Por Rodrigo Vianna, em seu blog:
A velha mídia, aliada a Alckmin e ao PSDB, passou as últimas 24 horas tentando vender a ideia de que Lula e PT são malvados e terríveis, ao isolar politicamente Ciro Gomes na sucessão presidencial. O PT obteve uma aliança “de fato” com o PSB – que era cobiçado pelo PDT para uma aliança formal com Ciro. Sim, foi uma derrota imensa para o candidato pedetista. Mas alto lá!
No capa do site UOL, mantido pela multimilionária família Frias, os petistas são acusados por um colunista de “truculência”; outro comentarista pago pelos Frias diz que Lula “esquarteja” Ciro.
Hum, que eu saiba essa gente não tem qualquer afinidade com Ciro ou a centro-esquerda. O barato deles é banco e PSDB. Cumprem o papel de um flamenguista dando palpite nas contratações do Vasco. São parte da máquina de propaganda de Alckmin. De todo jeito, não percebem que, com ódio desmedido e exagerado, só reforçam o poder do líder que esperavam (a essa altura) ver destruído e deprimido numa cela de Curitiba.
Se você é de esquerda – e tem simpatias por Ciro/PDT, Lula/PT, Manuela/PCdoB ou Boulos/PSOL – não precisa entrar nessa narrativa criada pela direita. Mesmo que considere um erro o movimento feito pelo PT, ou uma pena que Ciro não consiga se viabilizar. Vamos aos fatos.
1 – Ciro tentou construir sua candidatura na centro-esquerda, ocupando algum lugar entre PT e PSDB no espectro político. Acabou espremido dos dois lados. Alckmin tirou-lhe o Centrão. E agora o PT impede Ciro, sim, de contar com o PSB. Reparemos que ninguém acusou Rodrigo Maia (DEM) de truculento ou esquartejador, ao fingir que levaria o Centrão até Ciro, para depois depositar as legendas fisiológicas no colo dos tucanos. Maia foi apresentado como “habilidoso” e “pragmático”. Lula, não. É um maquiavélico malvado. Sei.
Acusar o PT por construir seu espaço (de forma até heróica, numa conjuntura absolutamente adversa) é tão desonesto quanto cobrar de Ciro uma fidelidade absoluta a Lula. Os dois, legitimamente, tentam erguer suas candidaturas. Nessa composição, Lula preso tem sido mais feliz do que Ciro solto. Mas os dois estão no mesmo campo. Os adversários tentam cavar entre eles uma vala de mágoas instransponível. Vejamos se o povo vai entrar nessa.
2 – O movimento de atrair o PSB facilita a vida de governadores “socialistas” no Nordeste, e une anda mais o lulismo naquela região, abrindo caminho para o candidato petista que vier a ocupar a vaga de Lula na urna, em outubro. É do Nordeste que virão os votos decisivos pra levar esse candidato ao segundo turno. De outro lado, o movimento cria também ruídos ruins com a militância petista, ao tirar de campo a candidatura ao governo de Pernambuco de Marília Arraes (construída de baixo pra cima, no PT local), e priorizar o acordo pelo alto com o PSB pernambucano. Isso é um fato, e a médio prazo enfraquece o PT. Mas o jogo é pesado, e maior.
3 – Parece-me que, nos próximos dias, Ciro dará o troco. Duvido que ele caminhe docilmente para uma aliança com o PT, aceitando a vaga de vice na chapa de centro-esquerda. Não é o perfil dele. E não haverá, portanto, outro movimento possível para o PDT que não seja um acerto com Marina Silva.
Ciro e Marina, juntos, podem criar um terceiro campo, efetivo, na campanha. Em 2014, isso já aconteceu com a chapa Eduardo/Marina. Resta saber se o discurso desenvolvimentista de Ciro poderá ser soldado às pretensões de uma Marina cada vez mais nas mãos dos banqueiros.
Em 2014, os 15% ou 20% de uma aliança desse naipe não seriam suficientes para levar a chapa ao segundo turno. Em 2018, com 15% Ciro/Marina poderiam causar estragos tanto ao lulismo como ao candidato puro sangue dos bancos – Geraldo Alckmin.
