Por Nick Turse, no site Outras Palavras:
Se a história soa vagamente familiar – comandos dos EUA envolvidos em combates, em guerras africanas de que Washington tecnicamente não participa –, há razões para isso. Em dezembro passado, uma operação dos Boinas Verdes ao lado de forças locais na Nigéria matou11 supostos militantes do Estado Islâmico, numa troca de tiros. Dois meses antes, em outubro, uma armadilha feita por um grupo terrorista do Estado Islâmico no mesmo país, onde poucos norte-americanos (inclusive membros do Congresso) sabiam que havia forças especiais dos EUA, matou quatro soldados norte-americanos – Boinas Verdes entre eles. (Os militares primeiro descreveram a missão como sendo de “aconselhamento e assistência” às forças locais, depois como uma “patrulha de reconhecimento”, parte de uma missão mais ampla de “treinamento, aconselhamento e assistência”. Finalmente, revelou-setratar de uma operação de morte ou captura. Em maio passado, um soldado das unidades SEAL [que operam no mar, no ar e na terra] da Marinha foi morto e duas outras pessoas de uma equipe norte-americana foram feridas num ataque na Somália que o Pentágono descreveu como uma missão de “aconselhamento, assistência e acompanhamento”. E um mês antes, um comando dos EUA supostamente matou um suposto membro da Lord’s Resistance Army (LRA), uma milícia brutal que aterrorizou partes da África Central durante décadas.
E houve, como notou o New York Times em março, ao menos dez outros ataques a tropas norte-americanas na África Ocidental, anteriormente não declarados, entre 2015 e 2017. Não é de admirar que, por cinco anos ao menos, como a revista Politico noticiou recentemente, Boinas Verdes, SEALs da Marinha e outros comandos operando sob uma autoridade legal pouco definida, conhecida como Seção 127e, estiveram envolvidas em combates de reconhecimento e de “ação direta” com tropas especiais africanas na Somália, Camarões, Quênia, Líbia, Mali, Mauritânia, Nigéria e Tunísia.
Nada disso deveria ser surpresa, dado que na África e por todo o resto do planeta as forças das Operações Especiais dos Estados Unidos (SOF, na sigla em inglês) estão regularmente engajadas num amplo conjunto de missões, inclusive reconhecimento especial e ações ofensivas de pequena escala, guerra não convencional, contraterrorismo, resgate de reféns e assistência a forças de segurança (isto é, organização, treinamento, equipagem e aconselhamento de tropas estrangeiras). E todos os dias, quase em todo lugar, comandos dos EUA estão envolvidos em vários tipos de treinamento. A não ser que acabe em desastre, a maioria das missões permanece nas sombras, desconhecidas de todos, à exceção de alguns poucos norte-americanos. Só no ano passado, comandos dos EUA foram desolocados para 149 países – cerca de 75% das nações do planeta. Na metade deste ano, de acordo com os dados fornecidos ao TomDispatch pelo Comando de Operações Especiais dos EUA (USSOCOM ou SOCOM), as tropas de elite dos EUA já realizaram missões em 133 países. São quase tantos quantos ocorreram durante o último ano do governo Obama e mais do dobro do último período de George W. Bush na Casa Branca.
“O USSOCOM desempenha um papel essencial na oposição às ameaças atuais à nossa nação, para proteger o povo americano, para a segurança da nossa pátria e para manter equilíbrios regionais favoráveis de poder”, disse o general Raymond Thomas, chefe do Comando das Operações Especiais dos EUA à Comissão de Serviços Armados da Câmara, no início deste ano. “Contudo, embora mantenhamos o foco nas operações de hoje, devemos focar igualmente nas necessárias transformações futuras. O SOF deve adaptar, desevolver, assegurar e colocar em campo novas capacidades no sentido de continuar a ser parte única, letal e ágil das Forças Conjuntas de amanhã”.
