domingo, 12 de maio de 2019

Abril mantém calote a demitidos. E a Veja?

Por Altamiro Borges

Na quarta-feira passada (8), cerca de 200 jornalistas, gráficos, publicitários e outros profissionais realizaram um ato de protesto em frente ao prédio da caloteira Editora Abril, na Lapa, região oeste da capital paulista. Demitidos em julho do ano passado, 1.254 funcionários desta empresa – que publica a Veja e várias outras revistas – até hoje não receberam os seus direitos trabalhistas. Sem qualquer indenização, eles sobrevivem graças à ajuda de familiares e amigos. A situação é desesperadora. A revista Veja, famosa por sua defesa radical do receituário neoliberal na economia, até que poderia produzir uma reportagem para explicar o colapso do Grupo Abril e o calote da famiglia Civita.

A manifestação da semana passada também reuniu os gráficos da multinacional RR Donnelley, que pediu autofalência em abril desse ano, fechou suas unidades no Brasil e não pagou a rescisão dos demitidos. O ato teve início no portão da Editora Abril e seguiu com uma passeata pela Avenida Marginal do Tietê até a sede da Polícia Federal. Segundo relato da Rede Brasil Atual, o clima foi de revolta contra a sacanagem da Abril. Em um momento de tristeza, os manifestantes homenagearam os jornalistas Fábio Sasaki e Dagmar Serpa, falecidos antes de receberem seus direitos. 

"O calote da Abril somava cerca de R$ 90 milhões quando a família Civita, dona da editora, tramou as demissões enquanto planejava entrar em processo de recuperação judicial. A empresa que mantém publicações como Veja e Exame – 'especialistas' em ditar aos governos os rumos para a economia – rendeu a seus antigos proprietários fortuna estimada em US$ 7,8 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) segundo ranking divulgado pela Forbes no ano passado... Menos de 1% desse valor seria suficiente para pagar todos os 1.254 demitidos... O Ministério Público do Trabalho já denunciou que, entre 2013 e 2017, os acionistas receberam da Editora Abril quase R$ 118 milhões. E também ganharam com a venda da Abril Educação, em 2015, negócio de aproximadamente R$ 1,3 bilhão".

Na Polícia Federal, os manifestantes protocolaram ofício pedindo investigação sobre a sinistra saída da RR Donnelley do Brasil. A gráfica imprimia as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em abril, ela pediu autofalência e demitiu mil funcionários sem pagar suas indenizações. No ano passado, a multinacional teve um faturamento global de US$ 6,8 bilhões. O documento entregue à PF também solicitou ao ministro da Justiça, o bagaço Sergio Moro, a elaboração de um projeto de lei que criminalize o calote de verbas rescisórias em casos de comprovação de que o grupo empresarial ou seus sócios possuem patrimônio para quitar essas dívidas.

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