Por Mirko C. Trudeau, no site Carta Maior:
A Europa despertou nesta segunda-feira (27/5) com o fim do bipartidarismo e o legislativo continental mais liberal e mais verde de toda a sua história: o Grupo Popular Europeu foi um dos que mais perdeu assentos, caindo de 216 a 179 eurodeputados, enquanto os socialdemocratas foram de 185 a 150. Na França, Marine Le Pen superou Macron, e no Reino Unidos o Partido do Brexit, de Nigel Farage, será o de maior representação, com 29 eurodeputados.
E assim, o bloco que vem governando o continente desde o final da Segunda Guerra Mundial, mostra carecer de suficientes apoios no Parlamento Europeu. Os chamados “populares” (direita tradicional) e os socialdemocratas (centro-esquerda) tinham 412 deputados dos 751 que compõem a câmara, e agora terão somente 330, cedendo votos e vagas à extrema direita, aos liberais, e aos partidos ecologistas.
Um dos grandes perdedores foi o grupo da Esquerda Unitária Europeia e da Esquerda Verde Nórdica. A esquerda passa de 52 a 38 representantes, após perder grande parte da sua representação em países que foram cruciais nas últimas eleições da Alemanha e da Espanha – neste último, a fragmentada coalizão Unidas Podemos perdeu grande parte de sua representação, por exemplo.
O fato é que a Europa comunitária já não aguenta o bipartidarismo, e a partir destas eleições de 2019 os equilíbrios já não estarão mais marcados pela polarização entre socialdemocratas e “populares”, já que também haverá grande representação dos liberais (que obtiveram 108 vagas) e dos verdes (67).
Os resultados evidenciam que será preciso conformar novas alianças na União Europeia. O porta-voz dos “populares”, Manfred Weber, afirmou que “nosso grupo é consciente de houve um retrocesso, e a aliança com os socialistas já não é suficiente, e é preciso falar de conteúdos e programas, e por isso convido os liberais e os verdes para um acordo sobre os próximos cinco anos da Europa”.
Por sua parte, o socialista Frans Timmermans insiste em buscar “alianças com outras forças progressistas, “A Europa é dinâmica, e nós progressistas devemos saber dar os passos corretos para o futuro, de forma coordenada”. A união das bancadas socialista, verde, liberal e a da Esquerda Unitária reúne 366 cadeiras, dez abaixo da maioria mínima.
“Tenho trabalhado contra os monopólios durante estes cinco anos”, afirmou a candidata liberal Margrethe Vestager, uma das triunfadoras da noite, que mantém a aspiração de presidir a Comissão Europeia, e acrescenta: “já não há monopólios na Europa, é preciso buscar novas coalizões conosco e com os verdes”. Se sua candidatura triunfa, Vestager seria a primeira mulher presidenta da Comissão Europeia.
As negociações para definir o Parlamento Europeu, os presidentes e os vice-presidentes, começarão nesta terça-feira (28/5), com uma conferência de presidentes dos grupos. Horas depois, os líderes do bloco se reunirão em Bruxelas, com um olho nas eleições, para começar a discutir como serão divididas três grandes instituições que lideram o continente: Parlamento Europeu, Comissão Europeia e Conselho Europeu.
Por sua parte, o candidato da Esquerda, Nico Cué, se mostrou aberto a negociar com uma maioria “que queira contribuir a uma Europa mais social”. Cué afirma que a Esquerda observará os programas de governo que incluam a democratização das instituições, uma Europa social e a transição ecológica.
Fragmentação
Portanto, este parlamento será o mais fragmentado da história da União Europeia, após eleições que tiveram a mais alta participação nos últimos 20 anos, e que mostraram o crescimento dos liberais e dos verdes, além da consolidação da extrema direita. O futuro dessa Europa que saiu das urnas será marcado por diversas tendências e visões muito diferentes disputando a hegemonia.
A pesar da queda dos socialistas e da direita tradicional, seus líderes, Manfred Weber (“populares”) e Frans Timmermans (“socialdemocratas”), pedem uma aliança progressista, para tentar manter suas possibilidades para presidir a Comissão Europeia. Os liberais já são a terceira força, enquanto os verdes também cresceram, ficando na quarta posição. Além disso, já se fala sobre a necessidade de estabelecer um programa conjunto para o próximo quinquênio. “O jogo de tronos pode esperar”, disse Timmermans, em alusão à série de televisão.
