Em tempos de quarentena, as janelas gritam! Arte: @pedroviniciusmb/Mídia Ninja |
Nem todo mundo sabe, mas hoje o antibolsonarismo é maior do que o antipetismo. Na verdade, bem maior. Inversamente, a proporção daqueles que têm uma posição favorável em relação ao PT, a Lula e às lideranças e bandeiras do partido ultrapassa, em muito, àquela dos que pensam positivamente a respeito de Bolsonaro, suas ideias e governo.
Há tempos o mito do “crescimento da rejeição ao PT” (e tudo que dele decorre) faz parte de nosso senso comum. Tanto que muitos passaram a considerá-lo um dado de natureza, que dispensa comprovação. Repetido como mantra desde ao menos 2013, tornou-se uma daquelas verdades que, embora falsas, parecem evidentes. Ainda mais depois do resultado da eleição de 2018, que a maioria dos entendidos explicou como se fosse a expressão do “maciço” (e, ao que parece, em sua opinião, “natural”) antipetismo na sociedade.
Essa conclusão, no entanto, não procede. Não há evidências de que tenha havido, nos últimos anos, uma mudança relevante nas proporções de aprovação/reprovação do PT e, muito menos, de que a vitória de Bolsonaro decorra do crescimento do antipetismo. Ao contrário, dizer que é o antipetismo (supostamente espontâneo e “normal”) que explica o bolsonarismo equivale a naturalizar o resultado da eleição de 2018, transferindo a responsabilidade por termos um desqualificado à frente do Executivo às escolhas racionais de eleitores “decepcionados” com o PT.
Na mais recente pesquisa do instituto Vox Populi, antibolsonaristas e antipetistas foram definidos como a soma daqueles que “detestam” ou “não gostam, sem chegar a detestar” de um ou outro. No primeiro caso, do personagem em si, seu comportamento e as coisas que fala (dado que o capitão nem sequer está filiado a um partido). No segundo, do partido propriamente dito. Nesses termos, são antibolsonaristas 47% dos entrevistados, enquanto 25% podem ser considerados antipetistas. Ou seja, aqueles que nutrem sentimentos negativos em relação a Bolsonaro somam cerca do dobro dos que antipatizam ou desgostam do PT. Vice-versa, 38% dizem “gostar muito” ou “gostar, sem ser muito” do PT e 28% de Bolsonaro.
Em relação ao PT, esses resultados, do fim de 2019, são quase idênticos aos de cinco anos atrás: em maio de 2015 (em pleno desgaste da imagem de Dilma Rousseff ), 31% dos entrevistados, empregando a mesma métrica, podiam ser considerados antipetistas, taxa que permaneceu sem mudar até as vésperas da eleição passada (em outubro de 2018, estava em 29%). Como se vê, os números não sugerem que tenha ocorrido, ao longo de 2018, uma elevação significativa do antipetismo capaz de explicar a vitória de Bolsonaro.
Note-se que haver uma proporção estável, de pouco menos de um terço de antipetismo em nossa sociedade, faça chuva ou faça sol, não significa imaginar que os dois terços restantes são eleitores que, em algum momento, o partido teve e perdeu. Em nenhuma eleição nacional, desde 1989, o PT conseguiu mais de 60% dos votos válidos ou mais de 46% do voto total, o que significa dizer que, no mínimo, 40% dos eleitores que compareceram às urnas (ou 54% dos cidadãos aptos a votar) não votaram em um candidato do PT (estamos falando de Lula em 2006, contra Alckmin no segundo turno, o melhor resultado obtido pelo partido em todos os tempos).
Hoje, uma parcela expressiva do antipetismo brota de quem gosta de Bolsonaro, mas não a totalidade: entre os 25% antipetistas, 16% (ou seja, dois terços) são bolsonaristas, mas há 9% que não gostam ou repudiam Bolsonaro (entre os quais estão 4% que rejeitam ambos, simultaneamente). O antibolsonarismo, por sua vez, abriga maior diversidade: 40% daqueles que não gostam ou detestam Bolsonaro não simpatizam ou se identificam com o PT.
Bolsonaro e sua claque representam uma minoria que chegou ao poder depois de uma sucessão de manipulações: juízes e procuradores facciosos condenaram e prenderam Lula, impedindo o PT de disputar com seu candidato natural, os militares ultrarreacionários proibiram o ex-presidente de falar, Bolsonaro escondeu-se do debate público e, para arrematar, trapacearam a eleição com toneladas de fake news contra Fernando Haddad, despejadas com grana ilegal e o beneplácito dos empresários da fé evangélica. Enquanto isso, a “grande imprensa” olhava para o lado e fingia que nada via. Chega a ser cômico afirmar que o antipetismo é a causa da vitória do capitão.
