Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Apenas uma pesquisa, dentre as divulgadas nas últimas semanas, ocupou-se do assunto político mais relevante na atualidade: como a opinião pública avalia o modo pelo qual Lula é tratado por uma parte do Judiciário, do Ministério Público e do aparelho repressivo do Estado.
Foi a pesquisa CUT/Vox Populi, realizada em meados de dezembro de 2017. Nenhuma das demais achou que era necessário saber o que a população pensa disso.
Está claro que há outros temas na pauta das pesquisas: a próxima eleição presidencial, o governo de Michel Temer, as percepções a respeito da economia, para citar os óbvios. Todos, no entanto, mostram-se estáveis há tempo. Desde o início do ano passado, a rigor, nada (ou quase nada) mudou nesses aspectos.
A consolidação do favoritismo de Lula, a presença de Jair Bolsonaro como opção da direita, a ausência de vitalidade nas candidaturas governistas (eufemisticamente chamadas “de centro”), a decadência dos velhos e das velhas candidatas, a falta de interesse do eleitorado pelas “novidades” oferecidas, em nada disso há mudança. Tampouco no repúdio quase unânime a Temer, seu governo e agenda.
Mas há um fato novo importante, ignorado por essas pesquisas: o recrudescimento da campanha contra Lula, com a disposição ostensiva da Justiça de segunda instância de referendar a primeira sentença, apesar de sua inconsistência, e correr com os prazos para dificultar a candidatura do ex-presidente. A reação da opinião pública a isso deveria estar sendo pesquisada.
De um lado, por Lula ser hoje o candidato em quem pretendem votar milhões de pessoas no País inteiro, de todos os tipos e lugares. Não há uma só pesquisa em que não alcance mais de 40 milhões de votos. Nas mais cuidadosas ele se mostra com possibilidade de até vencer a eleição no primeiro turno.
Impedir uma candidatura com essas características é fato gravíssimo e procurar saber o que pensam disso os eleitores, uma obrigação dos responsáveis pelas pesquisas. De outro lado, é preciso perguntar às pessoas o que elas de fato acham, pois o palco está cheio de personagens que se arvoram em ser a “expressão dos sentimentos nacionais”, a começar por magistrados e procuradores, imbuídos de “missão” que ninguém lhes deu.
Em atitude semelhante, pululam analistas e comentaristas que supõem ser intérpretes daquilo que “o povo quer” e se oferecem para falar em seu nome. Como tudo isso é balela, melhor que inventar respostas é perguntar.
Em dezembro passado, 48% dos entrevistados na pesquisa CUT/Vox Populi concordaram com a frase “Quem tem que julgar Lula é o povo brasileiro nas urnas e não Moro ou outros juízes”.
Houve 42% que discordaram e restaram 10% que não souberam responder. É um resultado expressivo, considerando o investimento que os órgãos da mídia conservadora fazem há anos para deslegitimar o ex-presidente e exaltar como heróis os juízes antipetistas.
Mostra que conseguiram pouco na disputa pelas parcelas “neutras” da opinião pública, as que não são nem a favor nem contra Lula e o PT, cada uma das quais equivalente a um terço do eleitorado.
A pesquisa revela que, no terço “neutro”, foi pequena a adesão à tese de que é justo que Moro julgue Lula e maior o grupo que entende que o povo é que deve decidir.
A rejeição da sociedade à interferência do Judiciário na eleição é ainda mais nítida nas respostas a outra interrogação, que perguntava se a pessoa, independentemente de sua intenção de voto, achava que “Lula deveria poder se candidatar a presidente na próxima eleição ou se deveria ser impedido de se candidatar”.
Aprovavam a exclusão apenas 34% dos respondentes, exatamente o terço antipetista do eleitorado, enquanto 56% afirmavam que Lula poderia concorrer e 10% não sabiam.
Em qualquer país civilizado, o natural seria que o tribunal revisor reformasse a primeira sentença por inépcia e fragilidade, que atende apenas ao desejo de uma minoria e pode aprofundar a polarização e o conflito social.
No Brasil, no entanto, onde as elites pouco se importam com a democracia e acham que sempre vão conseguir o que querem, o prognóstico é menos seguro. Estão de tal maneira desinteressadas no que pensa a maioria que nem sequer permitem que seus institutos de pesquisa perguntem às pessoas o que elas preferem.
