quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O “prefake” turista e a fúria de Alckmin

Foto: Luisa Medeiros/Jornalistas Livres
Por Altamiro Borges

A ambição eleitoral do “não-político” João Doria, que nem bem chegou à prefeitura de São Paulo e já almeja ser presidente do Brasil, pode lhe custar caro. A própria mídia privada, que na sua obsessão doentia contra o PT apoiou o ricaço nas eleições de outubro passado, começa a explicitar a mal-estar contra o “prefake”, que abandonou a capital paulista e gasta boa parte do seu expediente em viagens de campanha para outros Estados. O mais irritado com as andanças eleitoreiras de João Doria, porém, é o seu padrinho político, o governador tucano Geraldo Alckmin. O “picolé de chuchu” está sendo traído à luz do dia por sua criatura, mas parece que já prepara o contra-ataque. E a vingança pode ser maligna, como dizia um personagem da tevê.

Na edição desta semana, a revista Veja foi a primeira a disparar seus torpedos contra o “prefake” turista. Ela enumerou todas as promessas de campanha do falso “gestor” e demonstrou que os resultados são pífios. Um gráfico demolidor confirma que boa parte não saiu do papel, sendo pura jogada de marketing. Com base neste levantamento, a revista concluiu: “A agenda apertada de viagens nacionais e internacionais (em sete meses de administração ele passou 61 dias fora, ou 29% do período) somada ao pouco tempo que passa, de fato, governando, começa a impactar negativamente a sua gestão”. Já nesta quinta-feira (17), foi a vez da Folha desmascarar o falso “João Trabalhador” em uma longa reportagem. Vale conferir alguns trechos:

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Sem resolver problemas de SP, Doria viaja em dia útil para eventos políticos

Por Artur Rodrigues e Giba Bergamin Jr

Por causa do entupimento de uma galeria, em Pinheiros, a cuidadora de idosos Ilda Vilanova, 50, atravessava aos pulos uma esquina alagada às 16h30 da última segunda-feira (14). A aproximadamente 1.700 km dali, no mesmo horário, o prefeito de São Paulo visitava uma emissora de TV em Palmas (TO), em parte de agenda político-partidária.

Naquele mesmo dia, ainda no Tocantins, João Doria era recebido por uma claque uniformizada que carregava faixas com as inscrições "Queremos Doria presidente", enquanto moradores de um prédio na Bela Vista, no centro paulistano, relatavam à Folha o descaso da gestão do PSDB com os riscos de desabamento após a queda de um muro.

Desde que assumiu o cargo, há quase oito meses, Doria não conseguiu mudar o cenário geral de semáforos quebrados, praças e parques com falhas de zeladoria e ruas e avenidas esburacadas. Nesta semana, ele reservou dois dias para agendas em outros Estados, o que ajuda a projetar seu nome no cenário nacional com vistas à eleição do ano que vem. Doria trava disputa silenciosa [sic] com o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), seu padrinho político.

Na segunda, enquanto o tucano visitava Palmas, e nesta quarta-feira (17), quando esteve em Natal (RN), a Folha acompanhou a rotina da capital e ouviu moradores afetados por uma série de problemas. Em linhas gerais, ao serem informados sobre as viagens do tucano, eles cobraram um Doria prefeito e "gestor da cidade."

Pesquisa Datafolha realizada em abril mostrou que a maioria dos moradores (55%) da cidade rejeitava a possibilidade de o prefeito deixar o cargo no ano que vem para ser candidato a governador ou a presidente.

Por isso, ainda na segunda-feira à noite, diante de cobranças nas redes sociais, ele publicou um vídeo para dar explicações sobre a agenda lotada em Palmas. Ele diz ter viajado a fim de buscar exemplos para São Paulo na área de educação, bancando as viagens do seu próprio bolso.

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Na mensagem, ele mostrou seu smartphone e disse ser possível comandar a maior cidade do país a distância. "Não há nenhum impedimento para a viagem de um prefeito. Hoje o mundo é digital. Por aqui [pelo celular], você acompanha tudo, participa de tudo", disse, ao classificar sua gestão como descentralizada e moderna.