A luta contra a crise climática, por justiça social e pela defesa da democracia são a base de outro dos candidatos à presidência da Comissão, Bas Eickhout (verdes), que afirma que os temas que os partidos ecologistas colocarão sobre a mesa para poder negociar. A onda verde se estabeleceu em vários países, como Alemanha, Reino Unido, França e Irlanda. As divisões leste-oeste e norte-sul também mostraram que seguem tendo relevância.
Embora os liberais tenham sido os grandes vencedores da noite, e com boa parte desse resultado sendo graças à frente Renascimento, de Emmanuel Macron, a verdade é que o presidente francês perdeu a batalha local contra Marine Le Pen. A líder da extrema-direita francesa, que contará com 22 vagas no Parlamento Europeu, aproveitou a oportunidade e apelou a que Macron a assuma sua responsabilidade após os resultados e dissolva a Assembleia Nacional.
O Partido d Brexit, liderado por Nigel Farage, será o de maior representação no Parlamento, com 29 eurodeputados. Farage chamou o governo britânico a concluir de uma vez por todas a saída do Reino Unido da União Europeia, respeitando o prazo atual, que vai até o dia 31 de outubro. Se não, “estes resultados se repetirão nas eleições gerais”, advertiu. Outro dos vitoriosos foi o italiano Matteo Salvini. Sua Liga do Norte será um dos maiores partidos da extrema direita, ficando atrás apenas do de Farage.
A extrema direita eurocética ficou longe dos seus objetivos de alcançar um terço dos assentos, com o qual poderia bloquear o trabalho da União Europeia. Mas se consolidou como uma das principais forças na câmara.
Assim, as cartas serão distribuídas novamente no Parlamento Europeu. As realidades são outras, e a necessidade é a de manter a união na Europa.
* Mirko C. Trudeau é economista-chefe do Observatório de Estudos Macroeconômicos (Nova York) e analista de temas sobre Estados Unidos e Europa, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE).
* Publicado em estrategia.la. Tradução de Victor Farinelli.
A Europa despertou nesta segunda-feira (27/5) com o fim do bipartidarismo e o legislativo continental mais liberal e mais verde de toda a sua história: o Grupo Popular Europeu foi um dos que mais perdeu assentos, caindo de 216 a 179 eurodeputados, enquanto os socialdemocratas foram de 185 a 150. Na França, Marine Le Pen superou Macron, e no Reino Unidos o Partido do Brexit, de Nigel Farage, será o de maior representação, com 29 eurodeputados.
E assim, o bloco que vem governando o continente desde o final da Segunda Guerra Mundial, mostra carecer de suficientes apoios no Parlamento Europeu. Os chamados “populares” (direita tradicional) e os socialdemocratas (centro-esquerda) tinham 412 deputados dos 751 que compõem a câmara, e agora terão somente 330, cedendo votos e vagas à extrema direita, aos liberais, e aos partidos ecologistas.
Um dos grandes perdedores foi o grupo da Esquerda Unitária Europeia e da Esquerda Verde Nórdica. A esquerda passa de 52 a 38 representantes, após perder grande parte da sua representação em países que foram cruciais nas últimas eleições da Alemanha e da Espanha – neste último, a fragmentada coalizão Unidas Podemos perdeu grande parte de sua representação, por exemplo.
O fato é que a Europa comunitária já não aguenta o bipartidarismo, e a partir destas eleições de 2019 os equilíbrios já não estarão mais marcados pela polarização entre socialdemocratas e “populares”, já que também haverá grande representação dos liberais (que obtiveram 108 vagas) e dos verdes (67).
Os resultados evidenciam que será preciso conformar novas alianças na União Europeia. O porta-voz dos “populares”, Manfred Weber, afirmou que “nosso grupo é consciente de houve um retrocesso, e a aliança com os socialistas já não é suficiente, e é preciso falar de conteúdos e programas, e por isso convido os liberais e os verdes para um acordo sobre os próximos cinco anos da Europa”.