As forças das Operações Especiais estão de fato em transformação desde 11 de setembro de 2011. De lá para cá, elas cresceram de todas as maneiras possíveis – do seu orçamento ao seu tamanho, ao ritmo de suas operações, à extensão geográfica de suas missões. Em 2001, por exemplo, uma média de 2.900 integrantes de comandos foram mobilizados no exterior, em qualquer semana do ano. Esse número disparou para 8.300, de acordo com o porta-voz do SOCOM, Ken McGraw. Ao mesmo tempo, o número de “posições militares autorizadas” – os soldados da ativa, reservistas e guardas nacionais que fazem parte da SOCOM – pulou de 42.800 em 2001 para 63.500 hoje. Além de financiamento oferecido por cada ramo de serviços militares norte-americanos a suas forças de elite – incluindo salários, benefícios e alguns equipamentos – o “financiamento específico para Operações Especiais”, que estava em US$ 3,1 bilhões em 2001, está agora em US$ 12,3 bilhões. Exército, Marinha, Forças Aéreas e Corpo de Fuzileiros Navais também abastecem suas unidades de operações especiais com cerca de 8 bilhões de dólares anualmente.
Tudo isso significa que, em qualquer dia, mais de 8.000 soldados das forças especiais, excepcionalmente bem equipados e bem financiados, estão mobilizados, em aproximadamente 90 países. Fazem parte de de um grupo com cerca de 70.000 militares – da ativa, reservistas e guardas nacionais, além de civis A maioria desses soldados são Boinas Verdes, Rangers, ou integrantes de outro ramo das Operações Especiais do Exército.
Em fevereiro, por exemplo, os Rangers do Exército levaram a cabo várias semanas de treinamento de guerra de inverno na Alemanha, enquanto Boinas Verdes praticavam missões envolvendo motos de neve na Suécia. Em abril, Boinas Verdes fizeram parte dos exercícios de treinamento anual das forças multinacionais de Operações Especiais de Flintlock, conduzidos na Nigéria, Burkina Faso e Senegal envolvendo tropas nigerianas, burkinenses, do Mali, Polônia, Espanha e Portugal, entre outras.
Enquanto a maioria das missões envolvem treinamento, instruções ou jogos de guerra, os soldados das Forças Especiais são também regularmente envolvidos em operações de combate por todas as zonas de guerra expansivas globais dos Estados Unidos. Um mês depois de Flintlock, por exemplo, os Boinas Verdes acompanharam comandos locais num ataque aéreo noturno na província de Nangarhar, o Afeganistão, durante o qual um quadro sênior do ISIS foi supostamente “eliminado”. Em maio, uma cerimônia de premiação pós-mobilização para membros do 2º Batalhão do 10º Grupo de Forças Especiais, que havia acabado de retornar de seis meses de aconselhamento e assistência a comandos afegãos, deu alguma indicação do tipo de missão que está sendo realizada naquele país. Aqueles Boinas Verdes receberam mais de 60 condecorações por valor – incluindo 20 Medalhas de Estrela de Bronze e quatro Medalhas de Estrela de Prata (a terceira mais alta condecoração de combate militar).
Por sua vez a Marinha, de acordo com o contra-almirante Tim Szymanski, chefe do Comando de Guerra Especial da Marinha, tem cerca de 1.000 SEALS ou integrantes de outros grupos especiais mobilizados em mais de 35 países, a cada dia. Em fevereiro, as forças Especiais de Guerra Naval e soldados do Comando de Aviação de Operações Especiais do Exército conduziram treinamento a bordo de um navio anfíbio de ataque francês no Golfo Arábico. No mesmo mês, SEALs da Marinha juntaram-se a um pessoal de elite da Força Aérea dos EUA, em treinamento ao lado de operadores do Guerra Especial Naval Thai Royal durante o Cobra Gold, um exercício anual na Tailândia.
As tropas do Comando de Operações Especiais das Forças do Corpo de Fuzileiros Navais, ou MARSOC, ficam posicionadasprincipalmente no Oriente Médio, África e regiões do Indo-Pacífico, em rotatividade de seis meses. Em qualquer momento, uma média de 400 Raiders são engajados em missões em 18 países.
O Comando de Operações Especiais da Força Aérea, que coloca em campo uma força de 19.500 pessoas, entre ativos, integrantes da reserva e civis, conduziu 78 exercícios de treinamento conjunto e eventos com nações “parceiras” em 2017, segundo o general Marshall Webb, chefe do Comando de Operações Especiais da Força Aérea. Em fevereiro, por exemplo, os comandos da Força Aérea conduziram treinamentos no Ártico – manobras de esqui e operações aéreas de queda livre – na Suécia, mas essas missões de treinamento são apenas parte da história. Operadores especiais da Força Aérea foram, por exemplo, recentemente mobilizados para ajudar a tentar resgatar os 12 meninos e seu treinador de futebol, que ficaram presos no fundo de uma caverna na Tailândia. A Força Aérea tem também três alas de operações especiais do serviço ativo atribuídas ao Comando de Operações Especiais da Força Aérea, inclusive a 24ª Asa de Operações Especiais, uma unidade de “táticas especiais” que integra forças do ar e da terra para missões de “ataque de precisão” e de recuperação de pessoal. Numa cerimônia de mudança de comando em março, foi observado que seu pessoal conduziu quase 2.900 missões de combate nos dois últimos anos.