"Vejo o prefeito colocar roupa de gari, mas aqui ele não vem resolver o nosso problema. Ele é prefeito, não presidente. Deveria estar em São Paulo cuidando da cidade", disse o engenheiro de sistemas Rodolfo Terra, 33. Ele é o síndico de um prédio na Bela Vista, região central de São Paulo, em uma rua na qual quatro casas foram interditadas após um desabamento de um muro em maio. Os escombros estão espalhados pela rua, e os vizinhos temem que, sem a construção de uma nova contenção, ocorra um novo deslizamento.

Nesta quarta (16), Doria cruzou com um jatinho particular cerca de 2.900 mil km durante a manhã para receber o título de cidadão natalense, na capital do Rio Grande do Norte. À tarde, almoçou ali com empresários e visitou uma grande indústria varejista. No centro de São Paulo, a vendedora Rosilene de Carvalho, 40, tinha dificuldade para atravessar a rua Veridiana com seu bebê no carrinho.

Aquele semáforo e outros pela cidade estão apagados. "Isso é falta de consideração da prefeitura", diz ela. O taxista Ricardo Cortez, 37, diz que o semáforo está apagado "há vários meses". "[O prefeito] tem que mostrar muita coisa aqui para pensar em nível nacional", diz.

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Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, a imagem dele pode ser afetada com essas viagens. "A prefeitura está tendo dificuldade para enfrentar problemas básicos. Quando o cidadão vê o prefeito recebendo título de cidadão num lugar, sendo recebido como candidato a presidente em outro, é óbvio que a cobrança começa a surgir", diz. "A impressão que fica é que ele está com uma agenda que não tem a prefeitura como futuro", afirma.

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Alckmin encomenda pesquisa sobre Doria

O cientista político até que foi delicado na crítica ao “prefake”. Desde a fundação em 2007 do “Cansei”, movimento que reuniu membros da cloaca empresarial e artistas globais para desestabilizar o governo Lula, João Doria almeja ser o líder da extrema-direita no país. Seu sonho é ser o Donald Trump do Brasil. O projeto nunca foi a prefeitura, mas o Palácio do Planalto. Através do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), ele fez fortuna em negociatas sinistras e agregou os setores mais elitistas e reacionários da sociedade. Com o apoio escancarado de Geraldo Alckmin, que usou e abusou da máquina pública e atropelou velhos tucanos, João Doria chegou à prefeitura de São Paulo. Mas, ingrato e traidor, ele agora se prepara para apunhalar seu criador.

As bicadas no ninho, porém, podem ser sangrentas. As matérias demolidoras da “Veja” e da “Folha” talvez até já façam parte deste guerra “silenciosa” – seria o chamado fogo amigo. A mesma Folha desta quinta-feira mostra que as coisas podem desandar de vez no dividido PSDB. Afirma a coluna Painel: “A disputa entre Geraldo Alckmin e João Doria já não é mais velada. Aliados do governador encomendaram pesquisas para medir o impacto das viagens do prefeito pelo país sobre sua popularidade na capital paulista. Num tiro de advertência, antes de fazer o discurso público, Alckmin disse a Doria que 2018 seria a ‘eleição da experiência’. O novato não recolheu as armas. Trabalha para ultrapassar 20% de intenções de voto para o Planalto. Quer engolir o padrinho pelos números”.

A coluna ainda acrescenta: “Pessoas próximas ao governador também analisam com lupa cada discurso feito por Doria em suas viagens pelo país. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, a tese é de que Doria começou a perder a simpatia do paulistano por estar fora da prefeitura. Alckmin acha que vai ter o apoio de toda a cúpula do PSDB, com quem Doria se indispôs em diversos momentos, para assegurar que será o escolhido para disputar a Presidência. Ele agora atua para minar o plano B do prefeito, que seria concorrer ao governo do Estado”. Ou seja: o criador está furioso com a criatura e a vingança pode ser maligna! A conferir!

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