Por Altamiro Borges
Só mesmo o cupincha Jair Bolsonaro para salvar a “alma” de Magno Malta, o pastor que atravessa um inferno astral. Nas eleições de outubro, o charlatão preconceituoso foi derrotado na sua tentativa de reeleição para o Senado no Espirito Santo. Por ironia da história, o estado recordista em número de evangélicos elegeu Fabiano Contarato (Rede), o primeiro senador assumidamente gay da história do país. Para piorar o seu martírio, uma das vítimas do seu ódio entrou na Justiça exigindo reparação por danos morais. Luiz Alves de Lima, ex-cobrador de ônibus, sofreu nas mãos do endiabrado Magno Malta. Vale o relato da jornalista Anna Virginia Balloussier, em reportagem publicada na Folha de S.Paulo na quinta-feira (15).
*****
Luiz Alves de Lima, 45, quase não consegue ler o processo que move contra o senador Magno Malta (PR-ES). Perdeu toda a vista no olho direito, e na do esquerdo lhe restou uns 25%. Usa uma lupa.
Ele conta que a visão se foi de tanto apanhar na prisão, em 2009. Mostra os dentes: um deles é só um cotoco, pois, diz, "pegaram o alicate e foram apertando até estourar".
Luiz era cobrador de ônibus. Numa tarde de abril, Cleonice Conceição, 32, a mulher por quem se apaixonou num terminal, levou a filha deles de dois anos ao médico. Ele foi ficando preocupado, pois já era noite e nada delas.
"Aí chegou a polícia e pensei o pior, que tinha acontecido um acidente", conta. Mas não: colocaram-no numa viatura, sob acusação de estuprar a filha, com a esposa cúmplice do crime.
No terceiro dia de detenção, o senador chegou "com um batalhão de gente", imprensa inclusa, e assumiu o papel de "juiz, promotor, delegado", diz Lima. Em seu relatório, o delegado do caso atestou: Malta "manifestou-me que, por sentimento pessoal e experiência profissional, entende ser o pai da criança o autor do delito".
Ele passou nove meses no CDPC (Centro de Detenção Provisória de Cariacica), que usava contêineres como cela, situação anos depois classificada como desumana pelo Superior Tribunal de Justiça.
Diz ter sido torturado por mascarados que se revezavam no "quadrado com banheirinho" onde ficava. "Passei o aniversário num tonel cheio de gelo, botaram minha mão pra trás."
Uma notícia-crime assinada por Luiz e recebida em setembro de 2018 pelo Ministério Público Federal capixaba responsabiliza agentes do CDPC por sessões de tortura que teriam incluído "sacola na cabeça e choques".
À Folha, no escritório de seu advogado, ele afirma que não saberia identificar os algozes. O que diz com confiança é que talvez nada daquilo tivesse acontecido se não fosse pelo "circo" montado por Malta, um dos principais aliados do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e cotado para um ministério na área social.
O baiano que fez carreira no Espírito Santo presidia a CPI da Pedofilia em 2009.
No mesmo mês em que Luiz foi preso, o senador prometeu no plenário que "os pedófilos desgraçados" estavam com "os dias contados".
Inocentado em todas as instâncias da Justiça, o ex-cobrador de ônibus, que ficou incapacitado após a cegueira parcial, processa o senador, o estado e o médico responsável pelo laudo que o colocou na posição de suspeito.
(...)
*****
É provável que o processo do ex-cobrador contra o charlatão preconceituoso não dê em nada. Magno Malta, mesmo derrotado na tentativa de reeleição, goza de uma relação íntima com o novo presidente. Como registra a revista Exame, “no dia 28 de outubro, assim que as urnas anunciaram o vencedor da corrida eleitoral, a primeira pessoa a falar para os brasileiros na televisão não foi o candidato eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas o senador Magno Malta (PR-ES). Antes de fazer seu primeiro discurso oficial, Bolsonaro encarregou Malta de fazer uma oração à nação: ‘Os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados sem a mão de Deus’, disse o senador, que também é pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Em seguida, ele rezou um Pai Nosso”.
“Malta está na política desde 1993 e é um dos principais aliados do presidente eleito, que em maio disse que ele seria seu ‘vice dos sonhos’. No entanto, Malta preferiu tentar a reeleição ao Senado. Mesmo com gastos oficiais de R$ 2,7 milhões na campanha, não obteve sucesso: com 17% dos votos, perdeu para os 24,08% de Marcos do Val (PPS) e os 31% de Fabiano Contarato (Rede)... Mas Malta não deve ficar fora da política por muito tempo e seu destino pode ser um cargo no Executivo; há especulação de que seria para um possível ‘Ministério da Família’, que reuniria Desenvolvimento Social e Direitos Humanos”. Na sexta-feira (16), o pastor charlatão esbanjou segurança e arrogância em entrevista ao jornal O Globo: “Vou ser ministro, sim”.