No início do mês passado, num minúsculo posto militar perto da cidade de Jamaame, na Somália, as armas ligeiras começaram a disparar quando os morteiros caíram. Ao final do ataque acabou, um soldado da Somália havia sido ferido – e se essa tivesse sido a única baixa, você nunca teria ouvido falar sobre o fato.
Contudo, integrantes dos comandos norte-americanos também operavam nesse posto avançado e quatro deles ficaram feridos. Três precisaram ser evacuados para receber cuidados médicos adicionais. Outro operador especial, o sargento Alexander Conrad, membro das Forças Especiais do Exército dos EUA (também conhecidas como Boinas Verdes) foi morto.
Contudo, integrantes dos comandos norte-americanos também operavam nesse posto avançado e quatro deles ficaram feridos. Três precisaram ser evacuados para receber cuidados médicos adicionais. Outro operador especial, o sargento Alexander Conrad, membro das Forças Especiais do Exército dos EUA (também conhecidas como Boinas Verdes) foi morto.
Se a história soa vagamente familiar – comandos dos EUA envolvidos em combates, em guerras africanas de que Washington tecnicamente não participa –, há razões para isso. Em dezembro passado, uma operação dos Boinas Verdes ao lado de forças locais na Nigéria matou11 supostos militantes do Estado Islâmico, numa troca de tiros. Dois meses antes, em outubro, uma armadilha feita por um grupo terrorista do Estado Islâmico no mesmo país, onde poucos norte-americanos (inclusive membros do Congresso) sabiam que havia forças especiais dos EUA, matou quatro soldados norte-americanos – Boinas Verdes entre eles. (Os militares primeiro descreveram a missão como sendo de “aconselhamento e assistência” às forças locais, depois como uma “patrulha de reconhecimento”, parte de uma missão mais ampla de “treinamento, aconselhamento e assistência”. Finalmente, revelou-setratar de uma operação de morte ou captura. Em maio passado, um soldado das unidades SEAL [que operam no mar, no ar e na terra] da Marinha foi morto e duas outras pessoas de uma equipe norte-americana foram feridas num ataque na Somália que o Pentágono descreveu como uma missão de “aconselhamento, assistência e acompanhamento”. E um mês antes, um comando dos EUA supostamente matou um suposto membro da Lord’s Resistance Army (LRA), uma milícia brutal que aterrorizou partes da África Central durante décadas.
E houve, como notou o New York Times em março, ao menos dez outros ataques a tropas norte-americanas na África Ocidental, anteriormente não declarados, entre 2015 e 2017. Não é de admirar que, por cinco anos ao menos, como a revista Politico noticiou recentemente, Boinas Verdes, SEALs da Marinha e outros comandos operando sob uma autoridade legal pouco definida, conhecida como Seção 127e, estiveram envolvidas em combates de reconhecimento e de “ação direta” com tropas especiais africanas na Somália, Camarões, Quênia, Líbia, Mali, Mauritânia, Nigéria e Tunísia.
Nada disso deveria ser surpresa, dado que na África e por todo o resto do planeta as forças das Operações Especiais dos Estados Unidos (SOF, na sigla em inglês) estão regularmente engajadas num amplo conjunto de missões, inclusive reconhecimento especial e ações ofensivas de pequena escala, guerra não convencional, contraterrorismo, resgate de reféns e assistência a forças de segurança (isto é, organização, treinamento, equipagem e aconselhamento de tropas estrangeiras). E todos os dias, quase em todo lugar, comandos dos EUA estão envolvidos em vários tipos de treinamento. A não ser que acabe em desastre, a maioria das missões permanece nas sombras, desconhecidas de todos, à exceção de alguns poucos norte-americanos. Só no ano passado, comandos dos EUA foram desolocados para 149 países – cerca de 75% das nações do planeta. Na metade deste ano, de acordo com os dados fornecidos ao TomDispatch pelo Comando de Operações Especiais dos EUA (USSOCOM ou SOCOM), as tropas de elite dos EUA já realizaram missões em 133 países. São quase tantos quantos ocorreram durante o último ano do governo Obama e mais do dobro do último período de George W. Bush na Casa Branca.
