Abrigo provisório para pessoas em situação de rua em Manaus Foto: Marcio James/Semcom/Fotos Públicas |
Muita gente parece que ainda não se deu conta do morticínio que será provocado pelo colapso dos sistemas público e privado de saúde, o que está por um triz de ocorrer. A tragédia de Manaus, com gente morrendo na maca antes do atendimento, é só a ponta do iceberg.
Não me refiro, por óbvio, aos descerebrados e psicopatas que fazem carreatas mórbidas em apoio ao genocida que ocupa a cadeira presidencial. O alerta é para a banda majoritária da sociedade que tem apreço pela vida e que respeita a medicina e a ciência. Mesmo nesta grande parcela da população ainda não caiu a ficha sobre o que está prestes a acontecer.
Também demonstram alienação preocupante governadores e prefeitos que, embora tenham orientado suas decisões até agora por parâmetros científicos, cometem um equívoco de consequências potencialmente funestas quando ensaiam a flexibilização do isolamento social. Alguns governantes inclusive já estão promovendo o afrouxamento.
Vale destacar que, embora a curva de contágio no Brasil esteja ainda em sua fase inicial, a pandemia de coronavírus já vem matando em torno de 200 pessoas por dia. Isso pelos números oficiais, que segundo estudos representa algo próximo de um terço da quantidade real de vítimas fatais, uma vez que a nossa subnotificação está entre as mais altas do mundo.
Os sistemas de saúde dos dois epicentros da Covid-19, São Paulo e Rio de Janeiro, se aproximam dramaticamente da saturação. Na capital paulista, o principal centro de referência no combate à pandemia, o hospital Emílio Ribas, já não conta mais com vagas de UTI, enquanto na outra unidade também especializada, o Hospital das Clínicas, o colapso é uma questão de poucos dias.
E o caminho para evitar aqui a repetição da tragédia humanitária de Guayaquil, no Equador, e do drama italiano no auge da pandemia, é o oposto do afrouxamento da quarentena. Só com o fechamento total, lockdown em inglês, adotado por vários países, será possível impedir a morte de centenas de milhares de seres humanos.
Os trabalhadores precisam sobreviver para que a economia seja retomada. Isso é o bê-á-bá. Ou deveria ser se o Brasil tivesse presidente e governo. A respeito de como enfrentar essa tormenta em termos econômicos, recomendo fortemente a entrevista do professor Bresser-Pereira publicada no jornal Folha de São Paulo deste domingo e disponível no Portal UOL.
Bresser diz que o governo tem que amparar não só os informais e desempregados, mas também os trabalhadores empregados que correm o risco de ficar sem salário. Segundo o ex-ministro, as empresas precisam ser socorridas com verba pública, seja para evitar demissões ou para impedir que fechem as portas.
Ele defende, a exemplo de Lula, e até do neoliberal Henrique Meireles, que o governo deve imprimir dinheiro para fazer frente à pandemia. E joga por terra a cantilena monetarista e conservadora do aumento da dívida pública. A modalidade de emissão de real defendida por ele não passa pelo ato mecânico de produzir mais dinheiro nas máquinas da Casa da Moeda.
Basta o Banco Central comprar títulos do governo. Com isso, o Tesouro ficaria devendo ao BC. Mas como ambos são estatais, essa operação não implicaria aumento da dívida pública, mas sim entre as próprias instituições do Estado. Como se vê, manter as pessoas em casa para salvar suas vidas depende só de vontade política.
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