Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Vamos parar com essa conversa mole de que os incêndios na floresta são provocados por bitucas de cigarro jogados na beira da estrada, por algum descuido ou acidente.
Nada disso: trata-se apenas do cumprimento de mais uma promessa de campanha do “Capitão Motosserra” (assim ele se autodenominou), transformada em projeto de governo, como escreveu hoje Gregorio Duvivier em sua coluna na Folha (“Queimar era um prazer”).
Resultado: já foram contabilizados 72.843 focos de incêndio nos oito meses de governo Bolsonaro.
O Brasil está pegando fogo, com a Amazônia queimando para transformar a maior floresta do mundo em pasto do agronegócio bolsonariano.
Este é o maior crime praticado não só contra o país, mas contra a civilização - e as “instituições que estão funcionando” nada fazem para impedir o avanço da barbárie planejada.
Durante toda a campanha, ele prometeu que iria liberar seus seguidores fanáticos para atirar, matar, tacar fogo nas matas e nas aldeias.
Bolsonaro declarou guerra aos índios, aos quilombolas, aos sem-terra, à flora e à fauna.
Faz meses que a onda de queimadas começou em áreas protegidas, mas só nesta quarta-feira ele deixou de falar do filho embaixador para tratar do assunto.
Como era de se esperar, já encontrou um inimigo para culpar, com a leviandade de sempre, sem apresentar nenhuma prova:
“O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro das ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo falta do dinheiro Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”.
A agência Reuters já transmitiu esta barbaridade para a imprensa mundial, colocando o Brasil mais uma vez em destaque no noticiário como um país governado por um assassino cada vez mais ensandecido.
Pior que ele é seu ministro do Meio Ambiente, o inacreditável Ricardo Salles, que nega a realidade das queimadas e atribui tudo a “sensacionalismo” da imprensa e dos inimigos do Brasil.
Em sua fala rude e grosseira, o presidente não foi capaz de citar o nome de nenhuma ONG, muito menos disse quais providências seu governo está tomando para combater os incêndios que se alastram por toda parte e cujos efeitos já foram sentidos até em São Paulo.
Não por acaso, as maiores vítimas são as aldeias indígenas, como mostra a reportagem “Onda de queimadas já atinge 68 áreas protegidas só nesta semana”, publicada na Folha.
“Em Mato Grosso, o Parque Nacional Chapada dos Guimarães perdeu 12% de sua vegetação e a Terra indígena Parque do Araguaia (TO), localizada na Ilha do Bananal, teve 1.127 focos registrados desde o ano passado”.
No Mato Grosso do Sul, o fogo chegou à Terra Indígena Kadiweu e, em Rondônia, foi atingida a Reserva Extrativista Jaci-Paraná.
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) relata que os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios têm também as maiores taxas de desmatamento.
Em Porto Velho, capital de Rondonia, a fumaça das queimadas já provocou desvios de avião, triplicou os atendimentos na saúde e coloca em perigo o trafego de veículos na BR-364.
Até a última segunda-feira, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 5.533 pontos de queimada no estado, um aumento de 190% em relação ao mesmo período de 2018.
“É uma hecatombe ecológica que vai atingir o mundo inteiro”, alerta o médico neurocientista Miguel Nicolelis, um dos cientistas brasileiros mais reconhecidos mundialmente, com quem falei esta manhã.
Nicolelis escreveu um longo relatório em inglês sobre o que está acontecendo na Amazônia, que enviou para seus colegas no exterior.
Com o país acoelhado, sem reagir à destruição de um patrimônio ambiental da humanidade, vários países europeus já estudam aplicar sanções econômicas ao Brasil.
Já é o caso de uma intervenção do Conselho de Segurança da ONU, pois o que está acontecendo aqui, com a guerra deflagrada contra o meio ambiente pelo governo brasileiro, afeta todos os países do mundo.
A mídia e os governos dos países civilizados parecem mais preocupados com a destruição da Amazônia do que nós.
Enquanto isso, o fogo avança por toda parte, como informa nota do ICMBio (Instituto Chico Mendes), que registrou a destruição de 32,5 mil hectares no Parque Nacional de Ilha Grande, no Paraná, o equivalente a 206 parques do Ibirapuera.
Isso deveria estar diariamente nas manchetes de toda a imprensa brasileira, mas aqui ficamos discutindo se o filho 03 do “Capitão Motosserra” vai ou não ser o embaixador brasileiro nos Estados Unidos.
Estamos brincando com fogo, literalmente, nas mãos de um celerado ex-capitão, que até hoje procura comunistas debaixo da cama, e do silêncio obsequioso das Forças Armadas, que deveriam defender a nossa soberania, mas a tudo assistem passivamente.
S.O.S. Brasil!
E vida que segue, por enquanto.
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