Charge: Christo Komarnitski/Bulgária |
Nos últimos dias a tensão aumentou entre Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente francês, Emmanuel Macron. No centro das trocas de farpas entre em dois está o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, ilustrados pela nuvem de fumaça escura que chegou ao Sudeste brasileiro e transformou dia em noite na capital paulista no dia 19 de agosto.
Macron, em encontro informal com Bolsonaro durante a reunião do G20, em junho, disse que só apoiaria o acordo entre o Mercosul e a União Europeia se o brasileiro se comprometesse a seguir as medidas de preservação ambiental impostas no Acordo de Paris. Após o “tá ok” de Bolsonaro para essa condição, o acordo foi anunciado no último dia da reunião. No entanto, contendo um princípio de precaução que permite a suspensão de importações de produtos do bloco sul-americano se estes forem produzidos sem o cumprimento de regras ambientais e com violação de normas trabalhistas.
Mas a animosidade entre os dois ficou no ar e, um mês depois, Bolsonaro cancelou reunião com o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian sob a alegação de problemas na agenda. Porém, no horário previsto para a audiência, ele apareceu em uma live cortando o cabelo. Le Drian, então, ironizou o que chamou de “emergência capilar” do chefe de Estado brasileiro.
Com as notícias das queimadas na Amazônia rodando pelos jornais mundiais, conjuntamente com a incapacidade do governo Bolsonaro de controlá-las, Macron disse que o brasileiro havia mentido na reunião do G20 e defendeu o bloqueio do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O que se seguiu foi uma série de trocas de farpas entre os dois, chegando ao ponto de Bolsonaro insultar de maneira machista a esposa de Macron, a professora de literatura Brigitte Macron.
É certo que o presidente francês possui interesses para além de preservar a Amazônia. Um deles é tentar ganhar a simpatia de produtores agrícolas franceses que se opõem ao acordo Mercosul-União Europeia, outro é se colocar como defensor e um dos líderes mundiais das pautas ambientais que têm apoio crescente na sociedade europeia e na França. Mas é certo, também, que o governo Bolsonaro é diretamente responsável pelo aumento das queimadas e do desmatamento da Amazônia, ao enfraquecer o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, o ICMBio e as fiscalizações, além de adotar uma retórica agressiva contra a preservação ambiental e demarcação de terras indígenas que estimulam seu eleitorado ligado ao agronegócio, garimpos e madeireiras ilegais a devastar a mata amazônica.
Além disso, é fato que o Brasil já não possui mais o mesmo prestígio e status que tinha durante os governos de Lula e Dilma, onde era um dos protagonistas na questão ambiental no cenário internacional, pois embora tenhamos altos índices de emissão de gases de efeito estufa nas cidades, principalmente, à partir dos meios de transporte, o controle e redução das queimadas na região amazônica e no cerrado, seriam algumas das maiores contribuições nacionais contra o aquecimento global.
Bolsonaro está sendo deixado de lado em uma crise que assola o território do país que governa e isso ficou nítido na reunião do G7, que aconteceu no final de semana do dia 24 de agosto, onde os chefes dos países mais desenvolvidos, entre eles, Macron, Justin Trudeau, Angela Merkel e Boris Johnson sentaram-se para discutir as queimadas da Amazônia sem consultar o governo brasileiro ou outros países da região como Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela que juntos detém 40% da floresta. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, outro algoz do meio ambiente mundial, não participou desta discussão. No fim, foi anunciado um pacote de ajuda de 22 milhões de dólares para o controle das queimadas, além de algumas ofertas de doações individuais.
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