4 – Os analistas que comparavam essa eleição de 2018 com a de 1989 parecem ter quebrado a cara. Não teremos a pulverização absoluta daquela disputa. Na prática, teremos: Alckmin/Centrão (com bom tempo na TV, mas carregando o peso do governo Temer nas costas); PT/Lula (com menos tempo na TV, mas ainda a carregar a herança dos anos de bonança do lulismo); Bolsonaro (com quase nada na TV, mas com o discurso anti-sistema a tiracolo), Marina/Ciro (juntos, poderiam dessa vez construir uma terceira via, num país tão cansado de polarizações); e Alvaro Dias/Lava-Jato (o senador mostra uma resiliência surpreendente para captar votos, sobretudo no sul do país, com um discurso moralista).
5 – Não me alinho entre os que consideram Bolsonaro já derrotado. O fato de estar isolado, e com poucos segundos na TV, não significa fraqueza pra ele. Ao contrário, ajuda a compor o discurso de “contra tudo que está aí”. Bolsonaro, para se diferenciar de Alckmin, tenderá a aprofundar o discurso extremista. E esse discurso hoje pode ser suficiente para lhe dar entre 15% e 20% dos votos, levando o candidato fascista ao segundo turno. O pior que podemos fazer é tratar com desdém ou ironia essa candidatura. Ela está aí porque representa uma porção significativa de brasileiros. De outro lado, quanto mais forte e coeso for o eleitorado de Bolsonaro no primeiro turno, mais difícil será para ele sair do isolamento na segunda volta da eleição.
6 – Pela lógica e pelos números das pesquisas, parece claro que um candidato petista recolha pelo menos metade dos votos de Lula, no caso de este ser mesmo barrado pela Justiça do golpe; isso daria a este candidato cerca de 15% dos votos, de saída, permitindo a ida ao segundo turno. Parece-me que Jacques Wagner (e não Haddad) teria mais chance de ser o depositário desses votos, porque é no Nordeste que o lulismo tem sua maior fortaleza.
7 – Alckmin pode ter imensas dificuldades (apesar da força na TV), se Bolsonaro resistir na extrema-direita (minha aposta é de que resistirá), e se Álvaro Dias mantiver a candidatura lavajatista, impedindo o PSDB de avançar no eleitorado conservador do sul.
8 – Tudo indica que chegaremos a outubro com quatro candidaturas disputando duas vagas ao segundo turno, todas elas na casa de 10% a 20% dos votos: Bolsonaro, Lula/PT, Marina/Ciro e Alckmin. Os dois primeiros têm eleitorados mais consolidados. O tucano é o que terá mais dificuldades (pela herança temerista). E Ciro/Marina só terão chance se estiverem juntos.
9 – Álvaro Dias é uma incógnita, e o PSDB terá que decifrar essa esfinge, para não ser devorado de forma surpreendente. O PCdoB, pela lógica, pode compor a chapa com o PT. Mas não fará isso apenas na base da sedução e dos compromissos históricos. Manuela vice pode ser um caminho. Mas não descartemos a possibilidade de ela se manter na disputa até o fim, se a legenda detectar que o PT age com arrogância na negociação.
10 – No geral, teremos um país dividido como sempre. Nordeste e Norte mais fechados com o lulismo. Sul e São Paulo radicalmente contra a centro-esquerda. Rio e Minas decidirão a eleição, e dessa vez o lulismo está mais frágil nessas duas unidades da federação. Mesmo que perca nos dois estados, o PT precisa colher (entre cariocas e mineiros) ao menos metade dos votos para sua candidatura nacional, para ter chances eleitorais.
11 – Minha aposta hoje é de que Lula não será candidato, mas a direita pagará um preço altíssimo por desmoralizar o sistema eleitoral, impedindo o líder de estar na urna; se a direita vencer, o próximo governo será fraco e marcado pelo signo da ilegitimidade.
12 – Essa eleição é marcada pelo signo do “anti-sistema”. Nesse clima, ganham força Bolsonaro e aquele que representar o líder injustiçado pelo sistema (Lula).
13 – O quadro é extremamente volátil, mas se fosse apostar diria (na contramão do que afirmam os analistas da mídia velha) que a maior probabilidade é de um segundo turno com Bolsonaro e um candidato do PT. As colunas desesperadas de Merval, implorando que Lula reveja sua estratégia, mostram que a direita “liberal” sabe das dificuldades imensas que enfrentará. As colunas também desesperadas dos garotos dos Frias, que uivam de raiva diante da operação vitoriosa do PT junto ao PSB, indicam o mesmo. O lulismo está vivo. E forte. Mais forte, no entanto, é o caos e o desmonte da política.
