Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:
Os primeiros arrufos dessa ordem podem ser detectados nas manifestações de 2013, intensificaram-se com as ações de apoio ao golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e agora seus autores reaparecem travestidos de censores de manifestações artísticas. Redirecionaram o raio de ação, indo da idiossincrasia política para a paranoia comportamental.
Como tornou-se impossível para eles seguir apoiando publicamente um governo marcado pela corrupção e pela rejeição da sociedade, foram buscar sobrevivência atacando exposições de arte e peças teatrais. Sempre com o beneplácito da mídia que dá a seus integrantes ares de importância, chamando-os a opinar como se fossem autoridades capazes de pontificar sobre temas a respeito dos quais destilam apenas preconceito e ódio.
Diante da violência, as reações dos afetados vai do acovardamento ao chamado à razão. Encontra-se, no primeiro caso, a mostra "Queermuseu" interrompida pelo Santander Cultural em Porto Alegre, numa subserviência vergonhosa às hostes fascistas. Atitude que abriu precedente para que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, se manifestasse contra a sua exibição no Museu de Arte do Rio (MAR), administrado pela prefeitura da cidade. Num arroubo de autoritarismo e ignorância o prefeito-pastor chegou a dizer que a exposição só seria possível se fosse "no fundo do mar".
Lembrei do discurso de um general franquista, diante de Miguel Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, cidade tomada pelos falangistas, dizendo "O fascismo vai restaurar a saúde da Espanha. Abaixo a inteligência. Viva a morte!". Só de lembrar e olhar em nossa volta, sobrevêm calafrios.
Voltando ao Brasil destes dias, cabe frisar que o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) mostrou mais firmeza, repudiando "as agressões que vem sofrendo por grupos radicais", defendendo a performance La Bête, também assediada pelos fanáticos do obscurantismo, afirmando que "o trabalho apresentado na ocasião não tem conteúdo erótico e trata-se de uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas" e lamentando "as interpretações açodadas e manifestações de ódio e de intimidação à liberdade de expressão que rapidamente se espalharam pelas redes sociais".
Além das palavras, atos. Cerca de 300 pessoas, entre elas artistas, atores e cineastas, abraçaram o museu paulista com cartazes defendendo o MAM, a arte e a liberdade de expressão. Ação que necessita ser constantemente repetida onde e quando a censura mostrar suas garras, impondo limites aos disseminadores da intolerância.
Só assim teremos alguma possibilidade de evitar situações ainda piores daqui para a frente. É preciso relembrar quantas vezes forem necessárias a ascensão do nazismo na Alemanha com suas fogueiras de livros e a destruição de obras de arte modernas consideradas "degeneradas" pelo regime. Artistas como Piet Mondrian, Wassily Kandinsky, Marc Chagall, Lasar Segal, entre outros, foram banidos. Ainda não chegamos a tanto, o que não elimina a possibilidade de que algo semelhante venha a ocorrer por aqui. Quanto à mídia, parece que não aprendeu com o golpe de 64. Depois de apoiá-lo, sentiu durante anos o peso da censura. Agora flerta com os obscurantistas esquecendo que pode vir a ser também uma de suas vítimas.
No começo, eram apenas grupinhos de 10 ou 20 pessoas enroladas em bandeiras do Brasil pedindo "intervenção militar", afirmando que "somos todos Cunha" ou outras aberrações do gênero. Não passavam de manifestantes tresloucados. Deveriam ser relegados a sua real insignificância. Mas não. Jornais publicavam suas fotos e as TVs lhes garantiam generosos espaços. Conquistavam graças aos meios de comunicação uma importância que na verdade não tinham. Não cresceram muito em número, mas sentindo-se reconhecidos, tornaram-se mais ousados. Não importava o tamanho da manifestação, o que interessava era a repercussão na mídia.
Os primeiros arrufos dessa ordem podem ser detectados nas manifestações de 2013, intensificaram-se com as ações de apoio ao golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e agora seus autores reaparecem travestidos de censores de manifestações artísticas. Redirecionaram o raio de ação, indo da idiossincrasia política para a paranoia comportamental.
Como tornou-se impossível para eles seguir apoiando publicamente um governo marcado pela corrupção e pela rejeição da sociedade, foram buscar sobrevivência atacando exposições de arte e peças teatrais. Sempre com o beneplácito da mídia que dá a seus integrantes ares de importância, chamando-os a opinar como se fossem autoridades capazes de pontificar sobre temas a respeito dos quais destilam apenas preconceito e ódio.
Diante da violência, as reações dos afetados vai do acovardamento ao chamado à razão. Encontra-se, no primeiro caso, a mostra "Queermuseu" interrompida pelo Santander Cultural em Porto Alegre, numa subserviência vergonhosa às hostes fascistas. Atitude que abriu precedente para que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, se manifestasse contra a sua exibição no Museu de Arte do Rio (MAR), administrado pela prefeitura da cidade. Num arroubo de autoritarismo e ignorância o prefeito-pastor chegou a dizer que a exposição só seria possível se fosse "no fundo do mar".
Lembrei do discurso de um general franquista, diante de Miguel Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, cidade tomada pelos falangistas, dizendo "O fascismo vai restaurar a saúde da Espanha. Abaixo a inteligência. Viva a morte!". Só de lembrar e olhar em nossa volta, sobrevêm calafrios.
Voltando ao Brasil destes dias, cabe frisar que o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) mostrou mais firmeza, repudiando "as agressões que vem sofrendo por grupos radicais", defendendo a performance La Bête, também assediada pelos fanáticos do obscurantismo, afirmando que "o trabalho apresentado na ocasião não tem conteúdo erótico e trata-se de uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas" e lamentando "as interpretações açodadas e manifestações de ódio e de intimidação à liberdade de expressão que rapidamente se espalharam pelas redes sociais".
Além das palavras, atos. Cerca de 300 pessoas, entre elas artistas, atores e cineastas, abraçaram o museu paulista com cartazes defendendo o MAM, a arte e a liberdade de expressão. Ação que necessita ser constantemente repetida onde e quando a censura mostrar suas garras, impondo limites aos disseminadores da intolerância.
Só assim teremos alguma possibilidade de evitar situações ainda piores daqui para a frente. É preciso relembrar quantas vezes forem necessárias a ascensão do nazismo na Alemanha com suas fogueiras de livros e a destruição de obras de arte modernas consideradas "degeneradas" pelo regime. Artistas como Piet Mondrian, Wassily Kandinsky, Marc Chagall, Lasar Segal, entre outros, foram banidos. Ainda não chegamos a tanto, o que não elimina a possibilidade de que algo semelhante venha a ocorrer por aqui. Quanto à mídia, parece que não aprendeu com o golpe de 64. Depois de apoiá-lo, sentiu durante anos o peso da censura. Agora flerta com os obscurantistas esquecendo que pode vir a ser também uma de suas vítimas.
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