Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O debate presidencial da Band, marcado para hoje, traça uma linha divisória na política brasileira.
Em 1989, coube à mesma emissora realizar o primeiro debate presidencial após o restabelecimento das eleições diretas para presidente. Um marco da democratização.
Em 2018, o debate é um marco da semi-ditadura em que o país foi colocado após o golpe que afastou Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, favorecendo a criação de um regime sob tutela judicial. O veto a dois nomes do Partido dos Trabalhadores, o mais popular partido brasileiro, é a expressão clara dessa situação.
Representa a versão, no plano da comunicação, do alvo fundamental da Operação Lava Jato, conforme apontado pelo delegado Paulo Lacerda, um dos mais respeitados diretores da Polícia Federal em todos os tempos: "a ideia era tirar Lula da eleição", diz ele.
Por vias tortas e sinuosas, típicas das manobras inconfessáveis e obscuras -- comuns nesses tempos em que a democracia vai sendo minada pela perversão interna de formalidades legais -- pretende-se impedir o acesso da sigla que, com todos os seus limites e defeitos, carrega o compromisso com a rejeição absoluta da ordem anti-nacional e anti-popular construída pela coalização Temer-Meirelles.
Pode-se concordar ou discordar deste ponto de vista. Não há como negar, contudo, sua legitimidade como parte constitutiva do universo político brasileiro.
O vergonhoso espetáculo do debate (desde já chamado "debate") desta noite tem um traço especial, que é seu caráter duplo. Não se impede a presença de um candidato apenas -- mas também de seu substituto legal. Para efeito de raciocínio, vamos reconhecer que, mesmo inteiramente justificada do ponto de vista da legislação em vigor, a presença de Lula enfrentaria um obstáculo legal, acima das forças que organizaram o debate.
Estamos falando do bloqueio do judiciário, empenhado em impedir qualquer movimento capaz de permitir a saída de Lula da prisão, mesmo forma provisória. Essa realidade ficou demonstrada pela operação de guerra montada às pressas para impedir a execução do habeas corpus assinado pelo desembargador Rogério Favretto, num ato marcado pelo respeito integral as regras formais que marcam o exercício do bom Direito.
Resta o inexplicável, aquilo que nenhum argumento consegue sustentar: impedir a presença do vice, Fernando Haddad. A questão é de lógica simples. Considerando que o PT é um partido político inteiramente apto para enviar um representante a um encontro de candidatos a presidente, e qualquer tentativa de bloqueio representa um impedimento ilegal a isso, restam duas alternativas.
Ou Lula deveria ter sido convidado, como uma presença natural e obrigatória. Ou, caso se julgasse essa participação impossível, o convite deveria ser feito a Fernando Haddad, que desde o domingo passado é seu substituto oficial, conforme convenção realizada conforme todas as exigências legais.
O que não se pode é excluir um representante da legenda que, numa demonstração de suas raízes únicas entre os brasileiras e brasileiros, lidera todas as preferencias eleitorais, depois de ter sido vitoriosa nas quatro eleições presidenciais ocorridas no país entre 2002 e 2018. Um desempenho inédito em nossa república, de tantos golpes e democracia tão ameaçada.
O caráter grotesco da situação fica ainda mais claro quando se considera o conjunto dos concorrentes autorizados a participar do encontro. Numa demonstração óbvia de dirigismo político e falta de respeito pela soberania popular, ali se anuncia presença de dois candidatos de notória tendência fascista, sem falar em concorrentes sem voto do experimentalismo endinheirado.
Alguma dúvida?
Em 1989, coube à mesma emissora realizar o primeiro debate presidencial após o restabelecimento das eleições diretas para presidente. Um marco da democratização.
Em 2018, o debate é um marco da semi-ditadura em que o país foi colocado após o golpe que afastou Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, favorecendo a criação de um regime sob tutela judicial. O veto a dois nomes do Partido dos Trabalhadores, o mais popular partido brasileiro, é a expressão clara dessa situação.
Representa a versão, no plano da comunicação, do alvo fundamental da Operação Lava Jato, conforme apontado pelo delegado Paulo Lacerda, um dos mais respeitados diretores da Polícia Federal em todos os tempos: "a ideia era tirar Lula da eleição", diz ele.
Por vias tortas e sinuosas, típicas das manobras inconfessáveis e obscuras -- comuns nesses tempos em que a democracia vai sendo minada pela perversão interna de formalidades legais -- pretende-se impedir o acesso da sigla que, com todos os seus limites e defeitos, carrega o compromisso com a rejeição absoluta da ordem anti-nacional e anti-popular construída pela coalização Temer-Meirelles.
Pode-se concordar ou discordar deste ponto de vista. Não há como negar, contudo, sua legitimidade como parte constitutiva do universo político brasileiro.
O vergonhoso espetáculo do debate (desde já chamado "debate") desta noite tem um traço especial, que é seu caráter duplo. Não se impede a presença de um candidato apenas -- mas também de seu substituto legal. Para efeito de raciocínio, vamos reconhecer que, mesmo inteiramente justificada do ponto de vista da legislação em vigor, a presença de Lula enfrentaria um obstáculo legal, acima das forças que organizaram o debate.
Estamos falando do bloqueio do judiciário, empenhado em impedir qualquer movimento capaz de permitir a saída de Lula da prisão, mesmo forma provisória. Essa realidade ficou demonstrada pela operação de guerra montada às pressas para impedir a execução do habeas corpus assinado pelo desembargador Rogério Favretto, num ato marcado pelo respeito integral as regras formais que marcam o exercício do bom Direito.
Resta o inexplicável, aquilo que nenhum argumento consegue sustentar: impedir a presença do vice, Fernando Haddad. A questão é de lógica simples. Considerando que o PT é um partido político inteiramente apto para enviar um representante a um encontro de candidatos a presidente, e qualquer tentativa de bloqueio representa um impedimento ilegal a isso, restam duas alternativas.
Ou Lula deveria ter sido convidado, como uma presença natural e obrigatória. Ou, caso se julgasse essa participação impossível, o convite deveria ser feito a Fernando Haddad, que desde o domingo passado é seu substituto oficial, conforme convenção realizada conforme todas as exigências legais.
O que não se pode é excluir um representante da legenda que, numa demonstração de suas raízes únicas entre os brasileiras e brasileiros, lidera todas as preferencias eleitorais, depois de ter sido vitoriosa nas quatro eleições presidenciais ocorridas no país entre 2002 e 2018. Um desempenho inédito em nossa república, de tantos golpes e democracia tão ameaçada.
O caráter grotesco da situação fica ainda mais claro quando se considera o conjunto dos concorrentes autorizados a participar do encontro. Numa demonstração óbvia de dirigismo político e falta de respeito pela soberania popular, ali se anuncia presença de dois candidatos de notória tendência fascista, sem falar em concorrentes sem voto do experimentalismo endinheirado.
Alguma dúvida?
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