quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O Brasil afunda e os bancos lucram

Por Altamiro Borges

O maior banco privado do país, o Itaú-Unibanco, informou nesta semana que segue tendo lucros astronômicos, enquanto o Brasil afunda na crise econômica. No primeiro semestre deste ano, a instituição financeira – uma das que apoiou ativamente o golpe do impeachment que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer – lucrou R$ 12,8 bilhões. Em nota oficial, o banco revelou que o aumento foi de 3,7% na comparação com o mesmo período de 2017. Na semana anterior, outros dois balanços foram publicados. O Santander divulgou um lucro de R$ 5,791 bilhões no segundo semestre de 2018. Já o Bradesco informou que o seu lucro cresceu 10% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 10,263 bilhões. Como se observa, o golpe contra a democracia compensou!

Como apontou Gilberto Menezes Cortês, no Jornal do Brasil, estes lucros exorbitantes são uma afronta ao povo brasileiro. Na soma, “os três maiores bancos privados que atuam no país garantiram às quatro famílias que os controlam R$ 28,855 bilhões. Esse era o orçamento que o Bolsa Família iria distribuir para 39 milhões de famílias brasileiras em 2018... Se considerarmos o lucro do Safra, os bancos privados já embolsaram da sociedade mais do que o governo redistribui no Bolsa Família. Isso sem contar os lucros do Banco do Brasil e da Caixa”. Ainda de acordo com o jornalista, estas instituições financeiras não têm qualquer compromisso com o desenvolvimento econômico do país. “O desempenho do Itaú confirma o que o Bradesco e o Santander já indicaram. Os bancos seguem emprestando pouco para as empresas e explorando mais os créditos de maior rentabilidade para as pessoas físicas”.

Ao mesmo tempo em que os abutres financeiros e seus filhotes rentistas obtêm lucros nababescos, o Brasil afunda. Nem mesmo a mídia chapa-branca, nutrida com milhões em publicidade do covil golpista, acredita mais na balela da “recuperação instantânea” da economia. Na semana passada, os jornalões destacaram que “o governo reduz sua projeção para o PIB e eleva a da inflação”. De acordo com a Folha, “a equipe econômica confirmou que a projeção para o Produto Interno Bruto foi revisada de uma alta de 2,5% para 1,6% neste ano”. Mas o jornal, que antes amplificava o discurso oficial de que o país estava prestes a entrar no paraíso, jura que a retração é “por causa da paralisação dos caminhoneiros”. Vale conferir, porém, o artigo da economista Laura Carvalho, uma das poucas vozes críticas que ainda restam na decadente Folha tucana.

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O bolão do PIB

Por Laura Carvalho - 19 de julho de 2018

A desilusão com a economia brasileira consegue ser ainda maior do que a decepção com o desempenho da seleção na Copa da Rússia. Instituições financeiras nacionais, que chegaram a prever Brasil e Inglaterra na final, tiveram de reduzir substancialmente suas expectativas de crescimento do PIB nas últimas semanas.

Agora chegou a vez do FMI (Fundo Monetário Internacional), que em relatório de atualização do World Economic Outlook (WEO) publicado na segunda-feira (16), reduziu em 0,5 ponto percentual a projeção de crescimento do Brasil para 2018. Chama a atenção o fato de a expectativa para este ano ter subido de 1,5% no relatório de outubro de 2017 para 2,3% no relatório de abril de 2018, e então voltar a 1,8% nesta última atualização.

O crescimento previsto para o conjunto das economias emergentes oscilou apenas de 4,8% para 4,9% no mesmo período.

Uma análise mais detalhada dos relatórios desde o início da crise sugere, no entanto, que os erros para o Brasil têm sido frequentemente maiores do que para as economias sujeitas a choques similares.

Se tomarmos como exemplo o ano de 2015, vê-se que a projeção para o crescimento nos preços de petróleo passou de 6% no relatório de abril de 2014 para -3,3% em outubro de 2014, -39,6% em abril de 2015 e -46,4% em outubro de 2015. A queda nesses preços acabou sendo de 47,2%.

A projeção de crescimento das economias exportadoras de petróleo caiu de 3,9% para 0,1% entre abril de 2014 e outubro de 2015. No Brasil, a frustração de expectativas foi maior: de 2,7% em abril de 2014 para 1,4% em outubro de 2014, -1% em abril de 2015 e -3% em outubro de 2015. Como sabemos, a queda do PIB foi de 3,5%.

Em abril de 2015, as previsões eram de que o Brasil cresceria 1% em 2016, ante 2,3% de crescimento das economias exportadoras de petróleo.

O PIB neste último grupo acabou crescendo 1,8%, e o PIB brasileiro caiu 3,5%. Por fim, em 2017, os preços de petróleo passaram a surpreender positivamente, e o Brasil também.

Nosso PIB cresceu 1%, ante 0% esperado em abril de 2016, tendo contado também com a ajuda de uma supersafra agrícola e do efeito sobre o consumo da liberação de FGTS e PIS/Pasep.

Diante de uma alta na projeção de crescimento dos preços de petróleo de 2018, de -0,3% em abril de 2017 para 18% em abril de 2018 e 33% em julho, a expectativa de crescimento do PIB subiu na maior parte dos países exportadores líquidos de petróleo no último relatório.

Em meio à alta no preço das commodities, as justificativas apresentadas pelo FMI para a piora nas perspectivas para o Brasil para este ano vão desde a desvalorização do real à greve dos caminhoneiros.

As revisões para baixo também ocorreram nas projeções do PIB argentino e indiano – países cujas moedas também vêm sofrendo impactos da reversão dos fluxos de capitais financeiros internacionais.

Mas assim como no caso dos erros de projeção de crescimento dos países da periferia europeia no pós-crise - já reconhecidos pelo FMI como oriundos da subestimação dos efeitos dos cortes de gastos e investimentos públicos -, a frequência e a magnitude das revisões de projeção de PIB no caso brasileiro põem em xeque os pressupostos dos modelos usados. Para além dos choques externos e das incertezas políticas, a política econômica importa.

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