“O USSOCOM desempenha um papel essencial na oposição às ameaças atuais à nossa nação, para proteger o povo americano, para a segurança da nossa pátria e para manter equilíbrios regionais favoráveis de poder”, disse o general Raymond Thomas, chefe do Comando das Operações Especiais dos EUA à Comissão de Serviços Armados da Câmara, no início deste ano. “Contudo, embora mantenhamos o foco nas operações de hoje, devemos focar igualmente nas necessárias transformações futuras. O SOF deve adaptar, desevolver, assegurar e colocar em campo novas capacidades no sentido de continuar a ser parte única, letal e ágil das Forças Conjuntas de amanhã”.
As forças das Operações Especiais estão de fato em transformação desde 11 de setembro de 2011. De lá para cá, elas cresceram de todas as maneiras possíveis – do seu orçamento ao seu tamanho, ao ritmo de suas operações, à extensão geográfica de suas missões. Em 2001, por exemplo, uma média de 2.900 integrantes de comandos foram mobilizados no exterior, em qualquer semana do ano. Esse número disparou para 8.300, de acordo com o porta-voz do SOCOM, Ken McGraw. Ao mesmo tempo, o número de “posições militares autorizadas” – os soldados da ativa, reservistas e guardas nacionais que fazem parte da SOCOM – pulou de 42.800 em 2001 para 63.500 hoje. Além de financiamento oferecido por cada ramo de serviços militares norte-americanos a suas forças de elite – incluindo salários, benefícios e alguns equipamentos – o “financiamento específico para Operações Especiais”, que estava em US$ 3,1 bilhões em 2001, está agora em US$ 12,3 bilhões. Exército, Marinha, Forças Aéreas e Corpo de Fuzileiros Navais também abastecem suas unidades de operações especiais com cerca de 8 bilhões de dólares anualmente.
Tudo isso significa que, em qualquer dia, mais de 8.000 soldados das forças especiais, excepcionalmente bem equipados e bem financiados, estão mobilizados, em aproximadamente 90 países. Fazem parte de de um grupo com cerca de 70.000 militares – da ativa, reservistas e guardas nacionais, além de civis A maioria desses soldados são Boinas Verdes, Rangers, ou integrantes de outro ramo das Operações Especiais do Exército.
Em fevereiro, por exemplo, os Rangers do Exército levaram a cabo várias semanas de treinamento de guerra de inverno na Alemanha, enquanto Boinas Verdes praticavam missões envolvendo motos de neve na Suécia. Em abril, Boinas Verdes fizeram parte dos exercícios de treinamento anual das forças multinacionais de Operações Especiais de Flintlock, conduzidos na Nigéria, Burkina Faso e Senegal envolvendo tropas nigerianas, burkinenses, do Mali, Polônia, Espanha e Portugal, entre outras.
Enquanto a maioria das missões envolvem treinamento, instruções ou jogos de guerra, os soldados das Forças Especiais são também regularmente envolvidos em operações de combate por todas as zonas de guerra expansivas globais dos Estados Unidos. Um mês depois de Flintlock, por exemplo, os Boinas Verdes acompanharam comandos locais num ataque aéreo noturno na província de Nangarhar, o Afeganistão, durante o qual um quadro sênior do ISIS foi supostamente “eliminado”. Em maio, uma cerimônia de premiação pós-mobilização para membros do 2º Batalhão do 10º Grupo de Forças Especiais, que havia acabado de retornar de seis meses de aconselhamento e assistência a comandos afegãos, deu alguma indicação do tipo de missão que está sendo realizada naquele país. Aqueles Boinas Verdes receberam mais de 60 condecorações por valor – incluindo 20 Medalhas de Estrela de Bronze e quatro Medalhas de Estrela de Prata (a terceira mais alta condecoração de combate militar).
Por sua vez a Marinha, de acordo com o contra-almirante Tim Szymanski, chefe do Comando de Guerra Especial da Marinha, tem cerca de 1.000 SEALS ou integrantes de outros grupos especiais mobilizados em mais de 35 países, a cada dia. Em fevereiro, as forças Especiais de Guerra Naval e soldados do Comando de Aviação de Operações Especiais do Exército conduziram treinamento a bordo de um navio anfíbio de ataque francês no Golfo Arábico. No mesmo mês, SEALs da Marinha juntaram-se a um pessoal de elite da Força Aérea dos EUA, em treinamento ao lado de operadores do Guerra Especial Naval Thai Royal durante o Cobra Gold, um exercício anual na Tailândia.