Por sua parte, o socialista Frans Timmermans insiste em buscar “alianças com outras forças progressistas, “A Europa é dinâmica, e nós progressistas devemos saber dar os passos corretos para o futuro, de forma coordenada”. A união das bancadas socialista, verde, liberal e a da Esquerda Unitária reúne 366 cadeiras, dez abaixo da maioria mínima.
“Tenho trabalhado contra os monopólios durante estes cinco anos”, afirmou a candidata liberal Margrethe Vestager, uma das triunfadoras da noite, que mantém a aspiração de presidir a Comissão Europeia, e acrescenta: “já não há monopólios na Europa, é preciso buscar novas coalizões conosco e com os verdes”. Se sua candidatura triunfa, Vestager seria a primeira mulher presidenta da Comissão Europeia.
As negociações para definir o Parlamento Europeu, os presidentes e os vice-presidentes, começarão nesta terça-feira (28/5), com uma conferência de presidentes dos grupos. Horas depois, os líderes do bloco se reunirão em Bruxelas, com um olho nas eleições, para começar a discutir como serão divididas três grandes instituições que lideram o continente: Parlamento Europeu, Comissão Europeia e Conselho Europeu.
Por sua parte, o candidato da Esquerda, Nico Cué, se mostrou aberto a negociar com uma maioria “que queira contribuir a uma Europa mais social”. Cué afirma que a Esquerda observará os programas de governo que incluam a democratização das instituições, uma Europa social e a transição ecológica.
Fragmentação
Portanto, este parlamento será o mais fragmentado da história da União Europeia, após eleições que tiveram a mais alta participação nos últimos 20 anos, e que mostraram o crescimento dos liberais e dos verdes, além da consolidação da extrema direita. O futuro dessa Europa que saiu das urnas será marcado por diversas tendências e visões muito diferentes disputando a hegemonia.
A pesar da queda dos socialistas e da direita tradicional, seus líderes, Manfred Weber (“populares”) e Frans Timmermans (“socialdemocratas”), pedem uma aliança progressista, para tentar manter suas possibilidades para presidir a Comissão Europeia. Os liberais já são a terceira força, enquanto os verdes também cresceram, ficando na quarta posição. Além disso, já se fala sobre a necessidade de estabelecer um programa conjunto para o próximo quinquênio. “O jogo de tronos pode esperar”, disse Timmermans, em alusão à série de televisão.
A luta contra a crise climática, por justiça social e pela defesa da democracia são a base de outro dos candidatos à presidência da Comissão, Bas Eickhout (verdes), que afirma que os temas que os partidos ecologistas colocarão sobre a mesa para poder negociar. A onda verde se estabeleceu em vários países, como Alemanha, Reino Unido, França e Irlanda. As divisões leste-oeste e norte-sul também mostraram que seguem tendo relevância.
Embora os liberais tenham sido os grandes vencedores da noite, e com boa parte desse resultado sendo graças à frente Renascimento, de Emmanuel Macron, a verdade é que o presidente francês perdeu a batalha local contra Marine Le Pen. A líder da extrema-direita francesa, que contará com 22 vagas no Parlamento Europeu, aproveitou a oportunidade e apelou a que Macron a assuma sua responsabilidade após os resultados e dissolva a Assembleia Nacional.
O Partido d Brexit, liderado por Nigel Farage, será o de maior representação no Parlamento, com 29 eurodeputados. Farage chamou o governo britânico a concluir de uma vez por todas a saída do Reino Unido da União Europeia, respeitando o prazo atual, que vai até o dia 31 de outubro. Se não, “estes resultados se repetirão nas eleições gerais”, advertiu. Outro dos vitoriosos foi o italiano Matteo Salvini. Sua Liga do Norte será um dos maiores partidos da extrema direita, ficando atrás apenas do de Farage.
A extrema direita eurocética ficou longe dos seus objetivos de alcançar um terço dos assentos, com o qual poderia bloquear o trabalho da União Europeia. Mas se consolidou como uma das principais forças na câmara.
Assim, as cartas serão distribuídas novamente no Parlamento Europeu. As realidades são outras, e a necessidade é a de manter a união na Europa.
* Mirko C. Trudeau é economista-chefe do Observatório de Estudos Macroeconômicos (Nova York) e analista de temas sobre Estados Unidos e Europa, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE).
* Publicado em estrategia.la. Tradução de Victor Farinelli.
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