quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Falsa neutralidade do Escola 'sem' Partido

Por Ana Luíza Matos de Oliveira, no site da Fundação Perseu Abramo:

Livro "Escola “sem” partido: Esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira", organizado por Gaudêncio Frigotto, traz contribuições de diversos autores para entender o ideário do "Escola sem Partido", que tem crescido como movimento na sociedade brasileira.

Segundo os autores, o "Escola sem partido" emite uma mensagem de certeza e proposição de ideias supostamente neutras, mas que escondem, na verdade, um teor fortemente "persecutório, repressor e violento". Não sem motivo os autores escolheram que o "sem" do título fosse entre aspas, pois há na verdade partidos da extrema direita e outros grupos políticos por trás do projeto.

Ou como explica Frigotto, o "sem" refere-se ao "partido da intolerância com as diferentes ou antagônicas visões de mundo, de conhecimento, de educação, de justiça, de liberdade; partido, portanto, da xenofobia nas suas diferentes facetas: de gênero, de etnia, da pobreza e dos pobres etc. Um partido que ameaça os fundamentos da liberdade e da democracia." A tentativa é de definir por lei o que é ciência e que os professores só possam seguir a cartilha das conclusões e interpretações da ciência oficial, uma ciência supostamente neutra.

Nesse sentido, é importante pontuar que não é possível ser "neutro" ao educar. Não existe neutralidade. Dizer que a ditadura militar não foi uma ditadura, mas uma guerra dos militares contra os comunistas que queriam transformar o Brasil na "nova Cuba", como defendem altos assessores do presidente eleito e inclusive o eleito vice-presidente, não é ser "neutro" e mostrar a "verdade". Revisar a história brasileira contra um suposto doutrinamento do ensino de história do Brasil quanto à ditadura militar, por exemplo, é na verdade tripudiar sobre a história brasileira, sobre a historiografia nacional e internacional, pois está comprovado e embasado que o golpe de 1964 estabeleceu um regime ditatorial no Brasil.

Ou como afirma Frigotto: "Se o conhecimento científico tem como fim entender quais as determinações que produzem os fenômenos da natureza e os sociais, em sociedades cindidas em classes sociais com interesses conflitantes e antagônicos, as concepções de natureza e sociedade e de ser humano, os métodos de apreendê-las e os resultados que daí advêm não são neutros e, portanto, são políticos."

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