Por Pedro Paulo Zahluth Bastos, na revista CartaCapital:
Comecei há cerca de um mês meu ano sabático como professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Isso explica tanto a descontinuidade da coluna quanto meu tema de hoje. Volta e meia tenho que explicar por aqui porque um presidente ilegítimo e corrupto não cai. Ele não só foi gravado em uma conversa noturna que levou à entrega filmada de uma mala de dinheiro a um enviado, o deputado Rodrigo Rocha Loures, como é o mais impopular da história das pesquisas modernas de opinião no Brasil.
A lógica diria que os deputados se afastariam de Michel Temer para se eleger em 2018, mas Tom Jobim nos ensinou que o Brasil não é para amadores. Parte da resposta foi dada por André Singer em coluna recente: os deputados calculam que os eleitores nos grotões do País mal acompanham o noticiário nacional e vão escolher os candidatos indicados pelos prefeitos às vésperas da eleição.
Podemos lembrar que os prefeitos, por sua vez, asseguram sua popularidade por meio de obras financiadas pelas emendas orçamentárias e pela influência dos deputados nos governos federal e estadual. Assim, o deputado elege o prefeito, que elege o deputado.
É difícil duvidar que as obras continuem a gerar propinas que vão alimentar o caixa 2 das campanhas e as pequenas fortunas dos políticos. Logo, enquanto a população das periferias não for mais capacitada a se informar sobre o saque sobre seus direitos sociais e trabalhistas realizado por seus próprios deputados, estes vão preferir seguir o dinheiro e apoiar o presidente que libera as verbas para obras e para o caixa 2 de campanha.
É provável que o parlamentar eleito nas maiores cidades seja mais prejudicado pela proximidade com o presidente impopular. Isto ajuda a explicar o interesse de parte importante dos deputados do PSDB que querem levar o partido para a oposição fingindo que nunca souberam do envolvimento do tucanato com os métodos tradicionais de financiamento de campanhas eleitorais. Como perguntou Sergio Machado, ex-líder do PSDB no Senado, a Romero Jucá: “Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...”
Pode ser, contudo, que o deputado do PSDB não precise ter tanto medo de seu eleitorado. O eleitor típico dos tucanos nas grandes cidades vestiu o símbolo da CBF para a suposta união nacional contra a corrupção quando o alvo era o PT, mas parece ter aposentado a camisa da Seleção e as panelas depois. Se este eleitor considera a luta de classes mais importante que a luta contra a corrupção, é pouco provável que deixe de votar nos partidos conservadores. Pode até trocar um deputado por outro, mas manterá a linha.
O mistério é saber porque o povo mais conscientizado nas grandes cidades, que ganhou renda e direitos com os governos do PT, não se mobiliza para pressionar pela queda de Temer. Creio que há um misto de impotência, desilusão e cálculo.
Impotência, por ter medo de apanhar da polícia, que não respeita o direito à manifestação pública e porque sabe que os congressistas corruptos que apoiam Temer até o fim são insensíveis à pressão popular nas grandes cidades.
Desilusão, pois tem a memória da campanha eleitoral de 2014 e do aviso presidencial posterior de que “não há alternativa”.
Cálculo? Para muita gente, creio que sim. Se é improvável que Temer seja afastado pela Câmara dos Deputados, é ainda mais improvável que, em seguida, os parlamentares antecipem eleições diretas. Com votação indireta, um novo presidente ungido pelo Congresso Nacional teria mais força para passar contrarreformas como a da Previdência, que tem apoio maciço do empresariado, mas são muito impopulares. Logo, para quem quer barrar novos cortes de direitos sociais, é mais arriscado ter alguém como Rodrigo Maia na presidência. Ruim com Temer, pior com outro.
O perigo para quem pensa assim é que nada garante a vitória da oposição nas eleições de 2018, apesar da impopularidade de Temer. Se esperar pela campanha eleitoral, a mobilização popular pode vir tarde demais.
