Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Jair Bolsonaro, o presidenciável da extrema-direita, e Geraldo Alckmin, o conservador do PSDB, estão em guerra pelo voto direitista. O tiroteio entre eles e seus apoiadores prenuncia uma carnificina quando a campanha começar. Ou será que o tucano, alvo de descrédito e pressão dentro do próprio partido devido à posição nas pesquisas, não sobrevive até lá?
São muitos os temores no PSDB, articulador de um manifesto a pregar a união total dos partidos aliados do governo Michel Temer, o impopular. O documento achincalha os “radicalismos” do campo progressista e de Bolsonaro, mas o verdadeiro alvo é o deputado do PSL, taxado de “proto-fascista” durante o lançamento do manifesto, na terça-feira 5, em Brasília.
Um dia depois, Bolsonaro era chamado para um duelo com Alckmin, para discutir segurança pública, tema caro ao valentão ex-capitão do Exército. “E aí, será que ele vai aceitar ou vai correr?”, provocava o Twitter oficial do PSDB. O Twitter alckmista reforçou: “Não conheço as propostas do Bolsonaro para segurança pública, mas faço o convite. Vamos debater sobre segurança?”
A resposta veio no mesmo dia, no Twitter oficial do deputado do PSL. “Caro senhor divulgado como ‘santo’ na Lava-Jato que alega não conhecer nossas propostas, acesse http://www.bolsonaro.com.br ou nosso canal no youtube para mais informações. Uma boa noite!”
“Santo” seria o apelido de Alckmin na lista de alcunhas da Odebrecht, empresa delatora de uma penca de políticos que teriam recebido dinheiro em troca de favores.
No dia em que o Ministério Público de São Paulo decidiu levar adiante a investigação de Alckmin, 15 de maio, o deputado Major Olimpio, chefe do PSL paulista, comemorou no plenário da Câmara. “Agora a jurupoca vai piar mesmo (...) O Brasil vai saber quem é o santo da Odebrecht, o santo Geraldo Alckmin, o santo do metrô, da CPTM, do Rodoanel, da merenda, o santo que destruiu SP.”
Não que Bolsonaro esteja lá muito confortável na seara criminal. Em 2017, foi condenado a pagar multa por insultar gays. Hoje, é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e apologia ao estupro. Em abril, foi denunciado por racismo ao mesmo Supremo pela “xerife” Raque Dodge, tida entre alguns colegas da Procuradoria Geral da República (PGR) como “tucana”.
Os sopapos entre bolsonaristas e Alckmin chegam ao campo pessoal. Em entrevista em 23 de maio, o tucano disse que o rival era um “caranguejo”, votar nele seria andar para trás, e “o Brasil não vai regredir.” Um dia depois, em um evento em São Paulo, tascou que o deputado “não sabe ouvir, não sabe dialogar, muito menos governar”, “não sabe ouvir crítica, então desrespeita”.
Ao contra-atacar, Bolsonaro disse na Bahia que Alckmin “soltou pipa no ventilador e jogou bolinha de gude no carpete”, pois não sabe que “caranguejo não anda para trás, anda para a direita ou para a esquerda”. E voltou ao tema “santo”. “Os diálogos do seu Geraldo Alckmin é com o pessoal da Odebrecht.”
O economista apontado por Bolsonaro como seu “ministro da Fazenda”, o neoliberal Paulo Guedes, também dá alfinetadas éticas no PSDB. Em uma entrevista em um auditório cheio de bolsonaristas, em 22 de maio, disse que o PSDB aprovou de “forma suspeita” a mudança na Constituição que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O tucano aprova a reeleição, ganha uma depois perde quatro seguidas. Destruiu seu próprio partido. Acabou, dissipou. Cadê o PSDB hoje? Está todo mundo escondido.”
E Guedes, é vidraça também? Ele é sócio de um banco de investimentos, o grupo Bozano, apontado como “grande” cliente da rede de doleiros desbaratada em maio. Um dos presos naquele momento era diretor do grupo, Oswaldo Prado Sanchez. Que acaba de conseguir um habeas corpus no STF, dado pelo juiz Gilmar Mendes, o libertador.
A guerra entre Alckmin e Bolsonaro neste momento mira o eleitorado paulista. Por iniciativa do PSDB, na quarta-feira 6 houve o lançamento no Congresso de um livro, “O voto do brasileiro”, cujo autor aposta que a eleição presidencial será polarizada mais uma vez entre PSDB e PT.
Na obra, o cientista político Alberto Carlos Almeida reuniu dados sobre as últimas três eleições brasileiras e as de alguns outros países. Sua conclusão é que há um padrão de voto regional. No caso do Brasil, esse padrão, segundo ele, é determinado pela economia e funciona assim: o Nordeste é “cidadela” do PT e São Paulo, a do PSDB.
O cientista político admite, porém, que há algo “um pouco fora do scritp” em 2018. “Bolsonaro impede” que a “cidadela” tucana abrace neste momento o candidato do PSDB.
Um dos principais aliados de Alckmin em Brasília, o deputado Silvio Torres, do PSDB paulista, acredita que a cidadela não faltará ao ex-governador. Ele diz que o eleitorado define o voto cada vez mais em cima da hora.
Em 2014, por exemplo, o presidenciável tucano, Aécio Neves, só passou Marina Silva nas pesquisas quando faltavam três dias para a eleição. No segundo turno contra Dilma Rousseff, do PT, Aécio teve a maior votação de um tucano em São Paulo na história, 65%.
Na eleição municipal de 2016, nenhuma pesquisa mostrava que a corrida pela prefeitura paulistana teria vitória do tucano João Doria Jr. já no primeiro turno, e o triunfo aconteceu sem segundo turno.