Foi a pesquisa CUT/Vox Populi, realizada em meados de dezembro de 2017. Nenhuma das demais achou que era necessário saber o que a população pensa disso.
Está claro que há outros temas na pauta das pesquisas: a próxima eleição presidencial, o governo de Michel Temer, as percepções a respeito da economia, para citar os óbvios. Todos, no entanto, mostram-se estáveis há tempo. Desde o início do ano passado, a rigor, nada (ou quase nada) mudou nesses aspectos.
A consolidação do favoritismo de Lula, a presença de Jair Bolsonaro como opção da direita, a ausência de vitalidade nas candidaturas governistas (eufemisticamente chamadas “de centro”), a decadência dos velhos e das velhas candidatas, a falta de interesse do eleitorado pelas “novidades” oferecidas, em nada disso há mudança. Tampouco no repúdio quase unânime a Temer, seu governo e agenda.
Mas há um fato novo importante, ignorado por essas pesquisas: o recrudescimento da campanha contra Lula, com a disposição ostensiva da Justiça de segunda instância de referendar a primeira sentença, apesar de sua inconsistência, e correr com os prazos para dificultar a candidatura do ex-presidente. A reação da opinião pública a isso deveria estar sendo pesquisada.
De um lado, por Lula ser hoje o candidato em quem pretendem votar milhões de pessoas no País inteiro, de todos os tipos e lugares. Não há uma só pesquisa em que não alcance mais de 40 milhões de votos. Nas mais cuidadosas ele se mostra com possibilidade de até vencer a eleição no primeiro turno.
Impedir uma candidatura com essas características é fato gravíssimo e procurar saber o que pensam disso os eleitores, uma obrigação dos responsáveis pelas pesquisas. De outro lado, é preciso perguntar às pessoas o que elas de fato acham, pois o palco está cheio de personagens que se arvoram em ser a “expressão dos sentimentos nacionais”, a começar por magistrados e procuradores, imbuídos de “missão” que ninguém lhes deu.
Em atitude semelhante, pululam analistas e comentaristas que supõem ser intérpretes daquilo que “o povo quer” e se oferecem para falar em seu nome. Como tudo isso é balela, melhor que inventar respostas é perguntar.
Em dezembro passado, 48% dos entrevistados na pesquisa CUT/Vox Populi concordaram com a frase “Quem tem que julgar Lula é o povo brasileiro nas urnas e não Moro ou outros juízes”.
Houve 42% que discordaram e restaram 10% que não souberam responder. É um resultado expressivo, considerando o investimento que os órgãos da mídia conservadora fazem há anos para deslegitimar o ex-presidente e exaltar como heróis os juízes antipetistas.
Mostra que conseguiram pouco na disputa pelas parcelas “neutras” da opinião pública, as que não são nem a favor nem contra Lula e o PT, cada uma das quais equivalente a um terço do eleitorado.
A pesquisa revela que, no terço “neutro”, foi pequena a adesão à tese de que é justo que Moro julgue Lula e maior o grupo que entende que o povo é que deve decidir.
A rejeição da sociedade à interferência do Judiciário na eleição é ainda mais nítida nas respostas a outra interrogação, que perguntava se a pessoa, independentemente de sua intenção de voto, achava que “Lula deveria poder se candidatar a presidente na próxima eleição ou se deveria ser impedido de se candidatar”.
Aprovavam a exclusão apenas 34% dos respondentes, exatamente o terço antipetista do eleitorado, enquanto 56% afirmavam que Lula poderia concorrer e 10% não sabiam.
Em qualquer país civilizado, o natural seria que o tribunal revisor reformasse a primeira sentença por inépcia e fragilidade, que atende apenas ao desejo de uma minoria e pode aprofundar a polarização e o conflito social.
No Brasil, no entanto, onde as elites pouco se importam com a democracia e acham que sempre vão conseguir o que querem, o prognóstico é menos seguro. Estão de tal maneira desinteressadas no que pensa a maioria que nem sequer permitem que seus institutos de pesquisa perguntem às pessoas o que elas preferem.
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