mais popular dos partidos políticos do país.
Este foi o programa de emergência que levou a cooptação do Fora Temer pela Globo e outros braços ligados ao andar superior da pirâmide. A prioridade de proteger uma janela histórica única - a primeira desde a CLT, em 1943 - para promover reformas produziu a necessidade de sacrificar o aliado e conspirador da véspera, cuja ficha era conhecida universalmente desde a passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo, há mais de três décadas, quando foi denunciado pela postura conivente com contraventores do jogo do bicho.
A sintonia finíssima da operação, que inclui uma dança de cadeiras que pretende evitar eleições diretas a qualquer custo, confundiu até cérebros experimentados em viradas políticas, como Fernando Henrique Cardoso. A necessidade de ganhar tempo explicam a confecção da mais generosa delação premiada da história, que, para escândalo de maioria dos brasileiros, assegurou impunidade absoluta e viagem de jatinho aos irmãos Batista e demais sócios de roubalheira milionária.
O país está mudando mas o futuro irá mostrar que os avanços não beneficiam da mesma maneira todos os presentes no palanque. Não há dúvida de que estamos pavimentando um futuro com governantes frágeis, vulneráveis ao consórcio do Judiciário e dos meios de comunicação, como nunca se imaginou num regime onde a soberania popular está inscrita no artigo 1 da Constituição.
Alguma dúvida?
Não creio.
A única certeza, mais do que qualquer outra, é que será preciso defender o direito de Lula apresentar-se como candidato a presidência, garantia de que termos uma eleição de verdade - seja em 2018, seja num pleito antecipado.
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