Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Ocupando um dos mais destacados postos da televisão brasileira, a queda de Willian Waack após a divulgação de comentários de óbvio sentido racista está destinada a marcar uma fronteira na cultura brasileira.
Hoje o principal aparelho ideológico de preservação da ordem política vigente – que tem na manutenção da segregação dos afrodescendentes um de seus pilares essenciais – a TV Globo faz da hipocrisia um recurso ideológico particular.
Ao mesmo tempo em que combate todas as políticas de ação afirmativa capazes de permitir a justa reparação devida a população trazida ao país na condição de escrava, cultiva o discurso de que o Brasil abriga um regime de democracia racial no qual a discriminação não teria lugar nem raiz. Conversa mole, ofensiva e humilhante para quem se encontra do lado errado de uma história de tantos séculos, como demonstram as estatística de acesso a escola, aos bons empregos, aos bons bairros e boas universidades.
Mas é uma das bases da ordem social e política do país, que se tenta conservar de qualquer maneira, custe o que custar. Ela garante, no fim das contas, a oferta de uma imensa mão de obra barata para as camadas mais altas – obviamente brancas – da população, que no século XXI usufrui de um conforto com poucos paralelos entre as sociedades de igual padrão socio-econômico.
Numa demonstração da força do preconceito e da conveniência da discriminação racial, os governos Lula e Dilma tiveram de lutar – até no STF – para assegurar a sobrevivência de medidas igualitárias que o país deveria ter adotado há muito mais tempo.
Nesse terreno, a Globo assumiu um papel único para embelezar o racismo com argumentos rebuscados e teses aparentemente sofisticadas. Abriu lugar em seus programas para intelectuais orgânicos da Casa Grande. Descobriu talentos e vocações inesperadas, capazes de construir uma retórica a serviço de uma argumentação de lógica difícil e contudo fantasioso.
Modificou a distribuição de personagens em novelas, para permitir que negros não fossem retratados, somente, como motoristas, cozinheiras e faxineiras. Jornalista com uma formação cultural acima da média, titular de vários prêmios importantes, William Waack cumpria um papel essencial neste debate. Dava um lustro erudito a uma argumentação interesseira.
Pela falta de contato com a realidade, uma estrutura desse tipo possui um ponto frágil, aquela verdade que é preciso esconder, guardar e preservar, sob o risco de fazer o edifício desabar e permitir que todos contemplem a medonha nudez de um Rei mal fantasiado.
Essa verdade é o racismo, essa forma de ódio que constitui uma das pragas tenebrosas da história humana, e pela Constituição brasileira constitui crime inafiancável.
O comentário de William Waack, seu tom risonho, de quem se diverte com a própria agressividade, e tem certeza da própria impunidade, desmascara o mundo do outro lado do espelho, isto é, do vídeo da TV Globo. Por isso tornou-se perigoso. E é sintomático que as piadas e risinhos tenham ocorrido justamente na posse de Donald Trump – dia em que Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, deixava a Casa Branca. Deu para entender?
Ocupando um dos mais destacados postos da televisão brasileira, a queda de Willian Waack após a divulgação de comentários de óbvio sentido racista está destinada a marcar uma fronteira na cultura brasileira.
Hoje o principal aparelho ideológico de preservação da ordem política vigente – que tem na manutenção da segregação dos afrodescendentes um de seus pilares essenciais – a TV Globo faz da hipocrisia um recurso ideológico particular.
Ao mesmo tempo em que combate todas as políticas de ação afirmativa capazes de permitir a justa reparação devida a população trazida ao país na condição de escrava, cultiva o discurso de que o Brasil abriga um regime de democracia racial no qual a discriminação não teria lugar nem raiz. Conversa mole, ofensiva e humilhante para quem se encontra do lado errado de uma história de tantos séculos, como demonstram as estatística de acesso a escola, aos bons empregos, aos bons bairros e boas universidades.
Mas é uma das bases da ordem social e política do país, que se tenta conservar de qualquer maneira, custe o que custar. Ela garante, no fim das contas, a oferta de uma imensa mão de obra barata para as camadas mais altas – obviamente brancas – da população, que no século XXI usufrui de um conforto com poucos paralelos entre as sociedades de igual padrão socio-econômico.
Numa demonstração da força do preconceito e da conveniência da discriminação racial, os governos Lula e Dilma tiveram de lutar – até no STF – para assegurar a sobrevivência de medidas igualitárias que o país deveria ter adotado há muito mais tempo.
Nesse terreno, a Globo assumiu um papel único para embelezar o racismo com argumentos rebuscados e teses aparentemente sofisticadas. Abriu lugar em seus programas para intelectuais orgânicos da Casa Grande. Descobriu talentos e vocações inesperadas, capazes de construir uma retórica a serviço de uma argumentação de lógica difícil e contudo fantasioso.
Modificou a distribuição de personagens em novelas, para permitir que negros não fossem retratados, somente, como motoristas, cozinheiras e faxineiras. Jornalista com uma formação cultural acima da média, titular de vários prêmios importantes, William Waack cumpria um papel essencial neste debate. Dava um lustro erudito a uma argumentação interesseira.
Pela falta de contato com a realidade, uma estrutura desse tipo possui um ponto frágil, aquela verdade que é preciso esconder, guardar e preservar, sob o risco de fazer o edifício desabar e permitir que todos contemplem a medonha nudez de um Rei mal fantasiado.
Essa verdade é o racismo, essa forma de ódio que constitui uma das pragas tenebrosas da história humana, e pela Constituição brasileira constitui crime inafiancável.
O comentário de William Waack, seu tom risonho, de quem se diverte com a própria agressividade, e tem certeza da própria impunidade, desmascara o mundo do outro lado do espelho, isto é, do vídeo da TV Globo. Por isso tornou-se perigoso. E é sintomático que as piadas e risinhos tenham ocorrido justamente na posse de Donald Trump – dia em que Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, deixava a Casa Branca. Deu para entender?
Sujeito prepotente, arrogante e desprezível. Ele é o retrato da globo e da elite brasileira.
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