sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Bolsonaro rosna que Globo é inimiga. Será?

Por Altamiro Borges

Logo após Gustavo Bebianno ser despachado do laranjal de Jair Bolsonaro, a revista Veja vazou os áudios das conversas entre o “capetão” desleal e o defecado que revelaram várias histórias picantes e até hilárias.

Entre elas, a de que o presidente tuiteiro – a exemplo do seu ídolo e capataz Donald Trump – é um grande mentiroso, que adora fake news. Ele havia jurado que não tinha conversado com o seu ex-amigão, o que os áudios desmentem. Em outro contexto, a mentira poderia resultar até em abertura de pedido de impeachment.

A história mais picante, porém, é a da treta entre Jair Bolsonaro e o poderoso Grupo Globo. Num dos áudios, Bolsonaro rosna contra o agora defenestrado ministro da Secretaria-Geral da Presidência por ele ter agendado uma reunião em pleno Palácio do Planalto com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais do império global e presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

Para o fascistoide, Bebianno cometeu um erro fatal ao trazer “esse cara da Globo para dentro do Palácio do Planalto... Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, você tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara... Você tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa”.

Preocupado com os traumas nas relações promíscuas com o “bispo” Edir Macedo, da Record, e com o mercenário Silvio Santos, do SBT, ele adverte o ex-ministro: “Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos (sic) se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento”. Ao final do áudio vazado do WhatsApp, o capetão rosna e exige: “Cancela! Não quero esse cara aí dentro. Ponto final”.

De imediato, logo após o vazamento, o Grupo Globo divulgou uma nota afirmando que, ao contrário dos latidos do presidente, a emissora “não tem e nem cultiva inimigos”, que mantém relações “estritamente institucionais e republicanas” com governantes e que “visitas de diretores do Grupo Globo a autoridades são rotineiras” e buscam apenas “ouvir todas as vozes de uma sociedade livre, de forma transparente e com agenda pública”.

Diante dessas conversas picantes, surgem várias perguntas. Jair Bolsonaro e os herdeiros de Roberto Marinho romperão relações? A guerra está declarada e não tem mais retorno? O governo autoritário vai partir para o ataque, cortando publicidade e perseguindo os críticos? Já a Globo terá a coragem da CNN e do New York Times, que não dão tréguas ao facínora do Trump nos EUA? A conferir, mas eu tenho as minhas dúvidas.

O fascistoide e os que compõe seu bordel – milicos rancorosos, corruptos laranjas, abutres financeiros, fanáticos religiosos e milicianos fascistas –sabem que só estão no Palácio do Planalto graças ao jornalismo de guerra praticado nos últimos anos pela mídia monopolista, principalmente pela poderosa Rede Globo. Por questões de classe e por discordâncias de projeto, a mídia satanizou as forças de esquerda e cultivou o ódio à política. Desta forma, ela ajudou a chocar o ovo da serpente fascista no país, o que explica a vitória do incompetente e enrolado Jair Bolsonaro.

Agora mesmo, no embate sobre a contrarreforma da Previdência, a Globo está toda alinhada com o abutre Paulo Guedes e o algoz Bolsonaro. Também na agressão à Venezuela, a mídia reforça a postura colonizada do governo diante do império estadunidense. Ou seja: há muitos pontos em comum entre Bolsonaro e a Globo. Algumas visitas ao Palácio do Planalto poderão resolver a pendengas.

Um comentário:

Comente: