quarta-feira, 14 de junho de 2017

Rocha Loures e a queima de arquivo

Por Altamiro Borges

Sem dar maiores detalhes sobre sua decisão, o ministro Edson Fachin, relator da midiática Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta terça-feira (13) a transferência do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures do presídio da Papuda para a carceragem da Polícia Federal em Brasília. A decisão foi motivada pela informação sobre a suposta ameaça de morte do ex-deputado e assessor especial do Judas Michel Temer. Em petição enviada ao STF, a defesa do homem-bomba, que pode devastar o covil golpista, disse que o pai de Rocha Loures recebeu ligação telefônica de um conhecido que alertou a família sobre a possibilidade do presidiário estar correndo “risco de vida”.

A solicitação pode até ser uma manobra do ex-deputado, já que “os advogados pediram a concessão de prisão domiciliar e uma escolta de agentes da PF para garantir a segurança de Rocha Loures e de sua família”, segundo relato do Jornal do Brasil. Mas ela não vingou, já que o ministro manteve a prisão. “Ao analisar o caso, apesar de determinar a transferência, Edson Fachin negou os dois pedidos dos advogados até que a Procuradoria-Geral da República apure o caso. ‘Os fatos narrados, ainda que não estejam desde logo embasados em elementos probatórios que lhes deem suporte, são graves o suficiente para que se dê ao menos notícia ao Ministério Público a quem incumbe, no âmbito de suas atribuições, deflagrar instrumentos voltados à respectiva apuração’, decidiu o ministro”. O temor, porém, é que também esteja em curso uma operação de queima de arquivo!

Afinal, Rocha Loures conhece os podres do usurpador Michel Temer. Era seu homem de confiança, seu assessor especial – a pessoa encarregada de pegar uma mala com R$ 500 mil em propina da JBS. Após a sua prisão, em 3 de junho, o ex-deputado tem dado sinais de fragilidade, ameaçando abrir o bico em uma “delação premiada”. Em sua primeira audiência realizada na Polícia Federal, na última sexta-feira (9) em Brasília, ele ficou em silêncio. Constrangido, ele foi filmado com a cabeça raspada, dentro da viatura da polícia. A sua defesa havia implorado “que lhe seja assegurado o máximo respeito aos seus direitos e garantias fundamentais, especialmente que não lhe seja imposto tratamento desumano e cruel, respeitando e assegurando a sua integridade física, especialmente que não lhe raspe o cabelo”. Mas não foi atendida.

O mortífero porto de Santos

Com o passar do tempo, novas denúncias surgem sobre a sinistra atuação do “homem da mala” e que complicam ainda mais a vida do Judas. Nesta segunda-feira (12), a revista Época ligou o ex-deputado as maracutaias no porto de Santos – o calcanhar de Aquiles do usurpador que pode ter consequências mortíferas. Segundo a matéria, assinada pelo jornalista Aguirre Talento, “em depoimento à Polícia Federal no inquérito que investiga o presidente Michel Temer (PMDB), o executivo da Rodrimar Ricardo Mesquita afirmou que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) era o interlocutor de Temer com o setor privado e que pediu ajuda de Loures para resolver problemas do setor portuário... O depoimento de Ricardo Mesquita corrobora a informação de que Loures falaria como representante do presidente”.

De acordo com a reportagem, a Rodrimar solicitou ao governo federal a prorrogação da concessão de exploração de áreas no Porto de Santos, reduto de influência política do golpista. “Em maio, Temer assinou decreto com mudanças em regras do setor portuário, mas a principal demanda da Rodrimar, a prorrogação de concessões obtidas antes de 1993, ainda não foi atendida. Em seu depoimento, Ricardo Mesquita adiantou ter informações de que o assunto será resolvido. ‘Segundo o declarante tomou conhecimento, será editada uma Medida Provisória ou um Projeto de Lei visando suprir especificamente essa lacuna do marco regulatório quanto aos terminais pré-93’, afirmou. Mesquita relatou à PF que conheceu Rocha Loures em 2013, quando este era assessor de Relações Institucionais da Vice-Presidência, ocupada à época por Temer”.

“No depoimento, Mesquita conta que o setor portuário estava com dificuldades para discutir com o governo federal ‘algumas questões relacionadas à nova lei dos portos, editada em junho de 2013, seguida de decreto que a regulamentou’. Prossegue em seu depoimento: ‘Diante da dificuldade de acesso ao Palácio do Planalto e demais órgãos da estrutura do governo federal, o setor foi orientado a procurar por Rodrigo da Rocha Loures, uma vez que ele realizava a interlocução entre a Vice-Presidência da República e representantes do setor privado; que o declarante não sabe de quem recebeu a orientação para procurar por Rodrigo da Rocha Loures’. Após essa orientação, Ricardo Mesquita contou à PF que ‘passou a ter contatos esporádicos com Rodrigo da Rocha Loures, sempre motivados pelo mesmo tema’”. 

“Um desses encontros uniu, durante as investigações da Lava Jato, a delação da JBS com a Rodrimar. Rocha Loures chamou Mesquita para encontrá-lo em uma cafeteria em São Paulo onde estava reunido com Ricardo Saud, diretor da JBS – antes de o executivo da Rodrimar chegar, Loures e Saud discutiam sobre o pagamento de propina. Era 24 de abril de 2017. Mesquita encontrou os dois e conversaram sobre amenidades. Em seguida, Ricardo Saud, da JBS, os deixou a sós. Esta é a versão de Mesquita para a conversa que teve com Rocha Loures então: “Limitou-se à questão que envolvia o marco regulatório do setor portuário”. Será que foi apenas um papo de “amenidades”?

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