Só mesmo o cupincha Jair Bolsonaro para salvar a “alma” de Magno Malta, o pastor que atravessa um inferno astral. Nas eleições de outubro, o charlatão preconceituoso foi derrotado na sua tentativa de reeleição para o Senado no Espirito Santo. Por ironia da história, o estado recordista em número de evangélicos elegeu Fabiano Contarato (Rede), o primeiro senador assumidamente gay da história do país. Para piorar o seu martírio, uma das vítimas do seu ódio entrou na Justiça exigindo reparação por danos morais. Luiz Alves de Lima, ex-cobrador de ônibus, sofreu nas mãos do endiabrado Magno Malta. Vale o relato da jornalista Anna Virginia Balloussier, em reportagem publicada na Folha de S.Paulo na quinta-feira (15).
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Luiz Alves de Lima, 45, quase não consegue ler o processo que move contra o senador Magno Malta (PR-ES). Perdeu toda a vista no olho direito, e na do esquerdo lhe restou uns 25%. Usa uma lupa.
Ele conta que a visão se foi de tanto apanhar na prisão, em 2009. Mostra os dentes: um deles é só um cotoco, pois, diz, "pegaram o alicate e foram apertando até estourar".
Luiz era cobrador de ônibus. Numa tarde de abril, Cleonice Conceição, 32, a mulher por quem se apaixonou num terminal, levou a filha deles de dois anos ao médico. Ele foi ficando preocupado, pois já era noite e nada delas.
"Aí chegou a polícia e pensei o pior, que tinha acontecido um acidente", conta. Mas não: colocaram-no numa viatura, sob acusação de estuprar a filha, com a esposa cúmplice do crime.
No terceiro dia de detenção, o senador chegou "com um batalhão de gente", imprensa inclusa, e assumiu o papel de "juiz, promotor, delegado", diz Lima. Em seu relatório, o delegado do caso atestou: Malta "manifestou-me que, por sentimento pessoal e experiência profissional, entende ser o pai da criança o autor do delito".
Ele passou nove meses no CDPC (Centro de Detenção Provisória de Cariacica), que usava contêineres como cela, situação anos depois classificada como desumana pelo Superior Tribunal de Justiça.
Diz ter sido torturado por mascarados que se revezavam no "quadrado com banheirinho" onde ficava. "Passei o aniversário num tonel cheio de gelo, botaram minha mão pra trás."
Uma notícia-crime assinada por Luiz e recebida em setembro de 2018 pelo Ministério Público Federal capixaba responsabiliza agentes do CDPC por sessões de tortura que teriam incluído "sacola na cabeça e choques".
À Folha, no escritório de seu advogado, ele afirma que não saberia identificar os algozes. O que diz com confiança é que talvez nada daquilo tivesse acontecido se não fosse pelo "circo" montado por Malta, um dos principais aliados do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e cotado para um ministério na área social.
O baiano que fez carreira no Espírito Santo presidia a CPI da Pedofilia em 2009.
No mesmo mês em que Luiz foi preso, o senador prometeu no plenário que "os pedófilos desgraçados" estavam com "os dias contados".
Inocentado em todas as instâncias da Justiça, o ex-cobrador de ônibus, que ficou incapacitado após a cegueira parcial, processa o senador, o estado e o médico responsável pelo laudo que o colocou na posição de suspeito.
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É provável que o processo do ex-cobrador contra o charlatão preconceituoso não dê em nada. Magno Malta, mesmo derrotado na tentativa de reeleição, goza de uma relação íntima com o novo presidente. Como registra a revista Exame, “no dia 28 de outubro, assim que as urnas anunciaram o vencedor da corrida eleitoral, a primeira pessoa a falar para os brasileiros na televisão não foi o candidato eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas o senador Magno Malta (PR-ES). Antes de fazer seu primeiro discurso oficial, Bolsonaro encarregou Malta de fazer uma oração à nação: ‘Os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados sem a mão de Deus’, disse o senador, que também é pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Em seguida, ele rezou um Pai Nosso”.
“Malta está na política desde 1993 e é um dos principais aliados do presidente eleito, que em maio disse que ele seria seu ‘vice dos sonhos’. No entanto, Malta preferiu tentar a reeleição ao Senado. Mesmo com gastos oficiais de R$ 2,7 milhões na campanha, não obteve sucesso: com 17% dos votos, perdeu para os 24,08% de Marcos do Val (PPS) e os 31% de Fabiano Contarato (Rede)... Mas Malta não deve ficar fora da política por muito tempo e seu destino pode ser um cargo no Executivo; há especulação de que seria para um possível ‘Ministério da Família’, que reuniria Desenvolvimento Social e Direitos Humanos”. Na sexta-feira (16), o pastor charlatão esbanjou segurança e arrogância em entrevista ao jornal O Globo: “Vou ser ministro, sim”.
A “alma” de Magno Malta será salva pelo "irmão" Jair Bolsonaro!
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