A turma de Bolsonaro pode querer desfechar um golpe para estabelecer uma ditadura e pode até conseguir. Mas uma coisa é certa: não será porque “o povo quer” ou “em resposta aos anseios populares”, como os militares gostavam de dizer a respeito de suas intervenções na política antes de 1964. Se depender da escolha livre do eleitorado, o pesadelo bolsonarista será breve.
Há tempos o mito do “crescimento da rejeição ao PT” (e tudo que dele decorre) faz parte de nosso senso comum. Tanto que muitos passaram a considerá-lo um dado de natureza, que dispensa comprovação. Repetido como mantra desde ao menos 2013, tornou-se uma daquelas verdades que, embora falsas, parecem evidentes. Ainda mais depois do resultado da eleição de 2018, que a maioria dos entendidos explicou como se fosse a expressão do “maciço” (e, ao que parece, em sua opinião, “natural”) antipetismo na sociedade.
Essa conclusão, no entanto, não procede. Não há evidências de que tenha havido, nos últimos anos, uma mudança relevante nas proporções de aprovação/reprovação do PT e, muito menos, de que a vitória de Bolsonaro decorra do crescimento do antipetismo. Ao contrário, dizer que é o antipetismo (supostamente espontâneo e “normal”) que explica o bolsonarismo equivale a naturalizar o resultado da eleição de 2018, transferindo a responsabilidade por termos um desqualificado à frente do Executivo às escolhas racionais de eleitores “decepcionados” com o PT.
Na mais recente pesquisa do instituto Vox Populi, antibolsonaristas e antipetistas foram definidos como a soma daqueles que “detestam” ou “não gostam, sem chegar a detestar” de um ou outro. No primeiro caso, do personagem em si, seu comportamento e as coisas que fala (dado que o capitão nem sequer está filiado a um partido). No segundo, do partido propriamente dito. Nesses termos, são antibolsonaristas 47% dos entrevistados, enquanto 25% podem ser considerados antipetistas. Ou seja, aqueles que nutrem sentimentos negativos em relação a Bolsonaro somam cerca do dobro dos que antipatizam ou desgostam do PT. Vice-versa, 38% dizem “gostar muito” ou “gostar, sem ser muito” do PT e 28% de Bolsonaro.
Em relação ao PT, esses resultados, do fim de 2019, são quase idênticos aos de cinco anos atrás: em maio de 2015 (em pleno desgaste da imagem de Dilma Rousseff ), 31% dos entrevistados, empregando a mesma métrica, podiam ser considerados antipetistas, taxa que permaneceu sem mudar até as vésperas da eleição passada (em outubro de 2018, estava em 29%). Como se vê, os números não sugerem que tenha ocorrido, ao longo de 2018, uma elevação significativa do antipetismo capaz de explicar a vitória de Bolsonaro.
Note-se que haver uma proporção estável, de pouco menos de um terço de antipetismo em nossa sociedade, faça chuva ou faça sol, não significa imaginar que os dois terços restantes são eleitores que, em algum momento, o partido teve e perdeu. Em nenhuma eleição nacional, desde 1989, o PT conseguiu mais de 60% dos votos válidos ou mais de 46% do voto total, o que significa dizer que, no mínimo, 40% dos eleitores que compareceram às urnas (ou 54% dos cidadãos aptos a votar) não votaram em um candidato do PT (estamos falando de Lula em 2006, contra Alckmin no segundo turno, o melhor resultado obtido pelo partido em todos os tempos).
Hoje, uma parcela expressiva do antipetismo brota de quem gosta de Bolsonaro, mas não a totalidade: entre os 25% antipetistas, 16% (ou seja, dois terços) são bolsonaristas, mas há 9% que não gostam ou repudiam Bolsonaro (entre os quais estão 4% que rejeitam ambos, simultaneamente). O antibolsonarismo, por sua vez, abriga maior diversidade: 40% daqueles que não gostam ou detestam Bolsonaro não simpatizam ou se identificam com o PT.
Bolsonaro e sua claque representam uma minoria que chegou ao poder depois de uma sucessão de manipulações: juízes e procuradores facciosos condenaram e prenderam Lula, impedindo o PT de disputar com seu candidato natural, os militares ultrarreacionários proibiram o ex-presidente de falar, Bolsonaro escondeu-se do debate público e, para arrematar, trapacearam a eleição com toneladas de fake news contra Fernando Haddad, despejadas com grana ilegal e o beneplácito dos empresários da fé evangélica. Enquanto isso, a “grande imprensa” olhava para o lado e fingia que nada via. Chega a ser cômico afirmar que o antipetismo é a causa da vitória do capitão.
A turma de Bolsonaro pode querer desfechar um golpe para estabelecer uma ditadura e pode até conseguir. Mas uma coisa é certa: não será porque “o povo quer” ou “em resposta aos anseios populares”, como os militares gostavam de dizer a respeito de suas intervenções na política antes de 1964. Se depender da escolha livre do eleitorado, o pesadelo bolsonarista será breve.
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