As tropas do Comando de Operações Especiais das Forças do Corpo de Fuzileiros Navais, ou MARSOC, ficam posicionadasprincipalmente no Oriente Médio, África e regiões do Indo-Pacífico, em rotatividade de seis meses. Em qualquer momento, uma média de 400 Raiders são engajados em missões em 18 países.
O Comando de Operações Especiais da Força Aérea, que coloca em campo uma força de 19.500 pessoas, entre ativos, integrantes da reserva e civis, conduziu 78 exercícios de treinamento conjunto e eventos com nações “parceiras” em 2017, segundo o general Marshall Webb, chefe do Comando de Operações Especiais da Força Aérea. Em fevereiro, por exemplo, os comandos da Força Aérea conduziram treinamentos no Ártico – manobras de esqui e operações aéreas de queda livre – na Suécia, mas essas missões de treinamento são apenas parte da história. Operadores especiais da Força Aérea foram, por exemplo, recentemente mobilizados para ajudar a tentar resgatar os 12 meninos e seu treinador de futebol, que ficaram presos no fundo de uma caverna na Tailândia. A Força Aérea tem também três alas de operações especiais do serviço ativo atribuídas ao Comando de Operações Especiais da Força Aérea, inclusive a 24ª Asa de Operações Especiais, uma unidade de “táticas especiais” que integra forças do ar e da terra para missões de “ataque de precisão” e de recuperação de pessoal. Numa cerimônia de mudança de comando em março, foi observado que seu pessoal conduziu quase 2.900 missões de combate nos dois últimos anos.
Soma por subtração
Durante anos, as forças de Operações Especiais dos EUA viveram um estado de expansão aparentemente desenfreado. Em nenhum lugar isso foi mais evidente que na África. Em 2006, somente 1% de todos dos comandos norte-americanos posicionados no exterior estavam operando naquele continente. Em 2016, esse percentual havia subido para acima de 17%. Havia então mais pessoal das operações especiais engajado na África – 1.700 operadores especiais espalhados em 20 países – do que em qualquer outro lugar, à exceção do Oriente Médio.
Recentemente, porém, o New York Times noticiou que uma “revisão radical do Pentágono” das missões de operações especiais naquele continente pode levar a cortes drásticos no número de comandos em operação por lá. (“Não comentamos sobre quais tarefas o secretário de Defesa ou presidente do Estado-Maior Conjunto deram ou não deram ao USSOCOM”, me disse o porta-voz Ken McGraw quando lhe perguntei sobre a revisão.) O Comando dos EUA na África aparentemente foi solicitado a considerar que efeitos o corte de 25% em 18 meses, e de 50% em três anos, dos comandos em solo africano teria em suas missões de contraterrorismo. No final, apenas cerca de 700 soldados de elite – mais ou menos o mesmo número estacionado na África em 2014 – seria deixado lá.
Baseada numa operação fracassada em outubro de 2017 em Niger, que deixou quatro norte-americanos mortos e, aparentemente, em ordens do comando das forças das Operações Especiais dos EUA na África, alguns especialistas sugeriram que essa revisão sinalizava uma reavaliação do engajamento militar no continente. Os cortes propostos também pareciam alinhados com a última estratégia nacional de defesa do Pentágono, que ressaltava uma mudança a caminho. O foco será deslocado do contraterrorismo para as supostas ameaças de adversários como a Rússia e a China. “Continuaremos a campanha contra terroristas”, disse o secretário de Defesa, James Mattis em janeiro, “mas a concorrência de grande poderes – não o terrorismo – é agora o principal foco da segurança nacional dos EUA”.
Um amplo leque de analistas questionou ou criticou a proposta de redução de tropas. Um Xiaoming, da Universidade de Defesa Nacional da China, do Exército de Libertação do Povo, comparou essa redução nas forças de elite dos EUA à redução de tropas do governo Obama no Afeganistão em 2014 e observou a possibilidade do “terrorismo retornar à África”. Um ex-chefe dos comandos dos EUA no continente, Donald Bolduc, ecoou esses mesmos temores, como esperado. “Sem a presença que temos lá agora”, disse ele à Voz da América, “só vamos, com o tempo, aumentar a eficácia das violentas organizações extremistas, além de perder confiança e credibilidade nessa área e desestabilizá-la ainda mais”. David Meijer, um analista de segurança com base em Amsterdã, lamentou que, enquanto a África estava crescendo em importância geoestratégica e a China estreitava seus laços com o continente, “é irônico que Washington resolva reduzir seu já mínimo engajamento na região”.