No capa do site UOL, mantido pela multimilionária família Frias, os petistas são acusados por um colunista de “truculência”; outro comentarista pago pelos Frias diz que Lula “esquarteja” Ciro.
Hum, que eu saiba essa gente não tem qualquer afinidade com Ciro ou a centro-esquerda. O barato deles é banco e PSDB. Cumprem o papel de um flamenguista dando palpite nas contratações do Vasco. São parte da máquina de propaganda de Alckmin. De todo jeito, não percebem que, com ódio desmedido e exagerado, só reforçam o poder do líder que esperavam (a essa altura) ver destruído e deprimido numa cela de Curitiba.
Se você é de esquerda – e tem simpatias por Ciro/PDT, Lula/PT, Manuela/PCdoB ou Boulos/PSOL – não precisa entrar nessa narrativa criada pela direita. Mesmo que considere um erro o movimento feito pelo PT, ou uma pena que Ciro não consiga se viabilizar. Vamos aos fatos.
1 – Ciro tentou construir sua candidatura na centro-esquerda, ocupando algum lugar entre PT e PSDB no espectro político. Acabou espremido dos dois lados. Alckmin tirou-lhe o Centrão. E agora o PT impede Ciro, sim, de contar com o PSB. Reparemos que ninguém acusou Rodrigo Maia (DEM) de truculento ou esquartejador, ao fingir que levaria o Centrão até Ciro, para depois depositar as legendas fisiológicas no colo dos tucanos. Maia foi apresentado como “habilidoso” e “pragmático”. Lula, não. É um maquiavélico malvado. Sei.
Acusar o PT por construir seu espaço (de forma até heróica, numa conjuntura absolutamente adversa) é tão desonesto quanto cobrar de Ciro uma fidelidade absoluta a Lula. Os dois, legitimamente, tentam erguer suas candidaturas. Nessa composição, Lula preso tem sido mais feliz do que Ciro solto. Mas os dois estão no mesmo campo. Os adversários tentam cavar entre eles uma vala de mágoas instransponível. Vejamos se o povo vai entrar nessa.
2 – O movimento de atrair o PSB facilita a vida de governadores “socialistas” no Nordeste, e une anda mais o lulismo naquela região, abrindo caminho para o candidato petista que vier a ocupar a vaga de Lula na urna, em outubro. É do Nordeste que virão os votos decisivos pra levar esse candidato ao segundo turno. De outro lado, o movimento cria também ruídos ruins com a militância petista, ao tirar de campo a candidatura ao governo de Pernambuco de Marília Arraes (construída de baixo pra cima, no PT local), e priorizar o acordo pelo alto com o PSB pernambucano. Isso é um fato, e a médio prazo enfraquece o PT. Mas o jogo é pesado, e maior.
3 – Parece-me que, nos próximos dias, Ciro dará o troco. Duvido que ele caminhe docilmente para uma aliança com o PT, aceitando a vaga de vice na chapa de centro-esquerda. Não é o perfil dele. E não haverá, portanto, outro movimento possível para o PDT que não seja um acerto com Marina Silva.
Ciro e Marina, juntos, podem criar um terceiro campo, efetivo, na campanha. Em 2014, isso já aconteceu com a chapa Eduardo/Marina. Resta saber se o discurso desenvolvimentista de Ciro poderá ser soldado às pretensões de uma Marina cada vez mais nas mãos dos banqueiros.
Em 2014, os 15% ou 20% de uma aliança desse naipe não seriam suficientes para levar a chapa ao segundo turno. Em 2018, com 15% Ciro/Marina poderiam causar estragos tanto ao lulismo como ao candidato puro sangue dos bancos – Geraldo Alckmin.
4 – Os analistas que comparavam essa eleição de 2018 com a de 1989 parecem ter quebrado a cara. Não teremos a pulverização absoluta daquela disputa. Na prática, teremos: Alckmin/Centrão (com bom tempo na TV, mas carregando o peso do governo Temer nas costas); PT/Lula (com menos tempo na TV, mas ainda a carregar a herança dos anos de bonança do lulismo); Bolsonaro (com quase nada na TV, mas com o discurso anti-sistema a tiracolo), Marina/Ciro (juntos, poderiam dessa vez construir uma terceira via, num país tão cansado de polarizações); e Alvaro Dias/Lava-Jato (o senador mostra uma resiliência surpreendente para captar votos, sobretudo no sul do país, com um discurso moralista).
