Por Altamiro Borges
A mídia chapa-branca, nutrida com milhões em publicidade oficial, está fazendo um baita esforço para animar a sociedade com os rumos da economia. Ex-urubólogos da imprensa, que durante os governos Lula e Dilma só davam notícias negativas, agora viraram otimistas de plantão. Até parecem porta-vozes do “sinistro” Henrique Meirelles. Diante das constantes altas do preço do botijão de gás, o Jornal Nacional da TV Globo chegou a exibir na semana passada uma reportagem sobre a volta do fogão a lenha, tratando o drama social como um edílico retorno da “cozinha à moda antiga”. A matéria foi tão descarada que gerou comentários sarcásticos nas redes sociais. Um internauta sugeriu que o JN também elogie a substituição do carro pelo jegue e da energia elétrica pela vela.
Deixando de lado as manipulações da mídia golpista, a situação é gravíssima. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (8), dois em cada três brasileiros com mais de 16 anos (67% da população) avaliam que o gás de cozinha compromete drasticamente o orçamento familiar. Já a maioria absoluta da sociedade (86%) afirma que o preço deste item básico subiu muito nos últimos seis meses. Desde junho, quando a Petrobras alterou sua política de preços para o combustível, a alta acumulada no preço de venda do produto pelas refinarias soma 67,8%. Nas revendas, o preço do botijão teve aumento de 15%.
Ainda de acordo com o Datafolha, a percepção da alta do preço é maior entre as famílias mais pobres, para quem o combustível tem um peso relevante no orçamento. “Para aqueles que têm renda de até dois salários mínimos (R$ 1.874), 80% dizem que o orçamento é altamente comprometido pelo preço do gás. Entre os mais ricos, o percentual é de 33% – 36% que disseram que não há comprometimento algum”. Aos poucos, a mídia hegemônica, que protagonizou o assalto ao poder da quadrilha de Michel Temer, confessa que o golpe visou apenas servir aos interesses dos ricaços. Eles não usam botijão de gás, não dependem da aposentadoria – que vai acabar – e sempre foram contra os direitos trabalhistas, que já acabaram.
O drama social dos milhões de brasileiros que dependem do botijão de gás foi retrata na reportagem de Joana Cunha, publicada na Folha na semana passada. Vale conferir esta raridade na mídia chapa-branca:
*****
Desempregada usa galhos em fogão a lenha improvisado
Nas casas do consumidor mais pobre, a lenha foi a saída para uma política de preços que provocou seis ajustes seguidos no gás de cozinha. Moradores de Parelheiros, na periferia do extremo sul de São Paulo, improvisaram fogões a lenha no fundo de suas casas quando o botijão de R$ 72 secou.
Germínia Pereira de Moraes, 54, busca galhos velhos no quintal da casa que ela mesma construiu no terreno invadido em uma área de mananciais com vista para a mata atlântica. A desempregada precisa se agachar para preparar o jantar de dez pessoas que vivem em sua casa. O fogão são dois blocos de cimento emparelhados e cobertos por um pedaço de gradil que serve de apoio para as panelas.
Antes de buscar na cozinha o pouco arroz que guarda em armários vazios, Moraes usa folhas papel rasgadas para acelerar a combustão.
Seus vizinhos preferem alimentar o fogo com pedaços de plástico enquanto a lenha não começa a queimar. Quando a Folha chegou ao local, no fim da tarde de quarta-feira (7), perto da hora do jantar, era possível sentir o cheiro químico do polímero queimado, contrastando com a umidade do ar refrescado pela mata nativa.
"Aqui é assim. Se chove, tem que tampar as panelas", diz a moradora, que há cerca de um mês perdeu o marido pedreiro e vive da ajuda de vizinhos e parentes.
Até a semana passada, Sidney dos Santos, 22, usava uma estrutura parecida para preparar arroz, feijão e "alguma mistura", que podia ser salsicha ou frango "se estiver em promoção".
Graças a três amigos que fizeram uma vaquinha para trocar seu botijão, Santos não precisa mais usar seu arremedo de fogão a lenha para cozinhar a refeição dos dois filhos pelo próximo mês.
O ex-garçom, desempregado desde o primeiro semestre, acaba de conseguir um bico como ajudante de pedreiro, o que lhe rende R$ 34 por dia. "Agora está dando para pagar as contas, mas ainda fica pesado comprar o gás porque tem que pagar a água e comprar um danone para as crianças de vez em quando", diz Santos.
Caso semelhante ocorre no barraco de madeira onde Karen Daiane Faria, 29, mora com o marido e três crianças.
Quando sai em busca de ferro-velho, o marido recolhe pedaços de madeira que sobram nas obras para usar como combustível no preparo das refeições.
*****
Leia também:
- A aposentada que ateou fogo ao próprio corpo
- A liquidação de Natal na Previdência
- Demissões na Estácio e a guerra na Justiça
- Temer e Lava-Jato destroem a economia
- Até quando a velha imprensa terá o controle?
