Para quem imaginou que seria possível derrubar o chavismo através de um golpe parlamentar iniciado por Donald Trump e liderado por Juan Guaydó, um deputado de extrema-direita com 35 anos de idade e nada de notável na biografia até o início da semana, está claro que a América Latina foi envolvida numa situação grave e dramática, que está longe de ser um passeio.
Neste domingo, cinco dias depois de Caracas amanhecer com protestos de grande porte, será possível assistir ao desfecho do primeiro lance de um confronto que o mundo acompanha numa tensão cada vez maior, desde que exóticas imagens do Mike Pence, vice-presidente dos EUA, surgiram na TV, para apoiar as mobilizações contra Maduro.
"Hola, I'm Micke Pence", iniciava o vídeo, em inglês com legendas, um marco inesquecível na história das intervenções norte-americanas no Continente. "Maduro é um ditador sem qualquer direito legítimo ao poder. Nunca ganhou a presidência numa eleição livre e justa e tem mantido o poder prendendo qualquer um que ouse se opor a ele".
Ao determinar a expulsão dos diplomatas norte-americanos com posto em Caracas, Maduro mobilizou uma parcela considerável da população na defesa da soberania do país e, acima de tudo, recuperou a iniciativa numa guerra de movimentos na qual estará em jogo o futuro de um dos mais influentes projetos da esquerda latino-americana depois da Cuba de Fidel Castro.
Mesmo repetindo que considera Guaydó "presidente legítimo" do país, a diplomacia norte-americana não custou a suavizar a postura. Determinou que seus diplomatas "não essenciais" fizessem as malas para retornar aos EUA, divulgando também a recomendação de que cidadãos norte-americanos estabelecidos na Venezuela "considerem seriamente" a possibilidade de deixar o país.
Quando se encerrar o prazo fixado, caberá a Maduro mover suas peças, num cálculo no qual será preciso combinar dois elementos. Se não pode ficar de braços cruzados, o que seria um gesto equivalente à rendição, também não pode exagerar num contra-ataque, que poderia servir de pretexto sob medida para Washington partir para ações mais duras, num horizonte de possibilidades -- sim, possibilidades -- que incluem versões variadas de uma intervenção militar, que não interessa ao povo venezuelano nem aos demais países da América Latina nem a população dos EUA.
Armadas e bem equipadas, reestruturadas por Hugo Chávez depois do golpe de 2002, as Forças Armadas da Venezuela são o elemento decisivo da situação. Constituem hoje o principal fator de dissuasão contra uma intervenção estrangeira.
Mais do que apoiar o governo, estão entrelaçadas nas raízes do Estado venezuelano, seja nos ministérios, seja em postos estratégicos nas estatais, a começar pela petroleira PDVSA, que zela pela a grande riqueza nacional. Não surpreende que tenham multiplicado manifestações de fidelidade ao chavismo. Em maio do ano passado, os comandantes militares se perfilaram diante das câmaras de TV para manifestar seu reconhecimento pela vitória de Maduro, contestada por adversários dentro e fora do país. Na quarta-feira passada, o ministro da Defesa Vladimir Padrino Lopes, um velho discípulo de Hugo Chávez, se referiu a Juan Guaydó como "um presidente imposto nas sombras de interesses escusos", dizendo ainda que foi "proclamado à margem da lei".
O risco de encarar um confronto contra um adversário bem estruturado chega a provocar divisões importantes dentro da oposição, que consideram a auto-proclamação de Guaydó uma precipitação irresponsável. Derrotado por Maduro por diferença de 200 000 votos na eleição presidencial de 2013, o ex-governador de Miranda, Henrique Capriles, chegou a publicar um artigo, dez dias antes dos protestos da semana passada, para manifestar suas dúvidas sobre a operação que iria inventar o "presidente Guaydó".
Em linguagem cifrada, mas fácil de ser compreendida pelos que já estavam a par das discussões internas da conspiração, Capriles lançou uma advertência contra quem pretende "arrancar do poder aqueles que o exercem de forma ilegítima sem contar com o apoio da Força Armada, por exemplo. Ou pelo menos sem gerar uma importante fratura interna dentro dessa estrutura que hoje agrupa aqueles que possuem o monopólio do poder de fogo."
