Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
No país em que 13,2 milhões de trabalhadores estavam desempregados em junho, segundo o IBGE, e o salário mínimo fica abaixo de R$ 1 mil, empresas, hospitais e escolas fechando por falta de recursos, os supremos ministros do país decidiram, por 7 votos a 4, se conceder um aumento de 16,3%.
Com o aumento, o salário deles passa de R$ 33,8 mil, o teto do funcionalismo, para R$ 39, 3 mil, ou quase 40 salários mínimos, fora todos os penduricalhos.
Na verdade, é bem mais que isso: no ano passado, o Conselho Nacional de Justiça calculou o gasto médio com cada juiz em R$ 47,7 mil por mês, antes do aumento aprovado na quarta-feira.
Só o Supremo Tribunal Federal prevê para 2019 um gasto de R$ 741 milhões com os 11 ministros, funcionários e mordomias, o que dá algo como R$ 70 milhões/ano por cabeça coroada.
Como o salário dos supremos é o teto do funcionalismo público, que serve de base para os demais, só o Judiciário vai gastar outros R$ 717,2 milhões por ano, arrombando ainda mais os cofres públicos.
E não para por aí: o efeito cascata deste aumento vai beneficiar os três níveis do funcionalismo, Ministério Público, Tribunais de Contas e, claro, os nobres parlamentares, chegando a um total de R$ 3 bilhões nos cálculos mais modestos.
Tudo isso num país quebrado, falido, com os cofres públicos e as instituições em frangalhos, mas isso não comoveu os ministros do Supremo, que chegaram às raias do mais puro cinismo ao justificar o aumento.
O ministro Ricardo Lewandowski, uma espécie de líder sindical dos magistrados, que incluiu a proposta do aumento de 16,3% na pauta do STF, qualificou o índice de “modestíssimo”.
“Quem vai decidir soberanamente é o Congresso Nacional, e ainda passará pelo crivo do presidente da República, que poderá vetá-lo ou não”, pontificou o ministro para as câmeras da TV Justiça, sem enrubescer.
Pergunto: o presidente Michel Temer, investigado num balaio de denúncias de corrupção no STF, vai ter coragem de vetar esse aumento, sabendo que em janeiro perde o foro privilegiado e pode cair nas mãos de qualquer juiz de primeira instância?
Qual é o deputado ou senador, entre as centenas com pendências na Justiça, que vai vetar um aumento para os juízes que poderão, eventualmente, mandá-los para a cadeia?
Ainda mais que eles próprios serão automaticamente beneficiados pelo aumento dos magistrados, já que se deram equiparação salarial com os supremos ministros.
Para eles, os donos do Brasil, tudo; para os restantes 200 milhões de brasileiros, as migalhas que sobrarem do orçamento que eles próprios fazem e aprovam.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo e não quer ir em cana por desacato à autoridade.
Diante deste escárnio, bem disse ao Globo desta quinta-feira o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas:
“Quem manda nesse país são as grandes corporações de servidores públicos”.
Alguém ainda ousa duvidar disso?
Garantido o aumento, a próxima batalha da toda poderosa Associação dos Magistrados Brasileiros agora é não abrir mão do auxílio-moradia, outra excrecência, um penduricalho de mais de R$ 4 mil por mês, entre outros, que está para ser julgado no STF, mas o ministro Luiz Fux sentou em cima do processo e não pretende devolvê-lo tão cedo.
Pobre do próximo presidente a ser eleito no dia 7 de outubro, que não vai herdar um país, mas uma massa falida.
Que Brasil sobrará no dia da posse, a 1º de janeiro de 2019?, poderá agora perguntar a enquete da Globo.
Eles não vão deixar pedra sobre pedra depois da divisão do butim do golpe, “com Supremo, com tudo”.
Vida que segue.
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