Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Tenho vontade de rir quando leio analistas políticos dizendo - com ar grave de quem descobriu uma verdade profunda - que a troca de Michel Temer por Rodrigo Maia não será suficiente para tirar o país de uma crise sem paralelo em nossa história recente.
Eu (e a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Palmeiras, do Atlético, do Sport, do Vasco, do Inter, do Santos ... ) posso assegurar que nem Maia, nem Nelson Jobim, nem Carmen Lúcia, nem qualquer outro nome tirado da cartola de um sistema político arruinado será capaz de estabilizar a crise e apontar um rumo para uma nação conflagrada, onde a crise política já ameaça se transformar em conflito institucional.
E é assim por uma razão muito simples: o golpe de maio-agosto de 2017 deu errado. Um ano e dois meses depois de instalar-se no Planalto, o governo Michel Temer-Henrique Meirelles não conta com o mínimo de adesão necessária dos brasileiros para ficar de pé. É visto com indiferença ou rejeição por 93%. É humilhado e ridicularizado. Principal fiadora de Temer-Meirelles, a TV Globo conspira noite e dia contra o governo que só pode ser instalado com sua participação decisiva.
Temer encontra-se naquela hora em que a única alternativa digna para o país é bater em retirada e reconhecer que chegamos a uma emergência histórica, na qual o povo tem o direito de exercer seus poderes soberanos, definidos no artigo 1 da Constituição, e, através de eleições diretas, escolher o novo presidente da República.
A gravidade da situação justifica que se dê início imediato a este processo, que pode ser ampliado a partir do lançamento, em Curitiba, de uma Frente Ampla por Diretas-já.
Sabemos que, em graus maiores ou menores, a maioria das democracias do mundo enfrenta, hoje, problemas conhecidos de legitimidade e falta de representatividade. Pense em Donald Trump nos EUA, na abstenção de 57% na eleição parlamentar que deu maioria a Emmanoel Macron, na França. Para falar em países que nossos sábios costumam apontar como exemplo a ser seguido.
Mas aquilo que é uma dificuldade relativa - e até certo ponto tolerável - na maioria dos casos, atingiu um grau absoluto e insustentável no Brasil de hoje. A democracia, duramente conquistada após 25 anos de ditadura militar, que deixou lições que nenhum brasileiro vivo tem o direito de ignorar, encontra-se em risco.
Com a contribuição particular de Michel Temer e seus patrocinadores, cujo desprezo pelos valores e convicções da maioria 200 milhões de brasileiros atingiu um plano paranóico e grotesco, o país encontra-se num vale-tudo no qual ninguém sente-se no dever de respeitar ninguém.
Todos tem motivo para se sentirem enganados.
Todos são - objetivamente - impelidos ao ódio, ao inconformismo e à revolta.
Descontando o aquário de 1% de quem pretende encher os bolsos com reformas descaradamente contrárias ao bem-estar de 99% da população - e que em caso de tragédia poderá mudar-se para a Nova York dos irmãos Batista - o conjunto do país é chamado a assistir a um espetáculo no qual pode ser chamado a assumir o regime de "servidão voluntária" de que falou o juiz Maurício Godinho Delgado, do TST, referindo-se as mudanças no regime trabalhista que o senado debate esta semana.
A intolerância e a raiva que se vê nas ruas, nas conversas, nas redes sociais, tem origem numa situação, mutuamente insuportável, de adversários decepcionados e excludentes.
Não há nem haverá acordo, pois nenhuma candidatura de laboratório nos representa.
Sabemos, por essa razão, que, cedo ou tarde, haverá disputa e confronto, com vencedores e vencidos.
A questão é saber quando e como isso será feito. Para onde vai nos levar. Para recuperar a democracia ou para consolidar o Estado de Exceção, esse nome técnico para definir ditadura?
Essa é a pergunta de uma realidade de riscos e de oportunidades que é preciso confrontar, atravessar e deixar para trás.
Aqui se encontra o grande escombro, a ruína e sua paisagem de cadáveres insepultos. Maior que todos os Maias, Jobins, Carmens Lúcias que possam vir a ser produzidos em conspirações de gabinete, ainda que, enganosamente, possam ser apresentadas como articulações até inocentes diante da gravidade da hora.
Chega a ser covardia e desonestidade apontar defeitos ou virtudes no plano pessoal. Não é um problema de indivíduos. Nem de disputas biográficas. Estamos falando de tarefas que só podem ser resolvidas pelo país inteiro, jamais por um indivíduo, por mais iluminado que seja.
É missão para 108 milhões de eleitores.