Com histórico oposto ao voluntarismo violento que marca o Vontade Popular de Guaidó, Capriles sugere no texto, sempre em linguagem cifrada, que os responsáveis pela investida contra Maduro "pedem que se assuma o governo sem ter o poder físico para fazê-lo". A mensagem faz sentido.
Sem abrir ao menos uma cunha no interior das Forças Armadas, tanto a oposição como seus aliados de Washington terão uma imensa dificuldade para sustentar um conflito militar de envergadura.
A possibilidade de um conflito convencional, semelhante à Guerra do Vietnã, atoleiro do qual os EUA se retiraram derrotados, após uma intervenção traumática e prolongada, parece impensável nos dias de hoje. As dificuldades são políticas e militares, num país que está se retirando da Síria, não pagou a conta do Iraque e Afeganistão e assiste a defecção das estrelas da linha dura republicana do Casa Branca de Trump.
A hipótese de se montar uma força de paz para intervir no país, a mais considerada nos últimos dias, envolve dois inconvenientes. O primeiro é transformar a juventude de países vizinhos, que não tem nada a ver com o conflito interno venezuelano, em escudo humano para os interesses de Washington, solução que irá produzir cenas de repúdio e protesto depois que os primeiros cadáveres forem entregues às respectivas famílias. O grande inconveniente é de natureza militar, porém. As forças de paz são opção ideal para intervenções limitadas, com poucos riscos para as forças agressoras. Parecem recurso ideal para confrontos com movimentos armados pouco estruturados -- situação nada comparável a um confronto com o Exército venezuelano, consolidado, senhor de seu terreno, armas modernas, na posição legítima de quem defende o país contra o invasor estrangeiro.
A verdade é que os últimos dias trouxeram boas e más notícias para Maduro. As manifestações de protesto reuniram um grande número de manifestantes que portava cartazes que diziam : "não quero bono, não quero CLAP. Quero que Nicolás se vá".
Fazendo referências a programas sociais criados pelo chavismo, os cartazes funcionavam como um cartão de visitas dos manifestantes, numa visão de mundo que desconhece o sentido de palavras como fome, frio, doença. Um dos grandes pontos de de aglutinação do protesto, no Chacal, típico bairro nobre da capital venezuelana, é outro indício na mesma direção. Não é o único sinal, contudo.
O 23 de janeiro mostrou a presença nítida de antigos eleitores do chavismo, hoje inconformados com a falta de emprego, as prateleiras vazias e a carência de produtos, descontentes com um governo que até agora não foi capaz de virar a situação e derrotar a sabotagem econômica.
O ponto que preocupa é este descontentamento real. Em maio de 2018, Maduro levou 6,1 milhões de votos para casa. Venceu a eleição com mais de 67% dos votos válidos mas recolheu um sinal da dificuldade dos tempos. Cinco anos antes, ele obteve uma vitória apertada contra Capriles mas fez um cesto de votos maior, 7,5 milhões. Desta vez, a presença de uma parcela de eleitores desgarrados do chavismo nos protestos de quarta-feira foi um sinal claro de perigo em sua base de sustenção.
No plano internacional, a vantagem inicial da conexão Trump-Guaidó permanece mas não é tão grande assim. A mudança no governo brasileiro, onde Jair Bolsonaro responde por um país que até há pouco era governado por Lula e Dilma, representa uma perda considerável, até porque não é um caso único. A maioria dos países de papel politicamente relevante no Continente se alinharam aos EUA no apoio ao golpe parlamentar, com a gloriosa exceção do México. A OEA também confirma sua atuação como braço auxiliar do Departamento de Estado do governo norte-americano, escancarada nos anos 60 com o bloqueio a Cuba de Fidel Castro. Ex-presidente que chegou a ser uma referencia regional, reforçada por uma atuação firme contra o golpe de 2002, Fernando Henrique Cardoso perdeu uma ótima chance de preservar a memória quando se uniu ao coro Guaidó-Trump para dizer Fora Maduro.
Nesse ambiente, a Rússia e a China, aliados de Lula e Dilma nos BRICS, jogam um peso importante a favor de Maduro. Numa linguagem que favorece o governo venezuelano, Hua Chunying, porta voz do Ministério das Relações Exteriores da China, falou em "respeito a Constituição". Empregando palavras como "diálogo" e "consulta", recomendou que as partes evitem "conflitos violentos".