Isso dificilmente é uma conclusão precipitada, contudo. Há anos, membros do SOCOM, assim como apoiadores no Congresso, em think tanks e em outros lugares têm reclamado em voz alta sobre o ritmo crescente das operações das tropas de elite dos EUA e as tensões resultantes disso. “A maioria das unidades do SOF estão empregadas no seu limite de sustentabilidade”, disse o general Thomas, chefe do SOCOM, aos membros do Congresso no outono passado. “Apesar da crescente demanda do SOF, é preciso priorizar essas demandas quando enfrentamos um ambiente de segurança que muda rapidamente”. Dado o tamanho da influência que o SOCOM exerce, essas queixas incessantes certamente levariam a mudanças na política. De fato, no ano passado o secretário de Defesa Mattis observou que as linhas das forças das Operações Especiais dos EUA e as tropas convencionais estavam ficando nubladas, e que as últimas provavelmente assumiriam missões antes assumidas pelos comandos, em especial na África. “Então, as forças encarregadas de objetivos gerais podem fazer muitos dos tipos de trabalho que se pode ver acontecendo agora, eles já estão fazendo, de fato”, disse ele. “De modo geral, por exemplo, no noroeste da África muitas dos grupos norte-americanos que apoiam o esforço liderado pelos franceses não são Forças Especiais. Então continuaremos a expandir as forças de objetivos gerais onde for adequado. Eu diria… fazer mais uso delas.”
No começo do ano, Owen West, assistente do secretário de defesa para operações especiais e conflitos de baixa-intensidade, referiu-se aos comentários de Mattis ao contar aos membros do Comitê de Serviços Armados da Câmara sobre a “necessidade de olhar para a linha que separa as forças de operação convencional do SOF e procurar tirar mais vantagens das ‘capacidades comuns’ de nossas excepcionais forças convencionais”. Ele ressaltou as Brigadas de Assistência à Força de Segurança do Exército, recentemente criadas para realizar missões de aconselhamento e assistência. Neste outono, o senador James Inhofe, um membro senior do Comitê de Serviços Armados do Senado recomendou que uma daquelas unidades seja dedicada à África
Substituir forças desta maneira é precisamente o que outro senador norte-americano, Jone Ernst, um veterano da guerra do Iraque e membro do Comitê de Serviços Armados, também defende. Nofinal deste ano, seu assessor de imprensa, Leigh Claffey, disse ao site Tom Dispatch que o senador propunha, “ao invés de uma pesada dependência em relação às Forças Especiais, engajar nossas forças convencionais nestas missões, ou transferi-las para forças locais capacitadas”.
É possível que os comandos norte-americanos continuem a execudar suas operações nebulosas sob a Seção 127e em conjunto com forças locais no continente africano, deixando os treinamentos mais convencionais e as tarefas de assessoria para as tropas regulares. Em outras palavras, o número de comandos na África pode ser cortado; mas o número total de soldados dos EUA, não – com as operações secretas de combate mantidas, portanto, em seu ritmo atual.
Se houver mudança, será no sentido de ampliar as ações as forças engajadas em Operações Especiais dos EUA, no próximo ano – não de reduzi-las. O orçamento do SOCOM para 2019 prevê ampliar os efetivos em mais mil soldados, para atingiu um total de 71 mil. Em abril, num encontro do subcomitê do Senado sobre Ameaças Emergentes, dirigido pelo senador Eenst, seu colega Martin Heirich notou que o SOCOM estava em vias de “ampliar seu efetivo em 2 mil pessoas” nos próximos anos. O ano de 2018 deve novamente histórico, no alcance global das operações de comandos. Se os operadores especiais de Washington deslocarem-se para mais 17 países até o final do ano, eles ultrapassarão o recorde de 2017.
