quinta-feira, 7 de março de 2019

Bolsonaro resiste à chuveirada de urina

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

A simples possibilidade de que o porno-presidente Jair Bolsonaro venha a ser denunciado na Câmara por quebra de decoro em função da "goldenshower" é uma demonstração do grau de degradação de um governo empossado há apenas dois meses.

Essa situação é uma demonstração de fraqueza congênita.

Estimula terríveis presságios para os aliados de Bolsonaro e acende luzes de esperança nos círculos adversários.

É bom cultivar um pouco de cautela, contudo, e não desprezar o arsenal de recursos à disposição da articulação política que levou Bolsonaro ao Planalto.

Por mais vergonhosa que tenha sido a chuveirada de urina, o governo Bolsonaro representa uma oportunidade única de acerto de contas para uma elite disposta a eliminar todo e qualquer vestígio de Estado de bem-estar social em nosso país e resgatar a oitava economia do mundo para o controle imperial de Washington.

Não se pode imaginar que a agenda de regressão que Bolsonaro-Guedes tentam impor aos brasileiros e brasileiras será abandonada em função de um vídeo, por mais escabroso que seja.

Vamos falar sério: depois de assumir o controle do Estado e dos grandes negócios do país como poucas vezes se viu em nossa história, a prioridade número 1 deste governo não é uma suposta reeducação moral da população mas a destruição do sistema público de aposentadorias.

Essa é a dívida, a conta que precisa ser paga, custe o que custar.

Nossa experiência política mostra que o impacto real de escândalos políticos - mesmo gravíssimos - é determinado pelo poder de retaliação das partes atingidas.

Foi isso que permitiu que os adversários de Dilma ( e Lula) levassem até o final uma investigação que fingia acreditar que pedaladas fiscais poderiam constituir crime de responsabilidade, montando o circo correspondente.

A destruição de um projeto que, com todos os defeitos e limites, produziu mudanças inegáveis na paisagem social e econômica do país, já se tornara prioridade absoluta.

Um ano depois, viu-se a contra prova desse comportamento, com sinal invertido.

Nem as escabrosas gravações do porão do Jaburu, material que jamais foi reunido contra qualquer dignatário de qualquer governo, em qualquer época, abriram a porta de saída para Michel Temer.

Em março de 2017, ameaçado pela Lava Jato, Joesley Batista providenciou gravações que poderiam servir como defesa e como chantagem. Em maio, elas foram divulgadas pelo Globo.

Em julho, o Senado aprovou a nefasta reforma trabalhista elaborada nos laboratório de Temer e seus patrocinadores - ponto de partida para o desmonte da CLT, sonho de 80 anos da camada superior da pirâmide social brasileira.

Resultado: em consideração pelos serviços prestados, até agora Michel Temer tem sido capaz de usufruir de um descanso pós-presidencial de dois meses sem maiores atropelos.

A chuva de urina atinge Bolsonaro na testa do falso moralismo.

Demonstra a falta de escrúpulos que alimenta seus métodos políticos, cuja base é um estímulo permanente à intolerância e à perseguição política, num padrão de barbárie que atinge até uma festa como o carnaval.

Enfraquecido pela própria obscenidade, Bolsonaro irá sobreviver enquanto conseguir convencer seus patrocinadores de que é capaz de cumprir as promessas que Paulo Guedes fez em Washington e na avenida Faria Lima. Visível pelo caráter escandaloso, a chuveirada de urina vem na impressionante sequência dos vexames diplomáticos, do desemprego crescente, das insanidades anunciadas na Educação.

Bolsonaro será derrotado quando se mostrar incapaz de cumprir o que prometeu a aliados e protetores, que tem imensos interesses materiais a defender no estágio atual de demolição do país.

Essa é a luta no dia de hoje, quando faltam 15 dias para 22 de março, primeiro ato da mobilização de trabalhadores e da população explorada contra a reforma da previdência.

Todos devem comparecer aos atos convocados pelos sindicatos e lideranças populares.

Alguma dúvida?

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