Aliado profundo do chavismo, inclusive no plano militar, o telefonema de Vladimir Putin a Maduro produziu o esperado conforto em Caracas. Putin não só disse que a intervenção dos Estados Unidos quebra as regras do Direito Internacional. Também anunciou a intenção de reforçar novos projetos de cooperação internacional, perspectiva mais do que benvinda para um governo em risco de isolamento.
Em Caracas, aliados de Maduro sonham com a repetição de uma cena ocorrida em novembro de 2018, quando quatro bombardeios russos -- dois eles com capacidade para transportas armas nucleares -- pousaram no aeroporto Simon Bolívar, em Caracas, num gesto escancarado de apoio ao aliado venezuelano. "Estamos nos preparando para defender a Venezuela até o último momento, caso seja necessário", disse na época o ministro Vladimir Pedrino. "Temos amigos que defendem relações amistosas e respeitosas".
Numa demonstração de que já possuía sinais sobre o movimento que iria chegar a Assembléia Nacional no mês seguinte, o próprio Maduro se manifestou, denunciando uma tentativa "coordenada diretamente pela Casa Branca de perturbar a vida democrática na Venezuela e tentar dar um golpe de Estado contra o governo constitucional, democrático e livre do país".
Mesmo que se conclua, cedo ou tarde, que a operação Guaidó-Trump só produzirá um vexame imperial, não é preciso esperar por uma retirada rápida da intervenção norte-americana, cujo resultado seria a desmoralização sem remédio de Donald Trump.
Em 2020 o presidente dos Estados Unidos estará em plena disputa pela reeleição -- época ideal para aventuras externas, como demonstrou George W Bush, um morto-vivo que ganhou o segundo mandato graças a invasão do Afeganistão, logo após o ataque de 11 de setembro. O reconhecimento de Guaidó como presidente "legítimo" pelo governo norte-americano, abriu uma possibilidade de reforçar monetariamente a ajuda aos adversários de Maduro. Hoje a Venezuela possui bilhões de dólares bloqueados por ordem de Washington, medida que empobrece os venezuelanos e limita drasticamente toda tentativa de recuperar a economia. O receio do governo é que, num escandaloso ato de truculência financeira, Trump decida liberar parte dessa fortuna para alimentar os cofres golpistas, permitindo o financiamento de tropas mercenárias para agir no país.
Neste domingo, cinco dias depois de Caracas amanhecer com protestos de grande porte, será possível assistir ao desfecho do primeiro lance de um confronto que o mundo acompanha numa tensão cada vez maior, desde que exóticas imagens do Mike Pence, vice-presidente dos EUA, surgiram na TV, para apoiar as mobilizações contra Maduro.
"Hola, I'm Micke Pence", iniciava o vídeo, em inglês com legendas, um marco inesquecível na história das intervenções norte-americanas no Continente. "Maduro é um ditador sem qualquer direito legítimo ao poder. Nunca ganhou a presidência numa eleição livre e justa e tem mantido o poder prendendo qualquer um que ouse se opor a ele".
Ao determinar a expulsão dos diplomatas norte-americanos com posto em Caracas, Maduro mobilizou uma parcela considerável da população na defesa da soberania do país e, acima de tudo, recuperou a iniciativa numa guerra de movimentos na qual estará em jogo o futuro de um dos mais influentes projetos da esquerda latino-americana depois da Cuba de Fidel Castro.
Mesmo repetindo que considera Guaydó "presidente legítimo" do país, a diplomacia norte-americana não custou a suavizar a postura. Determinou que seus diplomatas "não essenciais" fizessem as malas para retornar aos EUA, divulgando também a recomendação de que cidadãos norte-americanos estabelecidos na Venezuela "considerem seriamente" a possibilidade de deixar o país.
Quando se encerrar o prazo fixado, caberá a Maduro mover suas peças, num cálculo no qual será preciso combinar dois elementos. Se não pode ficar de braços cruzados, o que seria um gesto equivalente à rendição, também não pode exagerar num contra-ataque, que poderia servir de pretexto sob medida para Washington partir para ações mais duras, num horizonte de possibilidades -- sim, possibilidades -- que incluem versões variadas de uma intervenção militar, que não interessa ao povo venezuelano nem aos demais países da América Latina nem a população dos EUA.
