quinta-feira, 7 de março de 2019

As elites e o Brasil sanguinário

Por Roberto Malvezzi (Gogó), no site Correio da Cidadania:

Quando Bol­so­naro elo­giou a tor­tura e Bri­lhante Ustra como herói da pá­tria, e a dita so­ci­e­dade democrá­tica ficou em si­lêncio, acendeu-se o sinal ver­melho.

Quando Moro disse que me­didas de ex­ceção eram ne­ces­sá­rias porque o Brasil vivia um mo­mento excep­ci­onal, era o fim da Cons­ti­tuição, da hi­e­rar­quia ju­rí­dica e era a aber­tura da ja­nela para um regime de ex­ceção.

Quando Guedes diz que a es­querda tem ca­beça mole, co­ração mole e a di­reita tem a ca­beça e co­ração duros, ele de­fine a es­sência di­fe­ren­cial entre esses seres hu­manos.

Quando o pre­si­dente da Vale vai ao Con­gresso Na­ci­onal, todos os pre­sentes fazem um mo­mento de si­lêncio em pé pelos mortos de Bru­ma­dinho, e ele per­ma­nece sen­tado, ele de­clara que a Vale não tem mesmo qual­quer in­te­resse nos seres hu­manos, in­clu­sive porque já fi­zera uma pro­jeção de todos os custos do rom­pi­mento, in­clu­sive o cál­culo das pos­sí­veis vidas a serem cei­fadas.

Quando o Bope do Rio en­contra 20 “jo­vens ban­didos” num quarto e exe­cuta 15 fri­a­mente, certamente com uma bala na ca­beça, ao gosto do go­ver­nador Witzel, já é a prá­tica da exe­cução sumária pro­posta pelo pre­si­dente e re­fe­ren­dada ju­ri­di­ca­mente por Sérgio Moro. Enfim, a volta do Esqua­drão da Morte.

Quando um de­pu­tado do PSL propõe uma lei que per­mita ex­trair os ór­gãos dos “ban­didos mortos”, cria uma li­gação sa­tâ­nica entre exe­cução su­mária e co­mer­ci­a­li­zação de ca­dá­veres.

Não, essa não é uma di­fe­rença entre di­reita e es­querda. É a di­fe­rença entre a ci­vi­li­dade e a total arbitra­ri­e­dade.

Não es­pe­remos dessas pes­soas qual­quer sen­ti­mento hu­mano, qual­quer sinal de res­peito pelo outro, qual­quer ar­re­pen­di­mento, qual­quer re­morso.

O ser hu­mano pode, sim, ha­bi­tuar-se ao pior de si mesmo. Efe­ti­va­mente, podem até ter ca­beça dura, mas, ao gosto de Jesus, têm o co­ração de pedra.

A única re­a­li­dade mortal dessas pes­soas é a conta ban­cária. Aí que está a bala de prata. Aí está seu cal­ca­nhar de Aquiles. A pos­si­bi­li­dade de levar um tiro bem dado nas suas contas ban­cá­rias os deixa apa­vo­rados. Esse é o único medo que eles têm, a única morte que eles temem.

* Ro­berto Mal­vezzi é agente pas­toral na re­gião do Se­miá­rido.

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