Um mar de dúvidas, em meio à guerra em terra entre Alckmin e Bolsonaro.
São muitos os temores no PSDB, articulador de um manifesto a pregar a união total dos partidos aliados do governo Michel Temer, o impopular. O documento achincalha os “radicalismos” do campo progressista e de Bolsonaro, mas o verdadeiro alvo é o deputado do PSL, taxado de “proto-fascista” durante o lançamento do manifesto, na terça-feira 5, em Brasília.
Um dia depois, Bolsonaro era chamado para um duelo com Alckmin, para discutir segurança pública, tema caro ao valentão ex-capitão do Exército. “E aí, será que ele vai aceitar ou vai correr?”, provocava o Twitter oficial do PSDB. O Twitter alckmista reforçou: “Não conheço as propostas do Bolsonaro para segurança pública, mas faço o convite. Vamos debater sobre segurança?”
A resposta veio no mesmo dia, no Twitter oficial do deputado do PSL. “Caro senhor divulgado como ‘santo’ na Lava-Jato que alega não conhecer nossas propostas, acesse http://www.bolsonaro.com.br ou nosso canal no youtube para mais informações. Uma boa noite!”
“Santo” seria o apelido de Alckmin na lista de alcunhas da Odebrecht, empresa delatora de uma penca de políticos que teriam recebido dinheiro em troca de favores.
No dia em que o Ministério Público de São Paulo decidiu levar adiante a investigação de Alckmin, 15 de maio, o deputado Major Olimpio, chefe do PSL paulista, comemorou no plenário da Câmara. “Agora a jurupoca vai piar mesmo (...) O Brasil vai saber quem é o santo da Odebrecht, o santo Geraldo Alckmin, o santo do metrô, da CPTM, do Rodoanel, da merenda, o santo que destruiu SP.”
Não que Bolsonaro esteja lá muito confortável na seara criminal. Em 2017, foi condenado a pagar multa por insultar gays. Hoje, é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e apologia ao estupro. Em abril, foi denunciado por racismo ao mesmo Supremo pela “xerife” Raque Dodge, tida entre alguns colegas da Procuradoria Geral da República (PGR) como “tucana”.
Os sopapos entre bolsonaristas e Alckmin chegam ao campo pessoal. Em entrevista em 23 de maio, o tucano disse que o rival era um “caranguejo”, votar nele seria andar para trás, e “o Brasil não vai regredir.” Um dia depois, em um evento em São Paulo, tascou que o deputado “não sabe ouvir, não sabe dialogar, muito menos governar”, “não sabe ouvir crítica, então desrespeita”.
Ao contra-atacar, Bolsonaro disse na Bahia que Alckmin “soltou pipa no ventilador e jogou bolinha de gude no carpete”, pois não sabe que “caranguejo não anda para trás, anda para a direita ou para a esquerda”. E voltou ao tema “santo”. “Os diálogos do seu Geraldo Alckmin é com o pessoal da Odebrecht.”
O economista apontado por Bolsonaro como seu “ministro da Fazenda”, o neoliberal Paulo Guedes, também dá alfinetadas éticas no PSDB. Em uma entrevista em um auditório cheio de bolsonaristas, em 22 de maio, disse que o PSDB aprovou de “forma suspeita” a mudança na Constituição que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O tucano aprova a reeleição, ganha uma depois perde quatro seguidas. Destruiu seu próprio partido. Acabou, dissipou. Cadê o PSDB hoje? Está todo mundo escondido.”
E Guedes, é vidraça também? Ele é sócio de um banco de investimentos, o grupo Bozano, apontado como “grande” cliente da rede de doleiros desbaratada em maio. Um dos presos naquele momento era diretor do grupo, Oswaldo Prado Sanchez. Que acaba de conseguir um habeas corpus no STF, dado pelo juiz Gilmar Mendes, o libertador.
A guerra entre Alckmin e Bolsonaro neste momento mira o eleitorado paulista. Por iniciativa do PSDB, na quarta-feira 6 houve o lançamento no Congresso de um livro, “O voto do brasileiro”, cujo autor aposta que a eleição presidencial será polarizada mais uma vez entre PSDB e PT.
Na obra, o cientista político Alberto Carlos Almeida reuniu dados sobre as últimas três eleições brasileiras e as de alguns outros países. Sua conclusão é que há um padrão de voto regional. No caso do Brasil, esse padrão, segundo ele, é determinado pela economia e funciona assim: o Nordeste é “cidadela” do PT e São Paulo, a do PSDB.
O cientista político admite, porém, que há algo “um pouco fora do scritp” em 2018. “Bolsonaro impede” que a “cidadela” tucana abrace neste momento o candidato do PSDB.
Um dos principais aliados de Alckmin em Brasília, o deputado Silvio Torres, do PSDB paulista, acredita que a cidadela não faltará ao ex-governador. Ele diz que o eleitorado define o voto cada vez mais em cima da hora.
Em 2014, por exemplo, o presidenciável tucano, Aécio Neves, só passou Marina Silva nas pesquisas quando faltavam três dias para a eleição. No segundo turno contra Dilma Rousseff, do PT, Aécio teve a maior votação de um tucano em São Paulo na história, 65%.
Na eleição municipal de 2016, nenhuma pesquisa mostrava que a corrida pela prefeitura paulistana teria vitória do tucano João Doria Jr. já no primeiro turno, e o triunfo aconteceu sem segundo turno.
Um mar de dúvidas, em meio à guerra em terra entre Alckmin e Bolsonaro.
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