Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Já ninguém se importa com Michel Temer, que acaba de ser indiciado, juntamente com a filha e o melhor amigo.
Enquanto estiver no cargo, nada lhe acontecerá.
A procuradora-geral Raquel Dodge não apresentará contra ele uma denúncia que a Câmara moribunda não votaria.
Em busca de alguma indulgência, Temer faz agrados ao regime que será implantado se Bolsonaro vencer.
Por exemplo, ao editar o Decreto 9.527, publicado ontem, criando uma “força-tarefa de inteligência para o enfrentamento ao crime organizado”.
Há algum tempo, quando eram maiores as perspectivas eleitorais do PT, Temer mandou o recado de que poderia indultar Lula. O PT mandou-lhe uma resposta malcriada. Não há ofensiva alguma do crime organizado neste momento. A indagação que existe é sobre o dia seguinte a uma eleição absolutamente anormal, que aprofundará a cisão do país.
O jornalista Luis Nassif apelidou o decreto de “AI-1 do novo regime”, o primeiro instrumento de força que será colocado a serviço de Bolsonaro se ele vencer, para reprimir eventuais insurgências. Estará montada antes do pleito. Temer o faz em perfeita coerência com a promoção do poder dos militares em seu governo, amparando-se neles para compensar sua debilidade política. Colocou-os em cargos estratégicos e entregou-lhes o Rio com uma intervenção fracassada.
Diz o texto que tal força terá a missão de “produzir relatórios de inteligência com vistas a subsidiar a ação governamental no enfrentamento a organizações criminosas que afrontam o Estado brasileiro e suas instituições”.
A força é composta pelo GSI do general Etchegoyen, a Abin, que lhe é subordinada, e os serviços de inteligência da Marinha, do Exército, da Aeronáutica.
Na ditadura, sob o comando da “tigrada” da tortura, eles atendiam pelas siglas Cenimar, Ciex e Cisa, respectivamente. Serão auxiliados pelo Coaf, a Receita Federal, a Polícia Federal, a PRF, o Depen e a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.
Se a noite cair sobre nós, ela será embrião de qualquer coisa na área de vigiar e punir.
Não duvidemos, como os ingênuos de 64.
Apelo a Fernando Henrique
O senador eleito Cid Gomes, ao espinafrar o PT por não fazer autocrítica, e o ex-presidente Fernando Henrique com sua indiferença olímpica pelo drama eleitoral, liquidaram com as chances de formação de uma frente ampla contra a extrema-direita e o risco autoritário.
Ontem FHC recebeu carta subscrita por renomados cientistas sociais e historiadores de diversos países, atuantes nas mais importantes universidades do mundo, pedindo que ele “assuma uma posição pública, forte e explícita, contra as aspirações presidenciais de Jair Bolsonaro, e convoque seus companheiros brasileiros a rejeitar sua candidatura no segundo turno das eleições. Bolsonaro tornou evidente sua intenção de suprimir o debate e o pluralismo de ideias típicos dos fóruns acadêmicos, de afrontar a relevância da pesquisa científica e de reprimir os esforços de mulheres e minorias para participar mais plenamente da vida intelectual e pública do Brasil”, dizem eles, sem nem pedirem apoio a Haddad.
Entre os signatários estão Jorge Castañeda, Roger Chartier, Steven Levitsky, Stuart Schwartz, Timothy J. Power e Boaventura Sousa Santos, entre outros.
A coluna tentou saber de FH o que ele responderia aos colegas intelectuais, mas não obteve resposta.
No fim de semana, FH disse que entre ele e Haddad havia uma porta, e entre ele e Bolsonaro havia um muro. O petista achou animador, mas ontem o ex-presidente declarou que a porta está enferrujada. “E eu acho que a fechadura enguiçou”.
A recusa de FH é menos compreensível, considerada sua trajetória e formação.
Os irmãos Gomes tripudiam sobre o PT, em sua pior hora, olhando para 2022, quando Ciro será de novo candidato.
Mas se a desgraça anunciada vier grande, poderão ser também castigados.
Como os que deixaram o golpe vencer em 1964, pensando nas eleições de 1965, que acabaram canceladas.