Comecei há cerca de um mês meu ano sabático como professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Isso explica tanto a descontinuidade da coluna quanto meu tema de hoje. Volta e meia tenho que explicar por aqui porque um presidente ilegítimo e corrupto não cai. Ele não só foi gravado em uma conversa noturna que levou à entrega filmada de uma mala de dinheiro a um enviado, o deputado Rodrigo Rocha Loures, como é o mais impopular da história das pesquisas modernas de opinião no Brasil.
A lógica diria que os deputados se afastariam de Michel Temer para se eleger em 2018, mas Tom Jobim nos ensinou que o Brasil não é para amadores. Parte da resposta foi dada por André Singer em coluna recente: os deputados calculam que os eleitores nos grotões do País mal acompanham o noticiário nacional e vão escolher os candidatos indicados pelos prefeitos às vésperas da eleição.
Podemos lembrar que os prefeitos, por sua vez, asseguram sua popularidade por meio de obras financiadas pelas emendas orçamentárias e pela influência dos deputados nos governos federal e estadual. Assim, o deputado elege o prefeito, que elege o deputado.
É difícil duvidar que as obras continuem a gerar propinas que vão alimentar o caixa 2 das campanhas e as pequenas fortunas dos políticos. Logo, enquanto a população das periferias não for mais capacitada a se informar sobre o saque sobre seus direitos sociais e trabalhistas realizado por seus próprios deputados, estes vão preferir seguir o dinheiro e apoiar o presidente que libera as verbas para obras e para o caixa 2 de campanha.
É provável que o parlamentar eleito nas maiores cidades seja mais prejudicado pela proximidade com o presidente impopular. Isto ajuda a explicar o interesse de parte importante dos deputados do PSDB que querem levar o partido para a oposição fingindo que nunca souberam do envolvimento do tucanato com os métodos tradicionais de financiamento de campanhas eleitorais. Como perguntou Sergio Machado, ex-líder do PSDB no Senado, a Romero Jucá: “Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...”
Pode ser, contudo, que o deputado do PSDB não precise ter tanto medo de seu eleitorado. O eleitor típico dos tucanos nas grandes cidades vestiu o símbolo da CBF para a suposta união nacional contra a corrupção quando o alvo era o PT, mas parece ter aposentado a camisa da Seleção e as panelas depois. Se este eleitor considera a luta de classes mais importante que a luta contra a corrupção, é pouco provável que deixe de votar nos partidos conservadores. Pode até trocar um deputado por outro, mas manterá a linha.
O mistério é saber porque o povo mais conscientizado nas grandes cidades, que ganhou renda e direitos com os governos do PT, não se mobiliza para pressionar pela queda de Temer. Creio que há um misto de impotência, desilusão e cálculo.
Impotência, por ter medo de apanhar da polícia, que não respeita o direito à manifestação pública e porque sabe que os congressistas corruptos que apoiam Temer até o fim são insensíveis à pressão popular nas grandes cidades.
Desilusão, pois tem a memória da campanha eleitoral de 2014 e do aviso presidencial posterior de que “não há alternativa”.
Cálculo? Para muita gente, creio que sim. Se é improvável que Temer seja afastado pela Câmara dos Deputados, é ainda mais improvável que, em seguida, os parlamentares antecipem eleições diretas. Com votação indireta, um novo presidente ungido pelo Congresso Nacional teria mais força para passar contrarreformas como a da Previdência, que tem apoio maciço do empresariado, mas são muito impopulares. Logo, para quem quer barrar novos cortes de direitos sociais, é mais arriscado ter alguém como Rodrigo Maia na presidência. Ruim com Temer, pior com outro.
O perigo para quem pensa assim é que nada garante a vitória da oposição nas eleições de 2018, apesar da impopularidade de Temer. Se esperar pela campanha eleitoral, a mobilização popular pode vir tarde demais.
Espero que os nossos eleitores não se deixe enganar por esses crápulas malfeitores que no ano eleitoral aparecem sobrevoando como uns abutres as nossas cidades a cata de inocentes para serem fisgados e se perpetuarem no poder. A nossa democracia não pode oferecer abrigo há estes pilantras que só pensam neles onde o povo só serve com bucha.
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