5 – Não me alinho entre os que consideram Bolsonaro já derrotado. O fato de estar isolado, e com poucos segundos na TV, não significa fraqueza pra ele. Ao contrário, ajuda a compor o discurso de “contra tudo que está aí”. Bolsonaro, para se diferenciar de Alckmin, tenderá a aprofundar o discurso extremista. E esse discurso hoje pode ser suficiente para lhe dar entre 15% e 20% dos votos, levando o candidato fascista ao segundo turno. O pior que podemos fazer é tratar com desdém ou ironia essa candidatura. Ela está aí porque representa uma porção significativa de brasileiros. De outro lado, quanto mais forte e coeso for o eleitorado de Bolsonaro no primeiro turno, mais difícil será para ele sair do isolamento na segunda volta da eleição.
6 – Pela lógica e pelos números das pesquisas, parece claro que um candidato petista recolha pelo menos metade dos votos de Lula, no caso de este ser mesmo barrado pela Justiça do golpe; isso daria a este candidato cerca de 15% dos votos, de saída, permitindo a ida ao segundo turno. Parece-me que Jacques Wagner (e não Haddad) teria mais chance de ser o depositário desses votos, porque é no Nordeste que o lulismo tem sua maior fortaleza.
7 – Alckmin pode ter imensas dificuldades (apesar da força na TV), se Bolsonaro resistir na extrema-direita (minha aposta é de que resistirá), e se Álvaro Dias mantiver a candidatura lavajatista, impedindo o PSDB de avançar no eleitorado conservador do sul.
8 – Tudo indica que chegaremos a outubro com quatro candidaturas disputando duas vagas ao segundo turno, todas elas na casa de 10% a 20% dos votos: Bolsonaro, Lula/PT, Marina/Ciro e Alckmin. Os dois primeiros têm eleitorados mais consolidados. O tucano é o que terá mais dificuldades (pela herança temerista). E Ciro/Marina só terão chance se estiverem juntos.
9 – Álvaro Dias é uma incógnita, e o PSDB terá que decifrar essa esfinge, para não ser devorado de forma surpreendente. O PCdoB, pela lógica, pode compor a chapa com o PT. Mas não fará isso apenas na base da sedução e dos compromissos históricos. Manuela vice pode ser um caminho. Mas não descartemos a possibilidade de ela se manter na disputa até o fim, se a legenda detectar que o PT age com arrogância na negociação.
10 – No geral, teremos um país dividido como sempre. Nordeste e Norte mais fechados com o lulismo. Sul e São Paulo radicalmente contra a centro-esquerda. Rio e Minas decidirão a eleição, e dessa vez o lulismo está mais frágil nessas duas unidades da federação. Mesmo que perca nos dois estados, o PT precisa colher (entre cariocas e mineiros) ao menos metade dos votos para sua candidatura nacional, para ter chances eleitorais.
11 – Minha aposta hoje é de que Lula não será candidato, mas a direita pagará um preço altíssimo por desmoralizar o sistema eleitoral, impedindo o líder de estar na urna; se a direita vencer, o próximo governo será fraco e marcado pelo signo da ilegitimidade.
12 – Essa eleição é marcada pelo signo do “anti-sistema”. Nesse clima, ganham força Bolsonaro e aquele que representar o líder injustiçado pelo sistema (Lula).
13 – O quadro é extremamente volátil, mas se fosse apostar diria (na contramão do que afirmam os analistas da mídia velha) que a maior probabilidade é de um segundo turno com Bolsonaro e um candidato do PT. As colunas desesperadas de Merval, implorando que Lula reveja sua estratégia, mostram que a direita “liberal” sabe das dificuldades imensas que enfrentará. As colunas também desesperadas dos garotos dos Frias, que uivam de raiva diante da operação vitoriosa do PT junto ao PSB, indicam o mesmo. O lulismo está vivo. E forte. Mais forte, no entanto, é o caos e o desmonte da política.
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