quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Cadê os servidores públicos indignados?

Por Altamiro Borges

Nas marchas golpistas pelo impeachment de Dilma Rousseff, a mídia sempre deu destaque para a participação dos segmentos mais abastados do funcionalismo público. Em Brasília ou no Rio de Janeiro, que concentram muitos assalariados do setor, eles se mostraram os mais agressivos no “ódio ao PT” – segundo o noticiário. Concretizado o golpe dos corruptos, que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer, os servidores públicos agora estão na linha de tiro do Judas. O usurpador já anunciou que congelará salários e demitirá trabalhadores, entre outras maldades do seu ajuste fiscal. Será que a categoria, composta de distintas camadas, demonstrará agora o mesmo nível de indignação do passado recente? A conferir.

Nesta terça-feira (15), representantes de diversas entidades sindicais do setor, reunidas no Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), decidiram que farão um dia de protestos no fim deste mês. “Vamos fazer atos públicos para mostrar que, se o governo insistir, vamos endurecer nas nossas ações", garantiu o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Silva. Alguns setores do funcionalismo inclusive aprovaram a realização de um dia de greve. As entidades também decidiram que seus departamentos jurídicos atuarão em conjunto para definir a melhor ação judicial contra as medidas do governo e que será apresentada uma denúncia na Organização Internacional do Trabalho (OIT) pelo descumprimento da Convenção 151, que trata da negociação coletiva do funcionalismo público.

Segundo os sindicalistas, a revolta do funcionalismo contra a gangue de Michel Temer é crescente. E não é para menos. Nesta semana, o governo ilegítimo anunciou que vai adiar o reajuste salarial dos servidores e cortar vários benefícios, como o auxílio moradia, entre outras maldades. O objetivo, afirmam os abutres financeiros do covil golpista, é garantir uma economia de R$ 9,8 bilhões para reduzir o rombo das contas públicas. Ou seja: os banqueiros e os rentistas, que orquestraram o golpe, ficam intocados, ganhando fortunas com os juros da dívida pública. Já os servidores – inclusive os que foram usados como massa de manobra pelos espertos neoliberais, vão pagar a conta do austericídio fiscal. Cadê a indignação?

Mídia contra os "marajás"

A imprensa privada, que seduziu muitos “midiotas” na cruzada contra Dilma Rousseff, já expressou o seu apoio a uma parte do pacote lançado pelo lobista Henrique Meirelles. Ele discorda do aumento do rombo fiscal, mas concorda com as medidas contrárias aos servidores – que sempre foram tratados como “marajás” pela mídia. O jornal O Globo, por exemplo, publicou longo artigo nesta quarta-feira (16) dando aval à “série de medidas que visam a redução de custos, entre elas o adiamento, por um ano, do reajuste prometido a servidores a partir de janeiro de 2018 e a instituição de teto salarial”. O jornal também aplaudiu “a extinção de 60 mil cargos públicos, que estão atualmente vagos”.

No mesmo rumo, a Folha publicou um artigo, assinado por Eduardo Cucolo, elogiando a coragem do usurpador. “O presidente Michel Temer terá a chance de corrigir seu primeiro grande erro na área econômica: o reajuste concedido a servidores no momento em que buscava apoio para garantir o afastamento definitivo de Dilma Rousseff”. Mais radical ainda, o economista Nelson Marconi defendeu no mesmo jornal o fim da estabilidade no serviço público. Por estes e outros comentários, fica evidente que agora a mídia golpista não incentivará a revolta do funcionalismo. Muito pelo contrário.

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