“USSOCOM continua a recrutar e selecionar os melhores. Nós treinamos e empoderamos nossos integrantes para resolver os problemas de segurança nacional mais assustadores”, disse o comandante do SOCOM, general Thomas, para o Subcomitê de Ameaças Emergentes da Câmara dos Deputados, no início deste ano. Por que os Capacetes Verdes e os SEALs da Marinha precisam resolver problemas de segurança dos EUA – temas estratégicos que deveriam ser tratados por políticos – é uma questão não respondida há muito tempo. Deve ser uma das razões por que, desde que os Capacetes Verdes “liberaram” o Afganistão em 2001, os Estados Unidos permaneceram envolvidos em combate nesse país e, à medida em que os anos passaram, os EUA envolveram-se em uma multiplicidade de outros fronts de guerra-para sempre, incluindo os Camarões, Iraque, Quênia, Líbia, Mauritânia, Mali, Niger, Filipinas, Somália, Síria, Tunísia e Yemen.
“A criatividade, iniciativa e espírito das integrantes das Forças de Operações Especiais não podem ser exagerados. São nosso principal ativo”, disse Thomas. E é provável que tais ativos cresçam em 2019.
Durante anos, as forças de Operações Especiais dos EUA viveram um estado de expansão aparentemente desenfreado. Em nenhum lugar isso foi mais evidente que na África. Em 2006, somente 1% de todos dos comandos norte-americanos posicionados no exterior estavam operando naquele continente. Em 2016, esse percentual havia subido para acima de 17%. Havia então mais pessoal das operações especiais engajado na África – 1.700 operadores especiais espalhados em 20 países – do que em qualquer outro lugar, à exceção do Oriente Médio.
Recentemente, porém, o New York Times noticiou que uma “revisão radical do Pentágono” das missões de operações especiais naquele continente pode levar a cortes drásticos no número de comandos em operação por lá. (“Não comentamos sobre quais tarefas o secretário de Defesa ou presidente do Estado-Maior Conjunto deram ou não deram ao USSOCOM”, me disse o porta-voz Ken McGraw quando lhe perguntei sobre a revisão.) O Comando dos EUA na África aparentemente foi solicitado a considerar que efeitos o corte de 25% em 18 meses, e de 50% em três anos, dos comandos em solo africano teria em suas missões de contraterrorismo. No final, apenas cerca de 700 soldados de elite – mais ou menos o mesmo número estacionado na África em 2014 – seria deixado lá.
Baseada numa operação fracassada em outubro de 2017 em Niger, que deixou quatro norte-americanos mortos e, aparentemente, em ordens do comando das forças das Operações Especiais dos EUA na África, alguns especialistas sugeriram que essa revisão sinalizava uma reavaliação do engajamento militar no continente. Os cortes propostos também pareciam alinhados com a última estratégia nacional de defesa do Pentágono, que ressaltava uma mudança a caminho. O foco será deslocado do contraterrorismo para as supostas ameaças de adversários como a Rússia e a China. “Continuaremos a campanha contra terroristas”, disse o secretário de Defesa, James Mattis em janeiro, “mas a concorrência de grande poderes – não o terrorismo – é agora o principal foco da segurança nacional dos EUA”.
Um amplo leque de analistas questionou ou criticou a proposta de redução de tropas. Um Xiaoming, da Universidade de Defesa Nacional da China, do Exército de Libertação do Povo, comparou essa redução nas forças de elite dos EUA à redução de tropas do governo Obama no Afeganistão em 2014 e observou a possibilidade do “terrorismo retornar à África”. Um ex-chefe dos comandos dos EUA no continente, Donald Bolduc, ecoou esses mesmos temores, como esperado. “Sem a presença que temos lá agora”, disse ele à Voz da América, “só vamos, com o tempo, aumentar a eficácia das violentas organizações extremistas, além de perder confiança e credibilidade nessa área e desestabilizá-la ainda mais”. David Meijer, um analista de segurança com base em Amsterdã, lamentou que, enquanto a África estava crescendo em importância geoestratégica e a China estreitava seus laços com o continente, “é irônico que Washington resolva reduzir seu já mínimo engajamento na região”.