Armadas e bem equipadas, reestruturadas por Hugo Chávez depois do golpe de 2002, as Forças Armadas da Venezuela são o elemento decisivo da situação. Constituem hoje o principal fator de dissuasão contra uma intervenção estrangeira.
Mais do que apoiar o governo, estão entrelaçadas nas raízes do Estado venezuelano, seja nos ministérios, seja em postos estratégicos nas estatais, a começar pela petroleira PDVSA, que zela pela a grande riqueza nacional. Não surpreende que tenham multiplicado manifestações de fidelidade ao chavismo. Em maio do ano passado, os comandantes militares se perfilaram diante das câmaras de TV para manifestar seu reconhecimento pela vitória de Maduro, contestada por adversários dentro e fora do país. Na quarta-feira passada, o ministro da Defesa Vladimir Padrino Lopes, um velho discípulo de Hugo Chávez, se referiu a Juan Guaydó como "um presidente imposto nas sombras de interesses escusos", dizendo ainda que foi "proclamado à margem da lei".
O risco de encarar um confronto contra um adversário bem estruturado chega a provocar divisões importantes dentro da oposição, que consideram a auto-proclamação de Guaydó uma precipitação irresponsável. Derrotado por Maduro por diferença de 200 000 votos na eleição presidencial de 2013, o ex-governador de Miranda, Henrique Capriles, chegou a publicar um artigo, dez dias antes dos protestos da semana passada, para manifestar suas dúvidas sobre a operação que iria inventar o "presidente Guaydó".
Em linguagem cifrada, mas fácil de ser compreendida pelos que já estavam a par das discussões internas da conspiração, Capriles lançou uma advertência contra quem pretende "arrancar do poder aqueles que o exercem de forma ilegítima sem contar com o apoio da Força Armada, por exemplo. Ou pelo menos sem gerar uma importante fratura interna dentro dessa estrutura que hoje agrupa aqueles que possuem o monopólio do poder de fogo."
Com histórico oposto ao voluntarismo violento que marca o Vontade Popular de Guaidó, Capriles sugere no texto, sempre em linguagem cifrada, que os responsáveis pela investida contra Maduro "pedem que se assuma o governo sem ter o poder físico para fazê-lo". A mensagem faz sentido.
Sem abrir ao menos uma cunha no interior das Forças Armadas, tanto a oposição como seus aliados de Washington terão uma imensa dificuldade para sustentar um conflito militar de envergadura.
A possibilidade de um conflito convencional, semelhante à Guerra do Vietnã, atoleiro do qual os EUA se retiraram derrotados, após uma intervenção traumática e prolongada, parece impensável nos dias de hoje. As dificuldades são políticas e militares, num país que está se retirando da Síria, não pagou a conta do Iraque e Afeganistão e assiste a defecção das estrelas da linha dura republicana do Casa Branca de Trump.
A hipótese de se montar uma força de paz para intervir no país, a mais considerada nos últimos dias, envolve dois inconvenientes. O primeiro é transformar a juventude de países vizinhos, que não tem nada a ver com o conflito interno venezuelano, em escudo humano para os interesses de Washington, solução que irá produzir cenas de repúdio e protesto depois que os primeiros cadáveres forem entregues às respectivas famílias. O grande inconveniente é de natureza militar, porém. As forças de paz são opção ideal para intervenções limitadas, com poucos riscos para as forças agressoras. Parecem recurso ideal para confrontos com movimentos armados pouco estruturados -- situação nada comparável a um confronto com o Exército venezuelano, consolidado, senhor de seu terreno, armas modernas, na posição legítima de quem defende o país contra o invasor estrangeiro.
A verdade é que os últimos dias trouxeram boas e más notícias para Maduro. As manifestações de protesto reuniram um grande número de manifestantes que portava cartazes que diziam : "não quero bono, não quero CLAP. Quero que Nicolás se vá".
Fazendo referências a programas sociais criados pelo chavismo, os cartazes funcionavam como um cartão de visitas dos manifestantes, numa visão de mundo que desconhece o sentido de palavras como fome, frio, doença. Um dos grandes pontos de de aglutinação do protesto, no Chacal, típico bairro nobre da capital venezuelana, é outro indício na mesma direção. Não é o único sinal, contudo.