- A mídia e o voo de galinha da economia
- Caos social à vista e retomada distante
A mídia chapa-branca, nutrida com milhões em publicidade oficial, está fazendo um baita esforço para animar a sociedade com os rumos da economia. Ex-urubólogos da imprensa, que durante os governos Lula e Dilma só davam notícias negativas, agora viraram otimistas de plantão. Até parecem porta-vozes do “sinistro” Henrique Meirelles. Diante das constantes altas do preço do botijão de gás, o Jornal Nacional da TV Globo chegou a exibir na semana passada uma reportagem sobre a volta do fogão a lenha, tratando o drama social como um edílico retorno da “cozinha à moda antiga”. A matéria foi tão descarada que gerou comentários sarcásticos nas redes sociais. Um internauta sugeriu que o JN também elogie a substituição do carro pelo jegue e da energia elétrica pela vela.
Deixando de lado as manipulações da mídia golpista, a situação é gravíssima. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (8), dois em cada três brasileiros com mais de 16 anos (67% da população) avaliam que o gás de cozinha compromete drasticamente o orçamento familiar. Já a maioria absoluta da sociedade (86%) afirma que o preço deste item básico subiu muito nos últimos seis meses. Desde junho, quando a Petrobras alterou sua política de preços para o combustível, a alta acumulada no preço de venda do produto pelas refinarias soma 67,8%. Nas revendas, o preço do botijão teve aumento de 15%.
Ainda de acordo com o Datafolha, a percepção da alta do preço é maior entre as famílias mais pobres, para quem o combustível tem um peso relevante no orçamento. “Para aqueles que têm renda de até dois salários mínimos (R$ 1.874), 80% dizem que o orçamento é altamente comprometido pelo preço do gás. Entre os mais ricos, o percentual é de 33% – 36% que disseram que não há comprometimento algum”. Aos poucos, a mídia hegemônica, que protagonizou o assalto ao poder da quadrilha de Michel Temer, confessa que o golpe visou apenas servir aos interesses dos ricaços. Eles não usam botijão de gás, não dependem da aposentadoria – que vai acabar – e sempre foram contra os direitos trabalhistas, que já acabaram.
O drama social dos milhões de brasileiros que dependem do botijão de gás foi retrata na reportagem de Joana Cunha, publicada na Folha na semana passada. Vale conferir esta raridade na mídia chapa-branca:
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Desempregada usa galhos em fogão a lenha improvisado
Nas casas do consumidor mais pobre, a lenha foi a saída para uma política de preços que provocou seis ajustes seguidos no gás de cozinha. Moradores de Parelheiros, na periferia do extremo sul de São Paulo, improvisaram fogões a lenha no fundo de suas casas quando o botijão de R$ 72 secou.
Germínia Pereira de Moraes, 54, busca galhos velhos no quintal da casa que ela mesma construiu no terreno invadido em uma área de mananciais com vista para a mata atlântica. A desempregada precisa se agachar para preparar o jantar de dez pessoas que vivem em sua casa. O fogão são dois blocos de cimento emparelhados e cobertos por um pedaço de gradil que serve de apoio para as panelas.
Antes de buscar na cozinha o pouco arroz que guarda em armários vazios, Moraes usa folhas papel rasgadas para acelerar a combustão.
Seus vizinhos preferem alimentar o fogo com pedaços de plástico enquanto a lenha não começa a queimar. Quando a Folha chegou ao local, no fim da tarde de quarta-feira (7), perto da hora do jantar, era possível sentir o cheiro químico do polímero queimado, contrastando com a umidade do ar refrescado pela mata nativa.
"Aqui é assim. Se chove, tem que tampar as panelas", diz a moradora, que há cerca de um mês perdeu o marido pedreiro e vive da ajuda de vizinhos e parentes.
Até a semana passada, Sidney dos Santos, 22, usava uma estrutura parecida para preparar arroz, feijão e "alguma mistura", que podia ser salsicha ou frango "se estiver em promoção".
Graças a três amigos que fizeram uma vaquinha para trocar seu botijão, Santos não precisa mais usar seu arremedo de fogão a lenha para cozinhar a refeição dos dois filhos pelo próximo mês.
O ex-garçom, desempregado desde o primeiro semestre, acaba de conseguir um bico como ajudante de pedreiro, o que lhe rende R$ 34 por dia. "Agora está dando para pagar as contas, mas ainda fica pesado comprar o gás porque tem que pagar a água e comprar um danone para as crianças de vez em quando", diz Santos.
Caso semelhante ocorre no barraco de madeira onde Karen Daiane Faria, 29, mora com o marido e três crianças.
Quando sai em busca de ferro-velho, o marido recolhe pedaços de madeira que sobram nas obras para usar como combustível no preparo das refeições.
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☺ Isso enquanto o congresso não promulga uma Lei da Repressão ao Roubo de Lenha como aquela que revoltou Karl Marx e o decidiu de uma vez para sempre.
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