Tenho vontade de rir quando leio analistas políticos dizendo - com ar grave de quem descobriu uma verdade profunda - que a troca de Michel Temer por Rodrigo Maia não será suficiente para tirar o país de uma crise sem paralelo em nossa história recente.
Eu (e a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Palmeiras, do Atlético, do Sport, do Vasco, do Inter, do Santos ... ) posso assegurar que nem Maia, nem Nelson Jobim, nem Carmen Lúcia, nem qualquer outro nome tirado da cartola de um sistema político arruinado será capaz de estabilizar a crise e apontar um rumo para uma nação conflagrada, onde a crise política já ameaça se transformar em conflito institucional.
E é assim por uma razão muito simples: o golpe de maio-agosto de 2017 deu errado. Um ano e dois meses depois de instalar-se no Planalto, o governo Michel Temer-Henrique Meirelles não conta com o mínimo de adesão necessária dos brasileiros para ficar de pé. É visto com indiferença ou rejeição por 93%. É humilhado e ridicularizado. Principal fiadora de Temer-Meirelles, a TV Globo conspira noite e dia contra o governo que só pode ser instalado com sua participação decisiva.
Temer encontra-se naquela hora em que a única alternativa digna para o país é bater em retirada e reconhecer que chegamos a uma emergência histórica, na qual o povo tem o direito de exercer seus poderes soberanos, definidos no artigo 1 da Constituição, e, através de eleições diretas, escolher o novo presidente da República.
A gravidade da situação justifica que se dê início imediato a este processo, que pode ser ampliado a partir do lançamento, em Curitiba, de uma Frente Ampla por Diretas-já.
Sabemos que, em graus maiores ou menores, a maioria das democracias do mundo enfrenta, hoje, problemas conhecidos de legitimidade e falta de representatividade. Pense em Donald Trump nos EUA, na abstenção de 57% na eleição parlamentar que deu maioria a Emmanoel Macron, na França. Para falar em países que nossos sábios costumam apontar como exemplo a ser seguido.
Mas aquilo que é uma dificuldade relativa - e até certo ponto tolerável - na maioria dos casos, atingiu um grau absoluto e insustentável no Brasil de hoje. A democracia, duramente conquistada após 25 anos de ditadura militar, que deixou lições que nenhum brasileiro vivo tem o direito de ignorar, encontra-se em risco.
Com a contribuição particular de Michel Temer e seus patrocinadores, cujo desprezo pelos valores e convicções da maioria 200 milhões de brasileiros atingiu um plano paranóico e grotesco, o país encontra-se num vale-tudo no qual ninguém sente-se no dever de respeitar ninguém.
Todos tem motivo para se sentirem enganados.
Todos são - objetivamente - impelidos ao ódio, ao inconformismo e à revolta.
Descontando o aquário de 1% de quem pretende encher os bolsos com reformas descaradamente contrárias ao bem-estar de 99% da população - e que em caso de tragédia poderá mudar-se para a Nova York dos irmãos Batista - o conjunto do país é chamado a assistir a um espetáculo no qual pode ser chamado a assumir o regime de "servidão voluntária" de que falou o juiz Maurício Godinho Delgado, do TST, referindo-se as mudanças no regime trabalhista que o senado debate esta semana.
A intolerância e a raiva que se vê nas ruas, nas conversas, nas redes sociais, tem origem numa situação, mutuamente insuportável, de adversários decepcionados e excludentes.
Não há nem haverá acordo, pois nenhuma candidatura de laboratório nos representa.
Sabemos, por essa razão, que, cedo ou tarde, haverá disputa e confronto, com vencedores e vencidos.
A questão é saber quando e como isso será feito. Para onde vai nos levar. Para recuperar a democracia ou para consolidar o Estado de Exceção, esse nome técnico para definir ditadura?
Essa é a pergunta de uma realidade de riscos e de oportunidades que é preciso confrontar, atravessar e deixar para trás.
Aqui se encontra o grande escombro, a ruína e sua paisagem de cadáveres insepultos. Maior que todos os Maias, Jobins, Carmens Lúcias que possam vir a ser produzidos em conspirações de gabinete, ainda que, enganosamente, possam ser apresentadas como articulações até inocentes diante da gravidade da hora.
Chega a ser covardia e desonestidade apontar defeitos ou virtudes no plano pessoal. Não é um problema de indivíduos. Nem de disputas biográficas. Estamos falando de tarefas que só podem ser resolvidas pelo país inteiro, jamais por um indivíduo, por mais iluminado que seja.
É missão para 108 milhões de eleitores.
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