Isso dificilmente é uma conclusão precipitada, contudo. Há anos, membros do SOCOM, assim como apoiadores no Congresso, em think tanks e em outros lugares têm reclamado em voz alta sobre o ritmo crescente das operações das tropas de elite dos EUA e as tensões resultantes disso. “A maioria das unidades do SOF estão empregadas no seu limite de sustentabilidade”, disse o general Thomas, chefe do SOCOM, aos membros do Congresso no outono passado. “Apesar da crescente demanda do SOF, é preciso priorizar essas demandas quando enfrentamos um ambiente de segurança que muda rapidamente”. Dado o tamanho da influência que o SOCOM exerce, essas queixas incessantes certamente levariam a mudanças na política. De fato, no ano passado o secretário de Defesa Mattis observou que as linhas das forças das Operações Especiais dos EUA e as tropas convencionais estavam ficando nubladas, e que as últimas provavelmente assumiriam missões antes assumidas pelos comandos, em especial na África. “Então, as forças encarregadas de objetivos gerais podem fazer muitos dos tipos de trabalho que se pode ver acontecendo agora, eles já estão fazendo, de fato”, disse ele. “De modo geral, por exemplo, no noroeste da África muitas dos grupos norte-americanos que apoiam o esforço liderado pelos franceses não são Forças Especiais. Então continuaremos a expandir as forças de objetivos gerais onde for adequado. Eu diria… fazer mais uso delas.”
No começo do ano, Owen West, assistente do secretário de defesa para operações especiais e conflitos de baixa-intensidade, referiu-se aos comentários de Mattis ao contar aos membros do Comitê de Serviços Armados da Câmara sobre a “necessidade de olhar para a linha que separa as forças de operação convencional do SOF e procurar tirar mais vantagens das ‘capacidades comuns’ de nossas excepcionais forças convencionais”. Ele ressaltou as Brigadas de Assistência à Força de Segurança do Exército, recentemente criadas para realizar missões de aconselhamento e assistência. Neste outono, o senador James Inhofe, um membro senior do Comitê de Serviços Armados do Senado recomendou que uma daquelas unidades seja dedicada à África
Substituir forças desta maneira é precisamente o que outro senador norte-americano, Jone Ernst, um veterano da guerra do Iraque e membro do Comitê de Serviços Armados, também defende. Nofinal deste ano, seu assessor de imprensa, Leigh Claffey, disse ao site Tom Dispatch que o senador propunha, “ao invés de uma pesada dependência em relação às Forças Especiais, engajar nossas forças convencionais nestas missões, ou transferi-las para forças locais capacitadas”.
É possível que os comandos norte-americanos continuem a execudar suas operações nebulosas sob a Seção 127e em conjunto com forças locais no continente africano, deixando os treinamentos mais convencionais e as tarefas de assessoria para as tropas regulares. Em outras palavras, o número de comandos na África pode ser cortado; mas o número total de soldados dos EUA, não – com as operações secretas de combate mantidas, portanto, em seu ritmo atual.
Se houver mudança, será no sentido de ampliar as ações as forças engajadas em Operações Especiais dos EUA, no próximo ano – não de reduzi-las. O orçamento do SOCOM para 2019 prevê ampliar os efetivos em mais mil soldados, para atingiu um total de 71 mil. Em abril, num encontro do subcomitê do Senado sobre Ameaças Emergentes, dirigido pelo senador Eenst, seu colega Martin Heirich notou que o SOCOM estava em vias de “ampliar seu efetivo em 2 mil pessoas” nos próximos anos. O ano de 2018 deve novamente histórico, no alcance global das operações de comandos. Se os operadores especiais de Washington deslocarem-se para mais 17 países até o final do ano, eles ultrapassarão o recorde de 2017.
“USSOCOM continua a recrutar e selecionar os melhores. Nós treinamos e empoderamos nossos integrantes para resolver os problemas de segurança nacional mais assustadores”, disse o comandante do SOCOM, general Thomas, para o Subcomitê de Ameaças Emergentes da Câmara dos Deputados, no início deste ano. Por que os Capacetes Verdes e os SEALs da Marinha precisam resolver problemas de segurança dos EUA – temas estratégicos que deveriam ser tratados por políticos – é uma questão não respondida há muito tempo. Deve ser uma das razões por que, desde que os Capacetes Verdes “liberaram” o Afganistão em 2001, os Estados Unidos permaneceram envolvidos em combate nesse país e, à medida em que os anos passaram, os EUA envolveram-se em uma multiplicidade de outros fronts de guerra-para sempre, incluindo os Camarões, Iraque, Quênia, Líbia, Mauritânia, Mali, Niger, Filipinas, Somália, Síria, Tunísia e Yemen.
“A criatividade, iniciativa e espírito das integrantes das Forças de Operações Especiais não podem ser exagerados. São nosso principal ativo”, disse Thomas. E é provável que tais ativos cresçam em 2019.
* Publicado no Tom Dispatch. Tradução de Inês Castilho.
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