Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
“Ditadura não terminou: quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra” (Vladimir Safatle, filósofo, no jornal espanhol El País, que faz a melhor cobertura da eleição brasileira).
Entra dia, sai dia, e a campanha do segundo turno embarca na reta final na mesma pasmaceira, sem qualquer fato político novo que possa mudar o cenário consolidado a favor de Bolsonaro nas pesquisas, sem nenhum sinal de reação da campanha de Haddad.
Com 16 pontos de vantagem no Datafolha e 18 no Ibope, a apenas 11 dias da eleição, a campanha da chapa militar do capitão reformado com o general de pijama virou um passeio no QG da Barra da Tijuca.
É lá, no bunker montado na mansão de Bolsonaro, que será encenado nesta quarta-feira o último ato desta campanha fake.
Com estetoscópios pendurados no pescoço, os médicos da junta que cuida dele farão mais uma avaliação das condições de saúde do candidato.
Qualquer que seja o resultado, porém, nem precisam elaborar um novo atentado médico para liberá-lo do trabalho de ir aos dois debates que faltam, na Record e na Globo, que poderiam mudar o rumo da eleição.
Com toda a empáfia de quem já se sente eleito, o “Mito” decidiu que não enfrentará Haddad cara a cara por “razões estratégicas”.
Sabemos que militares entendem muito de estratégia, mas no caso se trata de outra coisa: pura covardia, o medo de ver desmascarado o seu total despreparo para debater os graves problemas nacionais.
Jair Messias Bolsonaro tem bons motivos também para não ser confrontado com seu prontuário explosivo dos tempos de capitão do Exército e as barbaridades que falou nos 30 anos como parlamentar do baixo clero.
Do outro lado da guerra sem quartel, Fernando Haddad vive o seu inferno astral, enfrentando o fogo amigo dos irmãos Gomes numa campanha morna, que não conseguiu até agora formar alianças, nem mobilizar o povo nas ruas em comícios, os seus principais trunfos para enfrentar a blitzkrieg do adversário nas redes sociais.
Nesses momentos decisivos, tanto o candidato como a coordenação da campanha petista perdem tempo em análises de conjuntura e reuniões fechadas de “nóis com nóis”.
Na propaganda eleitoral da TV, só agora resolveram sair da defensiva, para mostrar ao eleitorado quem é o verdadeiro capitão Bolsonaro e o perigo da provável eleição deste celerado, cercado por megalomaníacos, mais perigosos do que ele.
Pode ser tarde demais. Não adianta mais ficar reprisando o filmete no formato “esta é a sua vida” sobre a vida familiar e acadêmica de Haddad, que pode ser muito bonito nas tardes de domingo do Faustão, mas não comove a militância adormecida, nem faz mudar o voto de ninguém.
Com seu kit básico de bala, porrada e bíblia, o capitão, por sua vez, se identificou com tudo o que há de pior na sociedade brasileira, que resolveu segui-lo bovinamente sob a bandeira do antipetismo galopante, seu único programa de governo, além do Posto Ipiranga.
Pela primeira vez desde a redemocratização, um candidato a presidente poderá ser eleito sem fazer nenhum grande comício, sem dar entrevistas coletivas abertas a jornalistas, sem ser confrontado com os adversários.
Bolsonaro marcha sozinho em raia livre à frente das milícias bolsonaristas, que se multiplicam pelo país, desafiando, ameaçando e agredindo quem se opõem a elas.
Se assim já está sendo agora, pode-se imaginar o que viveremos, se esta insanidade se instalar no Palácio do Planalto em 2019.
Para quem ainda acredita na democracia como única forma de governo civilizado, não adianta agora procurar motivos para não votar em Haddad, mas se unir às lideranças da sociedade civil que estão se mobilizando para evitar o pior.
Manifestos e abaixo-assinados em defesa do Estado de Direito circulam em profusão nos setores mais esclarecidos da nossa sociedade, mas é uma luta desigual diante do bombardeio bolsonarista nas redes sociais, uma história que ainda precisa ser contada.
A campanha de Bolsonaro é tão cirúrgica e profissional que chego a duvidar ser esta uma criação só de anônimos marqueteiros nativos.
Faço estas constatações com a memória de um repórter dos tempos de Jânio Quadros e Adhemar de Barros disputando o poder em São Paulo, um acusando o outro de ser louco ou ladrão, até chegarmos a esse frankstein da chapa “Bolsodoria”, formada pelo mais sórdido oportunismo de ambos.
Por mais que eu queira ser otimista, para não perder de vez as esperanças em nosso país, não consigo enxergar nada que possa reverter esse quadro dramático a esta altura do campeonato.
O que ainda dá para fazer?
Vamos continuar batendo palmas para ver louco dançar na beira do abismo?
Mandem suas sugestões.
Vida que segue.
Texto maravilhoso e que merece ser compartilhado... mas a cada dia que passa, vejo o quanto que será difícil reverter esse quadro... triste fim.
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