O 23 de janeiro mostrou a presença nítida de antigos eleitores do chavismo, hoje inconformados com a falta de emprego, as prateleiras vazias e a carência de produtos, descontentes com um governo que até agora não foi capaz de virar a situação e derrotar a sabotagem econômica.
O ponto que preocupa é este descontentamento real. Em maio de 2018, Maduro levou 6,1 milhões de votos para casa. Venceu a eleição com mais de 67% dos votos válidos mas recolheu um sinal da dificuldade dos tempos. Cinco anos antes, ele obteve uma vitória apertada contra Capriles mas fez um cesto de votos maior, 7,5 milhões. Desta vez, a presença de uma parcela de eleitores desgarrados do chavismo nos protestos de quarta-feira foi um sinal claro de perigo em sua base de sustenção.
No plano internacional, a vantagem inicial da conexão Trump-Guaidó permanece mas não é tão grande assim. A mudança no governo brasileiro, onde Jair Bolsonaro responde por um país que até há pouco era governado por Lula e Dilma, representa uma perda considerável, até porque não é um caso único. A maioria dos países de papel politicamente relevante no Continente se alinharam aos EUA no apoio ao golpe parlamentar, com a gloriosa exceção do México. A OEA também confirma sua atuação como braço auxiliar do Departamento de Estado do governo norte-americano, escancarada nos anos 60 com o bloqueio a Cuba de Fidel Castro. Ex-presidente que chegou a ser uma referencia regional, reforçada por uma atuação firme contra o golpe de 2002, Fernando Henrique Cardoso perdeu uma ótima chance de preservar a memória quando se uniu ao coro Guaidó-Trump para dizer Fora Maduro.
Nesse ambiente, a Rússia e a China, aliados de Lula e Dilma nos BRICS, jogam um peso importante a favor de Maduro. Numa linguagem que favorece o governo venezuelano, Hua Chunying, porta voz do Ministério das Relações Exteriores da China, falou em "respeito a Constituição". Empregando palavras como "diálogo" e "consulta", recomendou que as partes evitem "conflitos violentos".
Aliado profundo do chavismo, inclusive no plano militar, o telefonema de Vladimir Putin a Maduro produziu o esperado conforto em Caracas. Putin não só disse que a intervenção dos Estados Unidos quebra as regras do Direito Internacional. Também anunciou a intenção de reforçar novos projetos de cooperação internacional, perspectiva mais do que benvinda para um governo em risco de isolamento.
Em Caracas, aliados de Maduro sonham com a repetição de uma cena ocorrida em novembro de 2018, quando quatro bombardeios russos -- dois eles com capacidade para transportas armas nucleares -- pousaram no aeroporto Simon Bolívar, em Caracas, num gesto escancarado de apoio ao aliado venezuelano. "Estamos nos preparando para defender a Venezuela até o último momento, caso seja necessário", disse na época o ministro Vladimir Pedrino. "Temos amigos que defendem relações amistosas e respeitosas".
Numa demonstração de que já possuía sinais sobre o movimento que iria chegar a Assembléia Nacional no mês seguinte, o próprio Maduro se manifestou, denunciando uma tentativa "coordenada diretamente pela Casa Branca de perturbar a vida democrática na Venezuela e tentar dar um golpe de Estado contra o governo constitucional, democrático e livre do país".
Mesmo que se conclua, cedo ou tarde, que a operação Guaidó-Trump só produzirá um vexame imperial, não é preciso esperar por uma retirada rápida da intervenção norte-americana, cujo resultado seria a desmoralização sem remédio de Donald Trump.
Em 2020 o presidente dos Estados Unidos estará em plena disputa pela reeleição -- época ideal para aventuras externas, como demonstrou George W Bush, um morto-vivo que ganhou o segundo mandato graças a invasão do Afeganistão, logo após o ataque de 11 de setembro. O reconhecimento de Guaidó como presidente "legítimo" pelo governo norte-americano, abriu uma possibilidade de reforçar monetariamente a ajuda aos adversários de Maduro. Hoje a Venezuela possui bilhões de dólares bloqueados por ordem de Washington, medida que empobrece os venezuelanos e limita drasticamente toda tentativa de recuperar a economia. O receio do governo é que, num escandaloso ato de truculência financeira, Trump decida liberar parte dessa fortuna para alimentar os cofres golpistas, permitindo o financiamento de tropas mercenárias para agir no país.
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