Já ninguém se importa com Michel Temer, que acaba de ser indiciado, juntamente com a filha e o melhor amigo.
Enquanto estiver no cargo, nada lhe acontecerá.
A procuradora-geral Raquel Dodge não apresentará contra ele uma denúncia que a Câmara moribunda não votaria.
Em busca de alguma indulgência, Temer faz agrados ao regime que será implantado se Bolsonaro vencer.
Por exemplo, ao editar o Decreto 9.527, publicado ontem, criando uma “força-tarefa de inteligência para o enfrentamento ao crime organizado”.
Há algum tempo, quando eram maiores as perspectivas eleitorais do PT, Temer mandou o recado de que poderia indultar Lula. O PT mandou-lhe uma resposta malcriada. Não há ofensiva alguma do crime organizado neste momento. A indagação que existe é sobre o dia seguinte a uma eleição absolutamente anormal, que aprofundará a cisão do país.
O jornalista Luis Nassif apelidou o decreto de “AI-1 do novo regime”, o primeiro instrumento de força que será colocado a serviço de Bolsonaro se ele vencer, para reprimir eventuais insurgências. Estará montada antes do pleito. Temer o faz em perfeita coerência com a promoção do poder dos militares em seu governo, amparando-se neles para compensar sua debilidade política. Colocou-os em cargos estratégicos e entregou-lhes o Rio com uma intervenção fracassada.
Diz o texto que tal força terá a missão de “produzir relatórios de inteligência com vistas a subsidiar a ação governamental no enfrentamento a organizações criminosas que afrontam o Estado brasileiro e suas instituições”.
A força é composta pelo GSI do general Etchegoyen, a Abin, que lhe é subordinada, e os serviços de inteligência da Marinha, do Exército, da Aeronáutica.
Na ditadura, sob o comando da “tigrada” da tortura, eles atendiam pelas siglas Cenimar, Ciex e Cisa, respectivamente. Serão auxiliados pelo Coaf, a Receita Federal, a Polícia Federal, a PRF, o Depen e a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.
Se a noite cair sobre nós, ela será embrião de qualquer coisa na área de vigiar e punir.
Não duvidemos, como os ingênuos de 64.
Apelo a Fernando Henrique
O senador eleito Cid Gomes, ao espinafrar o PT por não fazer autocrítica, e o ex-presidente Fernando Henrique com sua indiferença olímpica pelo drama eleitoral, liquidaram com as chances de formação de uma frente ampla contra a extrema-direita e o risco autoritário.
Ontem FHC recebeu carta subscrita por renomados cientistas sociais e historiadores de diversos países, atuantes nas mais importantes universidades do mundo, pedindo que ele “assuma uma posição pública, forte e explícita, contra as aspirações presidenciais de Jair Bolsonaro, e convoque seus companheiros brasileiros a rejeitar sua candidatura no segundo turno das eleições. Bolsonaro tornou evidente sua intenção de suprimir o debate e o pluralismo de ideias típicos dos fóruns acadêmicos, de afrontar a relevância da pesquisa científica e de reprimir os esforços de mulheres e minorias para participar mais plenamente da vida intelectual e pública do Brasil”, dizem eles, sem nem pedirem apoio a Haddad.
Entre os signatários estão Jorge Castañeda, Roger Chartier, Steven Levitsky, Stuart Schwartz, Timothy J. Power e Boaventura Sousa Santos, entre outros.
A coluna tentou saber de FH o que ele responderia aos colegas intelectuais, mas não obteve resposta.
No fim de semana, FH disse que entre ele e Haddad havia uma porta, e entre ele e Bolsonaro havia um muro. O petista achou animador, mas ontem o ex-presidente declarou que a porta está enferrujada. “E eu acho que a fechadura enguiçou”.
A recusa de FH é menos compreensível, considerada sua trajetória e formação.
Os irmãos Gomes tripudiam sobre o PT, em sua pior hora, olhando para 2022, quando Ciro será de novo candidato.
Mas se a desgraça anunciada vier grande, poderão ser também castigados.
Como os que deixaram o golpe vencer em 1964, pensando nas eleições de 1965, que acabaram canceladas.
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