Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Merval Pereira, com a impressionante assessoria militar do ‘General” Fernando Gabeira, dedica-se hoje a comparar, em O Globo, a missão das Forças Armadas no Rio de janeiro à que desempenharam, durante 13 anos, no devastado Haiti.
Merval, perdoe a expressão, mas você é tão inteligente quanto um pavão seria. Embora os pavões não sejam, com certeza, tão ingratos ao cocho que alimentou o esplendor de suas penas.
O Rio de Janeiro foi – e não vai longe isso – a capital cultural do Brasil, o seu tambor, o lugar de onde ressoavam ideias. O lugar que produzia aquilo que mais influenciava (e atraía) o pensamento brasileiro, dos sambas do morro até a Academia da qual você exibe, vaidoso, o fardão.
Aqui sempre se amou a liberdade e até o seu viver algo caótico. Aqui vicejou o abolicionismo, a República, aqui os tenentes se organizaram contra as oligarquias, aqui se rugiu pela tragédia de Vargas, para cá vieram Caymmi, Portinari, Caetano, Gil, Chico… Aqui não se abaixou a cabeça com o golpe e se elegeu um governador do MDB, Negrão de Lima, pouco depois de implantada a ditadura.
Aqui não se gritou – imagine como seria se fosse em São Paulo! – quando saiu daqui a capital federal, talvez porque os cariocas são vindos de tantos lugares que sejam, afinal, os nascidos no Brasil, como o meu avô alagoano e o seu, maranhense.
Este Rio de todas as gentes, em 1982, elegeu o primeiro governante de esquerda, depois de quase 20 anos de seu banimento, de seu exílio, de sua proscrição. Elegeu contra a sua vontade, contra a vontade e as manipulações da Globo que, aí sim, merece a comparação com o Haiti: é o Papa Doc que se eternizou no poder nestas bandas.
Entendo que você pretenda ser o Baby Doc do Império Marinho que a todos intimida.
Este estado que você chama de Haiti, um dia, dedicou-se a construir escolas, a costurar pela educação a cidade partida, mas onde nunca se desencostaram mar e montanha, pobres e ricos, negros e brancos. Escolas “boas demais”, segundo seu chefe, o Dr. Roberto, porque bastariam “umas escolinhas”.
Algo com que você, a Globo e seu hoje estafeta “militar”, Fernando Gabeira – sim, não minto, com a ajuda de uns “udenistas” do PT – ajudaram a demolir. Com o patrocínio de José Sarney (outro “presidente” de um golpe, este do acaso), impediram que prosseguisse, trocando o luxo de termos um Darcy Ribeiro no Governo do Estado. Puseram, no lugar que seria dele, um energúmeno como Moreira Franco a prometer “acabar com a violência em seis meses”.
Se quiser lembrar do Haiti, Merval, lembre dele nos versos de Caetano: “Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/Dando porrada na nuca de malandros pretos/De ladrões mulatos e outros quase brancos/Tratados como pretos/Só pra mostrar aos outros quase pretos/(E são quase todos pretos)/E aos quase brancos pobres como pretos/Como é que pretos, pobres e mulatos/E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados.
Pense no Haiti, reze pelo Haiti, se o seu ouvido aristocrata ainda puder ouvir, de tão surdo aos gritos, “quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo/Diante da chacina/111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos/Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres/E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos.
Você não entendeu nada, Merval, porque não tem um coração para pensar.
O Caetano sabe: O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui
Aqui, Merval, não é Haiti, é Tuiuti.
Você não entende porque não pode cantar que não é escravo de nenhum senhor.
Nós, sim, podemos e cantamos Aqui é nosso paraíso, nosso bastião. A sentinela da libertação.
Merval Pereira, com a impressionante assessoria militar do ‘General” Fernando Gabeira, dedica-se hoje a comparar, em O Globo, a missão das Forças Armadas no Rio de janeiro à que desempenharam, durante 13 anos, no devastado Haiti.
Merval, perdoe a expressão, mas você é tão inteligente quanto um pavão seria. Embora os pavões não sejam, com certeza, tão ingratos ao cocho que alimentou o esplendor de suas penas.
O Rio de Janeiro foi – e não vai longe isso – a capital cultural do Brasil, o seu tambor, o lugar de onde ressoavam ideias. O lugar que produzia aquilo que mais influenciava (e atraía) o pensamento brasileiro, dos sambas do morro até a Academia da qual você exibe, vaidoso, o fardão.
Aqui sempre se amou a liberdade e até o seu viver algo caótico. Aqui vicejou o abolicionismo, a República, aqui os tenentes se organizaram contra as oligarquias, aqui se rugiu pela tragédia de Vargas, para cá vieram Caymmi, Portinari, Caetano, Gil, Chico… Aqui não se abaixou a cabeça com o golpe e se elegeu um governador do MDB, Negrão de Lima, pouco depois de implantada a ditadura.
Aqui não se gritou – imagine como seria se fosse em São Paulo! – quando saiu daqui a capital federal, talvez porque os cariocas são vindos de tantos lugares que sejam, afinal, os nascidos no Brasil, como o meu avô alagoano e o seu, maranhense.
Este Rio de todas as gentes, em 1982, elegeu o primeiro governante de esquerda, depois de quase 20 anos de seu banimento, de seu exílio, de sua proscrição. Elegeu contra a sua vontade, contra a vontade e as manipulações da Globo que, aí sim, merece a comparação com o Haiti: é o Papa Doc que se eternizou no poder nestas bandas.
Entendo que você pretenda ser o Baby Doc do Império Marinho que a todos intimida.
Este estado que você chama de Haiti, um dia, dedicou-se a construir escolas, a costurar pela educação a cidade partida, mas onde nunca se desencostaram mar e montanha, pobres e ricos, negros e brancos. Escolas “boas demais”, segundo seu chefe, o Dr. Roberto, porque bastariam “umas escolinhas”.
Algo com que você, a Globo e seu hoje estafeta “militar”, Fernando Gabeira – sim, não minto, com a ajuda de uns “udenistas” do PT – ajudaram a demolir. Com o patrocínio de José Sarney (outro “presidente” de um golpe, este do acaso), impediram que prosseguisse, trocando o luxo de termos um Darcy Ribeiro no Governo do Estado. Puseram, no lugar que seria dele, um energúmeno como Moreira Franco a prometer “acabar com a violência em seis meses”.
Se quiser lembrar do Haiti, Merval, lembre dele nos versos de Caetano: “Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/Dando porrada na nuca de malandros pretos/De ladrões mulatos e outros quase brancos/Tratados como pretos/Só pra mostrar aos outros quase pretos/(E são quase todos pretos)/E aos quase brancos pobres como pretos/Como é que pretos, pobres e mulatos/E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados.
Pense no Haiti, reze pelo Haiti, se o seu ouvido aristocrata ainda puder ouvir, de tão surdo aos gritos, “quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo/Diante da chacina/111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos/Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres/E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos.
Você não entendeu nada, Merval, porque não tem um coração para pensar.
O Caetano sabe: O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui
Aqui, Merval, não é Haiti, é Tuiuti.
Você não entende porque não pode cantar que não é escravo de nenhum senhor.
Nós, sim, podemos e cantamos Aqui é nosso paraíso, nosso bastião. A sentinela da libertação.
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